Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

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Bem-vindo ao blog do PT de Mosqueiro, aqui nós discutimos a organização e atuação do Partido dos Trabalhadores nas relações sociopolíticas e econômicas do Brasil e do Pará. Também debatemos temas gerais sobre política, economia, sociedade, cultura, meio ambiente, bem como temas irreverentes que ocorrem no Mundo, no Brasil, no Pará, mas em especial na "Moca". Obrigado por sua visita e volte sempre!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Saneamento básico ainda é motivo de morte no Brasil

28/2/2013 - 11h53

por Dal Marcondes, da Envolverde

saneamento1 300x169 Saneamento básico ainda é motivo de morte no Brasil

Foto: www.assimsefaz.com.br

Ananideua, um município próximo a Belém, tão próximo que parece um bairro, registrou em 2011 o alarmante número de 904 internações por diarreia para cada 100 mil habitantes. Em 2012 a cidade conseguiu bater seu recorde entre os 100 maiores municípios brasileiros e marcou 1210 pessoas internadas com doenças causadoras de diarreias. Na outra ponta, das menores ocorrências de doenças com diarreia, ficou em 2011 a cidade paulista de Taubaté, com 1,4 internação para cada 100 mil habitantes. O caso de Ananideua chama a atenção porque o município que vem logo em seguida, Belford Roxo (RJ), registrou em 2011 menos da metade dos casos, 399,4 internações para cada 100 mil habitantes. Esses dados foram levantados pela organização não governamental Instituto Trata Brasil, que monitora o saneamento básico no Brasil.

Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que 88% das mortes por diarreia no mundo são causadas pelo saneamento inadequado, enquanto a Unicef demonstra que essa é a segunda maior causa de mortes entre crianças de 0 a 5 anos e se estima que a cada ano 1,5 milhão de crianças nessa idade morram a cada ano em todo o mundo vítimas de doenças diarreicas. O estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil, divulgado no final de fevereiro, procura, através de dados do Sistema Único de Saúde (SUS), medir o impacto sobre a saúde da população exposta ao saneamento básico inadequado nos 100 maiores municípios brasileiros. O estudo levantou dados de 2008 a 2011, em alguns casos 2012, e demonstrou que em quase metade dos municípios (49%) existe apenas uma oscilação nos números de internações, sem apresentar nenhuma tendência clara de melhora no indicador. Em 2011, 396.048 pessoas deram entrada no SUS com doenças diarreicas, enquanto 54.399 vivem nos 100 maiores municípios do país.

De todas as internações, cerca de metade são crianças de 0 a 5 anos, justamente a faixa etária mais fragilizada pela falta de saneamento básico, sendo que em algumas cidades essa taxa chega a mais de 70% como é o caso de Duque de Caxias (RJ), Juazeiro do Norte (CE), Macapá (AP), Feira de Santana (BA), Belém (PA), Porto Velho (RO) e Manaus (AM).

Dados de 2011 apontam que os gastos do SUS com internações por diarreia foram de R$ 140 milhões e os municípios que mais gastaram foram justamente aqueles com piores indicadores de saúde e de saneamento básico. Enquanto Ananideua o gasto total por 100 mil habitantes foi de R$ 314.459,00, na cidade de Taubaté o gasto foi R$ 721,00 para a mesma população.

Dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SNIS) mostram que são poucas as cidades, entre as 100 maiores do país, que podem ostentar a marca de 100% de seus esgotos coletados (o que não significa tratados), são elas Santos, Piracicaba, Jundiaí e Franca, no estado de São Paulo, e a capital mineira, Belo Horizonte.

Esses números reforçam a urgência de aplicação dos recursos previstos para saneamento básico em todo o Brasil. Existem políticas e planos nacionais para a gestão de recursos hídricos e saneamento, sem, no entanto, haver um esforço concentrado na aplicação em obras que possam reverter este quadro de desastre vivido pela população, principalmente das áreas mais pobres do país.

Às vésperas de mais um Dia Mundial da Água, que é comemorado em 22 de março, o Brasil pouco tem a comemorar. Nas grandes cidades a questão do abastecimento de água é cada vez mais complexa, com as empresas de água tendo de buscar o recurso em mananciais cada vez mais distantes, justamente pela falta do saneamento e do tratamento de esgotos, que coloca os rios das regiões mais habitadas entre os mais poluídos do mundo.

É hora de se entender que a água limpa e o saneamento básico são indicadores de desenvolvimento muito mais importantes do que o Produto Interno Bruto. (Envolverde)

Leia aqui a íntegra do relatório do Instituto Trata Brasil.

* Dal Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde, passou por diversas redações da grande mídia paulista, como Agência Estado, Gazeta Mercantil, revistas IstoÉ e Exame. Desde 1998 dedica-se à cobertura de temas relacionados ao meio ambiente, educação, desenvolvimento sustentável e responsabilidade socioambiental empresarial.

(Agência Envolverde)

CNTE esclarece decisão do STF sobre o piso do magistério

 

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A CNTE lamenta a abordagem conferida pelos meios de comunicação à decisão do julgamento dos Embargos de Declaração opostos pelos Governadores à decisão de mérito da ADIn 4.167, que considerou a Lei do Piso constitucional, uma vez que a mesma tende a gerar interpretações contrárias ao cumprimento integral, imediato e, inclusive, retroativo da Lei 11.738.

Neste sentido, a CNTE esclarece o seguinte:

1. No julgamento dos Embargos, em 27 de fevereiro de 2013, o STF negou, na íntegra, o pedido dos Governadores para postergar a aplicação do piso salarial na forma de vencimento inicial das carreiras de magistério em mais um ano e meio, solicitação esta constante nos Embargos do Governador do Rio Grande do Sul.

2. A Corte esclareceu os estados e municípios sobre a vigência do piso como vencimento inicial das carreiras de magistério (sem qualquer tipo de gratificação ou abono), sendo esta a data do julgamento de mérito da ADIn 4.167, ou seja, 27 de abril de 2011.

3. Em consequência desta segunda decisão, os estados e municípios estão isentos de qualquer passivo retroativo no tocante ao pagamento do piso como vencimento de carreira (não cabem ações judiciais para requerer os impactos dos valores nominais do piso nos planos de carreira, entre julho de 2008 e abril de 2011).

4. Ao contrário do que tem divulgado a mídia, os gestores que não cumpriram o valor nominal do piso entre 2009 e abril de 2011, ainda que na forma de gratificações – como determinou a decisão cautelar do STF proferida em 17 de dezembro de 2008 –, estão sujeitos sim a ações judiciais para pagamento da diferença nominal sobre o piso nacional praticado à época, uma vez que descumpriram uma medida de caráter vinculante do STF.

5. A decisão liminar do STF, de 2008, teve caráter erga omnes (obrigatória a toda administração pública) e sua vigência estendia-se até o julgamento do mérito da ADIn 4.167. Portanto, o piso na qualidade de vencimento inicial de carreira teve vigência a partir de abril de 2011, porém sua referência nominal (podendo ser paga mediante gratificações) teve validade entre a sanção da Lei 11.738 (em 17 de julho de 2008) até o dia 27 de abril de 2011, quando o STF julgou o mérito da ADIn 4.167.

6. Para a CNTE, os trabalhadores obtiveram pleno êxito na ADIn 4.167, até porque a Lei 11.738 estabelecia prazo de três anos para a integralização do valor do piso como vencimento inicial de carreira, prazo este que terminou em 31 de dezembro de 2010, quatro meses antes do julgamento de mérito do STF que determinou a vigência integral do valor do piso na forma de vencimento das carreiras de magistério em todo país.

A CNTE aproveita a oportunidade para reiterar a convocação de todos os trabalhadores em educação do país, e a sociedade em geral, para a paralisação nacional dos dias 23 a 25 de abril pelo cumprimento integral da Lei do Piso, inclusive com a destinação mínima de 1/3 da jornada de trabalho do/a professor/a para hora-atividade (trabalhos extraclasses).

A recente decisão do STF fortalece a nossa luta, na medida em que nenhum gestor pode mais alegar pendências no julgamento do STF para deixar de aplicar integralmente a Lei do Piso.

Contamos com a força de todos/as!

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação

Égua! Foi o tempo em que o paraense pobre fazia chibé para completar o “rango”!

 

Antigamente vc comprava um Frango e vinha um saquinho de farofa, hj vc compra um saquinho de farofa e vem um frango!!!! rissss

Comentário do blog: Se a farinha (o famoso aterro) continuar com o preço nas alturas, não vamos mais poder mais utilizar a expressão “papa-chibé” para o povo paraense.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Franz Kafka e a Segunda-feira

 

Ao contrário do que dizem os apologistas do fim da História, a luta de classes não se calou. No entanto, diante da assepsia publicitária por que passam os discursos contestatórios, a lógica poética de Kafka nos leva a pensar a contrapelo de nós mesmos: se o movimento da contradição histórica não for estancado e reconfigurado, continuaremos a figurar como coadjuvantes da cadeia alimentar que nos coage à frieza, à brutalidade e ao cinismo do entrechoque entre gato e rato, de modo que a "Pequena Fábula" possa receber um título mais adequado aos tempos atuais: "segunda-feira". O artigo é de Flávio Ricardo Vassoler.

Flávio Ricardo Vassoler

No início do século XX, Franz Kafka escreveu uma
Pequena Fábula (*)
“‘Ah’, disse o rato, ‘o mundo torna-se cada dia mais estreito. A princípio era tão vasto que me dava medo, eu continuava correndo e me sentia feliz com o fato de que finalmente via à distância, à direita e à esquerda, as paredes, mas essas longas paredes convergem tão depressa uma para a outra, que já estou no último quarto e lá no canto fica a ratoeira para a qual eu corro’. – ‘Você só precisa mudar de direção’, disse o gato e devorou-o”.
Muitas teses e antíteses já entraram em entrechoque para tentar determinar o sentido cabal que daria conta da labiríntica fábula em questão. Assim, ora a vastidão inicial do mundo estaria relacionada ao Jardim do Éden, a utopia mítica, ora ela diria respeito aos primórdios das revoluções, em que a euforia coletiva pela nova miríade de oportunidades daria vazão a um perigoso caos político que logo precisaria de restrições para não se transformar em completa balbúrdia. As paredes que acabam por despontar à direita e à esquerda seriam, então, o sinal da Queda dos homens – a perda da liberdade original pela expulsão do Éden idílico – e/ou a chegada de um ditador que, com pulso firme, colocaria ordem na desordem, uma vez que não poderia haver vácuo no poder. Religiosos e políticos fariam um breve armistício, no entanto, diante da fraqueza original do homem – o rato trêmulo – que demandaria a tutela infalível de Deus e/ou do Guia Genial dos Povos – eis a onisciência e a onipresença do gato. (Iconoclastas tanto da tradição quanto do poder, os anarquistas de plantão discordariam de ambos os lados e diriam ser necessário pôr abaixo o labirinto; se tal fato acontecesse – dizem os religiosos e políticos que apenas por ora voltam a concordar –, o bebê seria jogado fora junto com a água do banho, já não haveria motivo para discordâncias, já não haveria nem mesmo a fábula de Kafka, “nós não teríamos o que fazer, ficaríamos todos desempregados, e vocês, anarquistas, já não teriam o que destruir”.)
Diante do labirinto polissêmico de Kafka, que arremessa as interpretações contrárias e contrariadas em um turbilhão infindável de contradições, uma máxima de Oscar Wilde parece dar o tom para a contenda fabular entre Tom e Jerry. “Quando os críticos discordam entre si, o artista concorda consigo mesmo” (**).
E se ao invés de perguntarmos o que a pequena fábula quis dizer, passarmos a interrogar como ela o fez? Se voltarmos nossas atenções para a forma kafkiana de estruturação e movimentação dos conflitos, talvez cheguemos à conclusão de que a dinâmica da História está inconclusa; de que a desigualdade entre gato e rato permanece, de modo a conferir atualidade à dialética entre liberdade e autoritarismo; de que o sentido está não no conteúdo unívoco que a fábula possa conter, mas na forma polissêmica que norteia e desnorteia as mais diversas interpretações e cuja dinâmica prolonga as contradições sem reconciliar os conflitos que a História ainda não resolveu. A meu ver, a atualidade de Kafka reside na plasticidade da moldura de seu labirinto, cujas galerias comportam os entrechoques das mais diversas teses e antíteses. Analisemos, então, o modo pelo qual a forma distópica, em estreito diálogo com as contradições históricas, transforma os discursos utópicos em antecâmaras do labirinto, ao fim do qual a saída não passa de uma nova entrada. Senão, vejamos.
Em primeiro lugar, é preciso salientar o caráter fabular da breve estória kafkiana. Animais com características humanas vivenciam experiências e procuram torná-las inteligíveis para si próprios – e para os leitores. Animais sociais que somos, nós não vivemos em meio à natureza sem a mediação das transformações históricas. Assim, o processo de identificação entre o leitor humano e as personagens animais apresenta, desde o princípio, um sentido trágico e cínico para a fábula: como a humanidade ainda não conseguiu superar as contradições de um capitalismo voraz que arremessa seus súditos em relações de competição contínua e autofágica, a personificação dos animais e a animalização das pessoas medem a distância histórica entre a utopia não realizada e a distopia de nosso cotidiano. Ademais, a cadeia alimentar que coage os animais – mas que não deveria coagir os animais racionais – estabelece uma hierarquia inequívoca entre gato e rato: predador e presa. Quando entreveem essa assimetria, muitos leitores associam imediatamente a figura do gato ao poder, enquanto o rato representaria o povo secularmente acossado. Tal leitura não leva em consideração a lógica impessoal do poder que subjaz à construção kafkiana.
O século XX, século kafkiano, demonstrou que a revolução bem pode degringolar em contrarrevolução. O líder fascista Benito Mussolini certa vez afirmou que, após a revolução, resta o problema dos revolucionários. Seria possível exercer contínuas autocríticas sem municiar os opositores que almejam o poder? Mas sem o exercício contínuo da crítica e da autocrítica, como garantir que o poder e os poderosos não demandarão a autocracia? Ora, os primórdios da revolução pareciam ter transformado o mundo em mera imagem e representação, tudo parecia possível. Trótski certa vez profetizou que, em meio à sociedade transformada pelo socialismo, o nível médio dos cidadãos seria comparável a Marx e a Aristóteles. Antes que conservadores onipresentes riam do revolucionário russo, é preciso levar em consideração o profundo otimismo histórico que embasava tal colocação. A revolução prometia romper os aguilhões que impediam o desenvolvimento humano. Artistas russos chegaram a declinar da autoria de suas obras. “Não fomos nós que as criamos, a história falou através de nós, o proletariado é o grande autor”. Mas os interrogatórios vindouros da polícia política de Stálin acabariam com o otimismo da autoria coletiva. “Vamos, confesse!” O patíbulo e o degredo na Sibéria como testemunhas oculares.
A esquerda tende a se endireitar quando toma as rédeas do poder. A direita não sabe bem o que fazer com o bastão da oposição, mas precisa minimamente contestar se quiser sobreviver em sua mais nova e insólita posição. A História nos ensina que a lógica do poder tende a subverter e a inverter as prerrogativas do líder, grupo e partido que ocupam o trono.
Nesse sentido, gato e rato são menos papéis demarcados e unívocos do que funções dinâmicas a serem ocupadas ora por um ator, ora por outro. Se os esquerdistas não estudarmos as lições de Kafka, estaremos fadados a vestir ainda uma vez a fantasia do gato para colocarmos os trajes de rato naqueles que a revolução obrigou a ceder as velhas vestes de felino. Assim, campos de concentração siberianos, os Gulags de Stálin, revoluções culturais que queimaram livros e paredões não conseguiram romper a lógica taliônica do poder que os revolucionários outrora afirmavam utilizar apenas momentaneamente enquanto o capitalismo não era superado por completo. (Quando os porões da Estação da Luz ficavam superlotados, os torturadores do DOPS paulistano não tinham quaisquer escrúpulos em voltar a dar aulas prática de lógica do poder àqueles que ousavam não delatar os camaradas que ainda não haviam sido presos.)
Ao voltarmos ainda uma vez para a Pequena Fábula, descobrimos que, a princípio, o rato se lamenta pela crescente estreiteza do mundo. O rato, animal combalido em face do gato vindouro, parece demandar maior liberdade. (Se a estória parasse por aqui, os anarquistas iriam a Praga a fim de convidar Franz Kafka para o congresso literário de maio de 1968.) Mas a frase seguinte – a antítese em face da tese que a primeira frase apresenta – narra um ratinho temerário em relação à vastidão inicial do mundo. Podemos deduzir, então, que havia uma imensidão anterior à contínua estreiteza do mundo com a qual o rato se depararia posteriormente. Como decidir qual a posição efetiva do rato? Ele teme as múltiplas possibilidades de um mundo vasto, mas ao mesmo tempo se lamenta por conta do contínuo emparedamento a que o mundo transformado o coage. Enquanto os críticos partidários quiserem atribuir um conteúdo unívoco à trajetória do rato, não será possível ver que a lógica poética de Kafka, ao mimetizar os movimentos contraditórios da História, arremessa o roedor ora à direita, ora à esquerda, ora como sujeito de suas demandas, ora como súdito de seu medo, de modo que a leitura que opte por um único sentido acaba resolvendo artisticamente um conflito que, no terreno da luta de classes, ainda não foi superado. Assim, a despeito da boa intenção inicial que não sabe agir sem tachar amigos e inimigos, camaradas e inimigos do Estado, companheiros e opositores, a tentativa de arregimentar Kafka em um partido ou tendência únicos dilui a enorme atualidade de sua forte crítica social que está presente na dinâmica de sua estória, na lógica poética de sua fábula. O problema para a crítica partidária é que a crítica social kafkiana não resolve as contradições que a História só faz prolongar, e então ela se mostra impessoal e sem muita utilidade para aqueles que só cumprirão os desígnios do poder sem romper com a sua lógica histórica que delineia e define as fronteiras das ações políticas.
O advérbio finalmente, na segunda frase da fábula, traz um certo alento ao pobre ratinho que, enfim, vê as paredes de Deus, do Pai, do pai, do partido, da empresa, do casamento, do clube etc. do etc. lhe darem novamente um mínimo de segurança. Para aqueles que não estamos acostumados a viver segundo o ritmo incerto da liberdade socialmente construída, as contradições históricas sussurram que tende a haver uma grande contiguidade entre o medo de caminhar com as próprias pernas e a entrega da própria autonomia a terceiros para que a incerteza pessoal seja permutada pela tutela alheia. (Se o labirinto de Kafka tivesse os contornos de uma catedral, o ratinho comeria a hóstia e se confessaria com o padre “por séculos e séculos, amém”.) Mas, novamente, Kafka dá dinamismo ao movimento da contradição, já que o ratinho passa a sentir que, agora, “essas longas paredes convergem tão depressa uma para a outra”. Vale a pena retomarmos o fio da meada: primeiro o rato é altivo, pois reclama da estreiteza do mundo – rato revolucionário; depois o ratinho sente medo pela vastidão inicial e se alivia com o fato de que, à distância, à direita e à esquerda, as paredes, isto é, os limites, passam a se delinear – ratinho reacionário; agora, ele volta a se contrapor ao movimento do labirinto, uma vez que as paredes que se estreitam cada vez mais passam a coagi-lo. Além de sugerir que há uma contiguidade entre os extremos, como se a liberdade total e a coação totalitária trouxessem temores e tremores parelhos, a pequena fábula de Kafka nos leva ao “último quarto”, em cujo canto fica a ratoeira para a qual o rato se encaminha.
Abstraiamos o conteúdo da micronarrativa e tentemos desenhar o trajeto patibular de Mickey Mouse. O descampado idílico do Gênesis não tem fronteiras. O olhar do roedor não consegue abraçar o horizonte. (E, se pensarmos bem, será que conseguimos imaginar a noção do infinito sem que, no limite, coloquemos algum tipo de delimitação – uma cerca – para nos dar guarida?) De repente, o rato marcha – começa a correr de medo, a bem dizer – e as paredes convergem, à direita e à esquerda. Ora, salvo engano – e o poder bem gosta de nos ludibriar –, estamos cada vez mais diante de um funil, a metade de um losango, em cujo extremo desponta a ratoeira. Ora, o ratinho revolucionário e reacionário é provido de razão, só que o cérebro roedor precisa das proteínas do queijo para continuar a pensar, a questionar – e a temer. Mas – e o fluido das contradições kafkianas sempre desliza ao sabor de conjunções adversativas –, se as paredes convergem unidirecionalmente, basta ao rato dar meia-volta – a História fardada diria: “volver!” – para que as paredes antes convergentes passem a divergir e a se distanciar. O mundo voltará a ficar vasto, o Éden será então recuperado, mas e quanto ao medo, o irmão mais novo do pecado original? A Pequena Fábula de Kafka seria uma estória sem fim, já que a retomada da vastidão levaria o rato novamente à fuga para o extremo oposto em que está a ratoeira, e, ao se deparar com o beco sem saída, ele sentiria a nostalgia do paraíso perdido do qual fugiria ainda uma vez para logo em seguida voltar a buscá-lo – “por séculos e séculos, amém”.
Mas eis que a criatividade de Kafka acompanha as contradições irresolutas da História e faz surgir na estória uma nova personagem, o bichano que esta análise já havia anunciado. Leiamos o conselho que o gato, possível autor de best-sellers de autoajuda, tem a dar ao roedor – e aos leitores:
– Você só precisa mudar de direção.
Por um lado, se o rato seguir o conselho do gato, logo encontrará a diluição de seus temores e tremores no suco gástrico do estômago felino. Por outro, se o rato degustar o queijo gorgonzola que o magnetiza sobre a ratoeira, já não haverá mais choro e ranger de dentes. Que fazer?
Neste momento, o leitor me permitirá a heresia de apontar um certo anacronismo na Pequena Fábula kafkiana. O escritor tcheco complementou a colocação do gato com o seguinte arremate: “disse o gato e devorou-o”. Será que, no atual contexto histórico, seria preciso dizer que o gato devorou o rato? Onde estão as efetivas contestações? Onde está a revolução? Quando uma rede de fast food árabe utilizou, há alguns anos, o mote revolução nos preços para os preços revolucionários de suas esfihas abertas, cujos anúncios eram apresentados com a boina de Che Guevara, entrevi o labirinto histórico em que estamos encurralados. O discurso potencialmente emancipatório é cooptado como um lucrativo slogan de mercado. Ao contrário do que diziam os revolucionários de maio de 68, o capitalismo tardio sentencia que a revolução será televisionada.
O arremate de Kafka mostrou-se profético diante do espectro nazista que, nas primeiras décadas do século XX, já rondava a Europa. Hoje, no entanto, o carrasco parece ter sido introjetado, não sabemos muito bem onde está o poder – quem, ou pior, o que ele é. Mas ele nos acorda cotidianamente às 5h – ou às 8h, para o privilégio dos paulistanos que moram dentro do perímetro central circundado pelas marginais. Se retirarmos a última parte da frase que conclui a Pequena Fábula, levaremos às últimas consequências o labirinto kafkiano. Afinal, após o conselho do gato, o que é que o rato vai fazer? Fugirá do gato e correrá para o patíbulo da ratoeira? Tapeará a fome e renegará a ratoeira apenas para correr em direção ao corredor polonês da garganta do gato? Ou será que, diante deste novo fim não finalizado, desta nova resolução irresoluta que propomos, o rato não lançará mão de um dos últimos redutos que (ainda) não foram totalmente cooptados pelo poder – a imaginação? Por mais exígua e improvável que a escapatória se apresente, um final que pressuponha maior abertura daria continuidade à contradição da estória e da História: a possibilidade de fuga caminharia lado a lado com o prolongamento sádico da tortura do ratinho.
Ao contrário do que dizem os apologistas do fim da História, a luta de classes não se calou. No entanto, diante da assepsia publicitária por que passam os discursos contestatórios, a lógica poética de Kafka nos leva a pensar a contrapelo de nós mesmos: se o movimento da contradição histórica não for estancado e reconfigurado, continuaremos a figurar como coadjuvantes da cadeia alimentar que nos coage à frieza, à brutalidade e ao cinismo do entrechoque entre gato e rato, de modo que a Pequena Fábula possa receber um novo título mais condigno com o prosaísmo (supostamente) despolitizado dos tempos atuais: Segunda-feira.
(*) In Narrativas do Espólio, tradução de Modesto Carone. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 138.
(**) Aforismos ou mensagens eternas, tradução de Duda Machado. São Paulo: Landy Editora, 2006, p. 69.

Flávio Ricardo Vassoler é mestre e doutorando em Teoria Literária e Literatura Comparada pela FFLCH-USP e escritor. Seu primeiro livro, O Evangelho segundo Talião (Editora nVersos), será publicado em abril. Periodicamente, atualiza o Subsolo das Memórias, www.subsolodasmemorias.blogspot.com, página em que posta fragmentos de seus textos literários e fotonarrativas de suas viagens pelo mundo.

Cuba: Cinco anos decisivos

por Leonardo Padura*

Cuba2 Cuba: Cinco anos decisivos

Havana, Cuba, fevereiro/2013 – Nos primeiros dias deste mês, os cubanos foram às urnas com a missão de eleger os deputados das assembleias municipais e provinciais do parlamento de Cuba, última instância na qual os votos dos cidadãos têm capacidade para decidir. Os números da votação, como de costume, passaram de 90%, e todos os candidatos de todos os municípios foram eleitos, como também é comum.

As pessoas na ilha votaram como sempre votam, com a mesma rotina e, talvez, sem muita consciência do que esta consulta eleitoral inicia. Porque no dia 24 deste mesmo mês acontecerá, dentro do sistema eleitoral cubano, o último ato tradicional estipulado pelo processo, com o qual começará a nova legislatura: a eleição, por parte dos 612 deputados já escolhidos, dos integrantes da Assembleia Nacional que constitucionalmente regerá os destinos do Estado nos próximos cinco anos.

Sobre esta eleição, a notícia mais comentada, referente às mudanças que chegarão com a abertura da nova legislatura, é a saída de Ricardo Alarcón de Quesada (por fim oficialmente anunciada) de suas funções à frente da Assembleia, que ocupa há 20 anos.

Segundo declarações lidas, Alarcón justificou sua saída do cargo afirmando que 20 anos é muito tempo e que é preciso mudar, é preciso mudar…

Contudo, o fato sobre o qual pouco se fala, e que traz consigo a maior importância política e histórica para Cuba, é que depois que Raúl Castro for eleito para o cargo de presidente do Conselho de Estado (pois ninguém duvida que seu nome será ratificado), se estará apontando para o primeiro dia de uma contagem regressiva que, ao final de outros 1.823 dias, marcará o fim do mandato político do general e de pelo menos cinco dos atuais seis vice-presidentes, os quais oficialmente assumiram seus cargos em fevereiro de 2008, quando ficou impossível o regresso de Fidel Castro ao poder e seu irmão assumiu a presidência.

Foi o próprio Raúl Castro que, em 2011, durante as sessões do congresso do Partido Comunista de Cuba, que governa a ilha, propôs que nenhum cargo político possa se estender além de dois mandatos de cinco anos… Incluindo o seu, como presidente.

Esta proposta, que foi aprovada pelo congresso partidário, ainda depende de uma ratificação constitucional, em uma modificação da carta magna que deverá incluir muitas das novas realidades nascidas ao calor das reformas do modelo econômico do país, idealizadas, impulsionadas e defendidas pelo próprio Raúl Castro.

Esta nova conjuntura, repito, histórica, para um país como Cuba, onde os cargos políticos, estatais e de governo não tiveram datas limites durante cinco décadas, abre um período de expectativas a respeito das mudanças que acontecerão durante o quinquênio que se inicia e sobre o que essas mudanças deixarão para o futuro que começará em 24 de fevereiro de 2018.

Há mais de cinco anos, primeiro com lentidão e mudanças de linguagem, depois com medidas concretas de pequeno, médio e até longo alcances econômico e social (como, sem dúvida, é a reforma migratória, que desde janeiro deste ano permite à maioria dos cubanos viajar livremente, após quase 50 anos de proibição), o general de exército Raúl Castro colocou em movimento a engrenagem estrutural socialista cubana em busca do que o país mais necessita: institucionalidade, controle financeiro, aumento da produtividade, eficiência econômica, autossuficiência na produção em determinados setores, mudanças na política de emprego, modificações na propriedade, etc.

Porém, estas urgências incluem outras transformações que foram anunciadas pelo próprio governante, em um processo que neste período que começará em 24 de fevereiro deverá chegar às suas maiores profundezas e ter, inclusive, um novo reflexo constitucional, pois o terá na sociedade e em seus atores.

Quais serão essas modificações dentro do modelo cubano? Será encarada com maior profundidade na estrutura econômica, na qual até agora só houve mudanças que, mesmo sendo importantes, não são macroeconomicamente decisivas e não podem garantir algumas de suas intenções em setores como a produção de alimentos?

Que papel será dado ao investimento estrangeiro em um país necessitado de capital para renovar sua envelhecida infraestrutura?

Que outras liberdades sociais serão referendadas nestes anos, depois de uma tão essencial quanto a reforma migratória? Que país deixará a chamada “geração histórica”, hoje com mais de 80 anos de idade e meio século no governo do país, aos futuros governantes que estarão sendo preparados nestes anos de definição? Que papel econômico e até social poderão ter no país os novos e velhos emigrados?

Cuba entra em uma etapa de transformações e o horizonte de seus resultados está marcado nestes próximos cinco anos, muito tempo para a vida de um homem, um suspiro para o tempo histórico. Envolverde/IPS

* Leonardo Padura, escritor e jornalista cubano, ganhador do Prêmio Nacional de Literatura 2012. Suas novelas foram traduzidas para mais de 15 idiomas, e sua obra mais recente, O homem que amava os cães, tem como personagens centrais Leon Trotski e seu assassino, Ramón Mercader.

(IPS)

Bono diz que pobreza extrema acaba em 2028 e cita Brasil como exemplo

 

27/02/2013 - 10h13

FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A LONG BEACH, CALIFÓRNIA

Bono, líder da banda U2, deixou de lado a persona astro do rock para falar sobre pobreza extrema, que, segundo ele, deve chegar ao fim nos próximos 15 anos. Para o músico, Brasil, Gana e Tanzânia lideram a corrida pela solução do problema.

Educador indiano ganha prêmio do TED de US$ 1 milhão

"Hoje quero apenas cantar os fatos. [O índice mundial de] pobreza extrema foi reduzido pela metade. E, se continuarmos nesta tendência, será zero em 2028", disse Bono para a plateia do TED, um evento em Long Beach que reúne especialistas de tecnologia, entretenimento e design para palestras de cerca de 15 minutos.

"E 2028 está quase aí, só mais umas três turnês de despedida dos Rolling Stones."

Segundo Bono e sua organização One.org, o número de pessoas nessa situação (ou seja, com até R$ 2,50 por dia) foi de 43% em 1990 para 21% em 2010. O índice de mortalidade de crianças de até cinco anos também diminuiu bastante (menos 7.256 crianças morrem por dia).

Win McNamee- 27. nov.11/Getty Images/AFP

O vocalista do U2, Bono, que elogiou o Brasil em palestra do TED, evento de tecnologia realizado nos EUA

O vocalista do U2, Bono, que elogiou o Brasil em palestra do TED, evento de tecnologia realizado nos EUA

"Não é algo Poliana, sem noção de um roqueiro. É real", ele continuou nos bastidores, ao conversar com jornalistas. "Mas o índice ainda é alto, há muito trabalho a ser feito. A pobreza não vai acabar."

O aumento da transparência financeira de governos e queda no preço dos remédios de Aids são fatores que ajudaram no combate, além do acesso à tecnologia. Corrupção continua sendo a principal trava, mas a "vacina é a transparência", falou Bono.

O cantor foi premiado em 2005 com um TED Prise, prêmio de R$ 200 mil que o ajudou a fundar a organização One para combate à pobreza.

Ele citou o Brasil como exemplo e elogiou o ex-presidente Lula e sua "protegè" Dilma.

Ao ser questionado sobre corrupção no Brasil, o presidente do One, Michael Elliott, afirmou: "Vamos chegar mais rápido ao índice zero se lutarmos contra corrupção, mesmo em países que estão indo bem", disse.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Violação de direitos não é mais consequência, mas condição da lógica econômica

por Eduardo Gudynas*

e22 Violação de direitos não é mais consequência, mas condição da lógica econômica

‘Extrahección’ (super-extração) é um termo novo para descrever a apropriação dos recursos naturais desde a imposição de poder e violação dos direitos humanos e da natureza. A palavra é nova, mas o conceito é bem conhecido. Descreve situações que pouco a pouco estão se tornando mais comuns, assim como os empreendimentos de mineração ou petroleiros impostos em um contexto de violência, ignorando as vozes dos cidadãos, deslocando comunidades camponesas ou indígenas, ou contaminando o meio ambiente.

‘Extrahección’ é uma palavra que provem do latim ‘extrahere’, que significa tomar algo, arrancando-o ou arrastando-o. É, portanto, um termo adequado para descrever situações onde se arrancam os recursos naturais, seja das comunidades locais ou da natureza. Nestas circunstâncias, violam-se diversos direitos, e este precisamente é o aspecto que se põe em evidência com este novo termo. Os direitos violados cobrem uma vasta gama, entre os quais se podem indicar alguns para tomar consciência da gravidade destas situações.

Impactos ambientais, como a destruição de ecossistemas silvestres, a contaminação das águas, solos, ar ou a perda de acesso à água, são todas violações dos chamados direitos de terceira geração. Estes estão focados na qualidade de vida de um ambiente ou em um ambiente são, e entre os exemplos conhecidos se pode indicar a contaminação por agrotóxicos nas monoculturas de soja. Em países onde mais se reconhecem os direitos da natureza (como no Equador), existem empreendimentos extrativistas que são claramente incompatíveis com o mandato ecológico constitucional.

Os direitos dos indivíduos são afetados de diversas maneiras. Repetidamente se violam as consultas prévias, livres e informadas às comunidades locais, ou se forçam seus resultados, como tem sido denunciado em vários projetos nos países andinos. Também existem violações quando se impõe o deslocamento de comunidades, como vem ocorrendo com as operações de mineração da região de Carajás no Brasil. Em locais onde há novos empreendimentos, ouvimos queixas de violações dos direitos dos trabalhadores, quer na sua sindicalização, quer em condições sanitárias e de saúde (como relatado por trabalhadores de carvão na Colômbia).

Não podemos esquecer as práticas de corrupção, como nos esquemas de suborno, para aceitar práticas de alto impacto social ou ambiental, ou inclusive para obter as permissões de funcionamento de um projeto.

A ‘extrahección’ também descreve as circunstâncias de empreendimentos que se impõem silenciando de maneira distinta as vozes cidadãs. Nos últimos anos, tem sido comum a volta da judicialização dos protestos, iniciando-se ações legais contra seus líderes, que são submersos por processos que duram anos, têm seus bens embargados, suas viagens restringidas etc. Um outro passo é criminalizar as ações cidadãs, colocando-as à sombra de atos de vandalismo, sabotagem ou terrorismo. Recentemente, o Observatório de Conflitos Mineiros da América Latina (OCMAL) coletou casos de criminalização em vários países latino-americanos.

Finalmente, na ‘extrahección’, também se chega à violência direta através de distintos formatos. Esta pode estar em mãos de indivíduos ou a cargo de grupos, os quais, por sua vez, podem ser força de segurança ou paramilitares, ou estar em mãos das próprias forças estatais (policiais ou militares). Uma recente revisão internacional detectou que as três maiores corporações na área de mineração (Rio Tinto, Vale e BHP Billition) têm estado envolvidas em casos de violência, vários dos quais na América Latina.

Tudo isto se expressa em repressões violentas de mobilizações, raptos e até mesmo assassinatos. Uma vez mais se encontram muitos exemplos recentes, desde as repressões às mobilizações sociais em diferentes localidades da Argentina, ou a marcha a favor do TIPNIS na Bolívia, bem como o saldo de pelo menos cinco mortos e mais de cinquenta feridos nas marchas de oposição ao projeto de mineração de Conga, no Peru.

Está claro que estes e outros casos representam ações ilegais que ocorrem em países que contam com coberturas legais para os direitos humanos. Mas não podem passar despercebidas as situações de ‘alegalidade’, onde se mantêm as formalidades legais, mas as consequências das ações são claramente ilegais. Neste caso encontramos as corporações que aproveitam, por exemplo, os vazios normativos para fazerem avançar contaminações ambientais, ou que ignoram as empresas que subcontratam para levar a cabo ações de maior impacto para as comunidades locais.

Quando o Estado não assegura seu próprio marco normativo de direitos, as comunidades locais têm apelado a instâncias internacionais, tais como a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Desta maneira, têm sido visibilizadas muitas demandas que antes eram sepultadas mediante a indiferença estatal – como ocorreu na Guatemala, diante da solicitação do fechamento da mina Marlin, para garantir a saúde das comunidades locais.

É necessária uma nova palavra, ‘extrahección’ pra descrever estas situações? Certamente que é. Estas violações aos direitos humanos e à natureza não são meras consequências inesperadas, ou produto de ações isoladas levadas adiante por indivíduos deslocados. Esta é a justificativa variadas vezes empregada por setores governamentais ou corporativos, com a finalidade de separar suas atividades destas violações. Esta postura é inaceitável.

Na realidade, as violações de direitos têm se tornado um componente inseparável e inevitável de certo tipo de extração dos recursos naturais. Isto ocorre quando estas atividades comprometem enormes superfícies, realizam procedimentos intensivos (por exemplo, utilizando agrotóxicos) ou os riscos em jogo são de enorme gravidade e, portanto, nunca seriam aceitáveis sob os marcos legais para as comunidades locais. Então, a única forma com que podem ser executadas é por meio da imposição e da violação aos direitos fundamentais. A violação destes direitos não é uma consequência, senão uma condição para fazer valer este tipo de apropriação dos recursos naturais. Trata-se de facetas de um mesmo tipo de desenvolvimento, intimamente vinculadas entre si.

É esta a dinâmica particular que explica o conceito de ‘extrahección’. Não basta dizer, por exemplo, que uma das consequências do extrativismo mais intensivo é a violação de alguns direitos. Deve-se deixar claro que existe uma íntima relação entre estes fatores, onde estas estratégias de apropriação de recursos naturais somente são possíveis quebrando-se os direitos das pessoas e da natureza.

Tradução: Valéria Nader.

* Eduardo Gudynas é pesquisador do CLAES (Centro Latino Americano de Ecología Social).

** Publicado originalmente no site Correio da Cidadania.

(Correio da Cidadania)

Mais desmatamento na Amazônia

25/2/2013

por Bernardo Camara, do Greenpeace

desmatamento1 Mais desmatamento na Amazônia

Foto: Karla Gachet / Panos / Greenpeace

Depois de ter atingido seu menor índice anual – 4.656 km2 – o desmatamento na Amazônia voltou a subir, mês a mês. Segundo o Boletim do Desmatamento do Imazon, que acaba de ser divulgado, houve um aumento de 6% no último mês, comparado ao mesmo período do ano anterior. Mas se o recorte for de agosto de 2012 a janeiro de 2013, a subida é de 118% em relação a um ano antes.

Os dados são do Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), que enfrentou 61% da área florestal coberta por nuvens. Ou seja: os números podem ser ainda maiores. O estado do Amazonas liderou o salto, com 192% a mais nas derrubadas (de 53 km2 para 156 km2). Foi seguido pelo Pará – com aumento de 160% – e por Mato Grosso, com 134%.

De acordo com cálculos do Imazon, todas essas derrubadas comprometeram ao menos 1 milhão de toneladas de CO2 equivalente. Isso só em janeiro. Se pergarmos todo o período entre agosto e janeiro, o número vai para 68,5 milhões de toneladas – um aumento de 71% em relação ao ano anterior.

Um dos antídotos para esse cenário depende de você para virar realidade: o projeto de lei popular do desmatamento zero. Mais de 757 mil pessoas já assinaram para transformar em lei o fim da devastação. Assine também e compartilhe com seus amigos.

* Publicado originalmente no site Greenpeace.

(Greenpeace)

Estável, taxa de desemprego de janeiro é a menor para o mês; rendimento sobe

 

Por: Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual

Publicado em 26/02/2013, 09:03

São Paulo – A taxa média de desemprego calculada pelo IBGE em seis regiões metropolitanas foi de 5,4% em janeiro, a menor para o mês desde o início da série histórica, em março de 2002. Na comparação com janeiro do ano passado (5,5%), o resultado mostrou estabilidade. De dezembro para janeiro, em movimento normal para o período, a taxa subiu (0,8 ponto percentual). Os dados fazem parte da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada hoje (26) pelo IBGE.

Estimado em 1,331 milhão, o número de desocupados aumentou 17,2% em comparação a dezembro e ficou estável em relação a janeiro de 2011. O total de ocupados, que somam 23,144 milhões, caiu 1,2% no mês e cresceu 2,8% em 12 meses, o correspondente a 631 mil a mais no período.

Também na comparação anual, a população economicamente ativa (PEA) cresceu 2,7%, para 24,475 milhões. Foram 649 mil pessoas a mais no mercado de trabalho, que no mesmo período criou 631 mil vagas (alta de 2,8%). Com isso, o número de desempregados, praticamente estável, variou 1,4%, com 18 mil a mais, para 1,331 milhão.

O mercado manteve a tendência de formalização. Os trabalhadores com carteira assinada no setor privado, estimados em 11,6 milhões, não tiveram variação ante dezembro, mas aumentaram 4,1% na comparação anual – um acréscimo de 459 mil postos de trabalho formais.

O rendimento médio dos ocupados (R$ 1.820,00) ficou estável em relação a dezembro. Em relação a janeiro de 2011, o poder de compra cresceu 2,4%. A massa de rendimentos (R$ 42,5 bilhões) recuou 1,4% no mês, com a queda na ocupação, e cresce 5,6% em 12 meses.

Entre as regiões pesquisadas, São Paulo teve alta considerada significativa tanto no mês como ano, atingindo 6,4%, ante 5,2% em dezembro e 5,5% em janeiro do ano passado. O Rio de Janeiro teve ligeira alta no mês (de 4% para 4,3%) e queda ante janeiro de 2011 (5,6%). Em Recife e Salvador, a taxa foi a 6,3%, com alta mensal e queda expressiva na comparação anual (5,7% e 8,3% em janeiro do ano passado, respectivamente). A menor continuou sendo a da região metropolitana de Porto Alegre: 3,5%, ante 3% em dezembro e 3,9% há um ano. Em Belo Horizonte, houve alta de dezembro para janeiro (de 3,5% para 4,2%) e ligeira queda ante janeiro de 2011 (4,5%).

Na comparação anual, o emprego cresceu no comércio (4%, 168 mil ocupados a mais), no grupo educação, saúde e administração pública (5,9%, 209 mil) e em outros serviços (5,3%, 216 mil). O IBGE considerou estáveis as variações na indústria (2,2%, com 79 mil a mais),  na construção civil (-1,5%, 26 mil a menos), nos serviços prestados a empresas (1,9%, acréscimo de 70 mil) e nos serviços domésticos (-4,5%, 67 mil a menos).

O rendimento médio, em relação a janeiro de 2011, cresceu 5,2% em Belo Horizonte, 4,1% em São Paulo, 2,8% no Rio e 2,6% em Porto Alegre. Ficou estável em Recife e caiu 10,9% em Salvador.

Petrobras anuncia nova descoberta no pré-sal da Bacia de Santos

Por: Vitor Abdala, da Agência Brasil

Publicado em 26/02/2013

Rio de Janeiro – A Petrobras anunciou mais uma descoberta de óleo de boa qualidade em águas ultraprofundas na camada pré-sal da Bacia de Santos. A área encontra-se a 194 quilômetros do litoral de São Paulo e a oeste das principais descobertas do pré-sal da bacia. O anúncio foi feito na noite de ontem (25), por meio de nota.

A constatação do reservatório de petróleo foi feita logo na perfuração do primeiro poço do chamado Bloco BM-S-50. O reservatório está a 6.150 metros de profundidade, logo abaixo da camada de sal do subsolo. A profundidade de água do local onde o poço foi perfurado é 1.871 metros.

A Petrobras é a operadora do consórcio que explora o bloco, com 60% de participação. São parceiras da estatal brasileira a BG E&P Brasil (20%) e Repsol Sinopec Brasil (20%).

Megafone apoia abaixo-assinado Fora Marin!

Megafone apoia abaixo-assinado Fora Marin!

A coluna 'Deixa Falar: o Megafone do Esporte' desta semana não podia deixar de abordar dois assuntos: o abaixo-assinado pedindo a saída de José Maria Marin (Chico Buarque, na foto em destaque, assinou o documento) e o homicídio culposo de um adolescente no jogo Corinthians x San Jose, na Bolívia.

Raul Milliet Filho

1) Fora José Maria Marin!
Deixa Falar: o megafone do esporte vem a público subscrever integralmente as palavras e o abaixo-assinado José Maria Marin fora da CBF!, elaborado por Ivo Herzog, presidente do Instituto Vladimir Herzog e filho do jornalista morto sob tortura nas dependências da OBAN, em São Paulo, em 1975.
“José Maria Marin tem sua vida ligada àqueles que sustentaram a ditadura brasileira. Fez discursos publicamente em favor do assassino, sequestrador e torturador Sérgio Fleury. Apoiou os movimentos que levaram à tortura, morte e desaparecimento de centenas de brasileiros. O caso mais notório é do jornalista Vladimir Herzog. Se a justiça não consegue processar estas pessoas por conta de uma lei de Anistia torta, não podemos permitir que Marin viva a glória de estar à frente do maior evento mundial da nossa história.”

2) Homicídio Culposo
Por Raul Milliet Filho (historiador, criador e editor do Megafone do esporte)
Sobre a violência que culminou com a morte de um adolescente de 14 anos no jogo Corinthians x San Jose, trata-se evidentemente de um homicídio culposo e como tal deve ser julgado, tanto pela justiça comum quanto pela desportiva.
O regulamento da Conmebol é claro e prevê o afastamento de clubes da Libertadores em situações como esta. As punições anunciadas até o momento são brandas e paliativas. Não advogo ritos sumários, nem tribunais de exceção, mas diante de um acontecimento desta gravidade impõe-se a exclusão do Corinthians da competição, a bem da ética e dos valores gregários do esporte.
A promiscuidade entre diretorias de grandes clubes e torcidas organizadas é conhecida e comprovada. Tudo isso remete a questões estruturais, mas que exigem medidas também de imediato. Li em vários lugares e concordo que Dr. Sócrates apoiaria o afastamento do Corinthians. Lembro do episódio da final da Copa Europeia em Bruxelas (Juventus x Liverpool), temporada 84/85, em que morreram 39 torcedores.

Repostado do blog Megafone

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

BBB

Luis Fernando Veríssimo

11/01/2013

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB),
produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos
chegar ao fundo do poço. A nova edição do BBB é uma síntese do que há
de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras
adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta
inteligência.
Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu
fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo,
principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema
banalização do sexo.
Impossível assistir ver este programa ao lado dos filhos. Gays,
lésbicas, heteros… todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são
chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um
faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja
entre homossexuais ou heterossexuais. O BBB é a realidade em busca do
IBOPE.
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um
“zoológico humano divertido”. Não sei se será divertido, mas parece
bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e
escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro
de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível.
Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente
bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se
morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse
programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da
ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro
repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e
meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente,
chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos
exemplos de heróis? Caminho árduo para mim é aquele percorrido por
milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede
pública (aliás, todos os professores) , carteiros, lixeiros e tantos
outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas
exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase
sempre são mal remunerados.
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida
por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a
isso todo dia.
Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças
complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais
saudável e digna. Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e
beneficentes, Ongs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao
cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa
eterna heroína Zilda Arns).
Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam
suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como
mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede
Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não
acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos
telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro
estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à
criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e
moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol,
fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o
“escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo
de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a “entender o comportamento
humano”. Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$$$$$$$ $$$$$$$ do BBB: José Neumani da
Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de
pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta
centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e
setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil
reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse
dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino
e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas
populares; ou comprar mais de 5.000 computadores).
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e
indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.
Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário
Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa…, ir ao cinema…. ,
estudar… , ouvir boa música…, cuidar das flores e jardins… , telefonar
para um amigo… ,·visitar os avós… , pescar…, brincar com as crianças…
, namorar… ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a
ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre
os quais foi construída nossa sociedade.

Por Luis Fernando Veríssimo

O quê Mosqueiro deve esperar?

Nota de hoje da coluna de  Guilherme Augusto no Diário do Pará, explica a situação politica da ilha noi momento atual:

Água que passarinho não bebe

Continua a nota da coluna:

 

Tríplice Aliança:

A quem recorrer no caso da água que passarinho não bebe?

Um colaborador da coluna na ilha explica que a governança da ilha está dividida. Três concorrentes disputam o controle administrativo da localidade: o agente propriamente dito, indicado por uma vereadora; Orlando Brito herdeiro político do PSDB local, além do vereador Elias, tido como o “cara” do deputado federal Arnaldo Jordy (PPS). Como se vê, trata-se de uma administração, digamos, compartilhada. Enquanto isso, a população não sabe o que esperar para a solução do problema, diante da inação, até aqui, da Prefeitura, afirma o informante.

 

Nota do Blog: Sabemos que ainda existem mais alguns “Bicões” ou “Bocões” por trás dos acima citados …

Anonymus invade o Portal ORM

 

O Grupo anonymus conseguiu derrubar e tomar o controle do Portal ORM, do grupo Maiorana de comunicação, afiliado a rede globo e desde o dia 23/02/2013, vem reproduzindo um video dentro do portal onde explica toda a forma de dominação deste famigerado grupo.

ede Globo

Globo orm

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Escolas empobrecidas: sem História nem Geografia

por Redação da Carta Capital*

ed52 300x225 Escolas empobrecidas: sem História nem Geografia

A escola vive uma profunda crise de legitimidade*. O mundo mudou, ficou complexo, novas demandas surgiram. Os estudantes na escola também são outros, diversos na origem e nos interesses. Os professores carecem de condições para um trabalho digno. A sociedade alterou suas expectativas referentes à escola e, assim, criou-se um complicado jogo de múltiplas contradições e, para essa complexidade, não cabem respostas e políticas simplistas.

Afinal, para que a escola existe? Para formar adequadamente as gerações futuras ou para preparar os estudantes para avaliações externas como Enem, Saresp, Prova Brasil, Pisa etc.?

A que se destinariam os conhecimentos? Deveriam eles compor um mosaico para criar curiosidades, desejos e perguntas nos estudantes ou só serviriam para produzir informações para uso em testes de avaliação?

Nós, pesquisadoras de educação, ficamos mais uma vez perplexas ao nos depararmos com a nova proposta curricular do ensino público do Estado de São Paulo. Para bem aprender o Português e a Matemática, sugere-se excluir os conhecimentos de História, Geografia e Ciências do 1º ao 3º ano e manter 10% dessas disciplinas no 4º e 5º anos do currículo básico. Por essa nova proposta, ficou assim decretado: doravante, por meio desse novo currículo básico, as crianças de escolas públicas estaduais só receberão, até o 3º ano, aulas de Português e Matemática! Partindo do pressuposto evidentemente errôneo de que um conhecimento atrapalha o outro, as aulas de História, Geografia e Ciências serão eliminadas do currículo desses estudantes.

Como consequência dessa política, nas escolas de tempo integral, o aluno terá aulas em um período e, no outro, oficinas temáticas das diferentes áreas do conhecimento, algumas obrigatórias e outras eletivas escolhidas de acordo com o projeto pedagógico da escola.

À primeira vista, esse currículo está “rico” e diversificado; no entanto, pelo olhar sério e comprometido, ele estará fatalmente fragmentado. Primeiramente porque verificamos que as oficinas obrigatórias também não objetivam, do mesmo modo, um trabalho com História, Ciências e Geografia; pelo contrário, voltam-se novamente para a Matemática e para o Português.

Além disso, como trabalhar a oficina optativa, por exemplo, de Saúde e Qualidade de Vida sem os fundamentos das ciências? Intriga a essa altura saber: por que oficinas e não estudo contínuo? O que se ganha com isso? Vários equívocos nos saltam aos olhos! O primeiro deles é considerar que o conhecimento de algumas áreas é acessório, ocupa espaço e ainda impede o bom aprendizado do Português e da Matemática!

As concepções de escrita e leitura, por exemplo, acabariam por ser responsabilidade exclusiva de uma única disciplina do currículo. Não seria essa uma visão muito simplista de aprendizagem, pois parece supor que o estudante não desenvolve processos de escrita e leitura também em outras disciplinas?

Outro equívoco é a suposição de que para estudantes de escola pública o mínimo basta! Para que sofisticar com lições da história, da natureza e do lugar do nosso povo? Conhecimento científico seria enfim útil para quê?

A aprendizagem não ocorre por partes. O aprendizado é todo ele integrado e sistêmico. Um bom ensino de História expande o pensamento e as referências e o estudante, assim, tem condições para perceber relações de fatos, tempo e espaço, tão necessárias à aprendizagem matemática.

A Geografia leva nossos pensamentos para viajar em outros espaços; possibilita compreender a diversidade das sociedades, conhecer e apreciar a natureza, aprender a observar e a estabelecer conexões entre lugares e culturas. Mergulhados, assim, nesses novos referenciais, os estudantes podem compreender melhor a própria realidade e encarar suas circunstâncias com pleno envolvimento. Isso certamente repercutirá na sua vida e no seu aprendizado, com consequência, por exemplo, em estudos simbólicos e gráficos.

Como deixar de aproveitar a natural curiosidade das crianças, seu espírito exploratório, suas perguntas intrigantes acerca dos fenômenos da natureza e, dessa forma, tecer as bases de um fundamental espírito científico, que por certo ajudará a compreender a Matemática e a recriar o Português?

Será que a estratégia de oficinas, ao invés do estudo contínuo, dará conta de captar tal complexidade e também de tornar possível um processo de ensino-aprendizagem que seja capaz de construir os conhecimentos de Geografia, História e Ciências que ficaram tão diminuídos no currículo básico?

De nosso ponto de vista entendemos que a questão não é separar para empobrecer. O que vale é democratizar as possibilidades de ser e de estar melhor no mundo. E para que isso aconteça precisamos da integração total de saberes e práticas.

As crianças de classe social mais favorecida possuem, antes já de chegar à escola, uma gama infindável de vivências. As crianças de classe popular, em sua maioria, chegam já à escola destituídas desse capital cultural. Possuem outras ricas e profícuas experiências que, nem sempre, são valorizadas e transformadas na escola. No entanto, o importante é trabalhar pedagogicamente com essas experiências de modo a transformá-las em vivências socialmente válidas. Pensamos que o fundamental é ampliar as oportunidades ao invés de restringi-las; para tanto, a experiência com as diferentes áreas do conhecimento é essencial.

Preocupa-nos o risco de a função da escola, para as crianças dos anos iniciais, limitar-se, a partir da reforma proposta, ao ensino das habilidades mínimas de leitura e escrita e de cálculo, retirando-se as cores e os sabores das descobertas que se fazem no contínuo do seu desenvolvimento. Preocupa-nos que esse projeto ganhe força e se concretize em outros níveis de ensino e em outros Estados. Preocupa-nos que as oficinas contribuam mais para o esvaziamento dos conteúdos do que para a construção de conhecimentos. O que será da nossa escola pública, então? Um reducionismo dos conhecimentos, um estreitamento das concepções de ensino-aprendizagem? O objetivo final será a quantificação em detrimento da qualidade? E, se atingir índices é o foco dos processos de ensino-aprendizagem, o que isso realmente significa? Qual é a verdadeira motivação da política educacional implícita nesse movimento?

* As autoras Maria Amélia Santoro Franco (Unisantos), Valéria Belletati (Instituto Federal de São Paulo), Cristina Pedroso (USP/FFCLRP) são doutoras em Educação e Ligia Paula Couto (Universidade Estadual de Ponta Grossa) é doutoranda em Educação. Todas são pesquisadoras do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação do Educador (GEPEFE) – FEUSP.

** Publicado originalmente no site Carta Capital.

(Carta Capital)

Pelo fim dos “templos do saber inalcançável”

Educação
01/2/2013 -

por Alexandre Sayad*

ed111 Pelo fim dos “templos do saber inalcançável”

"O acesso aos livros é um primeiro passo, mas não é suficiente."

O Estadão revelou recentemente em reportagem baseada em uma análise do Todos Pela Educação sobre dados do Censo Escolar, que nem um terço das escolas públicas do país possuem biblioteca. O rastilho de pólvora da informação correu os veios das redes sociais e colegas e amigos logos repercutiram a barbárie.

Eu fui um que fiquei chocado ao saber que 85% das escolas de São Paulo não têm acervo de livros, e que no Maranhão as que têm somam pífios 6%. O problema de dados como este são os buracos maiores que eles escondem – acreditem, a tragédia é mais complexa e, como sempre, esbarra na gestão.

O que os números ocultam é como funcionam as poucas bibliotecas que existem.
Livros fechados em prateleiras são tão inúteis quanto a falta deles. Muitas das escolas que têm um acervo, não têm programas ou metodologias que estimulem a criança e o jovem a abrir um livro e iniciar um gosto pelo universo literário.

Não é incomum, Brasil afora, bibliotecas fechadas a chave, com horários de funcionamento curtos; o argumento para isso beira a mediocridade. Em minha vida de repórter cansei de escutar que os livros ficavam guardados porque os estudantes acabam por “estragá-los”.

Não diferente é, muitas vezes, a situação das salas de informática; gestores preocupados em manter os equipamentos “em ordem” limitam o seu uso.

Ora, se todas as pesquisas apontam a crise da escola pública como uma questão de apelo e sentido, ou seja, o estudante do ensino evade principalmente porque a escola não cria vínculos com ele, a multiplicação de tecnologias educativas que conectem jovens aos livros e à internet deve ser prioridade. Uma questão de gestão porque tange pela enésima vez a formação dos gestores e professores das instituições públicas.

Não nego que o acesso aos livros é um primeiro passo, mas não é suficiente; as bibliotecas precisam existir, mas hoje não há governos que gastem dinheiro em metodologias adequadas. A sociedade civil já desenvolveu dezenas de projetos de círculo de leituras e de produção de comunicação por jovens, mas têm dificuldade em criar alianças com o poder público para multiplicá-las em escala nacional.

Engana-se quem pensa que essa questão é apenas brasileira; as escolas canadenses começaram a sentir falta de freqüência nas suas bem equipadas bibliotecas e resolveram isso de uma maneira simples, mas ousada: reinventaram-na, dessacralizando o livro e valorizando a linguagem. A estratégia foi aproximar os vídeo-games do mesmo espaço.

Em entrevista para site Cult Montreal, o CEO do arquivo nacional de Bibliotecas de Quebec, Dr. Guy Berthiaume, diz tratar-se de um efeito semelhante quando os quadrinhos e os jornais passaram a dividir espaço com a chamada “alta literatura”, para atrair públicos mais jovens às bibliotecas; novas linguagens se complementam num mesmo espaço e, segundo ele, uma estimula a outra.

Alguns especialistas americanos vão um pouco além; a biblioteca atual deve ser um espaço de eventos, tecnologia e criação. No caso, há o resgate da velha garagem novamente em cena, como espaço criativo.

Nesse sentido, devia preocupar os governos menos a meta de construção de 130 mil bibliotecas até o final de 2020, mas o que fazer para que as existentes não se tornem almoxarifados higiênicos  ou templos de um saber inalcançável.

* Alexandre Sayad é jornalista especializado em direitos humanos, colaborou com O Estado de S. Paulo e Rádio Eldorado, e coordena programas de Civic Midia, com a Universidade de Harvard.

** Publicado originalmente no site Portal Aprendiz.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Falem mal, mas falem de mim

 

“O Príncipe”, escrito há 500 anos, ainda é uma leitura que vale a pena. A alta dose de realismo oferecida por Maquiavel não deixa de ser um ingrediente básico para qualquer nova utopia política.

Antonio Lassance

Há 500 anos (1513), Nicolau Maquiavel (1469-1527) escreveu “O Príncipe”. O livro passou de proscrito a célebre. Seu autor, de renegado, passou a ser reverenciado, com direito a estátua na “Galleria degli Uffizi” (Galeria dos Ofícios), em sua cidade natal. Mais do que relembrar a ocasião do quingentésimo aniversário, é bom entender como o maquiavelismo eternizou Maquiavel.
“O Príncipe” não era um livro propriamente dito. Era um manuscrito. Livros eram ainda coisa rara e cara, em uma época em que a palavra impressa engatinhava e poucos sabiam ler. Não era destinado ao público em geral, mas a uma pessoa em particular, o governante de Florença, Lorenzo, chefe dos Médici, rica e poderosa família que havia retomado o domínio sobre a cidade, afastado seus adversários, dado fim à república e iniciado uma espécie de principado. Aproveitando a oportunidade, Maquiavel escreve sobre principados. Lorenzo di Piero de Medici era neto do Lorenzo a quem se conhecia como “O Magnífico”. Maquiavel não se fez de rogado e conferiu a mesma magnificência ao neto, o que ainda hoje dá margem a confusões sobre a qual dos Lorenzos ele se referia.
Maquiavel havia caído em desgraça. Por conta de seu anterior papel político proeminente de Segundo Chanceler daquela cidade-estado, sua figura estava nublada pela desconfiança. No cargo diplomático, ele era um informante e um negociador de conflitos e interesses decisivos. “O Príncipe” era uma carta de intenções pela qual Maquiavel mostrava suas credenciais de conselheiro qualificado e sua missão de servir ao poder.
Naquele momento, era improvável que Maquiavel ganhasse qualquer projeção maior que a de alguns de seus ilustres conterrâneos. Como literato, nunca seria um Dante, o autor de “A Divina Comédia”. Entre seus contemporâneos, havia o célebre Amerigo Vespucci, aquele que desfez a ideia de que as terras achadas por Cristóvão Colombo seriam as costas da Ásia, sendo na verdade um Novo Mundo - descoberta que renderia a “Américo” a homenagem de ter seu nome associado ao novo continente, a América. Maquiavel, ao contrário, arrastava-se para ser reabilitado.
“O Príncipe” só se tornaria público em 1532, quando seu autor já estava morto. Não tardaria a se tornar um livro proibido pela Igreja Católica, entrando para o “Index Librorum Prohibitorum” (“Índice dos Livros Proibidos”). Maquiavel atribuía a Roma e ao Papa uma péssima influência sobre a Península Itálica, um fator de divisão, e citava o Papa Alexandre VI (Rodrigo Bórgia) como “exemplo” de como o baluarte da moral e dos bons costumes era capaz de usar a violência, o dinheiro e a manipulação para manter-se no poder.
“O Príncipe” sequer é a obra melhor estruturada de Maquiavel, comparada aos "Comentários" (“Discorsi”) que fez tendo por pano de fundo a história da República Romana (baseada no relato do historiador romano Tito Lívio), que, mesmo incompleto, se revela um tratado bem mais sistemático sobre a política.
Hoje, Maquiavel é mais conhecido do que Dante e Vespúcio. O feitiço agraciou o feiticeiro. A fama de proibido o ajudou a tornar-se popular, assim como seu sentido mais prático e menos erudito. Seu desvendamento dos métodos usuais da política tornou o livro obrigatório para a direita e a esquerda, para liberais e marxistas. A análise crua e dura tecida a respeito dos poderosos passou a ser um guia obrigatoriamente reconhecido pelos próprios poderosos e pelos que ousavam combatê-los. Napoleão leu “O Príncipe”, e suas anotações aparecem publicadas em uma edição muito popular nas bancas de jornais e revistas. Revolucionários, de Rousseau a Gramsci, atribuíram a Maquiavel revelar segredos que até então permaneciam entre quatro paredes.
A certidão de nascimento da ciência da política
Para além da fama, a grande questão é a de saber se Maquiavel permanece ou não atual. Pelo menos três atributos essenciais ajudaram à sua sobrevida.
O primeiro é que a obra maquiavélica contribuiu para que a política passasse a ser tratada como um objeto de investigação específica. “O Príncipe” acabou se tornando a certidão de nascimento de uma ciência da política. Gregos e romanos também têm obras fundamentais, mas sua política era indistinta da vida social (a “polis”) e pensada como um assunto da Filosofia e da História, e não como uma disciplina autônoma. Maquiavel tem uma visão filosófica e histórica, mas por suas mãos a política ganhou vida própria e regras particulares. Como renascentista, ele resgatou a tradição clássica, mas criou algo novo.
Seu grande embate não era com os clássicos, e sim com seus contemporâneos, principalmente, com o moralismo e a pregação religiosa. Os mandamentos de “não roubar”, “não matar”, “não usar o santo nome em vão”, “não levantar falso testemunho” (não mentir) eram bons para a imagem, mas não eram as regras da política. Aliás, tais mandamentos eram descumpridos por todos na luta pelo poder, a começar pela própria Igreja.
Em geral, se tem a ideia errônea de que Maquiavel prioriza os métodos cruéis, ardilosos, infames – e todos os demais adjetivos encontrados como qualificativos de “maquiavélico”, em qualquer dicionário. O pensador florentino deixava claro que eles eram usuais daquela época, dispensando sua recomendação. Cita inúmeros exemplos a esse respeito. Na verdade, propõe comedimento e se esforça por dizer que tais métodos não deveriam ser utilizados indiscriminadamente, pois poderiam se mostrar contraproducentes. Mesmo a violência tinha regras e deveria aguardar por sua ocasião.
Em um momento em que todos os poderosos e aspirantes a poderosos se comportavam como leões, até os Papas (o de 1513, por coincidência, se chamava Leão X), ele dizia que as ocasiões muitas vezes requeriam raposas. Portanto, menos violência e mais astúcia. Para a barbárie das disputas políticas da época, o livro tinha até um papel civilizatório.
Os fins e os meios
Em “O Príncipe”, não existe a frase de que os fins justificam os meios. Nem existe a ideia de que qualquer meio serve para se chegar à vitória. Maquiavel fez uma lista de recomendações sobre os métodos e apontou que alguns tinham um alto custo para o governante e poderiam gerar um ódio generalizado contra sua pessoa. Sendo assim, deveriam ser evitados, pois levariam à ruína, e não à glória.
É mais apropriado dizer que, para Maquiavel, o critério de certo e errado, na política, é o êxito. Não é o vale tudo. Se os métodos empregados não permitem chegar e se manter no poder, não são bons métodos.
“Trate o príncipe, pois, de vencer e conservar o Estado. Os meios que empregar serão sempre julgados honrosos e louvados por todos”.
É esta última frase que deu origem à interpretação de que os fins justificam os meios. Interpretação errada. Para Maquiavel, o meio empregado faz toda a diferença para a vitória ou a derrota. É o emprego correto dos meios que ele define como virtude (“virtú”) na política. Fazer a coisa certa no momento certo (a “fortuna”, ou oportunidade) daria ao príncipe um destino grandioso.
Outro atributo importante do livro foi ter cravado o conceito de Estado e ter estabelecido uma distinção que, por muito tempo, foi decisiva para explicar grandes diferenças entre regimes políticos. “O Príncipe” abria suas explicações dizendo que, até então, todos os Estados (com maiúsculas) tinham sido ou repúblicas ou monarquias (principados). Depois que as monarquias foram derrubadas ou amainadas pela constitucionalização de seus poderes, a distinção entre presidencialismo e parlamentarismo passou a ser a mais usual.
O terceiro atributo genial de “O Príncipe” foi ter sido pioneiro na análise do poder como exercício da representação. A permanência no poder dependia de que o líder fosse a encarnação de uma vontade coletiva. Só conquistaria grandeza se seus projetos fossem ousados o suficiente para angariar respaldo entre suas elites e, mais relevante, apoio popular, inclusive contra elites que abrigavam seus adversários em potencial. “O mundo é formado por pessoas comuns”, dizia. É essa dimensão que deu a Maquiavel certa imagem de pensador democrático. Ele foi resgatado por Rousseau, no século XVIII, como aquele que ensinou ao povo como os príncipes governavam e que expôs a perversidade por trás do absolutismo.
A atualidade de Maquiavel
O que permanece atual em Maquiavel é sua compreensão realista da política. Sua lição fundamental é a de que o ofício do cientista político é o de desvendar. Para tanto, é preciso identificar os atores em disputa, apontar seus métodos de ação, evidenciar o papel e a orientação dada por suas lideranças políticas, desnudar os interesses envolvidos.
O pensador de Florença proporciona uma visão dinâmica do poder. O resultado da ação política depende não só da posição e dos recursos dos grupos sociais em luta, mas da correção das decisões tomadas por atores centrais e da reação que elas desencadeiam.
O povo reaparece em Maquiavel como o ator político fundamental, em torno do qual orbitam todos os demais. A sorte (ou “fortuna”) dos contendores depende de sua capacidade de dar voz e sentido de Estado às aspirações populares.
Podemos ainda nos servir de Maquiavel para apostar que toda crise aguda de regime é acompanhada de um processo de desmascaramento da velha política. Métodos perversos, bastante conhecidos, passam a gerar estranhamento e revolta popular quando seus resultados se mostram pífios e incapazes de garantir adesão em larga escala.
A alta dose de realismo oferecida por Maquiavel não deixa de ser um ingrediente básico para qualquer nova utopia política. Por isso, “O Príncipe”, 500 anos depois, ainda é uma leitura que vale a pena.

Antonio Lassance é cientista político e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente opiniões do Instituto.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Conheça o documento “O decênio que mudou o Brasil”

20/02/13

Cartilha que traz os principais avanços verificados no país nas mais diferentes áreas durante os governos Lula e Dilma será lançada nesta quarta (20).

O PT chega aos 10 anos à frente do governo federal e os resultados serão analisados em uma série de seminários que serão realizados em diferentes cidades brasileiras pelo PT, pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula. O folheto “O decênio que mudou o Brasil” é uma das publicações sobre estes 10 anos e será distribuído hoje, 20/02, no ato que o PT promove em São Paulo.

O documento aponta os principais avanços verificados no país nas mais diferentes áreas durante os governos Lula e Dilma e faz uma comparação com o período neoliberal, imediatamente anterior à chegada de Lula à Presidência da República. As informações deste folheto foram baseadas na sistematização de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Bacen (Banco Central do Brasil) e Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Conheça a íntegra deste documento aqui.(em pdf)

(Comunicação FPA)


PT em imagens – 33 anos de registros fotográficos

PT em imagens – 33 anos de registros fotográficos

Mais de mil fotos estavam guardadas em caixas, em muitas delas somente o negativo original

FOTOS - CLIQUE AQUI PARA ACESSAR AS IMAGENS.

Na comemoração dos 33 anos de fundação do PT, a Secretaria Nacional de Comunicação disponibiliza na internet parte do álbum de fotos desta história. As fotos estavam engavetadas, boa parte em velhos negativos originais. Outras, já impressas, foram na época reveladas em preto-e-branco, ainda nos tempos das “bacias de química”. O trabalho de recuperação durou cerca de um ano. A maioria das imagens estão nos arquivos do PT ainda sem as devidas identificações. O arquivo com os originais será enviado em breve para a fundação Perseu Abramo, que cuida do acervo petista. Outras imagens, como as do fotógrafo Éder Medeiros, entraram recentemente para o arquivo petista.

Pelas imagens é possível fazer uma viagem ao passado. Entre elas, destacam-se os registros do 1º Congresso do PT, no pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo – SP. O Congresso, que tinha como “delegado e presidente do Partido”, Luiz Inácio Lula da Silva, ocorreu entre os dias 27 de novembro a 1º de dezembro de 1991.

O arquivo vai ainda mais longe no túnel do tempo, com registros de antes da fundação do Partido. Entre elas a reunião no Colégio Sion, onde foram decididos passos importantes para a criação do PT.

Já o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva aparece em várias situações, como por exemplo, ao lado de Leonel Brizola. Além é claro, de inúmeras atividades com a base, sejam em comícios, plenárias e reuniões por todo País.

Em preto e branco

Há diversas imagens de filiados históricos, como Apolônio Carvalho, membro fundador do PT; Aloízio Mercadante; André Vargas; Gilberto Carvalho; José Dirceu; José Eduardo Cardozo; José Eduardo Dutra; José Genoíno; Francisco Rocha da Silva (Rochinha); Rui Falcão; Sérgio Buarque de Holanda; entre outros.

Ditadura militar

Entre os registros, há fotos de algumas ações violentas dos tempos da ditadura militar. Com destaque para os trabalhadores saindo dos encontros do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no estádio de futebol. No mesmo estádio há registro de Lula, quando os militares cortaram o sistema de som, e o discurso foi reproduzido fileira por fileira até que todos soubessem o que estava sendo falado.

Dilma Rousseff

A presidenta Dilma Rousseff sempre esteve ao lado da esquerda da política brasileira. Alguns dos registros fotográficos mostram Dilma na época ao lado de petistas históricos, como Olívio Dutra; Tarso Genro e é claro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Repórteres fotográficos registraram a história petista

Os créditos das imagens estão sendo levantados. Nas fotos em papel e negativos dos arquivos do PT, nem sempre constam os nomes dos fotógrafos. Numa ordem cronológica constam arquivos de Éder Medeiros, que registrou a história petista na década de 80, cujas fotos entraram para o arquivo recentemente. Muitas outras ainda estão em negativos, que Éder mantém em seu laboratório. Da mesma época há registros de Juca Martins, que fez parte da Agência F4. Atualmente Juca Martins mantém a agência Olhar Imagem.

Os registros do repórter fotográfico Edison Castêncio marcam a campanha de Lula e Brizola em 1998 na disputa à presidência da República; além de alguns momentos na década de 80, da hoje presidenta Dilma Rousseff, no Rio Grande do Sul. Outras imagens constam os registros de autoria do fotógrafo Roberto Parizotti (fotos de 1989); Carlos Mercuri (fotos de 1997); e Agência Fóton (sem data).

Arquivos Fundação Perseu Abramo: Outros materiais podem ser acessados aqui.

(Ricardo Weg – Portal do PT)

O Almir (não) vai deixar saudades a classe trabalhadora do Pará!?!?!?

Foto

Yoani Sanchez pode deixar o país sem ser questionada uma só vez

Publicado em Terça, 19 Fevereiro 2013

Escrito por Daniel Pearl

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Infelizmente, durante os desembarques da blogueira cubana Yoani Sanchez no aeroporto Guararapes, no Recife, e, pouco depois, no Luis Eduardo Magalhães, em Salvador, foram perdidas duas chances de ouro. Em vez de protestarem contra a ativista política cubana, deveriam ter se aproximado dela e, respeitosamente, pedido entrevistas.
    E se, ao apupá-la, os manifestantes queriam apenas mostrar que se trata de uma figura controversa, mais valeria o vídeo de uma negativa sua a dar explicações sobre aspectos contraditórios de seu papel de “heroína da resistência” contra o regime cubano do que as imagens de um protesto despido de argumentos.

    Mais interessante seria se algumas das perguntas à blogueira cubana que não querem calar – e às quais ela jamais responde – fossem gravadas sendo repetidas diante de si em um hipotético outro vídeo, com o consequente registro de sua reação, a qual, ao que se sabe sobre a moça, costuma ser a de se esquivar.
    Quem está bem informado sobre Yoani por certo conhece o trabalho do jornalista francês Salim Lamrani, graduado pela Universidade de Sorbonne, professor encarregado de cursos na Universidade Paris-Descartes e na Universidade París-Est Marne-la-Vallée e especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos.
    Como muitos sabem, em 2010 Lamrani fez uma longa entrevista com essa senhora – que pode ser acessada aqui –, na qual ela nitidamente se esquiva quando instada a dar maiores esclarecimentos sobre a sua atividade.
    Basicamente, pesam contra Yoani questionamentos às suas fontes de financiamento e à gestão impressionante que consegue dar às suas muitas frentes de atuação na internet, com perfis em redes sociais contendo centenas de milhares de “seguidores”, um blog de repercussão mundial, com tradução de seu trabalho em quase duas dezenas de línguas, e tudo isso enquanto alega sofrer restrições do governo cubano para acessar a internet.
    Além dessas suspeitas, questionam-se denúncias que ela fez de ter sido agredida e para as quais não ofereceu uma única prova. E, por fim, explicações sobre ligações suas com pessoas e setores inteiros do governo dos Estados Unidos envolvidos na disputa política entre aquele país e Cuba – ligações essas que, não faz muito tempo, foram relatadas pelo Wikileaks.
    No Brasil, Yoani concederá entrevistas para diversos veículos, sobretudo ao jornal O Estado de São Paulo. Todavia, parece certo que, em nenhuma delas, será submetida a questionamentos sobre sua versão dos fatos que são de evidente interesse jornalístico – não confundir jornalismo com o ativismo político-ideológico de veículos como o jornal citado.
    Apesar da perda de tempo inicial, como a ativista cubana ficará ao menos até sábado no Brasil, passando por Salvador e São Paulo, há que apelar ao seu alegado espírito democrático para que se disponha a responder a mais do que as previsíveis “perguntas” que lhe farão veículos como o Estadão, as quais, fatalmente, serão sobre quão “infernal” é Cuba.

    Por Eduardo Guimarães - Blog da Cidadania.

    terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

    Anonymous Brasil prepara protestos em sedes da Globo pelo país

     

    Por: Redação da Rede Brasil Atual

    Publicado em 19/02/2013

    Anonymous Brasil prepara protestos em sedes da Globo pelo país

    Vídeo no youtube faz a convocação dos protestos (Foto: Reprodução)

    São Paulo – Anonymous Brasil está convocando manifestações diante de sedes da Rede Globo em todo o país por meio de vídeos e páginas em redes sociais . Até o momento, pessoas de 73 cidades em 24 estados já aderiram e informam que irão realizar atos no próximo sábado (23).

    Os protestos são contra a “manipulação descarada da Rede Globo”, segundo o vídeo convocatório. “Vamos dar um grito de basta não aceitaremos mais o lixo cultural que eles nos empurram, vamos questionar suas notícias, vamos cortar a alienação pela raiz”, segue o texto. “Essa gigante está sempre inundando a cabeça das pessoas com futilidades e coisas inúteis, agindo como um filtro entre os reais acontecimentos e o que é passado para a população, mostrando somente o que ela quer que o povo veja”. Assista a íntegra.

    O Anomymous, segundo sua própria definição, não é um grupo, mas uma ideia que se utiliza principalmente de conhecimentos hacker. Em janeiro de 2012, “a ideia” invadiu sites dos principais bancos do país, em outubro foi a vez de sites de tribunais regionais eleitorais, entre outras ações.

    “Acreditamos que cada geração encontra sua forma de lutar contra as injustiças que encontra. Temos em mãos pela primeira vez o poder de produzir, distribuir e trocar informações. Uma oportunidade nunca vista antes na história para colaboração e construção de um mundo onde a esperança, a dignidade e a justiça sejam princípios a serem respeitado”, esclarecem em seu site.

    PT: A IDADE DA RAZÃO

     

    Quando a luta contra o arrocho salarial mesclou-se à saturação nacional contra a ditadura, nos anos 70, os metalúrgicos souberam ir além dos limites corporativos. Organizaram-se a contrapelo da coerção policial e do ceticismo de raposas políticas e sábios acadêmicos: assumiram a liderança de um novo ciclo histórico.Desse impulso divisor nasceu o PT,  33 anos atrás. A série de 13 debates que o Partido inicia nesta 4ª feira, em circuito nacional, pretende consolidar o inventário desse período, 1/3 do qual no governo do país. Mas seria crucial que surpreendesse indo além da reflexão retrospectiva para arguir as tarefas do presente e do futuro. Por exemplo: o principal trunfo desse percurso  são os 50 milhões de brasileiros que ascenderam na pirâmide da renda desde 2003. Exceto nos breves intervalos de disputa eleitoral,  essa paleta de forças e interesses quase nunca se mobilizou de forma coordenada e contundente. Em certa medida, é como se o  PT  desconhecesse o real alcance do protagonista político mais importante que ajudou a revelar. A omissão  argui o partido que atinge a idade da razão: é viável  enfrentar as contradições e conflitos de um ciclo de desenvolvimento como o do Brasil atual, sem estreitar os canais de organização e comunicação com a principal força capaz de sustentar a continuidade e a coerência do processo? (LEIA MAIS AQUI)

    (Carta Maior; 3ª feira, 19/02/2013)

    Morre Almir Gabriel, governador do Massacre de Eldorado dos Carajás

     

    19/02/2013 - 16:32

    Leonardo Sakamoto

    O ex-governador do Pará Almir Gabriel morreu, nesta terça (19), por conta de falência múltipla de órgãos, aos 80 anos, em Belém. Ele sofria de enfisema pulmonar e insuficiência cardíaca. Em 17 de abril de 1996, durante sua gestão, ocorreu o Massacre de Eldorado dos Carajás – quando 19 trabalhadores rurais sem-terra foram mortos e outras 60 pessoas ficaram feridas após uma ação violenta da Polícia Militar para desbloquear a rodovia PA-150.

    Duas pessoas foram condenadas por reprimir com morte a manifestação: o coronel Mario Colares Pantoja (a 228 anos) e o major José Maria Pereira Oliveira (a 154 anos), que estavam à frente dos policiais.

    Mas a polícia não atua por conta própria. Os responsáveis políticos na época, Almir Gabriel (que ordenou a desobstrução da rodovia) e o secretário de Segurança Pública, Paulo Câmara (que autorizou o uso da força policial), nunca foram processados. Outros 142 policiais militares que participaram da matança foram absolvidos. Isso sem contar que as denúncias de fazendeiros locais que teriam dado apoio para a ação policial ficaram por isso mesmo.

    A Justiça, quando se refere ao Pará, tem servido para proteger o direito de alguns mais ricos em detrimento dos que nada têm. Mudanças positivas têm acontecido, graças à sociedade civil, à imprensa e a promotores, procuradores e juízes que têm a coragem de fazer o seu trabalho, mesmo com o risco de uma bala atravessar o seu caminho. Mas tudo isso é muito pouco diante do notório fracasso em garantir a dignidade daqueles que lutam com melhores condições de vida até o presente momento. Praticamente toda a semana, uma liderança social é morta na Amazônia. Algumas são mais conhecidas e ganham mídia nacional e internacional, mas a esmagadora maioria passa como anônimos e são velados apenas por seus companheiros.

    Com o passamento de Almir Gabriel, um dos fundadoresvdo PSDB no Estado, não posso deixar de dar meus pêsames pela nossa incompetência, por não conseguirmos fazer com que ele respondesse por aquilo do qual era responsável. É mais um caso para uma coleção longa.

    O coronel Erasmo Dias faleceu com 85 anos. De 1974 a 1979, Erasmo ocupou o cargo de secretário de Segurança Pública em São Paulo, garantindo a ordem sob as técnicas persuasivas da Gloriosa. Ficou conhecido pela invasão da PUC-SP em setembro de 1977, ao reprimir um ato pela reorganização da União Nacional dos Estudantes. Assim como foi na morte do ditador chileno Augusto Pinochet, um amigo comentou que a “Justiça” finalmente havia chegado para Erasmo através do câncer que o consumiu. Discordo. O sujeito com 85 anos, morando confortavelmente, sem ter que responder pelo passado, passa dessa para a melhor e isso é “Justiça”?

    Não só não tivemos a competência para abrir e limpar publicamente as feridas que ele causou, como a sociedade ainda o elegeu deputado federal, deputado estadual e vereador. Parece piada, mas não é.

    Outra alma ceifada tempos atrás pela mesma “Justiça” foi a do Coronel Ubiratan, responsável pela execução de 111 presos na Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo. Não é que a sociedade não conseguiu condená-lo, ela não quis condená-lo. Ele fez o servicinho sujo que muitos paulistanos desejam em seus sonhos mais íntimos, de limpeza social. Da mesma forma que o massacre sob o comando de Almir Gabriel levou ao êxtase representantes da elite fundiária do Estado. Ubiratan morreu em 2006, segundo a polícia, pelo gatilho de sua própria namorada – que foi inocentada, posteriormente, em julgamento. Estava a caminho de ser facilmente reeleito como deputado estadual, ironizando o país ao candidatar-se com o número 14.111.

    Só para lembrar: Luiz Antônio “Quem não reagiu está vivo” Fleury Filho, então governador de São Paulo durante o Massacre do Carandiru, segue muito bem, obrigado.

    Almir, Erasmo, Ubiratan não são casos únicos. Não estou com uma sanha justiceira, de maneira alguma. Mas creio que todos os que lutam para que os direitos humanos não sejam um monte de palavras bonitas emolduradas em uma declaração sexagenária não se sentiram contemplados com passamentos sem julgamentos. Não quero uma saída “Nicolas Marshall”, de Justiça com as próprias mãos. Quero apenas que a Justiça funcione. Ou, no mínimo, que a sociedade consiga saldar as contas com seu passado, revelando-o, discutindo-o, entendendo-o. Para evitar que ele aconteça de novo.