Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

Bem-vindo ao blog do PT de Mosqueiro, aqui nós discutimos a organização e atuação do Partido dos Trabalhadores nas relações sociopolíticas e econômicas do Brasil e do Pará. Também debatemos temas gerais sobre política, economia, sociedade, cultura, meio ambiente, bem como temas irreverentes que ocorrem no Mundo, no Brasil, no Pará, mas em especial na "Moca". Obrigado por sua visita e volte sempre!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Que absurdo! Quando a tucanalha era governo até a grileira Regina Duarte foi para o exterior por conta do dinheiro público

 

Com o cinismo costumeiro, os privatas caribenhos da tucanalha entraram com uma representação na Procuradoria Geral da República contra a presidenta Dilma Rousseff e sua comitiva que foi a Davos, na Suiça, participar do Forum Econômico Mundial, tendo no retorno feito uma escala em Lisboa, pois não havia voo direto da Suiça para Cuba, o próximo destino de Dilma, onde participou da inauguração do Porto Mariel.

Isso bastou pra que um grupo desses malfeitores emplumados encenasse a austeridade que de fato nunca tiveram, conforme comprova a folha corrida desses quadrilheiros e pilhadores do erário, daí ser oportuno transcrever isso que o FB republicou pra mostrar o que vale o moralismo desses assaltantes.

"No FB do Reinaldo Del Dotore/via A Justiceira de Esquerda.
Que absurdo!

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11/12/2002 - 08h59
FHC gasta US$ 70 mil em viagem a Nova York
Da Folha de S.Paulo, em Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso gastou mais do que o previsto em sua última viagem oficial no cargo, a Nova York. Em vez dos US$ 35.140 estimados, a comitiva presidencial utilizou US$ 70.040, equivalente a cerca de R$ 266 mil pela cotação de ontem. FHC deixou o Brasil na noite de domingo e retornaria hoje.
O motivo, segundo a Folha apurou, foi a grande quantidade de pessoas. São cerca de 30, incluindo os ministros Celso Lafer (Relações Exteriores), Paulo Renato (Educação) e Barjas Negri (Saúde). A atriz Regina Duarte viajou como convidada, tendo as despesas custeadas pela União.
Os três filhos de FHC, Beatriz, Luciana e Paulo Henrique e três dos cinco netos do presidente viajaram com a comitiva, mas os gastos com hospedagem e alimentação não são pagos pelo governo."

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Mundo Animal !!??

BBC

28/01/2014 07h00 - Atualizado em 28/01/2014 07h30

Flatulência de vacas provoca explosão na Alemanha

Um animal ficou ferido, e teto de celeiro ficou danificado.

Da BBC

8 comentários

O gás metano expelido por vacas provocou uma explosão em um celeiro na Alemanha na segunda-feira (27).

A explosão feriu um dos animais e danificou o teto do celeiro no vilarejo de Rasdorf, na região central do país.

O gás acumulou-se com a flatulência e arrotos expelidos por cerca de 90 vacas, que se acumulou no local. A polícia disse à agência de notícias Reuters que um foco de 'energia elétrica estática provocou a explosão do gás'.

Os serviços de emergência que visitaram à fazenda realizaram medições de gás metano no local.

Cada vaca é capaz de emitir 500 litros de gás metano por dia. O impacto ambiental da pecuária é alto, já que o metano é nocivo ao meio ambiente.

As vacas também expelem amônia, que pode danificar solo e água, devido ao nível tóxico de acidificação.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Governo Alckmin declara guerra a Haddad

 

7y4n5aw3sc 2kmy7mwehu file Governo Alckmin declara guerra a Haddad

É guerra. Não tem como enxergar de outra forma a ação criminosa que a Policia Civil do Estado de São Paulo promoveu contra os moradores da Cracolândia nesta quinta, 23. Disparar balas de borracha, jogar bombas de gás e agredir covardemente usuários de drogas não é uma operação que se faça sem o consentimento de altas autoridades. Ou o secretário de Segurança pede demissão ou teremos certeza de que a ordem partiu do gabinete do governador.

Foi claramente uma sabotagem (com as piores motivações eleitorais) à Operação Braços Abertos, do prefeito Fernando Haddad — um oásis de bom senso em meio ao fracasso retumbante que sempre cercou o combate ao crack na cidade. Ainda mais depois da desastrosa intervenção (violenta, burra, inútil) promovida por Alckmin e o ex-prefeito Kassab, em 2012. Quem não se lembra do exército de zumbis que se dispersou pela capital, numa macabra romaria de viciados? Não por acaso, aquela intervenção precipitada foi feita dias antes de o governo federal anunciar um programa nacional de combate à droga. A história se repete.

Inveja mata. E em ano eleitoral, é fácil imaginar o estrago que faria na seara tucana o sucesso de uma ação original e bem sucedida, que se propõe a reinserir na sociedade os dependentes de crack. Ver barracas serem retiradas da rua pacificamente e constatar que drogados podem ser reabilitados através de oportunidade de trabalho e tratamento digno é um tapa na cara na politica de segurança tucana, que há 20 anos dissemina o confronto brutal e a corrupção, sem nenhuma inteligência ou sensibilidade na hora de combater mazelas sociais. Por isso, vivemos numa outra guerra, civil e não declarada, em que o crime organizado manda, e o governo faz de conta que não obedece. Bandido sente o cheiro da incompetência, vive disso.

Se o prefeito Haddad não responder a essa provocação de forma igualmente virulenta, vai se mostrar um político despreparado e covarde, incapaz de superar os sucessivos fracassos que já sofreu (e continuará sofrendo). Guerra é guerra. Numa hora dessas, omissão é crime. Só os fortes sobreviverão.

 

Fonte: http://noticias.r7.com/blogs/o-provocador/2014/01/23/governo-alckmin-declara-guerra-a-haddad/

sábado, 25 de janeiro de 2014

Ceres, o maior asteroide do Sistema Solar, emite jatos de vapor d'água

 

Por causa do tamanho, Ceres é considerado um planeta anão. Em observações anteriores, os astrônomos já haviam detectado camadas de vapor na superfície do asteroide

 

Astrônomos flagraram dois jatos de vapor em face opostas do asteroide Ceres   (Foto: AP Photo/ IMCCE, Paris Observatory, CNRS)Astrônomos flagraram dois jatos de vapor em face opostas do asteroide Ceres (Foto: AP Photo/ IMCCE, Paris Observatory, CNRS)

Astrônomos flagraram dois jatos de vapor surgindo de faces opostas do asteroide Ceres. A descoberta do fenômeno foi feita pelo telescópio Herschel, da Agência Espacial Europeia, em 2012, e divulgada nesta quinta-feira (23), na revista Nature.
Ceres é o maior objeto do cinturão de asteroides, um conjunto localizado entre as órbitas de marte e Júpiter. Mas não se parece, exatamente, com os asteroides típicos que povoam o imaginário popular. Por causa de seu tamanho, ele é classificado como uma planeta anão. Tal qual Plutão (que foi considerado planeta até 2006, quando uma revisão o fez cair de categoria)
Observações anteriores feitas pelo telescópio Herschel já tinham detectado uma fina camada de vapor d’água em torno do asteroide. Segundo os cientistas, o vapor pode ter duas fontes: o calor do Sol, que faz a água sob a superfície evaporar; ou alguma espécie de atividade vulcânica sob a crosta do asteroide.

 

Ceres é o maior corpo do cinturão de asteroides. Por causa do tamanho, os cientistas o classificam como um planeta anão (Foto: reprodução ESA) (Foto: Reprodução/ ESA)

Ceres é o maior corpo do cinturão de asteroides.
Por causa do tamanho, os cientistas o classificam como um planeta anão (Foto: reprodução ESA)

A capacidade de liberar jatos de vapor coloca Ceres em um grupo seleto dentre os membros do Sistema Solar – o de corpos gelados e vaporosos. É o caso da lua de Júpiter , Europa, e de uma das luas de Saturno, Enceladus.

A descoberta não é mera curiosidade. Os cientistas têm uma teoria de que a água na Terra se originou do choque do nosso planeta com asteroides e meteoros. Os jatos de vapor de Ceres colaboram para corroborar essa hipótese.

RC

Fonte: http://epoca.globo.com/

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Brasil tem 16 das 50 cidades mais violentas do mundo. Belém do Pará está entre elas

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Brasil tem 16 das 50 cidades mais violentas do mundo. Belém do Pará está entre elas

Em 2012 eram 14 cidades; no ano de 2013, 15. Em 2014, o relatório anual da ONG mexicana Conselho Cidadão Para a Segurança Pública e Justiça Penal adicionou mais um município brasileiro ao ranking de 50 cidades com maior índice de homicídios do mundo.
A maioria das “mais violentas” está no continente americano (46 cidades), e na América Latina, em particular (41). Os países latino-americanos com maior problema de violência são Honduras, Venezuela, Guatemala, El Salvador, México e Brasil.
Com uma taxa de 187 homicídios a cada 100 mil habitantes, a cidade hondurenha de San Pedro Sula ocupou pelo terceiro ano consecutivo a liderança do ranking. O segundo lugar fica com Caracas, capital da Venezuela, e, em terceiro, Acapulco, no México, com taxas de 134 e 113, respectivamente, a cada 100 mil habitantes.
Saíram da lista as seguintes cidades que figuravam na lista de 2012: Brasília e Curitiba, no Brasil; Barranquilla, na Colômbia; Oakland nos EUA e Monterrey no México. Todas estas tiveram taxas inferiores ao 50° colocado, Valencia, na Venezuela.
As 16 cidades brasileiras que estão na lista são: Maceió (AL) com 79,8; Fortaleza (CE) com 72,8; João Pessoa (PB) com 66,9; Natal (RN) com 57,62; Salvador (BA) com 57,6; Vitória (ES) com 57,4; São Luís (MA) com 57,0; Belém (PA) com 48,2; Campina Grande (PB) com 46,0; Goiânia (GO) com 44,6; Cuiabá (MT) com 44,0; Manaus (AM) com 42,5; Recife (PE) com 36,8; Macapá (AP) com 36,6; Belo Horizonte (MG) com 34,7 e Aracaju (SE) com 33,4.
(Vermelho/Forum)

Repostado de http://nailharga.blogspot.com.br/

Repostado do blog ArtEsquerda

Pela Reforma Agrária já no Brasil! Viva o MST!

A hora da reforma agrária popular

Do MST

Chegamos ao nosso 6º Congresso Nacional. Foram mais de dois anos de estudos, debates, reuniões, assembléias e discussões feitas pela base e setores de todos os Estados.

Chegamos também ao nosso aniversário de 30 anos, o movimento social camponês com maior tempo de vida da história do Brasil.

Chegamos a estes dois momentos importantes de nossa história com um desafio muito claro, expresso no lema do nosso Congresso e que será nossa palavra de ordem para os próximos anos: Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!

Terra

Todo este processo de construção do nosso Congresso na base e nossas mobilizações tem demonstrado que não há mais espaço para uma Reforma Agrária tradicional, que apenas distribua as terras. O agronegócio não apenas tem avançado sobre as terras produtivas e improdutivas, destruindo o meio ambiente, produzindo para exportação, como tem ganhado o apoio de governos e toda estrutura do Estado para viabilizar seu projeto.

Garantir que o povo brasileiro tenha o direito de decidir o que produzir e comer, que as nossas terras sejam destinadas para a produção de alimentos e não de celulose ou etanol, que o campo seja um lugar digno e bom de se morar, onde a juventude permaneça com condições dignas, para que tenhamos direito à educação, saúde e que possamos construir nossas agroindústrias e agregar mais valor na nossa produção: tudo isso só é possível com uma Reforma Agrária Popular.

Luta

E esta Reforma Agrária Popular só pode ser fruto da luta, não apenas dos trabalhadores Sem Terra. Como o modelo do agronegócio ameaça todos os camponeses, é preciso fazer alianças e construir mobilizações com aqueles que queiram lutar: agricultores familiares, quilombolas, ribeirinhos, estudantes de agronomia e engenharia florestal, técnicos agrícolas, quebradeiras e todos que estejam dispostos a construir este projeto.

A Reforma Agrária Popular também precisa contar com o apoio e a mobilização dos trabalhadores da cidade. Precisamos denunciar que o agronegócio envenena o alimento, usa as terras para produzir para exportação, promove o trabalho escravo e o desrespeito às legislações ambientais e trabalhistas, entre tantas mazelas.

Os nossos inimigos são fortes e poderosos. O agronegócio tem muitos aliados na mídia e no judiciário. Mas uma coisa que aprendemos nestes nossos 30 anos é não ter medo e não se dobrar diante das dificuldades. Foi assim que conquistamos a terra para milhares de famílias e agora alimentamos centenas de municípios. E é assim, com luta e determinação, animados pelo nosso Congresso, que iremos construir a Reforma Agrária Popular.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Dona do “Magazine Luiza retruca “me poupe” e ensina Diogo Mainardi.

 

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Dona do Magazine Luiza, empresária cumpriu a promessa que fez no programa Manhattan Connection, da Globo News, e enviou a Diogo Mainardi dados do Instituto do Desenvolvimento do Varejo (IDV) que comprovam a queda da inadimplência no varejo; durante entrevista, ex-colunista de Veja, que mora em Veneza, na Itália, afirmou que a inadimplência no Brasil só aumentava nos últimos anos; "seus dados estão incorretos, eu gostaria de te mandar os certos por e-mail", disse a empresária; o, digamos, intelectual esnobou: "me poupe, Luiza"; depois de perder debate para empresária no ar, polemista profissional sofreu nocaute nas redes sociais com divulgação dos números; aula de informação

21 DE JANEIRO DE 2014 ÀS 19:06

247 – A empresária Luiza Trajano, dona da rede de lojas Magazine Luiza, cumpriu o que prometeu no programa Manhattan Connection, da Globo News (leia aqui). Durante entrevista, ela rebateu a afirmação de Diogo Mainardi, de que a inadimplência no Brasil só aumentava nos últimos anos, com a promessa de que enviaria a ele dados que comprovam o contrário.

Nesta terça-feira 21, ela enviou números que mostram que o nível de inadimplência das pessoas físicas fechou o mês de novembro do ano passado em 4,5%, com queda de 1,2 ponto porcentual em relação ao mesmo mês de 2012, quando foi registrado um índice de 5,7%. A Serasa Experian divulgou hoje que a inadimplência do consumidor fechou 2013 com queda de 2%, o primeiro recuo em 14 anos.

"Os juros estão subindo, o crédito diminui, a inadimplência aumentou pelo segundo ano consecutivo, a inflação aumenta, a indústria nacional foi sucateada, isso vai levar uma piora do emprego também", disse, durante a entrevista, Diogo Mainardi a Luiza, que contestou: "a inadimplência está totalmente sob controle, pelo contrário. Nunca tivemos um índice tão bom como nós terminamos agora em 2013". A empresária chegou a dizer a Diogo Mainardi que os dados dele estavam "incorretos". 

Na conversa durante o programa da Globo News, Luiza Trajano citou números do Instituto do Desenvolvimento do Varejo (IDV). Mainardi afirmou, no entanto, que os levantamentos da Serasa diziam o contrário. Ao ouvir da empresária que receberia "todo mês" os dados sobre inadimplência, Diogo Mainardi respondeu: "me poupe".

Luiza Trajano não divulgou a íntegra do e-mail, mas apenas os dados principais sobre inadimplência que foram enviados a Diogo Mainardi.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Disciplina e força de vontade

Disciplina e força de vontade

Este garoto de 17 anos é Igor Cerejo Almeida, aqui de Belém, e obteve a maior nota do Sistema de Seleção Unificada (SISU) de todo o Brasil: 903,72 pontos, o que lhe rendeu uma vaga no curso de Medicina da Universidade Federal do Pará, cuja nota de corte (871,31) foi uma das mais altas do país. Seu exemplo foi sobre mostrar como foco e disciplina nos estudos são mais eficientes para se alcançar as metas escolhidas do que a quantidade de horas empregadas.

Este garoto de 17 anos se chama Alexandre Cacela (foto de Bruno Carachesti / Diário do Pará), é estudante da rede pública estadual e obteve aprovação para a Universidade Federal do Pará através do SISU, com um detalhe nada insignificante: ele faz quimioterapia, para combater um tumor no crânio, diagnosticado em outubro passado. Seu exemplo foi sobre como driblar a impossibilidade de permanecer na escola, por ordens médicas, e continuar estudando.
Sinto grande orgulho desses garotos, que não conheço, mas que dão, cada um a seu modo, lições importantes para outros como eles e, de resto, para todos nós. Quantos de nós conseguiriam fazer o que eles já fizeram?
Muito sucesso — e muita, muita saúde — para vocês, meninos!

Fonte: http://yudicerandol.blogspot.com.br/2014/01/disciplina-e-forca-de-vontade.html

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Desenvolvimento e desigualdade: onde está o Brasil?

 

O avanço na distribuição da renda do país deve continuar e se manter perene. Precisa permanecer sendo uma bandeira dos governos vindouros.

José Carlos Peliano

arquivo

O processo de desenvolvimento de um país é multifacetado econômica, social, institucional e politicamente. Entram em ação, entre outras instâncias, os donos do poder, seus prepostos, o conjunto da força de trabalho, as relações de mercado, as condições e regras atribuídas às instituições e os termos e canais do intercâmbio financeiro e comercial com o exterior.

O desenvolvimento não segue uma trilha homogênea e progressiva, embora possa ser, e hoje em dia normalmente é, planejada e acompanhada diuturnamente pelos gestores da política econômica. Como diria Marx, as relações de produção na sociedade capitalista moldam e são moldadas pelas forças produtivas continuadamente, às vezes acordadas, outras e a mais das vezes nem tanto, gerando possibilidades, alternativas e soluções compatíveis ou contraditórias.

A desigualdade pode ser entendida como o resultado do processo de desenvolvimento, sua foto instantânea, ao mesmo tempo em que é a partir dela que o processo prossegue e relança suas bases e estruturas de expansão.  Como esta expansão, no capitalismo, é intrínseca e marcadamente desigual, a foto é sempre diferenciada, heterogênea e inconfundível. O desenvolvimento capitalista não faz progredir tudo e todos da mesma maneira, a igualdade entre os indivíduos estampada nas leis e convenções internacionais fica apenas no papel.

Há, no entanto, níveis diversos de desenvolvimento e desigualdade, bem como relações distintas entre eles. As sociedades escandinavas, por exemplo, tem sido as mais igualitárias no mundo moderno, pois conseguem combinar bem e há tempos as duas dimensões em benefício da maioria da população. O Brasil já esteve pior na classificação entre as sociedades mais desiguais. Conseguiu melhorar e hoje pode se dar ao luxo de sair melhor na foto. Em quase duas décadas a economia do país cresceu e conseguiu distribuir de maneira mais justa os seus ganhos.

De acordo com os dados da FGV e IPEA, de 1995 a 2002, enquanto o crescimento médio da economia (PIB) foi de 2,23%, a desigualdade (índice de Gini) reduziu 1,9%; de 2003 a 2010 os dois resultados chegaram a 3,58% e 9,6%, e de 2011 a 2012 atingiram 2,03% e 1,6% respectivamente. Em todo o período o recuo na desigualdade sai do patamar de Gini de 0,60 e fica em 0,52 – uma queda de 13%. A maior parte dessa conquista (3/4 dela) ficou por conta do segundo período de oito anos coberto pelo governo Lula, enquanto o governo Dilma em apenas dois anos já tenha se aproximado dos resultados dos oito anos do governo FHC.

A cara social na foto do desenvolvimento brasileiro das duas últimas décadas certamente é das três administrações petistas. A grande imprensa ainda não se apercebeu desses resultados, nunca reconheceu as conquistas sociais que eles revelam. Ao contrário, ela consegue desenhar um retrato de um país acabado como salientou bem Emir Sader. Para ela, cada variação negativa de quaisquer dos indicadores econômicos é uma tragédia, assim como outras tragédias por ela mesmo criadas na aposta de resultados nunca alcançados. Ela não consegue, não quer e não pretende fazer uma avaliação criteriosa e imparcial, fica apenas estampando e repercutindo alguns resultados adversos reais ou inventados.

A queda da desigualdade no Brasil nos últimos vinte anos, vista de outra perspectiva, melhora substancialmente a vida da maioria esmagadora da população ocupada no mercado. Os dados disponíveis da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios de 2004 e 2001 mostram que os 90% menos ricos galgaram de 55,4% a 58,5% da renda total, o que significa um ganho de 15,5% - conseguiram retirar 3,1 pontos do percentual da renda dos 10% mais ricos da população. Na realidade, todos os grupos (decis) ganham parcelas adicionais da renda total de 2004 a 2011 à exceção dos superiores 10%.

Este avanço na distribuição da renda do país, no entanto, deve continuar e se manter perene. De fato, precisa permanecer sendo uma bandeira dos governos vindouros uma vez que o patamar de desigualdade auferida pelo índice de Gini ainda é alto. Para se ter uma ideia, o índice de 0,52 marcado pelo Brasil em 2012 em sua trajetória de descenso ainda está longe de um dos melhores do mundo, o da Noruega, cravado em 0,35.

Todo o movimento do mercado de trabalho trazido com a expansão de atividades produtivas e ocupações proporcionou melhoria substantiva nos ganhos de renda dos grupos que fazem parte dos 90% menos ricos. Ocorre o fenômeno do alargamento e progressão da classe média, antes em situação de renda inferior, depois e aos poucos em situação de renda mais favorável. Os grupos mais beneficiados foram os que ganham de 2 a 3 salários mínimos, os quais assim identificados podem não parecer nem da classe média baixa, mas ao se destacar deles os membros das famílias, a renda familiar com certeza atinge o patamar.

A alternativa capitalista brasileira seguida pelos governos de 2003 para cá tem trazido bons resultados em termos de desenvolvimento e excelentes resultados em termos de igualdade. Mantê-los é o propósito que deve ser seguido, melhorá-los a tarefa a ser conquistada, retrocedê-los o risco a evitar.

*José Carlos Peliano é economista

PARAUAPEBAS: Popó Costa do PT-AE é atingido a bala por pistoleiros

Popó Costa, dirigente do PT/Articulação de Esquerda de Parauapebas sofreu covarde atentado hoje, por volta de 10h, quando pistoleiros em uma moto, o atingiram com três tiros a queima roupa, que acertaram o pescoço, a costa e o braço. Popó encontra-se no hospital na sala de cirurgia e seu estado é muito preocupante.

Desejamos a ele e sua família muita força nessa hora e estamos torcendo com muita esperança na sua plena recuperação.
Abração companheiro!
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PARAUAPEBAS: Popó sofre atentado a bala

Popo CC

Hoje pela manhã, quando saía de sua residência no bairro Rio Verde, em Parauapebas o amigo Wandernilson Santos da Costa, o Popó do PT foi surpreendido por dois pistoleiros que lhe deram três tiros a queima roupa. Um tiro pegou no braço, um no ombro e outro na nuca. Popó foi imediatamente socorrido por familiares e encaminhado ao Hospital Municipal de Parauapebas. Lá chegou consciente e recebeu os primeiros socorros.
Após ser radiografado, o petista foi encaminhado ao Centro Cirúrgico onde passa nesse momento (11h) por cirurgia para retirada dos projéteis. O estado clínico do paciente é grave, informou o médico que o atendeu.
Popó é um dos mais influentes militante do PT em Parauapebas. Membro a Tendência Articulação de Esquerda, esteve a frente da campanha vitoriosa de Darci Lermen (PT) em 2004.
Mais informações em instantes.
fonte: http://www.zedudu.com.br/

Postado por ARTesquerda às 12:30

Os shopping-centers, utopia neoliberal

 

Quase já se pode nascer e morrer num shopping. Só faltam a maternidade e o cemitério, porque hotéis já existem.

por Emir Sader em 13/01/2014

Emir Sader

Na sua fase neoliberal, o capitalismo implementa, como nunca na sua história, a mercantilização de todos os espaços sociais. Se disseminam os chamados não-lugares – como os aeroportos, os hotéis, os shopping-centers -, homogeneizados pela globalização, sem espaço nem tempo, similares por todo o mundo.
Os shopping-centers representam a centralidade da esfera mercantil em detrimento da esfera pública, nos espaços urbanos. Para a esfera mercantil, o fundamental é o consumidor e o mercado. Para a esfera pública, é o cidadão e os direitos.
Os shoppings-centers representam a ofensiva avassaladora contra os espaços públicos nas cidades, são o contraponto das praças públicas. São cápsulas espaciais condicionadas pela estética do mercado, segundo a definição de Beatriz Sarlo. Um processo que igualiza a todos os shopping-centers, de São Paulo a Dubai, de Los Angeles a Buenos Aires, da Cidade do México à Cidade do Cabo.
A instalação de um shopping redesenha o território urbano, redefinindo, do ponto de vista de classe, as zonas onde se concentra cada classe social. O centro – onde todas as classes circulavam – se deteriora, enquanto cada classe social se atrincheira nos seus bairros, com claras distinções de classe
Os shopping, como exemplos de não-lugares, são espaços que buscam fazer com que desapareçam o tempo e o espaço – sem relógio e sem janelas - , em que desaparecem a cidade em que estão inseridos, o pais, o povo. A conexão é com as marcas globalizadas que povoam os shopping-centers de outros lugares do mundo. Desaparecem os produtos locais – gastronomia, artesanato -, substituídos pelas marcas globais, as mesmas em todos os shoppings, liquidando as diferenças, as particularidades de cada pais e de cada povo, achatando as formas de consumo e de vida.
O shopping pretende substituir à própria cidade. Termina levando ao fechamento dos cinemas tradicionais das praças publicas, substituídos pelas dezenas de salas dos shoppings, que promovem a programação homogênea das grandes cadeias de distribuição.
O shopping não pode controlar a entrada das pessoas, mas como que por milagre, só estão aí os que tem poder aquisitivo, os mendigos, os pobres, estão ausentes. Há um filtro, muitas vezes invisível, constrangedor, outras vezes explicito, para que só entrem os  consumidores.
Nos anos 1980 foi organizado um passeio de moradores de favelas no Rio de Janeiro a um shopping da zona sul da cidade. Saíram vários ônibus, com gente que nunca tinham entrado num shopping.
As senhoras, com seus filhos, sentavam-se nas lojas de sapatos e se punham a experimentar vários modelos, vários tamanhos, para ela e para todos os seus filhos, diante do olhar constrangido dos empregados, que sabiam que eles não comprariam aqueles sapatos, até pelos seus preços. Mas não podiam impedir que eles entrassem e experimentassem as mercadoras oferecidas.
Criou-se um pânico no shopping, os gerentes não sabiam o que fazer, não podiam impedir o ingresso daquelas pessoas, porque o shopping teoricamente é um espaço público, aberto, nem podiam botá-los pra fora. Tocava-se ali no nervo central do shopping – espaço público privatizado, porque mercantilizado.
O shopping-center é a utopia do neoliberalismo, um espaço em que tudo é mercadoria, tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra. Interessa aos shoppings os consumidores, desaparecem, junto com os espaços púbicos, os cidadãos. Os outros só interessam enquanto produtores de mercadorias. Ao shopping interessam os consumidores.
Em um shopping chique da zona sul do Rio, uma vez, uns seguranças viram um menino negro. Correram abordá-lo, sem dúvida com a disposição de botá-lo pra fora daquele templo do consumo. Quando a babá disse que ela era filho adotivo do Caetano Veloso, diante do constrangimento geral dos seguranças.
A insegurança nas cidades, o mau tempo, a contaminação, o trânsito,  encontra refúgio nessa cápsula, que nos abriga de todos os riscos. Quase já se pode nascer e morrer num shopping – só faltam a maternidade e o cemitério, porque hotéis já existem. A utopia – sem pobres, sem ruídos, sem calçadas esburacadas, sem meninos pobres vendendo chicletes nas esquinas ou pedindo esmolas, sem trombadinhas, sem flanelinhas.  O mundo do consumo, reservado para poucos, é o reino absoluto do mercado, que determina tudo, não apenas quem tem direito de acesso, mas a distribuição das lojas, os espaços obrigatórios para que se possa circular, tudo comandado pelo consumo.
Como toda utopia capitalista, reservada para poucos, porque basta o consumo de 20% da população para dar vazão às mercadorias e os serviços disponíveis e alimentar a reprodução do capital.
Mas para que essas cápsulas ideais existam, é necessário a super exploração dos trabalhadores – crianças, adultos, idosos – nas oficinas clandestinas com trabalhadores paraguaios e bolivianos em São Paulo e em Buenos Aires, em Bangladesh e na Indonésia, que produzem para que as grandes marcas exibam as roupas e os tênis luxuosos em suas esplendorosas lojas dos shoppings.
O choque entre os mundo dos shoppings e o dos espaços públicos remanescentes – praças, espaços culturais, os CEUS de São Paulo, os clubes esportivos públicos – é a luta entre a esfera mercantil e a esfera pública, entre  o mundo dos consumidores e o mundo dos cidadãos, entre o reino do mercado e a esfera da cidadania, entre o poder de consumo e o direito de todos.
É um enfrentamento que está no centro do enfrentamento entre o neoliberalismo e o posneoliberalismo, entre a forma extrema que assume o capitalismo contemporâneo e a formas de sociabilidade solidaria das sociedades que assumem a responsabilidade de construir um mundo menos desigual, mais humano.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Mudanças ao ritmo e estilo cubanos

Inter Press Service - Colunistas
08/1/2014

por Leonardo Padura*

Cuba 300x225 Mudanças ao ritmo e estilo cubanos

Havana, Cuba, janeiro/2014 – Desde que em 2008 o governo cubano passou efetivamente das mãos e do impulso tribunício de Fidel Castro ao estilo sucinto e pragmático de seu irmão Raúl, a economia e a sociedade acumulam uma série de mudanças mais ou menos notáveis que para muito segue em ritmo extremamente lento.

Para seus planejadores, incluído o próprio presidente, essas mudanças chegam com a cautela necessária para conseguir os que são proclamados como seus principais objetivos: atualizar e tornar eficiente a economia cubana sem aplicar políticas de choque de estilo neoliberal ou pacotes de medidas típicos de tempos de crise.

Os detratores do tempo imposto às mudanças têm como argumento fundamental o fato de poder esgotar o tempo real, histórico, para remodelar uma sociedade e economias paralisadas e deterioradas por longos anos de crise.

A justificativa das autoridades, no entanto, é que não há margem para improvisações e erros, por isso as transformações só devem ser implantadas no momento e na medida justos para que o sistema político não seja abalado com uma súbita alteração das estruturas econômicas.

Uma das especificidades desta política de “atualizações” realizadas em ritmo pausado foi o sigilo que as acompanha.

Na mais recente intervenção pública do presidente, durante o encerramento das atividades de 2013 no parlamento, aflorou essa tendência quando anunciou a esperada e necessária modificação da lei de investimento estrangeiro, sem deixar escapar uma só das características que terá o novo aparato legal que (se espera e se necessita) torne a ilha atraente para capitais estrangeiros indispensáveis para, entre outras carências, empreender a modernização da deteriorada infraestrutura de um país cujos recursos próprios são insuficientes para tal empenho.

Contudo, se em uns poucos meses o tema será discutido e a nova lei será adotada, por que não dar sinais de suas principais novidades?

Algo mais ou menos semelhante ocorre com o anunciado processo de unificação monetária do país (onde circulam dois tipos de peso, um cotado com relação ao dólar e a outras divisas), do qual se sabe apenas que afetará primeiro o setor mercantil e empresarial e em seguida os cidadãos, mas sem que se conheça muito sobre como nem quando chegarão as necessárias desvalorizações e revalorizações encaminhadas para a convergência das duas moedas, apesar de se tratar de um problema de máximo interesse público.

Mais recentemente, aconteceu com o anúncio da mudança na política de venda de automóveis, que será liberada após mais de meio século de restrições e ausências. Só se sabe que serão vendidos carros para quem puder comprá-los, com a informação adicional de que serão oferecidos a preços hoje estabelecidos pelo mercado entre particulares, ou seja, ao preço que poderia ter uma garrafa de água no ponto mais remoto do deserto do Saara.

Porque em um país no qual por meio século o mercado automobilístico esteve regido por proibições, vendas dirigidas e muito limitadas, além de preços já suficientemente altos, o automóvel se converteu no objeto de compra e venda mais cotado – mais ainda do que a moradia – encarecido justamente pela escassez e por dificuldades para obtê-lo.

Então, serão vendidos carros de segunda mão, explorados quase até o esgotamento, a preços similares aos que pode custar um automóvel novo em qualquer outro mercado do mundo? E, então, como será cotado um carro novo? Ninguém (dos interessados em adquiri-los) sabe com certeza, pois o tão esperado anúncio de que serão vendidos carros não esclarece a questão… porque se decidiu mantê-lo em segredo, até que chegue o momento em que o governo decidir torná-lo publico.

Em certas ocasiões essa falta de transparência funciona como um elemento que, de maneira muito evidente, desconhece os interesses dos cidadãos.

Como se sabe, há alguns anos – para continuar exemplificando – as autoridades lançaram uma campanha contra a corrupção administrativa e estatal. Porém, pouco se informa, por vias oficiais, sobre seus resultados, e menos ainda de seus episódios mais notáveis, ainda que – e essas mesmas autoridades não podem deixar de sabê-lo – esses resultados se filtram para a população por caminhos tortuosos.

É o caso de várias operações policiais e fiscais que, em dispositivos portáteis de armazenamento de dados, circulam de mão e mão com os casos, entre outros, do “personagem dos serviços comunitários” ou “dos dirigentes do supermercado da rua Carlos III”, como vão sendo chamados pelos cidadãos, que alternam a visão de materiais fílmicos das operações policiais com os da telenovela do momento.

Por que não informar mais sobre uma campanha que interessa e diz respeito a todos? A corrupção é apenas um problema de interesse policial ou também é uma ferida social que deve ser discutida entre os afetados?

E como funcionará a chamada Zona Especial de Desenvolvimento do Mariel (ZEDM), “chamada a ser um importante polo de atração de investimento estrangeiro e ao mesmo tempo em polígonos de experimentação de modernas tecnologias e métodos de gestão empresarial”, nas palavras de Raúl Castro, durante o encerramento da sessão parlamentar?

Quais passos se pode, se pensa, são dados para uma desejada normalização das relações entre Cuba e Estados Unidos com vistas a “restabelecer uma relação civilizada entre os dois países, como deseja nosso povo e a ampla maioria dos cidadãos norte-americanos e a emigração cubana?

O roteiro desta história parece incluir o suspense. No momento, só nos resta imaginar como se desenvolverá a trama que segue, até que sejam revelados os segredos, tal como nos ensinaram os velhos professores das radionovelas cubanas do século passado. Nós cubanos estamos treinados nesses exercícios. Envolverde/IPS

* Leonardo Padura é escritor e jornalista cubano, ganhador do Prêmio Nacional de Literatura 2012. Suas obras estão traduzidas em mais de 15 idiomas e sua mais recente novela, Herejes, é uma reflexão sobre a liberdade individual.

(IPS)

Paulo Freire, a simplicidade que ainda inova

por Tatiana Klix, do Porvir

Paulo Freire, o mais importante e revolucionário educador brasileiro, viveu a maior parte da sua vida e criou seus métodos e conceitos pedagógicos em uma realidade sem computador em larga escala, internet, jogos on-line ou redes sociais. Mas mesmo após 50 anos da primeira experiência de alfabetização de adultos em Angicos, Rio Grande do Norte, que se tornaria o método com o seu nome, boa parte dos ensinamentos do pensador pernambucano seguem contemporâneos. E mais: vários deles ainda são inovadores para o cenário educacional.

“Nunca tivemos tanta chance de aprender juntos como agora”, avalia Jose Moran, pesquisador e professor de comunicação da USP, que enxerga na colaboração, na troca, na convivência virtual e no compartilhamento de saberes um dos princípios mais importantes de Paulo Freire, o de aprender junto. “Educador e educando aprendem em comunhão” é uma frase que resume a concepção freireana para a prática do aprendizado.

PauloFreireInovacao Paulo Freire, a simplicidade que ainda inova

Foto: Evgenia Smirnova / Fotolia.com

Ao rejeitar o que chamou de educação bancária, na qual o professor apenas transmitia conhecimentos aos alunos, o pensador valorizou a cultura e o conhecimento prévios dos estudantes e a ideia que se aprende na troca, seja entre professores e alunos, seja com outros professores, seja entre alunos. “A educação está na vida, no nosso cotidiano e na nossa formação como um todo. Não acontece só na escola, mas em qualquer ambiente”, explica a professora doutora da Unicamp Debora Cristina Jeffrey.

Segundo ela, o mais importante para Freire é pensar a educação para a transformação humana e a autonomia do sujeito, o que ainda segundo a concepção do pernambucano se dá quando as pessoas se conscientizam de suas condições sociais, culturais, econômicas e políticas.

Dentro dessa visão humanista, para Moran, que pesquisa inovação em educação, é plenamente válido trabalhar os conceitos de Freire para entender uma educação mais conectada, que se utiliza de tecnologias móveis. O professor explica que a educação é um processo profundo de intercâmbio entre pessoas, que a tecnologia facilita e resolve uma parte dele sem que necessariamente educadores e educandos estejam presencialmente juntos.

Alguns projetos atuais de alfabetização de adultos têm utilizado como recurso o celular, por exemplo. Estimular relatos por email, ferramentas de bate-papo e redes sociais também são formas contemporâneas de usar o conhecimento que o aluno já tem. “É possível usar a tecnologia para conscientização, pesquisa, trocas culturais, que são necessárias para aprendizagem. Mas não adianta instrumentalizar o aluno; ele precisa ter consciência do porque e como vai utilizar os instrumentos para sua vida”, diz Débora.

Moran vai ainda mais longe e acredita que o processo de personalização, realizado por plataformas educativas que permitem que cada um possa fazer seu percurso, em qualquer lugar, desde que esteja conectado, é uma nova forma de educar para a autonomia. “Os princípios (de Freire) valem, mas a forma de atualizá-los se alternam, na medida que há outras possibilidades. O acesso ao conteúdo, materiais e informações básicas ocorre sem o professor. A personalização é a possibilidade que temos hoje de alguém estar mais atento às minhas necessidades de conhecimento, mesmo dentro do grande grupo”, explica.

Já a professora da Unicamp pondera que a ideia de que o aluno aprende por si só e que o professor é apenas um mediador, presente em concepções pedagógicas posteriores, não está presente nas teorias de Paulo Freire. Para o educador, as pessoas não aprendem sozinhas e o professor tem uma autoridade a exercer. “O foco principal é o coletivo, as experiências, a vivência, a cultura, o entendimento da condição do ser humano em uma sociedade desigual e a superação dessa condição”.

Nesse contexto, a roda de conversa, o estudo do meio e a educação por projetos, práticas usadas em escolas inovadoras, são ações educativas que visam essa troca de olhares, de perspectivas e saberes. “É possível pensar em projetos, mas não em projetos que vêm de cima para baixo. São projetos estabelecidos a partir de temas geradores. É preciso ouvir alunos, debater e fazer discussões que tragam sentido ou que sejam decididas em assembleias”, explica.

Segundo a professora e pesquisadora de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e organizadora do livro Memorial Paulo Freire: Diálogo com a Educação (Expressão e Arte), Noêmia de Carvalho Garrido, os projetos devem estar ligados à comunidade, trazer a história de vida dos educandos, para então trabalhar a sistematização dos conteúdos que a escola exige. “O homem, em sua formação, não é dividido, ele é integral, o conhecimento que vem de fora da escola é integral. Só se fragmenta na sala de aula”, diz.

Neste ponto, ainda está o principal desafio para levar Paulo Freire para a escola, principalmente a pública, na opinião de Débora. “Para trabalhar na perspectiva de Freire, é preciso atuar de modo interdisciplinar. Os temas têm que conversar entre eles, a partir de um eixo norteador”. Dentro dos ensinamentos de Freire, esse tema vai ser levantado a partir das necessidades e interesses dos educandos, ou até mesmo da troca de educador e educandos.

Não se pode segmentar conteúdos em disciplinas e dividir o dia dos alunos por matérias. Por exemplo, as manifestações de junho de 2013 podem se tornar um tema gerador para várias disciplinas. É possível discutir como esses movimentos surgiram, em matemática se estuda os indicadores sociais, em história, relembra passagens como a oposição à ditadura militar ou os caras pintadas, em geografia procura entender como as redes sociais interferem nas manifestações.

“Esse conjunto de debates leva o aluno a compreender por que participa das manifestações e qual o efeito que elas têm”, exemplifica a doutora em educação. Para Débora, na maioria das vezes, as escolas ainda mantêm uma estrutura tradicional de organização e espaço. E ainda é uma perspectiva inovadora se pensar a rotina e o cotidiano escolar de forma diferenciada.

* Publicado originalmente no site O Porvir.

(Porvir)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Ibope: Dilma tem 77% de aprovação pessoal; Governo é 'bom' para 56%

Dados encomendados pela CNI - 08/01/2014 às 16h17

Ibope: Dilma tem 77% de aprovação pessoal; Governo é 'bom' para 56%

A aprovação pessoal da presidente Dilma Rousseff subiu cinco pontos percentuais e atingiu 77%, de acordo com pesquisa Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada nesta quarta-feira-feira (4). Na pesquisa anterior, de dezembro, o índice dos eleitores que aprovavam a maneira de Dilma de governar era de 72%.

Dos eleitores ouvidos, 5% não souberam ou não quiseram responder. Esta é a maior aprovação pessoal da presidente Dilma nas cinco pesquisas realizadas pela CNI desde sua posse.
Conforme a pesquisa, 19% dos eleitores desaprovam a maneira de Dilma de governar. Na pesquisa anterior, o percentual era de 21%. 2% não responderam.
A pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Entre 16 e 19 de março, o Ibope ouviu 2.002 eleitores com 16 anos ou mais em 142 municípios de todas as regiões do país.
O levantamento foi realizado pouco depois do auge da crise do governo com a base aliada, quando o governo sofreu derrotas em votações importantes e a presidente Dilma trocou os líderes do governo na Câmara e no Senado para tentar solucionar o impasse.
Em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma apresenta maior popularidade em comparação com os dois primeiros anos dos dois mandatos de Lula, conforme a pesquisa. Em março do segundo ano do segundo mandato, Lula tinha 73%. A melhor avaliação de Lula, no mesmo período, foi registrada em março de 2003, quando ele obteve 75%. Na última pesquisa Ibope do governo Lula, em dezembro de 2010, o ex-presidente obteve 87% de aprovação.
Entre as regiões, a melhora mais expressiva da avaliação de Dilma ocorreu na região Sudeste, onde o índice de aprovação subiu de 69% para 75%.
AVALIAÇÃO DO GOVERNO DILMA
O Ibope aponta que, dos eleitores, 56% consideraram como ótimo ou bom o governo como um todo, mesmo percentual do levantamento anterior, feito em dezembro. Segundo o levantamento, 8% consideraram o governo Dilma ruim ou péssimo, contra 9% na pesquisa anterior.

Considerando a avaliação do governo, o melhor percentual registrado por Lula foi 51% em março do primeiro ano do primeiro mandato. Mais da metade da população, 60%, considera que o governo da presidente Dilma está sendo igual ao do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Maioria considera que o governo da presidente Dilma está sendo igual ao do ex-presidente LulaMaioria considera que o governo da presidente Dilma está sendo igual ao do ex-presidente Lula

O percentual de brasileiros que confiam na presidente passou de 68% para 72%. Considerada a margem de erro, esse índice se manteve estável em relação ao resultado mais elevado alcançado por Dilma, em março de 2011 (74%). Houve destaque para o aumento da crença dos eleitores das regiões Sul e Nordeste na presidente. No Sul, o índice saiu de 65% para 72% e no Nordeste de 73% para 79%.

Fonte: Com informações do G1

Publicado Por: Apoliana Oliveira

 

 

STF ABRIU A PORTA PARA RECURSOS INTERNACIONAIS

 

"É chegado o momento dos injustiçados da Ação penal 470 se dirigirem às cortes internacionais a fim de reivindicarem seus direitos e desvendar ao mundo a farsa deste julgamento. O que está em jogo neste momento não é apenas a defesa de membros do PT, mas a garantia da democracia e do cumprimento da Constituição brasileira", diz o deputado Chico Vigilante; ele contesta o fato de o mesmo STF que negou recursos a réus ligados ao PT ter desmembrado o processo do cartel dos trens em São Paulo, em decisão do ministro Marco Aurélio Mello; dois pesos e duas medidas

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9 DE JANEIRO DE 2014

Brasília 247 - O deputado distrital Chico Vigilante divulgou uma nota para expressar sua indignação com o que chamou de "dois pesos e duas medidas" no Supremo Tribunal Federal. Isso porque o ministro Marco Aurélio Mello decidiu desmembrar o processo do chamado cartel dos trens em São Paulo. Assim, apenas réus com direito ao foro privilegiado serão julgados no Supremo Tribunal Federal – os demais irão para a primeira instância e terão a oportunidade de recorrer.

Na Ação Penal 470, apenas três dos 38 réus tinham direito ao foro privilegiado, mas todos foram julgados pelo STF, sem direito a ampla defesa, portanto.

Leia, abaixo, o artigo divulgado ontem à noite por Chico Vigilante:

STF : DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS
Seus ministros decidem quando é a momento ideal para que se cumpra a Constituição

A decisão do STF de desmembrar a ação que investiga a formação de cartel em licitações do Metrô e da CPTM durante governos do PSDB no estado de São Paulo é uma prova cabal de que, no Brasil que vivemos hoje, a Suprema Corte  usa de dois pesos e duas medidas para realizar seus julgamentos, transformando-os com o testemunho de toda a sociedade brasileira, em decisões políticas acima de tudo.

Com a decisão do  ministro Marco Aurélio Mello, do STF, apenas os envolvidos na denúncia que têm direito ao chamado foro privilegiado serão julgados pela corte suprema (quatro, de dez réus). No caso dos outros seis réus, o processo volta para a Justiça Federal de São Paulo.

Agora sim, ao julgar o processo do cartel tucano, o STF decide cumprir o que diz a lei. Por que não fez o mesmo quando julgou a ação penal 470 ? Por que motivo negou a todos os advogados de defesa dos réus não parlamentares o pedido legal e de acordo com a Constituição de que deveriam ter o direito de ser julgados por tribunais de primeira instância dando a eles o sagrado direito de recorrer, caso necessário, as instancias superiores?

A decisão do STF atual fará com que, na prática, os envolvidos no esquema de propina em governos do PSDB que não ocupam cargos políticos tenham direito a recorrer a outras instâncias da Justiça.

Por que isso foi negado  por exemplo a José Dirceu, a Delúbio Soares, a  Henrique Pizzolato? Por que não se cumpriu a Constituição, segundo a qual apenas têm foro privilegiado parlamentares, ministros, presidente e vice?

Por que naquele momento Joaquim Barbosa e seus pares entenderam que não era um bom momento para se cumprir a lei e agora em relação aos envolvidos do tucanato chegou a hora de se obedecer a Constituição?

No caso, apenas três de 38 réus da Ação penal 470 tinham prerrogativa de foro especial, por serem parlamentares: os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP).

Será porque a Ação Penal 470, o chamado 'mensalão', envolvendo dirigentes petistas, teria mais chances de se transformar no escândalo da década e prejudicar os governantes petistas  se fosse julgado pela corte maior do país – onde seria dada a palavra final sobre os inimigos dos tucanos ? É obvio que sim.

Todos aqueles que querem ver estão percebendo que Joaquim Barbosa está usando a toga e a exposição que alcançou na mídia para alçar vôos maiores. E tem mostrado que sabe ser cruel com seus inimigos.

Me espanta sua capacidade demonstrada com a tortura psicológica que vem utilizando em relação a José Genoino e mais recentemente ao deputado João Paulo Cunha. Pauta a imprensa afirmando que decretou sua prisão  mas nem mesmo expediu o mandato ao mesmo tempo que sai de férias e diz que não teve tempo de mandar prender Roberto Jefferson.

É chegado o momento dos injustiçados da Ação penal 470 se dirigirem às cortes internacionais a fim de reivindicarem seus direitos e desvendar ao mundo a farsa deste julgamento. O que está em jogo neste momento não é apenas a defesa de membros do PT, mas a garantia da democracia e do cumprimento da Constituição brasileira.

Nós brasileiros, todos aqueles que enfrentamos o arbítrio dos fuzis da ditadura em defesa deste pais, não podemos aceitar agora o arbítrio de um juiz e de seus pares na Corte Suprema do Brasil.

Estamos num voo cego: para onde vamos?

 

08/01/2014

Leonardo Boff

Leonardo Boff

 

Estamos num voo cego: para onde vamos?

As palavras finais da Carta da Terra apelam para uma retomada da humanidade: como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a um novo começo.


Quem leu meus dois artigos anteriores “O funesto império mundial das corporações” e “Uma governança global da pior espécie: os mercadores” terá seguramente concluido que na única nave espacial-Terra, seus passageiros viajam em condiçõs totalmente diferentes. Um pequeno grupo de super-ricos ocuparam para si a primeira classe com um  luxo escandaloso; outros felizardos ainda viajam na classe econômica e são servidos razoavelmente de comida e bebida. O resto da humanidade, aos milhões, viaja junto às bagagens sujeita ao frio de dezenas de graus abaixo de zero, semi-mortos de fome, de sede e no desespero. Esmurram as paredes dos de cima, gritando: “ou repartimos o que temos nesta única nave espacial ou, num certo momento, acabará o combustível e pouco importam as classes, morreremos todos”. Mas quem os escutará? Impassíveis dormem depois de um lauto jantar.
Metaforicamente esta é a situação real da Humanidade. Na verdade, estamos perdidos e num voo cego. Como chegamos a esta situação ameaçadora?
Temos  experimentado dois modelos de produção e de utilização dos bens e serviços naturais para atender as demanas humanas: o socialismo e o capitalismo. Ambos fracassaram. Não cabe detalher os dados. O sistema do socialismo real era  de economia de planejamento estatal centralizado. Chegou a níveis razoáveis de igualdade-equidade nos campos da educação, da saúde e da moradia mas, por razões internas e externas, especialmente por seu caráter ditatorial não conseguiu resolver suas contradições e ruiu.
O sistema capitalista neoliberal de mercado livre com parco controle do Estado também fracassou em razão de sua lógica interna, a de acumular de forma ilimitada bens materiais sem qualquer outra consideração. Produziu duas injustiças graves: uma social a ponto de 20% dos mais ricos controlarem 82,4% das riquezas da Terras e os 20% mais pobres devendo-se contentar com 1,6%; e outra injustiça ecológica devastando inteiros ecossistema e eliminando espécies de seres vivos na ordem entre 70-100 mil por ano. Este sistema quebrou em 2008 exatamente no coração dos países centrais.
O comunismo chinês é sui generis: pragmaticamente combina todos os modos de produção, desde o uso da força física das pessoas, dos animais, até a mais alta tecnológica, articulando  a propriedade estatal com a privada ou mixta, desde que o resultado final seja uma maior produção com mínimo sentido de justiça social e ecológica.
Mas importa recohecer que está crescendo o convencimento bem fundado de que o sistema-Terra limitado em bens e serviços, pequeno e superpovoado já não suporta um projeto de crescimento ilimitado. Ele perdeu as condições de repor o que lhe tiramos, por isso se torna cada vez mais insustentável. Mas por ser  uma super-entidade viva, a Terra reage de forma cada vez mais violenta: mudanças climáticas bruscas, furacões, tsunamis, degelo, desertificação espantosa, erosão da biodiversidade e um aquecimento global que não pára de aumentar. Quando  vai parar esse processo? Se continuar para onde nos vai levar?
Somos urgidos a mudar de rumo, vale dizer, assumir novos princípios e valores, capazes de organizar de forma amigável nossa relação para com a natureza e para com a Casa Comum. O documento mais inspirador é seguramente a Carta da Terra, nascida de uma consulta mundial que durou oito anos, sob a inspiração de Michail Gobachev e aprovada pela UNESCO em 2003. Ela incorpora os dados mais seguros da nova cosmologia que mostram a Terra como um momento de um vasto universo em evolução, viva e dotada de uma complexa comunidade de vida. Todos os seres vivos são portadores do mesmo código genético de base de sorte que  todos são parentes entre si. 
Quatro princípios axiais estruturam o documento: o respeito e o cuidado pela comunidade de vida(1); a integridade ecológica (2); a justiça social e econômica (3); a democracia, a não-violência e a paz (4). Com severidade adverte:”ou formamos uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscamos a nosa destruição e a da diversidade de vida”(prêambulo).
As palavras finais do documento apelam para uma retomada da humanidade:”como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a um novo começo. Isso requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabiliade universal. Só assim alcançaremos um modo de vida sustentável nos níveis local, regional, nacional e global”(Conclusão).
Repare-se que não se fala de reformas mas de um novo começo. Trata-se de reinventar a humanidade. Tal propósito demanda um novo olhar sobre a Terra (mente), vista como um ente vivo, Gaia, e uma nova relação de cuidado e de amor (coração), obedecendo à lógica universal da interdependência de todos com todos e da responsabilidade coletiva pelo futuro comum.
Este é o caminho a seguir que servirá de carta de navegação para a nave-Terra  aterissar segura num outro tipo de mundo.
(*) Leonardo Boff participou da redação da Carta da Terra.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Uma Carta Aberta a FHC que merece ir para os livros de história

Theotonio dos Santos e a Carta Aberta a FHC: uma das manifestações públicas mais demolidoras da nossa história política recente.

Posted on January 8, 2014

Uma Carta Aberta a FHC que merece ir para os livros de história

fhc carta aberta theotonio santos

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil. Foto: divulgação

Renato Rovai

Segue uma Carta Aberta de Theotonio dos Santos, economista, cientista político e um dos formuladores da Teoria da Dependência. Hoje é um dos principais expoentes da Teoria do Sistema Mundo. Mestre em Ciência Política pela UnB e doutor “notório saber” pela UFMG e pela UFF. Coordenador da cátedra e rede UNU-UNESCO de Economia Global e Desenvolvimento sustentável – REGGEN.

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Meu caro Fernando,

Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960.

A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete contudo este debate teórico. Esta carta assinada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação.Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população.

Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependência: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000). Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartilhar com você… Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação.

Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário. No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos.

TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”.

ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese? Conclusões: O plano Real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.

Segundo mito – Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.

E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. Um governo que chegou a pagar 50% ao ano de juros por seus títulos para, em seguida, depositar os investimentos vindos do exterior em moeda forte a juros nominais de 3 a 4%, não pode fugir do fato de que criou uma dívida colossal só para atrair capitais do exterior para cobrir os déficits comerciais colossais gerados por uma moeda sobrevalorizada que impedia a exportação, agravada ainda mais pelos juros absurdos que pagava para cobrir o déficit que gerava.

Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou drasticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. Vergonha, Fernando. Muita vergonha. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identificar com o seu governo…te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.

Terceiro mito – Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição os 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID.

Tudo isto sem nenhuma garantia. Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em consequência deste fracasso colossal de sua política macroeconômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações.

A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa. Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar… Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este país.

Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso fazê-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entrou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional.

Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o verdadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista.

E dessa política vocês estão fora. Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a frequentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.

Com a melhor disposição possível, mas com amor à verdade, me despeço.

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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

“Estado ineficiente”, mito medíocre

Outras Palavras

Há trinta anos, mídia martela suposta superioridade da iniciativa privada. Vale examinar bases desta crença (e interesses por trás dela)…

por Rafael Azzi — publicado 07/01/2014

Imagem: Matt Kenyon

[Este é o blog do site Outras Palavras em CartaCapital. Aquivocê vê o site completo]

A ideologia liberal defende a ideia de que a iniciativa privada é capaz de produzir bens e serviços de forma eficiente e barata; enquanto o Estado, considerado ineficiente e corrupto, seria simplesmente um obstáculo ao bom funcionamento do mercado. Trata-se de uma ideologia maniqueísta, pregando sempre a dicotomia Estado ruim versus mercado bom. Em muitos casos, tal percepção discriminatória se mostra de acordo com a realidade e, quando posta em prática por um determinado governo, torna-se uma profecia autorrealizável.

Segundo a mesma lógica, os funcionários públicos são considerados ineficientes e preguiçosos. Trata-se de um preconceito comum e persistente, mesmo diante do fato de que existem funcionários exemplares nos mais variados setores públicos, e de que, em instituições privadas, há empregados que, adaptados à cultura empresarial, conseguem ser premiados mesmo se esquivando do trabalho ou usando de formas pouco éticas.

A base da argumentação, para quem defende esse ponto de vista maniqueísta, se refere à questão da estabilidade. Por lei, funcionários públicos têm direito a estabilidade no emprego após passar por um período de avaliação probatória durante três anos. Tal fato justificaria o senso comum de que eles trabalham menos do que aqueles que se empregam em empresas privadas. Essa explicação se baseia na premissa de que a principal motivação para a eficiência no trabalho é o medo da demissão. Na verdade, estudos modernos demonstram que essa ideia não está correta. Há diferentes motivações para o trabalho. Os principais estímulos motivacionais, tais como a percepção de realizar uma tarefa significativa, o reconhecimento dos outros e a possibilidade de progresso podem existir ou faltar tanto na iniciativa privada quanto no funcionalismo público.

O argumento do mercado mais eficiente também não se sustenta em diversos casos. Na realidade, em alguns setores a lógica mercadológica parece atuar de forma contrária à eficiência. No que se refere à saúde, por exemplo, é possível comparar dois sistemas situados em pólos opostos: EUA e Cuba. Os índices de expectativa de vida e de mortalidade infantil da ilha caribenha são praticamente os mesmos dos EUA. Entretanto, os gastos anuais dos EUA em saúde, por pessoa, são de U$ 5.711, enquanto Cuba gasta apenas U$ 251. Dessa forma, o Estado cubano tem um custo pelo menos vinte vezes menor para obter um resultado equivalente ao da iniciativa privada americana.

Isso ocorre porque o Estado pode investir diretamente nas causas dos problemas e, assim, conduzir o atendimento médico a quem mais precisa. Em 2001, uma comissão do Parlamento Britânico visitou a ilha e relatou que o êxito da sua política de saúde é devido à forte ênfase na prevenção das doenças e ao compromisso com a prática de medicina voltada para a comunidade. Tal procedimento gera melhores resultados com menos recursos. O mercado sempre segue cegamente a lógica da maximização do lucro, que nem sempre se mostra a mais eficaz para lidar com problemas sociais; ou, nos termos de Bill Gates: “capitalismo significa que há muito mais pesquisa sobre a calvície masculina do que sobre doenças como a malária.”

No caso da ideologia liberal no governo, diversas vezes o que ocorre é uma profecia autorrealizável. Parte-se do princípio de que o Estado é ineficiente e corrupto, isso leva o Estado a investir pouco, pagar mal funcionários e sucatear os serviços públicos. O pouco reconhecimento e as más condições de trabalho geram insatisfação e greves. As paralisações tornam-se mais um argumento para afirmar que o serviço público é inerentemente ruim.

É o caso, por exemplo, do sistema carcerário brasileiro. Os governos recentes pouco investiram na área e não se interessaram pela renovação do sistema prisional medieval do país. Assim, ao invés de o Estado efetivamente tomar as rédeas da situação, surge uma solução de efeito rápido que agrada a todos: a iniciativa privada aparece para poder finalmente resolver a questão, sendo contratada pelo Estado para construir e administrar presídios. Muitos ganham com isso, menos a sociedade: os políticos que terceirizaram o problema, e os empresários que receberão dinheiro diretamente do governo.

Outro caso a ser citado é o que se refere ao tratamento de viciados em drogas. Enquanto muitos Centros de Atenção Psicossocial públicos (Caps) são negligenciados, o governo propõe como solução a internação em comunidades terapêuticas privadas. Observa-se que, nesses casos, não existe nem uma “lógica de mercado” propriamente dita operando na forma de competição e livre mercado. Presos e viciados não podem escolher o melhor serviço e são levados às prisões e às comunidades terapêuticas de forma compulsória. A competição por custos também inexiste, pois o serviço é subsidiado pelo governo.

Assim, pode-se observar que o mercado pode também trabalhar de forma contrária ao interesse coletivo. As instituições privadas de carceragem e de tratamento de drogados têm interesse em obter o maior o número possível de internações, sem que isso signifique a melhoria dos serviços oferecidos. Dessa forma, a dinâmica de interesses gera pressão do setor para que o governo endureça as leis de restrição de liberdade e incentive à internação compulsória por uso de drogas. Além disso, a reincidência de presos e de drogados também é benéfica para o mercado e prejudicial para a sociedade. Estudos afirmam que, no caso de internação, a reincidência de drogados é superior a 90% dos casos.

O argumento de que a terceirização pode desonerar o Estado também pode se mostrar falso. Em uma instituição pública, seja uma prisão ou um Caps, o Estado é responsável direto pelo salário dos funcionários e pela manutenção dos serviços. No caso das comunidades terapêuticas e das unidades de detenção privadas, o governo paga um subsídio pelo número de presos e de pacientes. Neste subsídio deve constar, para além dos custos fixos de salários e manutenção, uma certa margem de lucro para que a iniciativa privada se interesse em oferecer tais serviços.

É preciso analisar pontualmente as situações em que o Estado tem mais gastos ao oferecer diretamente serviços públicos. Na maior parte das situações, os maiores custos advêm de ações de transparência pública. Servidores devem ter a qualificação necessária e precisam ser contratados através de concursos públicos, e os gastos públicos são justificados e controlados através de processos de licitação e prestação de contas. Essa transparência tem como objetivo evitar atos indevidos e arbitrários, sendo condição necessária para o controle de práticas desonestas e antiéticas. Nas instituições privadas prestadoras de serviços, os profissionais são escolhidos pela empresa e o uso do dinheiro do governo não é controlado da mesma forma rígida utilizada na esfera pública para monitoramento de gastos.

Soluções possíveis para tal problemática seriam o controle e a fiscalização rígida, exercidos pelo Estado, nas empresas contratadas para executar serviços da esfera pública. No entanto, chega-se a uma contradição. Para que haja uma boa fiscalização por parte do Estado, o governo deverá ter mais infra-estrutura, pagar mais funcionários, ter mais custos com manutenção, dentre outros investimentos. Além disso, se a convicção liberal é a de um Estado intrinsecamente ineficiente e corrupto, de que adiantaria monitorá-lo? Essa é uma contradição do discurso liberal. Na verdade, em muitos casos, ao invés de o Estado se tornar mais eficiente ele se transforma no melhor parceiro que a iniciativa privada poderia ter.

A noção de Estado como local privilegiado de corrupção é sustentada igualmente por preconceitos ideológicos. Na verdade, pode-se afirmar que o Estado pode ser eficiente e o mercado corrupto, não havendo qualquer relação obrigatória entre esses termos. A corrupção do Estado é um problema real que deve ser combatido através de ações de transparência pública e da prestação de contas à sociedade. De acordo com um relatório produzido pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o Brasil perde de R$ 50,8 bilhões a R$ 84,5 bilhões por ano com corrupção governamental. Entretanto, a corrupção não é exclusividade do Estado. No que se refere a processos de sonegação fiscal, classificado como corrupção privada, uma pesquisa da organização britânica Tax Justice Network aponta perdas muito maiores para o país: 280,1 bilhões de dólares por ano.

Assim, o mito do governo ineficiente e corrupto é um discurso amplamente disseminado porque auxilia muitos grupos, inclusive aqueles que lucram à custa do próprio Estado. É preciso determinar políticas públicas de acordo com o que seja melhor para a sociedade como um todo, sem a interferência indevida de ideologias e de preconceitos criados e corroborados pelo senso comum.

179 anos da Cabanagem

 

Há 179 anos, o primeiro ataque dos Cabanos aconteceu ainda na noite dia 6 de janeiro de 1835. O povo de Belém festejava ao luar o Dia de Reis. Autoridades portuguesas e famílias poderosas brindavam na noite de gala do Teatro da Providência, que se localizava na Praça das Mercês, diante da Igreja. À saída do teatro, o presidente da província, Bernardo Lobo de Souza, foi para a casa da amante. Demorou a perceber o caos na cidade. Esgueirando-se pelos quintais, de casa em casa, conseguiu ficar escondido até o início do outro dia. Quando saiu à rua, foi morto à bala por um índio tapuio.

A Revolta dos Cabanos ou Cabanagem ocorreu na Província do Grão-Pará, que compreendia o Amazonas e o Pará, entre 1835 e 1840. Cabano era o nome dado aos que habitavam as casas miseráveis às margens dos rios da região. Formavam uma massa de marginalizados que deu à Cabanagem o caráter mais popular de todas as rebeliões nas províncias brasileiras no período regencial (1831-1840). A diversidade étnica dos revoltosos era tamanha que surpreendeu os soldados aliados à Regência: indígenas, negros escravos e libertos, mamelucos, cafuzos, mulatos e mestiços estavam unidos a comerciantes, fazendeiros e intelectuais excluídos das decisões na província.

Parecia a Queda da Bastilha, marco da Revolução Francesa, em 1789.

Desde 1822, as agitações em torno da Independência atingiam a região, que mantinha poucos vínculos com o Rio de Janeiro e era muito influenciada por Lisboa. Tanto que o Pará só aderiu à Independência com um ano de atraso, em agosto de 1823, e ainda assim após a interferência do poder imperial com o envio de tropas comandadas pelo inglês Grenfell. Desde então, o governo central enfrentava oposição radical da população local, que contestava e desafiava as autoridades provinciais nomeadas.

Os conflitos tinham se agravado com a instabilidade política gerada pela abdicação de D. Pedro I e a instalação da Regência, até estourar o movimento armado, em 1835, a princípio controlado por seus líderes, entre os quais Eduardo Angelim, Clemente Malcher, o cônego Batista de Campos e os irmãos Manuel e Francisco Vinagre.

Os cabanos dominaram Belém durante dez meses. Ao todo, três líderes rebeldes presidiram o Pará. Já na primeira gestão, uma moeda antiga passou a ser reutilizada e só valia na província. Mas o movimento se perdeu em meio a desavenças internas e desorientação política.Cabanos se apropriaram de casas de famílias portuguesas ou ligadas ao antigo regime. O porte de armas entre eles foi legalizado.

Intrigas e traições entre os líderes do movimento causaram tanto prejuízo quanto as tropas inimigas. O primeiro presidente indicado,Félix Malcher, simpático ao Império, foi chamado de traidor e assassinado em meio à disputa de poder com o comandante de armas, Antônio Vinagre.

A situação de Belém foi se tornando insustentável. Destruída pelos combates, grassavam epidemias de varíola, cólera e beribéri. A população passava fome. O poder central enviou reforços militares e navais, com apoio inglês. Logo no primeiro contra-ataque do governo provocou, os cabanos tiveram que fugir. A ofensiva teve a ajuda do presidente Francisco Vinagre. Os cabanos debandaram e mantiveram resistência no interior, numa tática guerrilheira, mas foram massacrados. Povoados inteiros foram esmagados e sua população exterminada. Ao final, 40% da população da província havia sido morta. A tragédia em números: 40 mil mortos em três anos de combates numa província com uma população de cerca de 100 mil habitantes.

O último presidente cabano, Eduardo Angelim, foi derrotado pela esquadra do brigadeiro Francisco José Soares de Andrea. A caça aos cabanos continuou até 1840. A tortura era comum. No fim da revolta, Belém só tinha, praticamente, mulheres, crianças e idosos. Muitas mulheres foram violentadas, do lado cabano e das famílias ligadas à Regência.

Em 1840 a província foi considerada "pacificada".

7 de janeiro de 1835 é a data que marca a tomada de Belém pelos cabanos. Já em 13 de maio de 1836 as tropas legalistas fizeram sua festa, comemoravam o começo do fim da Cabanagem. Até o primeiro grande jornal regular do Pará não por acaso foi nomeado Treze de Maio, era o jornal da legalidade. E em 1888 - antes da Lei Áurea - foi criada a Liga Redentora, que propunha que a abolição da escravidão em Belém fosse marcada para o dia 13 de maio. Essa data segundo a autora significava a alforria dos “honrados” cidadãos paraenses sobre os “amotinados” e “desordeiros” homens de 1835 e seus precursores.

Domingos Antônio Raiol e Antônio Ladislau Monteiro Baena foram pioneiros e hoje são clássicos da historiografia cabana. Para Raiol, os fatos que ocorreram no Pará configuram-se como “motins políticos”. Por isso 7 de setembro seria um dia fúnebre e não de comemoração. O autor reconstruía a história paraense desse período como motins desencadeados pelo Rio de Janeiro e que só seriam compreendidos no contexto da abdicação e da Regência. Em 1923 veio uma reinterpretação, e o 7 de janeiro voltou à tona.

Segundo Caio Prado Jr., a Cabanagem foi "o mais notável movimento popular do Brasil (...) o único em que as camadas mais inferiores da população conseguem o poder de toda uma província com certa estabilidade".

Fonte: http://uruatapera.blogspot.com.br/2014/01/179-anos-da-cabanagem.html

O funesto império mundial das corporações

 

por Leonardo Boff*

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O individualismo, marca registrada da sociedade de mercado e do capitalismo como modo de produção e sua expressão política o neoliberalismo, revelam toda sua força mediante as corporações nacionais e multinacionais. Nelas vigora cruel competição dentro da lógica do ganha-perde.

Pensava-se que a crise sistêmica de 2008 que afetou pesadamente o coração dos centros econômico-financeiros nos USA e na Europa, lá onde a sociedade de mercado é dominante e elabora as estratégias para o mundo inteiro, levasse a uma revisão de rota. Ainda mais que não se trata apenas do futuro da sociedade de mercado mundializada, mas de nossa civilização e até de nossa espécie e do sistema-vida.

Muitos como J. Stiglitz e P. Krugman esperavam que o legado da crise de 2008 seria um grande debate sobre que tipo de sociedade queremos construir. Enganaram-se rotundamente. A discussão não se deu. Ao contrário, a lógica que provocou a crise foi retomada com mais furor.

Richard Wilkinson, epidemiologista inglês e um dos maiores especialistas sobre o tema desigualdadefoi mais atento e disse, ainda em 2013 numa entrevista ao jornal Die Zeit da Alemanha: “a questão fundamental é esta: queremos ou não verdadeiramente viver segundo o princípio que o mais forte se apropria de quase tudo e o mais fraco é deixado para trás?”.

Os superricos e superpoderosos decidiram que querem viver segundo o princípio darwinista do mais forte e que se danem os mais fracos. Mas comenta Wilkinson: “creio que todos temos necessidade de uma maior cooperação e reciprocidade, pois as pessoas desejam uma maior igualdade social”. Esse desejo é intencionalmente negado por esses epulões.

Via de regra, a lógica capitalista é feroz: uma empresa engole a outra (eufemisticamente se diz que se fizeram fusões). Quando se chega a um ponto em que só restam apenas algumas grandes, elas mudam a lógica: ao invés de se guerrearem, fazem entre si uma aliança de lobos e comportam-se mutuamente como cordeiros. Assim articuladas detém mais poder, acumulam com mais certeza para si e para seus acionistas, desconsiderando totalmente o bem da sociedade.

A influência política e econômica que exercem sobre os governos, a maioria muito mais fracos que elas, é extremamente constrangedor, interferindo no preço das commodities, na redução dos investimentos sociais, na saúde, educação, transporte e segurança. Os milhares que ocupam as ruas no mundo e no Brasil intuíram essa dominação de um novo tipo de império, feito sob o lema: “a ganância é boa” (greed is good) e “devoremos o que pudermos devorar”.

Há excelentes estudos sobre a dominação do mundo por parte das grandes corporações multilaterais. Conhecido é o do economista norte-americano David Korten “Quando as corporações regem o mundo” (When the Corporations rule the World, Berret-Koehler Publisher 1995/2001)). Mas fazia falta um estudo de síntese. Este foi feito pelo Instituto Suíço de Pesquisa Tecnológica (ETH), em Zurique em 2011 que se conta entre os mais respeitados centros de pesquisa, competindo com MIT. O documento envolve grandes nomes, é curto, não mais de 10 páginas e 26 sobre a metodologia para mostrar a total transparência dos resultados. Foi resumido pelo Professor de economia da PUC-SP Ladislau Dowbor em seu site. Baseamo-nos nele.

Dentre as 30 milhões de corporações existentes, o Instituto selecionou 43 mil para estudar melhor a lógica de seu funcionamento. O esquema simplificado se articula assim: há um pequeno núcleo financeiro central que possui dois lados: de um, são as corporações que compõe o núcleo e do outro, aquelas que são controladas por ele. Tal articulação cria uma rede de controle corporativo global. Esse pequeno núcleo (core) constitui uma superentidade (super entity). Dele emanam os controles em rede, o que facilita a redução dos custos, a proteção dos riscos, o aumento da confiança e, o que é principal, a definição das linhas da economia global que devem ser fortalecidas e onde.

Esse pequeno núcleo, fundamentalmente de grandes bancos, detém a maior parte das participações nas outras corporações. O topo controla 80% de toda rede de corporações. São apenas 737 atores, presentes em 147 grandes empresas. Ai estão o Deutsche Bank, o J.P. Morgan Chase, o UBS, o Santander, o Goldes Sachs, o BNP Paribas entre outros tantos. No final menos de 1% das empresas controla 40% de toda rede.

Este fato nos permite entender agora a indignação dos Occupies e de outros que acusam que 1% das empresas faz o que quer com os recursos suados de 99% da população. Eles não trabalham e nada produzem. Apenas fazem mais dinheiro com dinheiro lançado no mercado da especulação.

Foi esta absurda voracidade de acumular ilimitadamente que gestou a crise sistêmica de 2008. Esta lógica aprofunda cada vez mais a desigualdade e torna mais difícil a saída da crise. Quanto de desumanidade aquenta o estômago dos povos? Pois tudo tem seu limite nem a economia é tudo. Mas agora nos é dado ver as entranhas do monstro. Como diz Dowbor: “A verdade é que temos ignorado o elefante que está no centro da sala”.Ele está quebrando tudo, cristais, louças e pisoteando pessoas. Mas até quando? O senso ético mundial nos assegura que uma sociedade não pode subsistir por muito tempo assentada sobre a superexploração, a mentira e a antivida.

A grande alternativa é oferecida por David Korten que tem trabalhado com Joanna Macy, uma das mais comprometidas educadoras com o novo paradigma e com um futuro diferente e otimista do mundo. A grande virada (The Great Turning) se dará com a passagem do paradigma “Império” para o da “Comunidade da Terra”. O primeiro dominou nos últimos cinco mil anos. Agora chegou seu ponto mais baixo de degradação. Uma virada salvadora é a renúncia ao poder como dominação imperial sobre e contra os outros na direção de uma convivência de todos com todos na única “Comunidade da Terra”, na qual seres humanos e demais seres da grande comunidade de vida convivem, colaboram e juntos mantém uma Casa Comum hospitaleira e acolhedora para todos. Só nesta direção poderemos garantir um futuro comum, digno de ser vivido.

* Leonardo Boff é filósofo, teólogo, escritor e comissionado da Carta da Terra.

** Publicado originalmente no site Adital.

(Adital)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Amazônia:" nem integrar nem entregar". Temos que conhecê-la para preservá-la!

Ambiente
06/1/2014 - 11h24

A Amazônia continua ameaçada

por Germano Assad e Luana Lila, do Greenpeace

pecuaria A Amazônia continua ameaçada

O avanço da pecuária sobre as florestas continua sendo uma das maiores ameaças à Amazônia.

Na década de 70, o governo militar ofereceu incentivos fiscais para os investidores brasileiros e internacionais ‘desbravarem’ a Amazônia. Os empresários começaram a comprar terras que eram antigos seringais com o intuito transformar a floresta em ‘novas frentes de negócios’, sobretudo pastagens para a criação de gado.

Mas, diferente do que se imaginava em outras regiões do país, que tinham a ideia de que na Amazônia havia um enorme vazio demográfico, eram milhares de famílias de seringueiros e povos indígenas ocupando aquelas terras. Foi assim que começaram os conflitos com a expulsão de índios, ribeirinhos e seringueiros pelos novos “proprietários”.

Pessoas que nasceram naquelas terras de repente recebiam a notícia de que seriam obrigados a se retirar. Muitos foram enfrentar um destino de pobreza extrema e desemprego na periferia das grandes capitais do Norte. Outros perderam a economia de uma vida, enganados por grileiros. Os que resistiam eram pressionados por pistoleiros, ameaçados de morte por jagunços e muitas vezes tinham suas casas queimadas.

Foi nesse contexto que os seringueiros se organizaram nos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, apoiados pela Igreja, que criou as Comunidades Eclesiais de Base com a missão de conscientizá-los sobre seus direitos e formar líderes que pudessem atuar nas comunidades. O jornalista, escritor e documentarista Edilson Martins conhece bem essa história.

“Antes de conhecer o Chico eu conheci o Pinheiro, que foi presidente do sindicato antes, e foi assassinado nas mesmas condições que ele. O Pinheiro é o cara que começa a organizar a resistência em um momento que o governo militar decide substituir o ciclo mono-extrativista que dominava a Amazônia pelos grandes projetos agropecuários, madeireiros, de mineração, rodovias patrocinadas pelo banco mundial, transamazônica, ainda no final dos anos 60”, lembra.

O novo modelo, dominado pelo capital da indústria, das grandes fazendas e latifundiários se chocaria, mais para frente, com a figura do seringueiro, do ponto de vista territorial.

Mobilização e confronto pacífico pela resistência

O sindicato de Brasileia surgiu em dezembro de 1975, com a ascensão de Wilson Pinheiro como liderança. Wilsão, como era chamado pelos amigos, foi quem idealizou a forma de embate pacífico tão inspiradora até hoje, junto com Chico.

Ambos estavam frustrados depois de inúmeras denúncias feitas aos órgãos competentes à época, de invasão de terras, violência e agressão à floresta por parte de fazendeiros e pecuaristas, que terminavam sempre sem resposta.

Cansados, pensaram os empates, que tinham por objetivo impedir a derrubada da mata e outras formas de violência contra os seringueiros, como alternativa efetiva às denúncias feitas em vão.

Vinham trabalhadores da região de influência da BR-317 caminhando até o lugar onde os peões estavam prontos para realizar o desmate. Surgiam, de repente, centenas de homens, mulheres e crianças para formar uma corrente humana em frente a área a ser devastada. Do outro lado, muitos do que estavam prestes a desmatar eram os seringueiros que foram cooptados pelos novos donos da terra. Eles não tinham coragem de passar por cima de seus pares. Ali, no interior da floresta, homens e mulheres travavam um embate entre pobres, a serviço dos ricos.

Em pouco tempo eram oito sindicatos na região, com 25 mil associados. A luta era desigual pois os fazendeiros tinham o apoio do Estado, representado por policiais, advogados, juízes e políticos. Para a antropóloga Mary Alegretti, que viveu esse momento de mobilização, a partir da década de 80, a capacidade de articulação de Chico Mendes vinha da legitimidade que eles passava.

“Eu entendi qual era o sentido da luta dele porque eu tinha visto o que era o seringal, o patrão, o seringueiro eternamente endividado, eu tinha estudado essa situação. Então quando ele falava do seringueiro liberto, do empate, da necessidade da educação, eu tinha uma profunda empatia, porque eu tinha percebido exatamente, sabia o que ele estava falando. E acho que ele percebeu isso, por isso a gente tinha muita cumplicidade”, conta.

A manada passa e a soja fica

De lá pra cá, apesar dos esforços das lideranças locais, a pecuária acabou se instalando na Amazônia e se tornou o maior driver de desmatamento da região.

Segundo dados do Imazon, entre 1990 e 2003, o rebanho bovino da Amazônia Legal cresceu 140% e passou de 26,6 milhões para 64 milhões de cabeças. Na esteira da pecuária, a Amazônia foi tomada por outras commodities, como a soja, que foram expandindo a fronteira do desmatamento na Amazônia.

Um estudo publicado nesta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstrou a relação entre violência e desmatamento. De acordo com ele, municípios localizados em áreas de desmatamento da Amazônia sofrem mais com a violência do que outras cidades similares.

Segundo a pesquisa, a média da taxa de homicídios nos 46 municípios que mais desmatavam em 2010 era 48,8 por 100 mil habitantes naquele ano. Quase o dobro da observada nos outros 5.331 municípios pequenos e médios do país (27,1 por 100 mil habitantes).

O modelo de desenvolvimento que motivou a luta de Chico Mendes ainda é o mesmo, baseado em levar grandes projetos para a Amazônia sem compreendê-la e sem se preocupar com as pessoas que vivem lá. Daí as situações se repetirem ainda hoje. A Amazônia 25 anos depois de Chico ainda sofre com a falta de governança e a impunidade.

“Até hoje, a ideia hegemônica sobre a Amazônia é que ela tem que se integrar a qualquer custo ao Brasil, quando na verdade é o Brasil que deveria se integrar a ela, reconhecendo que é dono de grande parte da maior floresta tropical do mundo e que deve estabelecer um modelo econômico diferenciado, respeitando os povos que vivem nela. Mas o que se vê é o governo entregando essa riqueza para a exploração desenfreada, numa lógica em que a floresta é vista como um empecilho para o desenvolvimento. Isso começou na época do Chico Mendes e permanece atual, sendo um dos grandes incentivadores da violência no campo”, afirma Danicley de Aguiar, da Campanha Amazônia do Greenpeace.

* Publicado originalmente no site Greenpeace.

(Greenpeace)