Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

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sábado, 29 de dezembro de 2012

Povos e Calendários na história e atualidade

 

Escrito por LuaEstrela

Povos e Calendários na história e atualidade

Quando estamos imersos numa cultura, normalmente não percebemos coisas óbvias que fazem parte dela. Esse é o caso dos calendários, pois para nós ocidentais, que utilizamos o calendário gregoriano, é até difícil de imaginar que atualmente existem aproximadamente 40 calendários em uso no mundo [4, 6].

Os calendários surgiram da necessidade humana de contar o tempo, a partir da repetição dos seus ciclos naturais. Assim, a alternância entre o dia e a noite é o elemento fundamental do calendário. A observação das fases da lua levou ao conceito de mês, e o ciclo das estações à idéia de ano. Parece certo que os povos primitivos usavam intervalos de lua cheia como medida de tempo. Como a lua leva 29,5 dias para orbitar a Terra, um ano de 12 meses lunares acaba tendo somente 354 dias. O ano solar (a órbita da Terra ao redor do Sol) dura 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45,5 segundos.

Os babilônios, por exemplo, usavam um calendário lunar com 12 meses de 30 dias cada um, totalizando 360 dias no ano. A cada 6 anos acrescentava-se um mês, para corrigir a defasagem.

Para os egípcios, que dependiam da agricultura num país sem chuvas, a previsão da época das cheias do rio Nilo era uma questão de sobrevivência. Seu calendário, cuja origem remonta a cerca de 6000 anos, consistia de 12 meses de 30 dias, seguidos de 5 dias adicionais, chamados celestes [1].

Na Grécia antiga a base de sua contagem de tempo eram os Jogos Olímpicos, embora cada cidade-estado tivesse seu próprio calendário e formas individuais de corrigí-los.

Para os antigos romanos o calendário começava com a fundação de Roma. Rômulo instituiu um calendário de 304 dias, dividido em 10 meses. Seu sucessor, Numa Pompílio, adicionou ao final do ano dois meses: janeiro e fevereiro. O ano 46 AC ficou conhecido como o "o ano da confusão" porque Júlio César inseriu 90 dias no ano, para ajustar a diferença com o ano trópico, e reajustar-se às estações. Esse foi o primeiro passo para Júlio César iniciar uma reforma de todo o sistema, com a ajuda de um astrônomo, Sosígenes da Alexandria. O sistema lunar foi trocado pelo ano solar (tropical) de 365.25 dias. Essas mudanças resultaram na criação do calendário Juliano, e do bissextum, um dia adicional a ser intercalado a cada quatro anos. Por erro de interpretação do édito de César, a intercalação deu-se a cada quatro anos, exclusive. Ou seja, a cada três anos. Para corrigir o erro, Augusto, sucessor de César, ordenou a omissão do bissextum de 8 AC até 8 DC. Depois da morte de Júlio César e de Augusto, o quinto e o sexto mês passaram a chamar-se Julius e Augustus, em homenagem a esses imperadores calendaristas.

O CALENDÁRIO GREGORIANO

Com a expansão do cristianismo, o principal propósito do calendário era regulamentar o ciclo dos dias sagrados. Como existe uma diferença de 11 minutos e 14 segundos por ano dos 365.25 dias do ano no calendário Juliano para o ano tropical de 365.242199, em 1582 esse calendário já tinha um erro de 10 dias. O Papa Gregório III indicou o astrônomo Jesuíta Christopher Clavius para trabalhar numa nova solução. O tamanho do ano foi redefinido como 365.2422 dias, uma diferença de 0.0078 dias por ano do calendário Juliano. Isso ainda significava um erro de 3,12 dias a cada 400 anos. Para compensar essa diferença, a aplicação do conceito de ano bissexto sofreu uma adaptação: Os anos bissextos seriam determinados de acordo com a seguinte regra: Cada ano que é divisível exatamente por 4 é um ano bissexto, exceto para os anos que são divisíveis exatamente por 100; estes anos centuriais são bissextos apenas se eles também são divisíveis por 400. Por isso o ano 2000 é bissexto, enquanto que 1900 e 2100 não são.

Essas recomendações foram editadas através da bula papal "Inter Gravissimus", assinada pelo Papa Gregório em 24 de fevereiro de 1582. Para efetivar o ajuste, dez dias foram excluídos do calendário; então o dia 4 de outubro de 1582 foi seguido pelo dia 15 de outubro.

Sujeito aos problemas logísticos de comunicação e governabilidade do século XVI, o novo calendário foi promulgado através do mundo Católico Romano. Os países Protestantes inicialmente rejeitaram o calendário, mas gradualmente passaram a adotá-lo nos séculos seguintes. As Igrejas Ortodoxas continuaram a usar o calendário Juliano, com suas tabelas lunares tradicionais para calcular a data da Páscoa.

Inicialmente, a aceitação do calendário Gregoriano pelo mundo não cristão não era uma questão importante. Entretanto, com o desenvolvimento das comunicações internacionais, o calendário Gregoriano e suas regras civis passaram a ser adotadas ao redor do mundo.

A Inglaterra e suas colônias só o adotaram em 1752, através de um Ato do Parlamento do Reino Unido, em 1751. Para isso foi feita uma correção de 11 dias, com o dia 2 de setembro de 1752 sendo seguido pelo dia 14. Por lei, os Estados Unidos nunca definiram oficialmente um calendário, mas usam o calendário Gregoriano por "herança" de seus colonizadores. E até mesmo em 1954, quando a ONU estava propondo uma reforma de calendário, eles foram fortes e decisivos opositores [8].

Entretanto, a adoção desse calendário no Reino Unido e em outros países foi repleto de confusão, controvérsia, e mesmo violência, além de ocasionar profundos impactos culturais, pela interrupção de festivais tradicionais e outras práticas, conforme relatado por Doggett [4], citando outros autores.

A Rússia passou a adotar esse calendário somente em 1918, após a Revolução. Uma tentativa de criar um "Calendário Eterno" foi introduzida na União Soviética em 1929, com 12 meses de 30 dias e 5 feriados nacionais. Mas o Calendário Gregoriano voltou a ser reutilizado a partir de 1940.

A Grécia se "converteu" ao calendário Gregoriano em 1923, sendo que nesse ano os 13 primeiros dias de Outubro foram omitidos para a introdução do "Calendário Juliano Revisado". Nesse ano, algumas Igrejas Ortodoxas do Oriente também o adotaram, mas aquelas que não aderiram a essa mudança ainda hoje celebram o Natal no dia 7 de janeiro e o Ano Novo no dia 14 de janeiro.

Um fato curioso aconteceu durante a Revolução Francesa de 1789. Os franceses consideraram a revolução tão importante que criaram um novo calendário. Eles consideraram 1789 como sendo o Ano 1 dessa nova era. Em 1805, com Napoleão no poder, o calendário gregoriano voltou a ser utilizado.

OUTROS CALENDÁRIOS RELIGIOSOS

Existem outras religiões de presença mundial que têm calendários diferentes do Gregoriano.

O ano no calendário Hebreu tem a duração de 354 a 385 dias. Esse calendário, que usa a abreviação "AM" para Anno Mundi, é baseado na crença de que a data da criação do universo ocorreu em 3761 AC. Hoje esse calendário lunisolar é baseado mais em cálculos do que observações, sendo oficial em Israel e para atos litúrgicos da fé Judáica.

O calendário Islâmico iniciou em 622 DC, o ano em que o Profeta Muhammad saiu de Meca para estabelecer-se em Medina. A abreviação "H" ou "AH" é usado após a data, significando "Hégira" ou "Anno Hejira". É um calendário puramente lunar que se repete a cada 30 anos. Os anos 2, 5, 7, 10, 13, 16, 18, 21, 24, 26 e 29 são bissextos e tem 355 dias. Os demais anos, denominados comuns, têm 354 dias. Como o ano lunar é 11 dias menor que o ano solar, a cada século os muçulmanos podem comemorar dois anos novos durante um ano Gregoriano. Esse ciclo de 12 meses lunares também regride através das estações num período de 33 anos. Para propósitos religiosos, os Muçulmanos começam os meses com a primeira visibilidade da lua crescente após a conjunção. Para propósitos civis, um calendário tabular com os ciclos aproximados das fases da lua é freqüentemente utilizado.

O calendário Hindu é baseado no inicio da Era Saka, em 78 DC. A data original de base para o calendário foi um alinhamento planetário envolvendo Júpiter, em 3102 AC.

O calendário Sikh é baseado no início da Era Khalsa, há três séculos. Seu ano inicia em 13 ou 14 de Abril.

O calendário tradicional Zoroastriano é composto por 12 meses de 30 dias. O mês final tem 5 dias "gatha" adicionados. Inicialmente, um mês adicional de 30 dias era inserido a cada 120 anos. A base para este calendário é a data da coroação do último Rei Sassânida Zoroastriano, Yazdegird II, em 631 DC. Os Zoroastrianos Iranianos pararam de adicionar esse mês em 1009 DC. Outros seguidores, na Índia, pararam em 1129 DC. Em 1906 DC foi proposta uma revisão, seguindo o sistema de anos bissextos, como o calendário Gregoriano. Esse calendário é usado pelos Zoroastrianos em todo o mundo, exceto na Índia.

Eu considero particularmente interessante o calendário da Fé Bahá'í, cuja história iniciou em 1844, quando um jovem profeta persa chamado O Báb declarou que uma nova era na história da humanidade estava começando e que brevemente uma grande "Educador Espiritual" surgiria, para estabelecer uma era de paz e unidade mundial. Para marcar o início desse novo período na história da humana, O Báb introduziu um novo calendário, restaurando o ano solar. Esse calendário tem 19 meses de 19 dias, totalizando 361 dias por ano, com 4 ou 5 dias intercalares denominados Hayyám-i-Há, "os dias que excedem aos meses". Bahá'u'lláh, o fundador da Fé Bahá'í - o Educador anunciado pelo Báb - reafirmou Seu calendário e indicou a comemoração dos dias de Hayyám-i-Há entre o 18°e o 19° mês. Esses dias festivos são apropriados para visitar os amigos, trocar presentes, levar doações para orfanatos, asilos, etc. Depois desses dias, considerados "fora do tempo", segue um mês de jejum em preparação para o Ano Novo. Essa festa do Ano Novo é celebrada no dia em que o sol entra na constelação de Áries, isto é, no equinócio (primeiro dia da primavera no hemisfério norte e do outono, no hemisfério sul), podendo cair nos dias 20, 21 ou 22 de março, dependendo do horário do equinócio.

QUANDO TEREMOS UM CALENDÁRIO UNIVERSAL?

Como pudemos ver, a contagem do tempo tem sido uma preocupação constante na história da humanidade, e, em muitas outras ocasiões, já apresentou situações eventualmente muito mais complicadas de adaptação do que as "meras" questões técnicas de consertar o bug do milênio1. Pois qualquer mudança cultural é muito mais difícil de ser absorvida. Uma reforma de calendário é um evento extraordinário, em qualquer cultura. Como vimos, a aceitação do calendário Gregoriano como um padrão, mesmo no mundo cristão, demorou vários séculos. E hoje ele está sendo usado mais pelas circunstâncias econômicas do que sociais.

Na medida em que o processo de unificação da humanidade tornar-se irreverssível, sustentado pelo crescimento da compreensão da interdependência de todos os povos, a adoção de um calendário unificador acabará sendo uma necessidade inadiável.

Este momento é aqui e agora.

faça parte do movimento mundial de reforma do calendário de substituição pelo calendário 13 Luas de 28 dias

-Fonte:

http://www.13luas.art.br/xps/modules/articles/article.php?id=66

Os diferentes tipos de calendários – Compreensão física

 

Do latim calendae, kalendae, significa o primeiro dia do mês romano, dia em que as contas eram pagas. É o sistema de divisão e contagem do tempo ao qual se aplica um conjunto de regras baseadas na astronomia, associando dias inteiros em períodos maiores, como semana, mês e ano.

Calendário lunar - Surge entre os povos de vida nômade ou pastoril. Baseado nas fases da Lua, o dia começa com o pôr-do-sol. O ano é composto de 12 lunações de 29 dias e 12 horas (ou seja, meses de 29 e 30 dias intercalados), num total de 354 ou 355 dias. A defasagem de 11 dias em relação ao ano solar (365 dias) é corrigida pela inclusão de um mês extra periodicamente.
Esse calendário precisa ser ajustado sistematicamente para que o início do ano corresponda sempre a uma lua nova (o mês lunar não é igual a um número inteiro de dias e os meses devem começar sempre com uma lua nova). Para que os meses compreendam números inteiros de dias, adota-se o emprego de meses alternados de 29 e 30 dias.

Calendário solar
- Baseado no ano solar, que é o tempo real gasto pela Terra para completar uma volta completa ao redor do Sol (movimento de translação). O ano solar, também chamado de tropical, tem 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos.
Estabelece o ano de 365 dias, dividido em 12 meses. A soma das seis horas (arredondamento de 5h48m46s) que sobram a cada ano resulta no ano bissexto a cada quatro anos (6 horas x 4 = 24 horas, ou seja, um dia a mais em fevereiro). O calendário solar surge entre as populações agrícolas.
Calendário lunissolar - Baseia-se no mês lunar, adequando-se o ano lunar às estações do ano (ano solar), por meio de intercalação periódica de um mês a mais. Diferença de 11 dias por ano. O começo do ano deve coincidir com o início de uma lunação.

Ano civi
l - Compreende um número inteiro de dias (355 ou 366), o mais próximo do ano solar, para facilitar as atividades humanas.
Ano bissexto - Possui 366 dias, um a mais que o ano comum - encaixado no mês de fevereiro -, para corrigir a diferença de quase seis horas (5h48m46s) que o ano solar tem a mais em relação ao ano civil. As seis horas, no final do período de quatro anos, equivalem a 24 horas, ou seja, um dia. No calendário juliano acontecem anos bissextos a cada quatro anos. No calendário gregoriano não são bissextos os anos seculares (que terminam em dois zeros, ou seja, o último ano de cada século), exceto aqueles que são divisíveis por 400.
Origem do nome bissexto - O início de cada mês do calendário romano (juliano) chamava-se calendas. Era costume colocar o dia intercalado após o dia 24 de fevereiro, ou seja, seis dias antes das calendas de março. Esse dia era contado duas vezes, passando a ser chamado em latim de "bis sexto ante calendas martii". Daí o nome bissexto para o ano que tivesse a intercalação.
Os nomes dos meses continuaram os mesmos do calendário de Numa Pumpílio até que, mais tarde, em homenagem aos imperadores César e Augusto, quintilis é denominado julius (julho) e sextilis, augustus (agosto). A alteração da ordem dos meses torna incongruente a denominação dos quatro últimos. No ano da mudança, para fazer a concordância entre o ano civil e o ano solar, Júlio inclui no calendário mais dois meses de 33 e 34 dias, respectivamente, entre novembro e dezembro, além do 13º mês, o mercedonius, de 23 dias. O ano de 708 de Roma (46 a.C.) tem 445 dias distribuídos em 15 meses. É chamado de ano da confusão.

Ano cósmico
- É o tempo gasto pelo Sol para dar uma volta ao redor do centro da Via Láctea. Tem a duração aproximada de 225 milhões de anos.
Mês - É o tempo que a Lua leva para dar uma volta ao redor da Terra, contado em números inteiros. Como a lunação não tem um número inteiro de dias, o mês lunar foi definido como tendo 29 ou 30 dias, para se aproximar da lunação, que é de 29,5 dias.
Dia - Período de tempo (24 horas) equivalente ao que a Terra leva para dar uma volta em torno de seu próprio eixo (movimento de rotação). A Terra é dividida em 24 zonas de tempo. Uma das conseqüências da rotação é a sucessão dos dias e das noites. A noção de dia nasce do contraste entre luz solar e noite. É o elemento mais antigo e fundamental do calendário.
Estações do ano - Em razão dos movimentos de rotação e translação, a Terra recebe quantidade diferente de luz decorrer do ano. Entre setembro e março, quando a inclinação do hemisfério norte a distancia do Sol, acontecem as estações do outono e inverno nesse hemisfério, nas quais há menos de 12 horas diárias de luz solar. Durante o resto do ano, o hemisfério norte está mais inclinado para o Sol. Têm-se, então, as estações da primavera e verão, nas quais a luz solar dura mais de 12 horas diárias. No hemisfério sul ocorre o contrário.
As estações só se produzem nas zonas de latitude média e temperada. Na zona equatorial, os raios solares caem quase perpendicularmente por todo o ano, e os dias têm a mesma duração que as noites. Já nas zonas polares, os raios solares são quase tangentes e, por isso, há baixa temperatura o ano todo.

Equinócio
- A palavra equinócio significa "noite igual", ou seja, quando a duração do dia é a mesma da noite. Há uma intersecção da trajetória do Sol com a linha do Equador. Acontece aproximadamente nos dias 21 de março (equinócio de outono no hemisfério sul) e 23 de setembro (equinócio da primavera no hemisfério sul).
Solstício - A palavra solstício significa "Sol quieto", pois nesses dias o Sol alcança suas posições extremas nos pontos onde aparece e se oculta. Dá origem aos dias mais longos e mais curtos do ano. É o instante em que começa o verão ou o inverno. É o ponto em que o sol está mais distante do Equador. Situa-se nos dias 22 ou 23 de junho para maior declinação boreal (solstício de inverno no hemisfério sul) e 22 ou 23 e dezembro para maior declinação austral (solstício de verão no hemisfério sul). No hemisfério norte ocorre o contrário.

Era Cristã
- O calendário cristão é adotado no Ocidente a partir do século VI. No século X, a Era Cristã é oficializada pela Igreja romana e introduzida na Igreja bizantina. No fim do século XIX, quando a contagem cronológica da história já está difundida e uniformizada, descobre-se um erro de cálculo. Segundo a moderna historiografia, Cristo nasce no ano 4 a.C.

A Folha tenta se explicar

 

Nos três momentos mais importantes da história brasileira, a mídia estava do lado golpista, do lado das elites, contra o povo e a democracia. Entre eles, o jornal dos Frias, um dos que mais tem a esconder do seu passado e do seu presente. Uma funcionária da empresa há 24 anos, que fez sua carreira totalmente na Folha, que já ocupou vários cargos na direção na mesma, escreveu uma espécie de história ou de justificativa da empresa. O livrinho tem o titulo "Folha explica Folha". Mas poderia também se intitular Folha tenta se explicar, em vão. O artigo é de Emir Sader.

Emir Sader

Os órgãos da imprensa brasileira não podem fazer suas histórias, tantos são os episódios, as posições, as atitudes indefensáveis deles ao longo do tempo. Suas trajetórias estão marcadas pelas posições mais antipopulares, mais antidemocráticas, racistas, golpistas, discriminatórias, de tal forma que eles não ousam tentar contas suas histórias.
Como relatar que estiveram sempre contra o Getúlio, pelas políticas populares e nacionalistas dele? Como recordar que todos pregaram o golpe de 1964 e apoiaram a ditadura militar, em nome da democracia? De que forma negar que apoiaram entusiasticamente o Collor e o FHC e fizeram tudo para que o Lula não se elegesse e se opuseram sempre a ele, por suas políticas sociais e de soberania nacional? Nos três momentos mais importantes da história brasileira, a mídia estava do lado golpista, do lado das elites, contra o povo e a democracia.
Entre eles, o jornal dos Frias, um dos que mais tem a esconder do seu passado e do seu presente. Uma funcionária da empresa há 24 anos, que fez sua carreira profissional totalmente na empresa, sem sequer conhecer outras experiências profissionais, que já ocupou vários cargos na direção da empresa, decidiu – ou foi decidida – a escrever uma espécie de história ou de justificativa da empresa dos Frias.
O livro foi publicado numa coleção da empresa. A funcionária se chama Ana Estela de Sousa Pinto e o livrinho tem o titulo Folha explica Folha. Mas poderia também se intitular Folha tenta se explicar, em vão.
Livro mais patronal, não poderia existir, até porque quem o escreve não tem a mínima isenção para analisar a trajetória da empresa da qual é funcionária. Começa com uma singela apresentação histórica das origens da empresa. De resgatável, uma citação do editorial de apresentação do primeiro jornal da empresa, que se diz como um jornal “incoerente” e “oportunista”, numa visão premonitória do que viria depois. Nada do que é relatado considera a historia como elemento constitutivo do presente. São informações juntadas, num péssimo estilo de historiografia que não explica nada.
Logo no primeiro grande acontecimento histórico que a empresa vive, sua natureza política já aflora claramente: apoio a Washington Luís e oposição férrea a Getúlio, tudo na ótica que perduraria ao longo do tempo: “a defesa dos interesses paulistas” ou do interesse das elites, revelando a função da imprensa paulista: passar seus interesses pelos de São Paulo.
Naquele momento se tratava de defender os interesses da lavoura do café. Para favorecer aos fazendeiros em crise, a empresa aceitava o pagamento de assinaturas em sacas de café, revelando o promiscuidade entre jornal e o café.
De forma coerente com esse anti-getulismo em nome dos interesses de São Paulo, a empresa se alinha com a “Revolução Constitucionalista” de 1932, contra a “ditadura inoperante, obscura e inepta em relação ao Estado de São Paulo”. O estado é sempre a referência, sinônimo de progresso, de liberdade, de democracia. O anti-getulismo é visceral: “O diretor Rubens Amaral levava seu anti-getulismo ao extremo de impedir que os filhos saíssem de casa quando o ditador (sic) visitava São Paulo. ‘Dizia que o ar estava poluído”, conta sua filha mais velha.”
Esse elitismo paulistano fez, por exemplo, que o Maracanaço de 1950 só fosse noticiado na terça-feira, na pagina 4 do caderno “Economia e Finanças”.
A autora tenta abrandar as coisas. Afirma que “A posição da Folha foi oscilante ao abordar o governo de João Goulart (1961-64) e a ditadura que o sucedeu.” Mentira, o jornal fez campanha sistemática pelo golpe militar.
Bastaria ela ter se dado ao trabalho de ler os jornais daquela época.
Encontraria, por exemplo, no dia 20/3/1964, a manchete: “São Paulo parou ontem para defender o regime”. E, ainda na primeira pagina: “A disposição de São Paulo e dos brasileiros de todos os recantos da pátria para defender a Constituição e os princípios democráticos , dentro do mesmo espírito que dito a Revolução de 32, originou ontem o maior movimento cívico em nosso Estado: “Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade”. E vai por aí afora, reproduzindo exatamente as posições que levaram ao golpe. Editorial de primeira página vai na mesma direção.
Bastaria ler alguns dos jornais desses dias e semanas, para se dar conta da atitude claramente golpista, mobilizadora a favor da ditadura militar, pregando e enaltecendo as “Marchas”. Nenhuma oscilação ou ambiguidade como, de maneira subserviente, a autora do livrinho sugere.
A transformação da Folha da Tarde num órgão diretamente vinculado à ditadura militar e a seus órgãos repressivos, o papel de Carlos Caldeira, sócio dos Frias, no financiamento da Oban, assim como o empréstimo de veículos da empresa para dar cobertura à ações terroristas da Oban, são coerentes com essas posições.
De Caldeira, ela não pode deixar de mencionar que “tinha afinidade com integrantes do regime militar e era amigo do coronel Erasmo Dias”. “Caldeira não era o único com conexões militares. Na redação da empresa havia policiais civis e militares, tanto infiltrados como declarados – alguns até trabalhavam armados.”
Sobre o empréstimo dos carros à Oban, a autora tenta aliviar a responsabilidade dos patrões, mas fica em maus lençóis. Há os testemunhos de Ivan Seixas e de Francisco Carlos de Andrade, que viram as caminhonetas com logotipos da empresa estacionadas várias vezes no pátio interno na fatídica sede da Rua Tutoia. Só lhe resta o apelo às palavras do então diretor do Doi-Codi, major Carlos Alberto Brilhante Ustra – condenado pela Justiça Militar como torturador - que “nega as afirmações dos guerrilheiros”. Bela companhia e testemunha a favor da empresa dos Frias, que a condena por si mesma.
Já um então jornalista da empresa, Antonio Aggio Jr. “reconhece o uso de caminhonete da empresa por militares, mas antes do golpe”. Dado o precedente, ainda na preparação do golpe, nada estranho que isso tivesse se sistematizado já durante a ditadura. Fica, portanto, plenamente caracterizado tudo o que diz Beatriz Kushnir no seu indispensável livro “Caes de Guarda”, da Boitempo, significativamente ausente da bibliografia do livro, sobre a conivência direta da empresa dos Frias na ditadura, incluído o empréstimo das viaturas para a Oban.
Editorial citado confirma a posição da empresa: “É sabido que esses criminosos, que o matutino (Estado) qualifica tendenciosamente de presos políticos, mas que não são mais do que assaltantes de bancos, sequestradores, ladrões, incendiários e assassinos, agindo, muitas vezes, com maiores requintes de perversidade que os outros, pobres-diabos, marginais da vida, para os quais o órgão em apreço julga legítimas toda promiscuidade.” (30/6/1972)
Assim os Frias caracterizam os que lutaram contra a ditadura. Fica plenamente caracterizado que a empresa estava totalmente do lado da ditadura, reproduzindo os seus jargões e a desqualificação dos que estavam do lado da resistência.
Passando pelo apoio ao Plano Collor, a empresa saúda a eleição de FHC como a Era FHC, com um caderno especial, assumindo que se virava a pagina do getulismo, para que o Brasil ingressasse plenamente na era neoliberal. Do anti-getulismo a empresa passou diretamente para o anti-lulismo – posição que caracteriza o jornal há tempos -, sempre em nome da elite paulista. A Era FHC acabou sem que o jornal tivesse feito sequer uma errata e nem se deu conta que a nova era é a Era Lula.
A decadência da empresa não consegue ser escondida. Depois de propalar que tinha chegado a tirar 1.117.802 exemplares em agosto de 1994, 18 anos depois, com todo o aumento da população e da alfabetização, afirma que tira pouco mais de 300 mil, para vender muito menos – incluída ainda a cota dos governos tucanos.
Ao longo dos governos FHC e Lula, a empresa foi sendo identificada, cada vez mais, com órgão dos tucanos paulistanos, seus leitores ficaram reduzidos aos partidários do PSDB, sua idade foi aumentando cada vez mais e o nível de renda concentrado nos setores mais ricos.
A direção do jornal, exercida pelos membros da família Frias nos seus cargos mais importantes, tendo a Otavio Frias Filho escolhido por seu pai para sucedê-lo, cargo que ocupa já há 18 anos, por sucessão familiar.
Apesar de quererem explicar a Folha, a impossibilidade de encarar com transparência sua trajetória, o livro se revela uma publicação subserviente aos proprietários da empresa, oficialista, patronal, que reflete o nível a que desceu a empresa ao longo das duas ultimas décadas

RENTISTAS UIVAM LÁ, A MATILHA LATE AQUI

 

As aplicações do' Sloane Robinson', um dos dez maiores fundos hedge do mundo e dos mais antigos de Londres, vão fechar o ano com saldo de US$ 2,5 bilhões. Em 2008, o fundo especulativo acumulava ativos de US$ 15 bilhões. O 'Sloane' esfarela. Sua rentabilidade despencou 17% no ano passado; afundará mais 2%  em 2012. Não é um caso isolado. Rentistas de todo o mundo sofrem os reveses  da implosão  neoliberal agravada pelo fim da farra nos países emergentes-- Brasil entre eles. Sua passagem pelo país incluía ganhos triplos: na arbitragem dos juros (maiores aqui, remunerando captações a um custo menor lá fora); na diferença cambial entre a data de ingresso e a da saída, uma vez que o próprio tsunami especulativo forçava a valorização do Real, garantindo conversões vantajosas para o dólar na despedida; e, finamente, na jogatina 'rapidinha' nas bolsas, sem nem dispor de ações próprias, alugando carteiras junto a bancos. A obstrução da pista principal do circuito, a dos juros, derrubados a fórceps pelo governo Dilma, melou o resto do passeio, prejudicado ainda pela queda nos mercados acionários.O rendimento médio dos fundos hedges este ano, segundo a Reuters, será 50% inferior à variação dos índices de ações dos mercados emergentes, que deve crescer apenas 5% frente a 2011, contra 450% entre 2003/2007. É quase o fim de uma era. É desse pano de fundo que soam os vagidos em inglês contra o governo Dilma, ecoados de gargantas midiáticas profundamente comprometidas com as finanças desreguladas. Caso da The Economist, que pediu a cabeça do ministro Mantega, na semana passada--caninamente saudada pelo seu back vocal em português; e a do Financial Times, desta semana, cujo blog faz referencias deselegantes ao país e a  sua Presidente (leia reportagem de Marcelo Justo, de Londres; nesta pág). Como acontece quando as matrizes entram  no cio numa matilha, os uivos locais elevaram seus decibéis na última 4ª-feira. Coube  à 'Folha' cravar o latido mais alto da praça, em editorial em que pede 'reforma geral nas prioridades nacionais'. (LEIA MAIS AQUI)

(Carta Maior; Sábado,29/12/2012)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O voo do dragão

Mundo

 

A China tenta seguir a trilha do crescimento. O desafio é não deixar-se degradar pelo insustentável e pela corrupção, nem envelhecer antes de enriquecer

Por: Milton Pomar, para Revista do Brasil

Publicado em 13/12/2012

O voo do dragão

Futuro e tradição. A China continua sendo o país das bicicletas, mas também domina a tecnologia que leva homens ao espaço (Foto:David Gray/Reuters)

Novembro foi mês da Chin­a e do Partido Comu­nista Chinês (PCCh). Na­ imprensa mundial, ­renderam mais assuntos do que as eleições nos Estados Unidos, as crises na Europa e a recessão no Japão. Tudo por causa da mudança do governo central, iniciada em novembro com a ­nomeação dos sete novos integrantes da executiva do partido e a ser concretizada com a confirmação do presidente e do ­primeiro-ministro em março de 2013, na reunião do Congresso Nacional do Povo. Xi Jinping, agora secretário-geral do partido, deve presidir também a grande­ ­nação do Oriente, com mandato de cinco anos, renovável por mais cinco.

Migração chinesa compromete cidades (Ly Song/Reuters)Também nesta edição

  • Populações escorraçadas de suas terras na China contemporânea compõem as maiores migrações da história da humanidade.
    Por Renato Pompeu
    (Foto: Ly Song/ Reuters)

O alvoroço tem a ver com a extraordinária importância econômica e comercial adquirida pela China nos últimos dez anos, período que coincide com o governo de Hu Jintao e Wen Jiabao, presidente e primeiro-ministro em fim de mandato. Segunda maior economia, perto de se tornar a primeira no ranking do PIB mundial, é também a maior exportadora, com 12% do comércio internacional, e a segunda maior importadora – devendo alcançar a condição de número um em breve.

Para o Brasil, essa situação já chegou: é a maior freguesa dos produtos brasileiros, nossa principal fornecedora e logo deve se tornar também a maior investidora: segundo estudo do Conselho Empresarial Brasil-China, há 60 projetos de investimento de empresas chinesas, dos quais 39 estão em andamento, totali­zando US$ 24 bilhões.

Até 2014 esse montante pode passar de US$ 40 bilhões, se os governos federal, estaduais e das cidades do Brasil e grandes empresas nacionais desenvolverem iniciativas com esse objetivo. A China é o país com a maior reserva cambial do mundo, mais de US$ 3 trilhões – quase dez vezes a do Brasil –, e precisa aplicar parte dessa fortuna-papel em bens reais: indústrias, minas, portos, navios, empresas agropecuárias, ferrovias, hotéis, shoppings, aeroportos etc.

O mundo inteiro disputa esse dinheiro e cobiça aquele imenso mercado consumidor, que de 2009 para cá passou a ser a tábua de salvação de muitos países, incluindo o Brasil. Vender para os chineses será cada vez mais o sonho de consumo de muitas empresas, porque nos próximos anos o país pretende aumentar seu consumo interno, dos atuais 35% do PIB para 55%. Em dinheiro, será adicionado ao total comprado algo como US$ 1,6 trilhão, o equivalente ao que importa anualmente.

Boa parte do salto do superávit na balança comercial brasileira nos anos 2000 tem a ver com as compras crescentes que a China faz, de minério de ferro, soja, celulose, carne de frango etc. Apesar disso, as mercadorias brasileiras representam menos de 2% de tudo o que a China compra do mundo, o que significa que o Brasil ainda tem muito espaço para crescer ali.

Avanços e degradações

Essa imensa expansão do consumo pretendida pelo gigante oriental faz parte de uma mudança radical da política econômica que vigorou nos últimos 30 anos, de crescimento por meio principalmente de exportações de produtos fabricados com mão de obra intensiva. Em 1980, um conjunto de iniciativas conhecidas como Reformas (econômicas, políticas, culturais) e Abertura para o Exterior iniciou a transformação do país muito pobre e atrasado em maior economia mundial até 2020.

Nesse período, a mortalidade de crianças antes de completar 1 ano caiu de 190 para 20 para cada mil nascidas vivas. O analfabetismo afeta menos de 5% dos adultos, cuja expectativa de vida dobrou. De 1980 a 2005, a China tirou da miséria 627 milhões de pessoas. Hoje se discute em várias instituições de pesquisa no mundo qual é o tamanho da classe média, se 400 milhões ou 500 milhões de pessoas. Outra polêmica é se já passariam de 10 milhões os indivíduos com mais de US$ 1 milhão na conta bancária.

Os números são impactantes e nem sempre confiáveis e, para que se tenha uma ideia da importância da economia do país para o mundo, se o crescimento chinês for de 7% ao ano, nos próximos oito anos dobrará o tamanho do PIB.

Toda essa expansão teve um custo ambiental elevado, e a população hoje já não aceita pagar por ele com a própria saúde. A poluição aérea visível é impressionante e seus efeitos são constatáveis: quase 25% das mortes devem-se a problemas respiratórios. A intensa contaminação de rios, lagos e águas subterrâneas é igualmente impressionante, porque além de tudo a água é escassa e sobram desertos e regiões semiáridas. A China, com 20% da população mundial, tem apenas 6% da água doce existente, daí sua condição de 121º lugar no ranking de água per capita e a dura realidade de racionamento em dois terços das cidades, segundo o Anuário 2010 do Ministério de Recursos Hídricos.

Essa realidade de desastre ambiental generalizado está mudando, por pressão popular, de técnicos, acadêmicos, da mídia e dos próprios burocratas, que se deram conta dos estragos causados pela lógica de crescer a qualquer custo.

Chama a atenção, nos discursos dos dirigentes chineses de alguns anos para cá, a preocupação ambiental, assim como com a necessidade de reduzir a desigualdade social – a população rural e do interior do país ganha um terço, em média, do que ganham os habitantes urbanos e da região litorânea. Essa parcela mais bem localizada representa cerca de 30% da população e, além do poder aquisitivo muito maior, tem maior acesso a saúde, educação, lazer, moradias melhores e, enfim, uma qualidade de vida muito superior à dos 70% restantes. É nessa parcela majoritária do povo chinês que residem os perigos ao futuro do desenvolvimento.

A imensa maioria desses mais de 900 milhões de pessoas sobrevive com as dificuldades imagináveis e passa todo tipo de privação, enquanto vê a parcela felizarda sendo estimulada a consumir e alcançar as benesses de quem tem mais dinheiro. Dadas as características e dimensões da crise mundial, se o crescimento chinês se mantiver em 7% será ótimo, mas serão inevitáveis o aumento do desemprego, a queda dos salários e a insatisfação de milhões de trabalhadores embalados pelo sonho chinês.

Sabendo-se que 4% de desemprego (taxa atual) representa 32 milhões de desempregados, pois cada ponto percentual são 8 milhões de pessoas sem rendimento, pode-se bem imaginar o potencial de agitação reservado para o futuro imediato.

(Foto: Aviões da brasileira Embraer serão montados em solo chinês: metade do PIB do país é resultado do comércio exterior)
 

O governo que está saindo bem que tentou minimizar os efeitos da ­crise mundial, iniciando a construção de 36 ­milhões de moradias (a previsão é ­concluí-las até 2015), acabando com os impostos agrí­colas e aumentando a proteção social ­(seguro-saúde, aposentadoria) nas ­regiões rurais. Além disso, conti­nuam os investimentos pesados em infraestrutura de transportes e de energia­ e os subsídios à produção de deter­minados alimentos (leite, por exemplo).

Entender a China não é fácil. Pela grandeza dos números, pela lógica em função do tempo, pela complexidade filosófica e por tantas outras variáveis. Muito dos princípios e valores nos quais o povo chinês se baseia para nortear suas ações deriva do que pregava Confúcio, há cerca de 2.500 anos. Quando o processo das Reformas entrou em crise, em 1992, foi preciso o líder político Deng Xiaoping, que articulara sua formulação no final da década de 1970, viajar o país em busca de apoio político para assegurar sua continuidade. Ele tinha 88 anos.

Como na época ele dizia que esse processo das Reformas deveria durar 100 anos, e passaram-se até agora apenas 30, quaisquer conclusões que se tirem a respeito dos seus resultados serão “prematuras”. Nesse caso, como avaliar o sucesso ou o fracasso do que a China está realizando?

Por exemplo, o controle de natalidade­. Implementado em 1980, quando a popula­ção aumentava mais de 12 milhões de habi­tantes por ano, ficou mundialmente conhe­cido como Política do Filho Único. Só podem ter mais de um filho casais de famílias da área rural e de etnias minoritárias, aos quais se permite ter dois. Acima desses limites, pagam multas. Essa política­ teria evitado um aumento da ­população da ordem de 300 milhões de pessoas.

Ou seja, atingiu o objetivo para o qual foi criada, é um sucesso. Em contrapartida, resultou em problemas de fertilidade para milhares de mulheres, que abortaram várias vezes, e em uma situação inversa, do ponto de vista demográfico: o crescimento populacional hoje é de menos de 1%. Com isso, a população caminha rapidamente para ampliar a taxa de pessoas mais velhas em comparação com a quantidade de mais jovens. Há quem diga que a China envelhecerá antes de enriquecer. Daí haver quem considere que essa política foi um fracasso...

Mudanças inevitáveis

Ao assumir o governo central da China em março de 2013, o presidente Xi Jinping e seu primeiro-ministro Li Keqiang terão de pôr em prática as mudanças iniciadas a partir da divulgação, em março de 2011, do 12º Plano Quinquenal. A principal mudança é justamente o redirecionamento do crescimento da economia para o mercado interno, por meio do consumo doméstico. Para que aconteça na proporção planejada, porém, será preciso garantir aumento real de salários e a liberação de recursos poupados, por meio da concessão de aposentadorias e pensões. Estima-se que a taxa de poupança alcance 50% do PIB. Parte desse dinheiro só chegará ao consumo, e à roda da economia, se houver garantia de renda à população idosa.

Ao mesmo tempo, o novo governo terá de continuar o esforço de reduzir as desigualdades sociais, em busca da sociedade harmoniosa citada nos discursos de Hu Jintao.

Crescer menos e para dentro, redirecionando os investimentos governamentais para as áreas rurais e a região centro-oeste, sofrendo redução das receitas de exportações e aumento dos gastos com importações, e junto com tudo isso lidar com as pressões internas e externas que virão de toda parte... É um desafio e tanto, ainda mais porque pegarão o mundo no contrapé, o inverso da situação com que seus antecessores lidaram nos dez anos que lhes couberam.

Mas talvez a mais difícil, de todas as mudanças estruturais a serem realizadas, seja o combate à corrupção. Wang Qishan, o novo secretário da Comissão Central de Controle Disciplinar do ­PCCh eleito em 15 de novembro, será o responsável por coordenar esse trabalho em nível nacional.

Hu Jintao, presidente da China e então secretário-geral do PCCh por ocasião da abertura do 18º Congresso, em 8 de novembro, citou 16 vezes a palavra “corrupção” em seu discurso, e foi fundo: para ele, o PCCh e o Estado chinês correm o risco de sucumbir, caso a corrupção não seja reduzida consideravelmente

Amigo do mar

História

João Cândido, líder da Revolta da Chibata, inocentado há 100 anos, teve sua anistia reconhecida apenas em 2008

Por: Vitor Nuzzi

Publicado em 13/12/2012

Amigo do mar

(Foto:Em “a illustração brazileira”. Arquivo público do estado de S.Paulo)

Dois decretos e uma lei, em momentos distintos da República, explicam um pouco da história brasileira, que ainda resiste a ser contada. O primeiro é o Decreto Federal nº 3, de 16 de novembro de 1889, assinado pelo marechal Deodoro da Fonseca um dia depois da Proclamação: “Fica abolido na Armada o castigo corporal”. Mas no ano seguinte o governo criou as chamadas companhias correcionais, para os “praças de má conduta”. Foi contra esses castigos que se insurgiram 2.300 marinheiros, em 1910, na Revolta da Chibata. No final de 1912, João Cândido Felisberto, identificado como líder do movimento, foi julgado por um conselho de guerra e considerado inocente.

E aí entram os outros dois decretos. Na tentativa de acabar com o movimento, que ameaçava inclusive a cidade do Rio de Janeiro, o Congresso aprovou a anistia e o governo publicou o Decreto nº 2.280, de 25 de novembro de 1910, assinado pelo presidente Hermes da Fonseca, concedendo “amnistia aos insurrectos de posse dos navios da Armada Nacional”. Foi mais uma concessão formal do que real, já que João Cândido e outros terminaram expulsos e perseguidos. Vários foram mortos. Em 23 de julho de 2008, veio a Lei nº 11.756, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que concedeu anistia post mortem a João Cândido e aos demais marinheiros, com o “objetivo de restaurar o que lhes foi assegurado” pelo decreto de 1910.

A lei se originou de projeto da então senadora Marina Silva e do então deputado Marcos Afonso, ambos à época filiados ao PT do Acre. João Cândido, morto em 1969 aos 89 anos, virou o “navegante negro” da música O Mestre-Sala dos Mares, de João Bosco e ­Aldir Blanc. Originalmente, seria o “almirante negro”. A letra original (1975) foi modificada: ­

Rubras ­cascatas

Jorravam das ­costas dos ­negros

Pelas pontas das ­chibatas

Inundando­ o coração

De toda tripulação

Que a exemplo do ­marinheiro

Gritava não

A letra começa com os seguintes versos: “Há muito tempo nas águas da Guanabara/ O Dragão do Mar reapareceu”. Era referência a outro personagem, Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, jangadeiro que no Ceará liderou lutas pelo fim da escravidão, abolida naquele estado em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea. Reaparecia como “navegante negro”.

“Tivemos diversos problemas com a censura”, contou Aldir Blanc, tempos atrás. “Ouvimos ameaças veladas de que o Cenimar (Centro de Informações da Marinha) não toleraria loas a um marinheiro que quebrou a hierarquia e matou oficiais. Fomos várias vezes censurados, apesar das mudanças que fazíamos, tentando não mutilar o que considerávamos as ideias principais.” Ele disse ter ficado chocado quando um censor afirmou que o “problema” era “essa história de negro, negro, negro”. E se viu “atropelado pelo panzer do racismo nazi-ideológico oficial”.

Revolta. Tripulantes do cruzador Barroso, uma das quatro embarcações que parou na Baia da Guanabara e apontou os canhões na direção da cidade para exigir o fim da chibata (Foto:Reprodução)
 
Clandestino

O marinheiro virou mito, contestado por alguns. O vice-almirante reformado e historiador Hélio Leôn­cio Martins, por exemplo, escreveu em 1988 o livro A Revolta dos Marinheiros de 1910, no qual lamenta e critica a violência contra os marujos, mas questiona o papel de João Cândido e refuta a fama de heróis dada aos revoltosos. A íntegra da obra pode ser vista na página oficial da Marinha na internet.

Em 2008, a Marinha liberou documentos referentes a João Cândido, após pedido feito por um grupo de historiadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), para um projeto da Fundação Banco do Brasil. E o livro-referência sobre o episódio histórico é A Revolta da Chibata, do jornalista Edmar Morel, lançado em 1959 – um dos historiadores da Uerj é Marco Morel, neto de Edmar. O livro ganhou segunda edição em 1963. Com o golpe, no ano seguinte, o tema foi praticamente proscrito da historiografia brasileira.

Era perigoso até mencioná-lo, contou Marco Morel em texto de 2009, ano da edição mais recente de A Revolta da Chibata. “Tanto que ele (João Cândido) concederia de forma clandestina depoimento no Museu da Imagem e do Som (RJ), em 1968. A variada imprensa nacionalista e de esquerda foi destroçada e a revolta, perdida num desvão da memória histórica, ainda está a merecer a atenção de historiadores.”

O próprio Edmar Morel foi exonerado do cargo público que exercia e teve seus direitos políticos cassados, principalmente pela publicação do livro. “E não pôde mais sobreviver da profissão de repórter, resultado da perseguição de oficiais da Marinha e seus aliados, da censura e autocensura nos grandes veículos de comunicação, embora ele tenha continuado a publicar artigos e livros e atuado como assessor sem vínculo empregatício”, conta Marco Morel.

“Fiquei sabendo que João Cândido ainda vivia como um proscrito, um simples carregador de cestos de peixe dos barcos de pesca para o entreposto da Praça XV, no Centro do Rio”, narrou Edmar Morel em Histórias de um Repórter, de 1999. Foi conhecê-lo em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. “Não era uma habitação digna da espécie humana”, relatou. No livro, o veterano jornalista chama o personagem de “herói da plebe”.

A revolta começou em 22 de novembro de 1910, após castigo imposto ao marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes, do navio Minas Gerais – que em 1953 seria vendido como sucata à Itália. A pena era de 25 chibatadas, mas o marujo teria recebido 250. No dia seguinte, canhões de quatro embarcações na Baía de Guanabara se voltaram para a capital. Em carta endereçada ao presidente Hermes da Fonseca – eleito naquele ano, depois de vencer disputa contra Rui Barbosa –, marinheiros pediam a retirada dos “oficiais incompetentes e indignos” de servir à nação e o fim da chibata e de outros castigos. Os termos finais do documento eram duros: eles davam prazo de 12 horas ao presidente para ter resposta satisfatória, “sob pena de ver a pátria aniquilada”. Quatro oficiais morreram nos navios e duas crianças em terra, por efeito de bombardeios de advertência.

Na revolta de 1910, que durou cinco dias, o Congresso aprovou uma anistia às pressas. Semanas ­depois, houve nova rebelião, que para alguns teria sido forjada a fim de incriminar os marinheiros. João Cândido foi preso e levado para o quartel da Ilha das Cobras. Foi torturado perto de onde, anos ­depois, sobreviveria como carregador de cestos de peixes. Julgado, terminou absolvido em 29 de novembro de 1912.

O depoimento para o MIS foi gravado em 29 de março de 1968, um dia depois do protesto que acabou na morte do estudante secundarista Edson Souto, no Rio de Janeiro. João Cândido tinha 88 anos e morreria em dezembro de 1969. Uma das perguntas:

Você não tem queixas do mar?

Não, o mar é meu amigo.

Repostado do Portal Rede Brasil Atual

Reajuste do salário mínimo em 2013 leva a aumento real de 70% em dez anos

Reajuste do salário mínimo em 2013 leva a aumento real de 70% em dez anos

Economista do Dieese enfatiza a importância de uma política permanente. Impacto na economia para 2013 é estimado em R$ 32,7 bilhões

Por: Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual

Publicado em 26/12/2012, 16:25

Reajuste do salário mínimo em 2013 leva a aumento real de 70% em dez anos

A estimativa do Dieese é de que o impacto na arrecadação sobre o consumo fique em R$ 15,9 bilhões (Foto: Giuseppe Bizzarri/Folhapress)

São Paulo – O reajuste de 9% no salário mínimo, anunciado neste final de ano pelo governo, levará a 239% o reajuste acumulado em dez anos, para uma inflação (INPC) estimada em aproximadamente 99%. Com isso, o aumento real dado ao mínimo nesse período vai superar os 70%. O Dieese estima que apenas o acréscimo de R$ 56 (de R$ 622 para R$ 678) deve representar um acréscimo de R$ 32,7 bilhões na economia. Segundo o coordenador de Relações Sindicais do instituto, José Silvestre, o impacto na arrecadação tributária sobre o consumo ficará em torno de R$ 15,9 bilhões.

“É um estímulo para a economia. E é talvez a política pública que atinge o maior número de pessoas, um instrumento que ajuda na distribuição de renda”, afirma o economista. Ele lembra que há no país aproximadamente 45,5 milhões de pessoas que têm, em alguma medida, o salário mínimo como referência de seus rendimentos. A soma inclui aposentados, empregados, trabalhadores por conta própria e trabalhadores domésticos.

Silvestre enfatiza a importância de existir uma política de reajustes para o salário mínimo. “Você pode até discutir a questão do critério, mas o fato de ter uma regra clara não deixa à mercê do governo que entra ou sai”, comenta. Ele também desconsidera a tese dos críticos dessa política, de que os aumentos reais “quebrariam” a Previdência ou aumentariam a informalidade no mercado de trabalho. “A história tem mostrado o contrário”, diz o economista.

A Lei 12.255, de 2010, estabeleceu diretrizes para a política de valorização do salário mínimo de 2012 a 2023, o que deveria ser feito por projeto de lei. O PL 382, de 2011, fixa critérios até 2015: reajuste pelo INPC e, a título de aumento real, a variação do PIB de dois anos antes. Em 2014, por exemplo, além da inflação, seria aplicado o percentual equivalente ao PIB de 2012. De acordo com o Dieese, se a economia crescesse 5% ao ano até 2023, o mínimo dobraria em termos reais, atingindo aproximadamente R$ 1.400.

O valor oficial segue abaixo das necessidades do trabalhador, mas não se pode desconsiderar o incremento dos últimos anos, acrescenta o técnico do Dieese. “O salário mínimo necessário chegou a ser quase oito vezes maior. Hoje, essa relação é de quatro vezes”, lembra. Segundo o dado mais recente, relativo a novembro, o mínimo necessário para um trabalhador e sua família adquirirem os gêneros essenciais deveria ser de R$ 2.514,09. Mas, com o aumento anunciado, a relação entre mínimo e cesta básica será a melhor desde 1979. Em 1995, o mínimo comprava 1,02 cesta – em janeiro, passará comprar 2,26 cestas.

(Arte: Júlia Lima. RBA)
(Arte: Júlia Lima. RBA)

Fogoió

 

FOGOIÓ

Não foi barulho que acordou Fogoió, mas o silêncio. De domingo, cedo. E não era domingo. Atabalhoado, passou da hora. Os carrinhos ainda lá, guardados. Cadê todo mundo? Não tem domingo nem feriado pra empurrar o material dos camelôs pro comércio. Nem Baldo, nem Chulé. Cadê os caras? Saiu do depósito. A luz do sol deu-lhe na vista. Porra essa pasta do Pingola tá foda! Revirou o bolso e não encontrou nenhum. Vai pirangar um pão na Tivoli, se o portuga não estiver. Silêncio. Cadê os carros? Cadê a gente? Maria na esquina do Teatro Cuíra? Nada. Nem o Pamica tomando conta dos carros, podia adiantar uma ponta. Cadê todo mundo? O joelho doendo. Deus fez um arremedo de perna esquerda nele. Coxo. A vida inteira engolindo gozação, apelido. Vai lá na Banca do Alvino, quem sabe? Deserta. A Praça da República. As revistas e jornais ao vento. Tudo de véspera. Manchete: Amanhã será o fim do mundo? Babaquice. Vai nos Esportes. Papão começa a montar time para a Série B em 2013. Tá com largura! Cadê a galera? Pega um cigarro. Depois explico. Bate um vento forte. As árvores cantam e dançam. Os papéis. Caem mangas. Pega uma. Cheira. Hum. Come. Na Tivoli. Cadê o Rai? Ninguém. Nem portuga. Pula o balcão. Pega um pão cacete. Se esparrama em uma mesa. Toma um Baré. Vai no caixa. Bate. Soca. Não abre. Come outro cacete. Se farta. Bucho quebrado. Nunca se sabe. Vai até o Ver o Peso? Nem carro. Nem gente. Pelo meio da rua. Anda, não. Coxeia. Experimenta um grito. Leãããooooo!!! Ecoa. Leãããoooo!!! Vai. Ouve barulho. Alguém. Frio na barriga. Porra, é a Pantera, que também puxa da perna. A Pantera, se arrastando. E aí? Ela estende bilhetes do Carimbó da Sorte. Vai correr amanhã. Prêmio especial pro fim do mundo. Que merda é essa de fim de mundo. Vai querer? Porra nenhuma. Lá tenho dinheiro pra Carimbó da Sorte. Cadê todo mundo? Que todo mundo? Cadê o Imperador? Quem? Teu macho, porra. Macho um caralho. Sei lá. Sumiu. Sumiu todo mundo. Só nós dois. Fogoió olhou para Pantera. Cabelo cortado rente. Duas muxibas. Puxando da perna. Gambitos. A xoxota usada. Espalhada. Olhou pra si mesmo. Adão e Eva? Isso é que é o fim do mundo!

Publicado na Revista Cult/dezembro/2012

Postado por Edyr Augusto Proença às 10:27

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

'Só há uma possibilidade de me derrotar: é trabalharem mais do que eu', diz Lula

 

Ex-presidente afirma que intensificará atividade política em 2013 e responde a ataques. 'Vagabundo que ficar na sala com ar-condicionado falando mal de mim vai perder', desafia

Por: Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual

Publicado em 19/12/2012, 13:45

'Só há uma possibilidade de me derrotar: é trabalharem mais do que eu', diz Lula

Lula, durante a posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, anunciou novas caravanas pelo país (Andris Bovo/ABCD Maior)

São Bernardo do Campo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje (19) que não se preocupa com os ataques dos quais tem sido alvo nas últimas semanas. “O que mais machuca meus adversários é o meu sucesso”, ironizou, referindo-se, sem fazer citações, a setores da imprensa e da oposição ao governo Dilma Rousseff, que têm usado declarações do empresário Marcos Valério visando a atingir o principal líder petista.

Em um discurso de aproximadamente 40 minutos, durante ato político de posse do novo presidente do Sindicato dos Metalúrgcos do ABC, Rafael Marques, Lula falou muito sobre futebol e histórias da entidade à qual se filiou em setembro de 1968 (matrícula 25.986) e que presidiu de 1975 a 1981 – e reservou a parte mais contundente para o final, ao anunciar a intensificação de sua atividade política na agenda para 2013. “No ano que vem, para alegria de muitos e tristeza de poucos, voltarei a andar por este país. Vou andar pelo Brasil porque temos ainda muita coisa para fazer, temos de ajudar a presidenta Dilma e trabalhar com os setores progressistas da sociedade”, declarou o ex-presidente.

"Às vezes eu compreendo a mágoa deles (adversários), que governaram este país desde Cabral", ironizou. "Só existe uma possibilidade de me derrotarem: é trabalhar mais do que eu. Porque se ficar um vagabundo numa sala com ar-condicionado, falando mal de mim, vai perder."

Rafael Marques assumiu o comando da entidade em lugar de Sérgio Nobre, que se dedicará exclusivamente à secretaria-geral da CUT. Durante o ato, o presidente da central, Vagner Freitas, disse que a “elite quer jogar no tapetão” e acusou setores do Judiciário e da mídia de “querer decidir” em nome do povo. “Se querem colocar a democracia em jogo, vamos às ruas para defendê-la”, afirmou. "A elite brasileira não digeriu ainda o fato de o companheiro Lula ter feito o melhor governo da historia deste país. Há uma perseguição contra a democracia."

Já o novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos falou em sentimentos de "mesquinhez, avareza e raiva" em relação a Lula, a quem chamou de "patrimônio da classe operária e da sociedade brasileira e internacional".

Integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro defendeu, para 2013, "lutas e ações de massa que coloquem em pauta" temas como a democratização dos meios de comunicação e a criminalização da política. E criticou o Poder Judiciário, que "parece ser intocável".

O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, também fez críticas ao papel da oposição. "Tentam tirar a luta do plano politico para o plano jurídico. Tentam criminar a politica e os movimentos sociais. Mas não vão conseguir", afirmou.

No que foi também um desagravo a Lula, participaram da posse o prefeito reeleito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, o prefeito de Diadema, Mário Reali, que perdeu a disputa pela reeleição, e o prefeito de Mauá, Oswaldo Dias, que fez o sucessor. Além dele, esteve no ato o prefeito eleito de Santo André, Carlos Grana. Todos são do PT, representado ainda pelo presidente estadual em São Paulo, Edinho Silva.

Crise

Lula também comentou a crise e disse que é preciso "pensar da forma mais positiva possível". Para ele, tanto Dilma como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, têm "clareza" sobre o que deve ser feito. "A crise pode ter maior ou menor incidência no Brasil, dependendo das políticas", afirmou, lembrando de quando, ainda presidente, foi à televisão pedir às pessoas que não parassem de consumir. Se dependesse dos jornais, comentou, ninguém iria às compras. "E as classes C, D e E consumiram mais do que as classes A e B."

O ex-presidente reservou uma ironia para seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. "Teve um período em que achei que o Fernando Henrique preferia minha vitória à do Serra." O raciocínio era de que Lula faria um governo fraco e permitiria a volta do próprio FHC, evitando ainda que o ex-candidato José Serra, vitorioso, pudesse "encher o saco durante oito anos".

Onze cursos superiores federais não poderão iniciar novas turmas em 2013

Educação

Graduações de quatro universidades federais e três institutos de tecnologia obtiveram nota insatisfatória em avaliação oficial do MEC e foram suspensas

Por: Sarah Fernandes, da Rede Brasil Atual

Publicado em 19/12/2012, 13:48

Onze cursos superiores federais não poderão iniciar novas turmas em 2013

MEC realizará visitas técnicas às universidades para assessorá-las com as adaptações curriculares e físicas (Foto: Leandro Moraes/ Folhapress)

São Paulo – O Ministério da Educação vai proibir a abertura de novas turmas em 2013 de 11 cursos superiores ministrados em quatro universidades federais e três institutos de tecnologia. Isso porque as graduações foram avaliadas como insatisfatória por duas vezes consecutivas em exames oficiais do órgão.

Foram reprovados os cursos de Engenharia Mecânica e as licenciaturas de Letras e Pedagogia da Universidade Federal do Pará; a graduação em Arquitetura e Urbanismo e a licenciatura em Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense; o curso de Engenharia Cartográfica da Universidade Federal de Pernambuco; e o bacharelado em Matemática na Universidade Federal de Roraima.

Também está suspensa a licenciatura em Física no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará; a graduação em Engenharia Industrial Mecânica do Instituto Federal do Maranhão; e a licenciatura em Biologia do Instituto Federal do Pará.

Os cursos tiveram desempenho insatisfatório em 2008 e 2011 no Conceito Preliminar do Curso (CPC) – um indicador de qualidade que leva em conta a formação dos professores, a infraestrutura e a nota no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).

O Ministério da Educação afirmou, via assessoria de imprensa, que realizará visitas técnicas às universidades para assessorá-las com as adaptações curriculares e físicas necessárias para que os cursos voltem a abrir turmas já em 2013. Os institutos federais do Maranhão e Pará, que tiveram notas inferiores, só poderão retomar as atividades em 2014.

Particulares

A suspensão de abertura de cursos também atingiu universidades particulares tradicionais de centros urbanos do país. Ficam proibidas de abrir turmas em 2013, por exemplo, a Universidade Metodista de Piracicaba, no curso de Engenharia Química, as Faculdades Oswaldo Cruz, nas graduações de Engenharia Ambiental e Química, e a Faculdade Paulista, conhecida pela sigla Unip, no curso de Tecnologia em Automação Industrial.

A maioria delas, no entanto, só poderão abrir turmas novamente em 2014. Fazem parte do grupo a Universidade Católica de Pernambuco, com a licenciatura em Matemática, a PUC Minas, com o curso de Engenharia Civil, a Universidade Metodista de São Paulo, com os cursos de Engenharia da Computação e Tecnologia em Redes de Computadores, e o Centro Universitário Fundação Santo André, com a graduação de Sistemas de Informação.

Confira todas as universidades da lista aqui.

Cérebro e alfabetização

 

O que diriam os neurocientistas e estudiosos da Ciência Cognitiva da Leitura se o Ministério da Educação (MEC) lhes pedisse para opinarem sobre o recém-lançado programa Alfabetização na Idade Certa? Embora essa parcela da comunidade científica não tenha sido convidada a opinar, é justo que a sociedade saiba o que a ciência do cérebro tem a dizer sobre essa questão.

O maior problema, parece-nos, reside na definição e, no caso em questão, na falta dela. O que é alfabetizar? No sentido etimológico, é ensinar o alfabeto. No psicológico, apropriar-se das regras de funcionamento do código alfabético. E, no neurológico, ensinar o cérebro a ler, a estabelecer as conexões entre fonemas e grafemas de forma consistente com o respectivo código da cada língua.

A clareza da definição permite avançar. Sua falta prejudica todo o resto. O conceito é de Aristóteles. Em nenhum documento do referido programa existe uma definição de alfabetização, que é, neste caso, confundida com várias outras coisas.

Uma das confusões está na compreensão dos textos. Em A Arte de Ler, publicado em 1994 pela Universidade de São Paulo (USP), o professor José Morais, da Universidade de Bruxelas, já fazia com clareza a distinção entre ler e compreender. A neurociência comprova que indivíduos são capazes de ler sem compreender, o que demonstra a especificidade dessa aprendizagem. E aí reside a raiz dos demais problemas desse programa. Há mais de 30 anos os psicólogos que estudam a alfabetização vêm demonstrando que as dificuldades de compreensão são independentes das da leitura: quem tem dificuldade de compreensão oral também tem de entender o que lê. Os problemas são diferentes.

A recíproca - compreender sem ler - é verdadeira, mas é mais óbvia. No caso do programa governamental, fala-se não apenas numa capacidade não definida de compreensão de textos, mas também aí se incluem conhecimentos matemáticos. Falar em alfabetização matemática pode ser até uma metáfora interessante, mas só seria útil se ajudasse a reforçar o sentido próprio da palavra alfabetização, e não para confundir o País.

A falta de clareza na definição da alfabetização leva a outros problemas. Sem ela não é possível especificar as competências necessárias para ensinar o cérebro a aprender a ler. Se consultada, a comunidade científica certamente poderia contribuir com seus conhecimentos acumulados por meio de estudos de laboratório, experimentais e empíricos e cujos resultados apresentam elevado grau de convergência.

A comunidade acadêmica poderia ter apresentado as conclusões convergentes dos achados acumulados a respeito da importância dos métodos na alfabetização, inclusive explicando que os fônicos são mais eficazes não apenas porque há evidências empíricas sobre isso, mas porque eles são consistentes com a forma de funcionamento do cérebro.

Os especialistas também diriam que os métodos de alfabetização propostos pelo MEC, que preconizam o contexto, tiram o foco do objeto da aprendizagem e criam sobrecarga cognitiva, prejudicando não apenas a aprendizagem da leitura, mas, posteriormente, a capacidade de compreensão.

Não paira dúvida sobre a importância de desenvolver competências de fluência de leitura como parte integrante do processo da alfabetização. Leitura fluente está fortemente associada ao domínio prévio das competências de decodificação e seu desenvolvimento depende dos tipos e gradação de textos e das técnicas de exposição repetida e espaçada. Fluência de leitura, isto é, a capacidade de reconhecimento de palavras independentemente do contexto, é uma das marcas que melhor diferenciam os bons dos maus leitores. Nada disso consta das propostas do MEC nem dos materiais que oferece.

Também caberia a cientistas e pesquisadores nas áreas aplicadas opinar sobre programas de ensino, materiais didáticos ou até mesmo quanto à idade mais propícia para ensinar o cérebro a ler. Se consultados, poderiam dizer, com confiança e segurança, que as habilidades fonológicas afloram e se desenvolvem ao longo dos anos que precedem a escolarização formal, por volta dos 4 e 5 anos de idade. E que aos 6 anos as crianças, em sua esmagadora maioria, já possuem todas as condições necessárias e suficientes para se alfabetizarem.

Estudos rigorosos também demonstram os efeitos negativos sobre aqueles que não se alfabetizam na idade certa. E estudos comparativos mostram que, mesmo em países em que o código alfabético é mais opaco do que o nosso, as crianças se alfabetizam nessa idade.

Assim, uma política de alfabetização que levasse em conta as evidências científicas, ao invés de retardar o processo de alfabetização, delegaria às pré-escolas importantes responsabilidades no desenvolvimento dessas competências, bem como no conhecimento das letras e suas formas.

Se consultados, os estudiosos da matéria teriam igualmente algo fundamentado a dizer a respeito de como devem ser os materiais adequados para ensinar a ler, e que muito diferem do que é oferecido nos livros e cartilhas de alfabetização aprovados pelo MEC.

Infelizmente, o governo federal não julga importante ouvir os que efetivamente dominam essa matéria. Prefere buscar o consenso entre aqueles que, embora militem na área de educação, não participam nem compartilham os critérios acadêmicos adotados pela comunidade internacional.

Conhecimento científico, mesmo quando bem fundamentado, não leva por si só a promover virtudes cívicas, bons comportamentos ou políticas virtuosas. De pouco valem os estudiosos do cérebro, se o cérebro de quem decide prefere ignorar ou desprezar as suas contribuições. Mas o desconhecimento e o desprezo pelo conhecimento certamente deixa vítimas. Os resultados da educação brasileira estão aí como prova.

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JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Não se mexe em time que está apanhando

 

Por que o PT fica passivo diante dos ataques que sofre da mídia? Por que o partido não reage diante de óbvios vícios no chamado processo do mensalão? Por que não colocou em pauta a CPI da Privataria? Essa passividade foi meticulosamente construída para fazer da sigla uma máquina eleitoral eficiente, mas desfibrada para disputar a hegemonia na sociedade

Gilberto Maringoni

A passividade quase letárgica que o PT exibe nesses dias de ataques da mídia não é obra do acaso. É construção de mais de duas décadas, desde pelo menos o início dos anos 1990. Naquela ocasião, a direção do então Campo Majoritário decidiu que o partido precisaria se apresentar de forma mais moderada para ganhar o eleitorado de classe média e facções do empresariado em sua jornada para fazer de Lula presidente do Brasil.
Começou ali um processo de duas vias. De um lado, isolava-se a esquerda interna, tirando-a de postos de direção. De outro, tinha início uma paulatina moderação nas propostas programáticas. Não foi uma rota tranqüila. Houve expulsões de correntes – como a Convergência Socialista, em 1992 – e o episódio traumático da cassação da candidatura de Wladimir Palmeira a governador do Rio, em 1998. A postulação do então deputado federal pela sigla jogava areia numa articulação maior, que visava fazer de Leonel Brizola vice na chapa de Lula. Para tanto, o PDT reivindicava Antony Garotinho na cabeça de chapa estadual.
No terreno programático, temas como renegociação da dívida externa ou estatização do sistema financeiro deram lugar à Carta aos Brasileiros, em 2002, que advogava o cumprimento estrito dos contratos firmados pelos governos tucanos.
Como tática eleitoral, a moderação e o transformismo foram um sucesso. O PT cresceu em número de votos pelo país. Mas começou a ficar perigosamente parecido com os demais.
Rebeldia como problema
A expansão da máquina partidária e a profissionalização de parte da militância como funcionários de prefeituras e governos de estado, ao longo desses anos, acentuaram uma diluição tática. A rebeldia deixava de ser vista como fenômeno positivo e passara a ser encarada como ruído a ser removido do comportamento político coletivo.
A partir da eleição de Lula, em 2002, a passividade ganhou ares de grande sabedoria. “Agora somos governo e temos de ir com calma” e “olhem a correlação de forças” passaram a ser o fraseado corrente, a justificar a defesa e aprovação de propostas impensáveis à agremiação de anos antes, como a reforma da previdência, a lei de falências ou a entrada de capital externo nas empresas de mídia.
O partido paulatinamente deixou de disputar hegemonia na sociedade; passou a disputar apenas votos. Abandonou um projeto de poder – entendido aqui como projeto para dirigir o país – e tornou a conquista de pedaços do aparelho de Estado em sua atividade-fim. Nessa lógica de eleição a qualquer custo, o centro da atividade partidária passou a ser a constituição de governos de coalizão.
Coalizões amplas são necessárias para se potencializar a luta política e isolar adversários. Para o PT real, as coalizões tornaram-se úteis para a obtenção de maiorias parlamentares, mesmo que inimigos de outros tempos estejam abrigados sob o guarda-chuva da máquina pública.
O ambiente de pragmatismo a toda prova pauta a montagem do governo federal. Como a militância poderia investir contra a direita, se vários de seus membros mais ilustres, como Jorge Gerdau, Paulo Maluf, José Sarney, Michel Temer e outros estão abrigados sob as asas do condomínio governista?
Ambigüidades nas críticas
Os petistas não podem se rebelar contra o STF, por um motivo simples: quem nomeou oito dos 11 membros daquela corte foram os presidentes Lula e Dilma. Assim, atacar a cúpula do Judiciário - se a crítica for sincera - significa investir contra os responsáveis últimos por sua composição.
Tampouco os petistas podem ir muito fundo em suas investidas contra a imprensa, uma vez que o ministro Paulo Bernardo cuida zelosamente, na administração federal, para que nenhuma iniciativa sobre regulação dos meios de comunicação prospere no âmbito oficial. A ministra Helena Chagas, Secretária de Comunicação Social da Presidência da República, por sua vez, atua para que a presidenta conceda entrevistas exclusivas para a TV Globo e a revista Veja, entre outros, além de manter alentados contratos de publicidade governamental com esses e outros órgãos da grande mídia. Para a mídia alternativa, o regime é na base do pão é água, em geral sem um e outro.
Os membros do Partido dos Trabalhadores, alem disso, não podem ir muito além da superfície na crítica à mola mestra dos governos FHC, as privatizações. O PT no governo vendeu estradas, aeroportos, bancos estaduais, empresas de telefonia (na gestão Antonio Palocci, em Ribeirão Preto) e se esmera nas parcerias com as Organizações Sociais (OSs), modalidade de privatização disfarçada, criada nas gestões tucanas. Por isso, o partido – na figura do presidente da Câmara, Marco Maia – engavetou a CPI da Privataria, no início de 2012. Atacar os adversários equivaleria a se voltarem para as próprias responsabilidades na questão.
Indignação burocrática
Como tem agido a direção partidária? Não formula e não se defende. Justifica. Tenta explicar, num grande contorcionismo verbal, todas as ações da do governo.
Isso não mobiliza e não incentiva a saudável rebeldia de outros tempos.
Assim, a cúpula petista construiu o partido que queria. Os vídeos com falas monocórdias, mas pretensamente indignadas, de Rui Falcão, presidente da sigla, nas últimas semanas, veiculados pelo site do partido, são o melhor retrato da inércia dirigente.
Não é de se estranhar, depois disso tudo, que nem a popularidade recorde do governo – motivada por políticas positivas de aumentos do salário mínimo e expansão do crédito - incentive as lideranças a mudarem de posição e irem à luta. Tais iniciativas são positivas, mas parecem estar batendo no teto. Os serviços públicos seguem deficientes e não há no horizonte propostas de mudanças na estrutura do Estado.
O raciocínio que se vê entre petistas é algo como “com todos os ataques, Lula e Dilma seguem em alta”. Ou seja, “não se mexe em time que está apanhando”...
(Apesar de tudo, a mídia de direita deve ser frontalmente combatida, o sistema financeiro tem de ser enquadrado e o STF deve ser denunciado. Que presidentes da república tenham mais responsabilidade na hora de compor o órgão máximo da Justiça brasileira).

Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).

sábado, 15 de dezembro de 2012

Sobrou até para o absorvente da Marília Pêra

 

Censores não perdoaram nem comercial estrelado pela atriz em 1973. A grande novidade anunciada era apenas um absorvente íntimo com adesivo. Ditadura considerou o anúncio uma afronta à moral e aos bons costumes

POR MARIANA HAUBERT E RUDOLFO LAGO | 14/12/2012 07:15
CATEGORIA(S): NOTÍCIAS, OUTROS DESTAQUES, REVISTA CONGRESSO EM FOCO.

Em 1973, usar um absorvente íntimo não era tão prático. Para que fixasse corretamente, as mulheres tinham de usar presilhas e grampos. Uma marca então lançou um produto diferente cuja novidade era justamente o adesivo amplamente usado até hoje. Mas, na época, uma propaganda do novo produto sofreu restrições de horário por parte dos censores, pois foi considerada atentatória à moral e aos bons costumes.

Mas o que o anúncio tinha de excepcional? Nada. Apenas falava sobre algo que, segundo os censores, deveria ficar restrito a conversas reservadas. Estrelado pela então jovem atriz Marília Pêra, já considerada uma das melhores artistas da sua geração, o anúncio não exibia qualquer tipo de insinuação ao sexo. Ela sequer pronunciava a palavra menstruação.

No entanto, os censores implicaram especialmente com a sequência em que a atriz tira o absorvente do pacote e mostra à assistente de produção como se retira o adesivo para prendê-lo à calcinha. Até aceitavam liberar o anúncio, desde que não houvesse essa parte (o que faria o comercial perder completamente o sentido, já que era justamente o fato de ele aderir à calcinha o diferencial que o anúncio vendia).

Veja abaixo a propaganda que foi censurada pela ditadura militar:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=DTTC0BqQvb4

Com base na Lei de Acesso à Informação, a Revista Congresso em Foco chegou até os documentos da Censura Federal, em Brasília, e resolveu concentrar-se em um de seus capítulos menos conhecidos: a censura à propaganda. O Congresso em Foco publica hoje apenas uma parte desse material. A íntegra da reportagem está disponível no quarto número da revista, em circulação em todo o país.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

2013 vai ser difícil

Artigo
12/12/2012 - 12h40

por Marcos Coimbra*

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Um espectro ronda a política brasileira. O fantasma da próxima eleição presidencial. Este ano já foi marcado por ele. Ou alguém acredita que é genuína a inspiração ética por trás da recente onda moralista, que são sinceras as manchetes a saudar “o julgamento do século”? Que essas coisas são mais que capítulos da luta política cujo desfecho ocorrerá em outubro de 2014?

A história dos últimos dez anos foi marcada por três apostas equivocadas que as elites brasileiras, seus intelectuais e porta-vozes fizeram. A primeira aconteceu em 2002, quando imaginaram que Lula não venceria e que, se vencesse, seria incapaz de fazer um bom governo.

Estavam convencidos de que o povo se recusaria a votar em alguém como ele, tão parecido com as pessoas comuns. Que terminaria a eleição com os 30% de petistas existentes. E que, por isso, o adversário de Lula naquela eleição, quem quer que fosse, ganharia.

O cálculo deu errado, mas não porque ele acabou por contrariar o prognóstico. No fundo, todos sabiam que com a rejeição de Fernando Henrique Cardoso não era impossível que José Serra perdesse.

A verdadeira aposta era outra: Lula seria um fracasso como presidente. Sua vitória seria um remédio amargo que o Brasil precisaria tomar. Para nunca mais querer repeti-lo.

Quando veio o “mensalão”, raciocinaram que bastaria aproveitar o episódio. Estava para se cumprir a profecia de que o PT não ultrapassaria 2006. Só que Lula venceu outra vez e a segunda aposta também deu errado. E ele fez um novo governo melhor que o primeiro, aos olhos da quase totalidade da opinião pública. Em todos os quesitos relevantes, as pessoas o compararam positivamente aos de seus antecessores, em especial aos oito anos tucanos.

A terceira aposta foi a de que o PT perderia a eleição de 2010, pois não tinha um nome para derrotar o PSDB. Que ali terminaria a exageradamente longa hegemonia petista na política nacional. De fato não tinha, mas havia Lula e seu tirocínio. Ele percebeu que, com Dilma Rousseff, poderia vencer.

O PT ultrapassou as barreiras de 2002, 2006 e 2010.

Estamos em marcha batida para 2014 e as oposições, especialmente seu núcleo duro empresarial e midiático, se convenceram de que não podem se dar ao luxo de uma quarta aposta errada. Que o PT não vai perder, por incompetência ou falta de nomes, a próxima eleição. Terão de derrotá-lo.

Mas elas se tornaram também cada vez mais descrentes da eficácia de uma estratégia apenas positiva. Desconfiam que não têm uma ­candidatura capaz de entusiasmar o eleitorado e não sabem o que dizer ao País. Perderam tempo com Serra, Geraldo Alckmin mostrou-se excessivamente regional e Aécio ­Neves é quase desconhecido pela parte do ­eleitorado que conta, pois ­decide a eleição.

Como mostram as pesquisas, tampouco conseguiram persuadir o País de que “as coisas vão mal”. Por mais que o noticiário da grande mídia e seus “formadores de opinião” insistam em pintar quadros catastróficos, falando sem parar em crises e problemas, a maioria acha que estamos bem. Sensação que é o fundamento da ideia de continuidade.

As oposições perceberam que não leva a nada repetir chavões como “O País até que avançou, mas poderia estar melhor”, “Tudo de positivo que houve nas administrações petistas foi herança de FHC”, “Lula só deu certo porque é sortudo” e “Dilma é limitada e má administradora”. A população não acredita nessa conversa. Faltam nomes e argumentos às oposições. Estão sem diagnóstico e sem propostas para o Brasil, melhores e mais ­convincentes que aquelas do PT.

Nem por isso vão cruzar os braços e aguardar passivamente uma nova derrota. Se não dá certo por bem, que seja por mal. Se não vai na boa, que seja no tranco. Fazer política negativa é legítimo, ainda que ­desagradável. Denúncias, boatos, hipocrisias, encenações, tudo ­isso é arma usada mundo afora na briga política.

A retórica anticorrupção é o bastião que resta ao antilulopetismo. Mas precisa ser turbinada e amplificada. Fundamentalmente, porque a maioria das pessoas considera os políticos oposicionistas tão corruptos – ou mais – que os petistas.

O que fazer? Aumentar o tom, falar alto, criar a imagem de que vivemos a época dos piores escândalos de ­todos os tempos. Produzir uma denúncia, uma intriga, uma ­acusação atrás da outra.

Pelo andar da carruagem, é o que veremos na mídia e no discurso oposicionista ao longo de 2013. Já começou.

Vamos precisar de estômago forte.

* Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Também é colunista do Correio Braziliense.

** Publicado originalmente no site Carta Capital.

(Carta Capital)

“Os vasos sanitários são a medicina mais barata”

por Fatima Asmal-Motala, da IPS

Sim “Os vasos sanitários são a medicina mais barata”

“Quebramos o tabu que cerca o tema do saneamento”, disse Sim à IPS. Foto: Cortesia de Meropa Communications

Durban, África do Sul, 14/12/21012 – Quando o criador da Organização Mundial da Privada, Jack Sim, completou 40 anos, literalmente começou a calcular quanto dias mais teria de vida, e se deu conta de que deveria fazer algo significativo. “Pode imaginar uma pessoa chegar a este mundo e passar a sua vida apenas ajudando a si mesma? Quando essa pessoa morrer, sua vida não terá significado, então, para que se preocupar em vir aqui?”, pensou.

Empresário de sucesso, Sim voltou sua atenção para um campo que para ele estava sendo marginalizado. A questão do acesso a vasos sanitários “estava totalmente abandonada em Singapura (seu país de origem). Me dei conta de que o mesmo ocorria no resto do mundo”, disse em entrevista à IPS. “As pessoas se sentiam muito envergonhadas. Agora quebramos o tabu e legitimamos o tema durante esses 12 anos de defesa efetiva. Estou orgulhoso de dizer que quebramos o tabu que cerca o tema do saneamento”, ressaltou.

IPS: Por que o saneamento é tão importante?

JACK SIM: Para um país crescer é necessário ter gente sadia. É melhor prevenir que as pessoas fiquem doentes do que curá-las. As privadas são a medicina mais barata do mundo. Um adequado saneamento, somado à lavagem das mãos com sabão, reduz as enfermidades entre 50% e 80%. Muitos males, como diarreia e os parasitas, se devem basicamente à propagação de patogênicos por meio das fezes e de vias de transmissão como os dedos, os pés, as moscas e os fluidos. É preciso romper isso. As pessoas podem ser saudáveis. São necessárias privadas cobertas para que as moscas não tenham acesso, que as pessoas não pisem, que a chuva não encha e espalhe seu conteúdo, bem como lugares para lavar as mãos. Para conseguir isto precisamos de educação, explicar porque as privadas são boas, torná-las uma tendência em lugar de uma receita. Os sanitários também precisam de donos. Se não houver um dono ficarão inservíveis muito rapidamente. Se alguém compra uma privada, sente que é seu dono. É preciso cultivar o sentimento de propriedade. As pessoas devem ser capacitadas para se encarregar de sua limpeza e segurança. Sem privadas, as pessoas são menos saudáveis e menos felizes, e, como resultado, há produtividade muita baixa e baixa renda. Então, é necessário incorrer em gastos para tratar as doenças, e isto pode afetar a subsistência, criando um círculo de pobreza que, por sua vez, se converte em um problema político. O bom saneamento pode prevenir todas estas bombas de tempo.

IPS: Quais progressos aconteceram no continente africano em termos de saneamento?

JS: A boa notícia é que a África atualmente experimenta um dos períodos mais pacíficos de sua história recente. Graças a isto, há crescimento econômico médio mais rápido do que o asiático. Quando as pessoas têm um pouco mais de dinheiro, têm mais expectativas. Então, é fácil que aumente a demanda por vasos sanitários. No continente africano houve alguns progressos em termos de um enfoque de saneamento total nas comunidades, que impulsiona as pessoas a cavarem seus próprios buracos e terem suas próprias latrinas rudimentares. Com este enfoque, as pessoas se dão conta da necessidade de ter um vaso sanitário adequado. Começam fazendo um buraco e indo a um lugar fixo para defecar. Isto já representa uma grande mudança de comportamento. Logo, se tornam disciplinadas, sentem a necessidade de privacidade e de proteger seus vizinhos. Então, a primeira etapa é simplesmente ir a algum lugar fixo e cobrir o buraco. É muito rudimentar, mas é melhor do que fazer ao ar livre, onde as mulheres podem ser molestadas. Na fase seguinte, estimula-se as pessoas a comprarem privadas, que custam entre US$ 50 e US$ 100.

IPS: O quanto é alta essa demanda atualmente na África?

LS: O que precisamos é conseguir colocar os vasos sanitários em um nível mais alto na escala de prioridades das pessoas, tão alto quanto o telefone celular. Para a maior parte dos habitantes do continente, a prioridade tem sido televisão e em seguida o celular, mas não a privada. Precisamos que seja moda ser dono de um vaso sanitário, passando a mensagem de que não possuir um é viver em um estado animal. As pessoas não querem ser classificadas como animais.

IPS: O quanto é fácil para uma pessoa o acesso a um vaso sanitário?

JS: Temos que facilitar o acesso, seja ele comprado ou fornecido pelo governo. Necessitamos saneamento seguro, bem como encarregados de limpeza e manutenção dos vasos, que sejam profissionalmente capacitados. E também temos que educar a comunidade para cuidar de suas latrinas, de modo que possa continuar usando-as. Em outras palavras, o esforço exige uma combinação de pessoas, do governo e do setor privado.

IPS: O que ocorre na África do Sul? Houve avanços?

JS: Alguns. Mas o crescimento dos assentamentos irregulares gera muitas dificuldades, não só em termos de fornecimento de latrinas, como também quanto a onde instalá-las. Não se pode estabelecer uma estrutura permanente em terra ilegal. Contudo, as pessoas precisam de privadas. É necessário algum tipo de reforma das leis, que permita instalar vasos sanitários permanentes nesses assentamentos. O governo tampouco é suficientemente rápido em termos de fornecimento, mas creio que está interessado em acelerar o tema, porque sabe que não pode ter uma nação com doentes.

IPS: Como a Organização Mundial da Privada colabora com o saneamento na África?

LS: Nos associamos à Unilever para lançar uma academia. Iremos às escolas para estimular os alunos a começarem a usar os vasos sanitários. Quando utilizam na escola, promovem seu uso em suas casas. A oferta de vasos sanitários na África não cobre a demanda. Esta academia capacitará as pessoas para que construam privadas em pequenas fábricas, convertendo-as, assim, em empresárias que fazem produtos acessíveis, com algum lucro, vendendo em sua própria comunidade. Desta forma, o saneamento vai além da saúde e da higiene. Quando uma mulher conta com renda, tem mais poder no lar, pode usar o dinheiro sabiamente para a família e tem mais autoridade quando fala com sua sogra ou com seu sogro. Assim, estamos criando igualdade de gênero e sustentabilidade. Fizemos isso muito bem no Camboja. Em três anos, foram fabricados 24 mil vasos sanitários, gerando US$ 48 mil para os agentes de vendas. Ansiamos ver o dia em que todas as pessoas de todos os lugares tenham acesso a um vaso sanitário limpo e seguro ao qual possam recorrer sempre que precisarem. Envolverde/IPS

(IPS)

Analfabetismo cai no país, mas ainda atinge um quarto dos brasileiros com mais de 60 anos, aponta IBGE

Educação
14/12/2012 - 11h54

por Vladimir Platonow, da Agência Brasil

ed9 300x300 Analfabetismo cai no país, mas ainda atinge um quarto dos brasileiros com mais de 60 anos, aponta IBGE

Rio de Janeiro – Os índices de analfabetismo vêm caindo no Brasil nos últimos dez anos, mas ainda são altos na camada da população com mais de 60 anos, que registra 24,8% de analfabetos, praticamente um quarto do total nessa faixa etária. O dado faz parte da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais 2012, divulgada hoje (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comparando-se o intervalo de dez anos, entre 2001 e 2011.

De acordo com os dados da pesquisa, a proporção de pessoas com 15 anos ou mais que não sabia ler nem escrever caiu de 12,1%, em 2001, para 8,6% em 2011. No ano passado, 8,8% dos homens nessa faixa etária eram analfabetos. Entre as pessoas de cor preta ou parda, 11,8% não sabiam ler nem escrever, enquanto entre as de cor branca, esse percentual cai para menos da metade: 5,3%. Na Região Nordeste, do total da população acima de 15 anos, 16,9% eram analfabetos. Na Região Norte, o índice chegou a 10,2%, e nas áreas rurais do país, a 21,2%.

Para o educador Mozart Neves Ramos, que foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e já ocupou a secretaria de Educação do estado, a queda nas taxas de analfabetismo precisa ser mais expressiva. “De fato, o analfabetismo pleno vem caindo, mas não na velocidade que o país precisa para alcançar a meta de chegar a 6,7% na faixa de 15 anos ou mais em 2015. Na proporção que vem caindo, na base de 0,3% a 0,4%, nos últimos anos, a gente observa que o esforço tem sido grande, mas ainda é insuficiente.”

Membro do conselho de governança da organização civil Todos pela Educação, Mozart diz que é necessário haver um investimento maior em professores especializados em alfabetização, principalmente para ensinar o público adulto, que não tem a mesma facilidade de aprendizado de um estudante jovem.

“No percentual de 15 anos de idade para baixo, o Brasil vem atingindo resultados expressivos. As crianças de hoje estão muito mais alfabetizadas do que as de 20 ou 30 anos atrás. O problema é no grupo de 45 anos ou mais, nas regiões Norte e Nordeste, e nos grotões. É dificílimo pegar o homem do campo, que trabalha durante o dia, e fazer com que ele se desloque para a escola. É um grande desafio alfabetizar essas pessoas adultas. Qualquer que seja o método, é preciso ter um professor bem formado.Mas é difícil recrutar bons alfabetizadores, porque o salário pago é muito baixo.”

Outro dado demonstrado na pesquisa do IBGE é a queda na inadequação da relação idade-série. Em 2001, 36,9% dos jovens de 15 a 17 anos estavam na série correspondente à faixa etária. Dez anos depois, em 2011, o percentual teve um forte crescimento, chegando a 51,6%. O avanço foi maior justamente entre a população de menor renda, que registrava apenas 13% de adequação idade-série em 2001 e praticamente triplicou em uma década, saltando para 36,8% em 2011.

* Edição: Lílian Beraldo.

** Publicado originalmente no site Agência Brasil.

(Agência Brasil)