por Marwaan Macan-Markar, da IPS
Bangcoc, Tailândia, 20/4/2011 – Apesar das diferenças políticas entre os países que o integram – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, o Brics assestou sua mira para as negociações comerciais mundiais para afirmar sua influência. Seu objetivo declarado é garantir benefícios econômicos no mundo rico. Não é surpresa a Organização Mundial do Comércio ter selecionado esses cinco países para demonstrar a força coletiva desta coalizão informal de economias emergentes pertencentes a três continentes. Todas as nações Brics, com exceção da Rússia, integram a OMC.
Alguns analistas consideram que este centro emergente do poderio econômico é um potencial contrapeso às nações industrializadas dominantes da América do Norte e Europa, bem como o Japão. O bloco não terá de esperar muito depois da cúpula anual que realizou no dia 14 na localidade turística chinesa de Sanya. A OMC prevê divulgar amanhã o rascunho de um documento sobre os assuntos polêmicos relativos às paralisadas negociações da Rodada de Doha para acordar um regime único de comércio.
Os representantes comerciais de países pobres e ricos estarão frente a frente em torno de uma série de temas, entre eles os fortes subsídios para a agricultura nos Estados Unidos e na União Europeia. “Brasil, China, Índia e África do Sul estão comprometidos e chamam outros membros a apoiarem um sistema de comércio multilateral forte, aberto e regulado, encarnado na OMC, e uma conclusão positiva, exaustiva e equilibrada da Rodada de Doha”, diz o documento final da cúpula dos Brics.
“Os ministros definiram como defender os interesses dos países em desenvolvimento na cooperação multilateral”, afirmou o ministro do Comércio da China, Chen Deming. “Insistimos em nos atermos ao que já estava acordado em negociações passadas para garantir uma Rodada de Doha equilibrada e ambiciosa”, acrescenta o documento.
Os líderes do Brics afirmam um ponto de vista que muitos compartilham no mundo em desenvolvimento, com ênfase na Rodada de Doha como instância fundamental para “corrigir o déficit de desenvolvimento em termos de ganhos comerciais”, disse Ravi Ratnayake, da Comissão Econômica e Social para Ásia e Pacífico, uma agência regional da Organização das Nações Unidas, com sede em Bangcoc. “Os países em desenvolvimento querem obter mais ganhos econômicos a partir do comércio mundial, que as nações industrializadas dominam durante muitas décadas”, disse Ratnayake.
As nações do Brics estão perfeitamente posicionadas para garantir um acordo favorável às nações em desenvolvimento, “já que representam os países em desenvolvimento mais poderosos do mundo e, assim, têm poderosa voz”, disse Ratnayake à IPS. Juntos, os países deste grupo cobrem quase 25% da área da Terra, abrigam 40% da população do planeta e em 2010 representaram quase 16% da economia mundial, com US$ 62 bilhões.
Desde que, em 2001, o economista Jim O’Neill, da consultoria Goldman Sachs, cunhou a sigla Bric para destacar o surgimento de Brasil, Rússia, Índia e China como potências emergentes, o comércio entre essas nações e a África do Sul (que se integrou ao bloco) aumentou 15 vezes até 2010, e agora é estimado em US$ 230 bilhões.
Alguns analistas afirmam que até 2050 o Brics terá se convertido no ator econômico dominante no mundo, destronando o Grupo dos Sete (G-7) países mais ricos, integrado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália e Japão. A batalha entre o G-7 e o mundo em desenvolvimento é dura na OMC, onde, em 2001, começaram as negociações para uma nova rodada.
Os representantes comerciais de Brasil, China e Índia se mantiveram firmes na OMC, recordando aos seus colegas dos Estados Unidos e da Europa que esta nova rodada de conversações comerciais, desde que surgiu um novo regime comercial depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), teve o mandato especial de melhorar as economias dos países pobres oferecendo-lhes o benefício de participar do sistema mundial de comércio multilateral.
“Para salvar Doha, a China ainda se esforça para participar das negociações de várias formas e de um modo construtivo, sempre e quando essas negociações não desafiarem o mandato de Doha para os países em desenvolvimento”, disse Yi Xiaozhun, embaixador da China no comitê de negociações comerciais da OMC, em um comunicado divulgado dia 29 de março.
“Os países em desenvolvimento se sentem frustrados pelo fato de nas propostas apresentadas haver pouco conteúdo relativo ao desenvolvimento”, escreveu Martin Khor, diretor-executivo do South Centre, no boletim de abril deste grupo de especialistas com sede em Genebra. “Nas recentes reuniões da OMC, Brasil, África do Sul e Índia fizeram fortes declarações sobre a injustiça de esperar que eles assumam compromissos extremos que arruinariam suas economias internas, especialmente quando os países industrializados que fazem estas cobranças não oferecem concessões extras”, acrescentou.
As economias do Brics não parecem ter intenções de reduzir suas tarifas alfandegárias para permitir que bens industriais, químicos, eletrônicos e de engenharia procedentes do G-7 inundem seus mercados, enquanto as economias do G-7 mantêm seus setores agrícolas fortemente subsidiados. “Supunha-se que reduções reais nos subsídios agrícolas das nações ricas seriam o objetivo prioritário das negociações de Doha, quando esta começou em 2001. Está bastante claro que isso não ocorrerá, devido aos seus arraigados interesses agrícolas”, afirmou Khor.
(IPS)
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