Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

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Bem-vindo ao blog do PT de Mosqueiro, aqui nós discutimos a organização e atuação do Partido dos Trabalhadores nas relações sociopolíticas e econômicas do Brasil e do Pará. Também debatemos temas gerais sobre política, economia, sociedade, cultura, meio ambiente, bem como temas irreverentes que ocorrem no Mundo, no Brasil, no Pará, mas em especial na "Moca". Obrigado por sua visita e volte sempre!

sábado, 20 de setembro de 2014

“Marina, a candidata da mudança, em liquidação”

 

Com o título usado neste post, o Doutor e professor de Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora, ao anunciar o seu desligamento do PSB, publicou artigo abaixo enumerando as “mudanças” de Marina Silva.

Na íntegra, texto do professor:

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Há um sentimento de mudança no ar. 12 anos de governo do PT desgastaram o partido na opinião pública. É natural. As contradições inevitáveis do exercício do poder, a relação com um congresso fisiológico, os interesses contrariados, os acordos inerentes à democracia, os escândalos. É mesmo surpreendente que chegue ao cabo desse período ainda como o partido de um quarto dos brasileiros e tendo o voto de metade deles.

Nesse cenário, surge a candidatura de Marina Silva, que encarna, sem sombra de dúvidas, a mudança, como provarei com os links abaixo. A começar pela mudança do cenário eleitoral. Depois de um suspeito desastre de avião (que alguns acreditam se tratar de assassinato), Marina assumiu o lugar de Eduardo Campos como a candidata do PSB à presidência.

O compromisso de Marina com a mudança não é recente. Ele já se deixava sentir quando ela mudou de religião há poucos anos, abandonando o catolicismo de opção pelos pobres e abraçando o fundamentalismo da Assembleia de Deus, que tem entre seus quadros Silas Malafaia eMarcos Feliciano, e acredita que discursos inflamados e emissões vocais desordenadas são manifestações do próprio Espírito de Deus.

Depois Marina mais uma vez mudou quando saiu do PT por ter sido preterida na disputa interna do partido pela candidatura à presidência. Desde então ela iniciou um processo de mudança de crenças políticas que a tornou uma opção para os grandes meios de comunicação, os bancos e a classe média alta.

Primeiro mudou-se para o PV, ganhou apoio do Itaú, finalmente concorreu à presidência, perdeu, mas não desanimou. Tentou mudar o então partido assumindo-lhe o controle, mas como não conseguiu, mudou de novo e tentou criar a Rede. Também não conseguiu apoio suficiente para criar um novo partido,e então mudou-se, de novo, para o PSB.

A ecologista aproveitou a mudança e mudou-se para um apartamento em São Paulo, de um fazendeiro do DEM.

Num golpe de sorte, também mudou de ideia na última hora e não embarcou com Eduardo no jato que o matou. Logo depois da tragédia, Marina mudou do papel de vice para o de viúva, declarando ter sido  consolada da morte de Campos pela própria esposa dele. Com a má repercussão da declaração, ela mudou de postura e apareceu sorridente em seu velório posando para fotos ao lado de seu caixão.

E a mudança não parou mais. Mudou o CNPJ da campanha para não ser responsabilizada pelas irregularidades do jato fantasma de sua campanha nem indenizar as famílias atingidas pela tragédia. A pacifista mudou seu compromisso da “Rede” que proibia os candidatos pela legenda de receber doações de indústrias de agrotóxicos, de armas e de bebidas, e compôs chapa com o deputado federal Beto Albuquerque, político integrante da “bancada da bala”, financiada pela indústria bélica. Ele também é financiado por fabricantes de bebidas e agrotóxicos.

E mais mudança veio com um programa de governo que contrariava toda a sua história.

Prometeu ao Brasil a volta da gestão econômica do PSDB. Mudou a sua posição contrária à independência do Banco Central para garantir o apoio dos bancos brasileiros.

Mais do que isso, prometeu mudar a legislação trabalhista promovendo a terceirização em massa, e prometeu acabar com a obrigatoriedade de função social de parte do crédito bancário,enterrando o crédito imobiliário. Mas isso não era mudança suficiente. Depois de quatro tuítes de Silas Malafaia  mudou a mudança do programa e se declarou contra o casamento gay.

Depois de um editorial do Globo, também mudou a sua posição sobre o pré-sal, que prometera abandonar, e depois, mudou a posição sobre a energia nuclear. Depois de uma vida de batalha contra os transgênicos, Marina, pressionada pelo agronegócio, também mudou e afirmou que sua posição histórica era uma “lenda”.

Mudou também sobre a transparência política. O ministro Palocci caiu por não revelar os nomes das empresas que contrataram seus serviços antes do governo. Mas ela hoje, candidata, se nega a dizer a origem de 1.6 milhões de seus rendimentos, e declarou um patrimônio de somente 135 mil reais ao TSE. Uma senadora da República.

Finalmente, na semana passada, Marina mudou sua opinião sobre a tortura, que antes considerava crime imprescritível, e passou a ser contrária a revisão da lei de anistia.

Dois dias depois, ganhou o apoio do Clube Militar. Marina muda tanto que acabou por declarar seu programa de governo todo em processo de revisão. Isso é realmente novo na política. Ela é a primeira candidata da história do Brasil que descumpre seu programa de governo antes de chegar ao poder.

Por tudo isso, não restam dúvidas que Marina é a candidata da mudança. Ela muda sem parar. Essa é sua “Nova Política”, uma mudança nova a cada dia. Não é possível acompanhar a labilidade de seu caráter ou de sua mente. Ou ela mente. Não importa. O que importa é que Marina representa a mudança, a mudança de um Brasil aberto e tolerante para um Brasil refém da intolerância fundamentalista, de um Brasil voltado para sanar sua dívida com seu povo pobre para um Brasil escravo de seus bancos, de um Brasil democrático para um Brasil mergulhado em crise institucional.

Por isso eu mudei também. Entrego essa semana meu pedido de desfiliação do PSB e cerro fileiras contra essa terrível mudança que ameaça nosso país. Não é possível submeter o Brasil a essa catástrofe. Marina Silva é uma alma em liquidação. Por um bom acordo eleitoral vende qualquer convicção. Mas aproveitem logo. Essa promoção é por tempo limitado.    (Gustavo Castañon é filiado ao PSB desde 2001. Doutor em Psicologia e professor de Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora.)

sábado, 13 de setembro de 2014

Ibope e Vox Populi contrastam com Datafolha

 

Uma tendência é certa nas últimas pesquisas eleitorais: Marina Silva (PSB) está em queda, Dilma Rousseff (PT) em ascensão e Aécio Neves estagnado

O que traz incertezas quanto à consistência dos levantamentos são diferenças entre alguns institutos, acima da margem de erro. Duas pesquisas, uma do Vox Populi e outra do Datafolha, foram feitas exatamente nos mesmos dias, entre 8 e 9 deste mês, e encontraram alguns números contrastantes além das faixas de tolerância. Quem estaria certo?
O tira-teima foi outra pesquisa, do Ibope, contratada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada nesta sexta-feira (12). Foi encerrada no dia 8, data bem próxima das outras, e registrou uma tendência mais parecida com o Vox Populi, o que deixa o Datafolha em saia justa.
Como se vê na tabela, sobre o primeiro turno, as intenções de votos em Aécio estão idênticas (15%) nos três institutos. Em Dilma estão dentro da margem de erro (36% e 39%), mas no caso de Marina, o Vox Populi registrou 28%, enquanto o Datafolha 33% para a candidata do PSB. São 5 pontos de diferença, acima do limite da margem da erro, que é de 2,2 pontos no Vox Populi e 2% no Datafolha. O Ibope registrou 31%, intermediário entre os dois institutos, mas foi a campo na véspera das outras pesquisas. Logo, se a tendência era de queda de Marina e oscilação para cima de Dilma, tende a coincidir mais com a apuração do Vox Populi.
Outra divergência foi nos indecisos. O Vox Populi destoou com 13%, enquanto o Datafolha registrou 7% e o Ibope 5%.
Na sondagem de segundo turno, todos institutos registraram Dilma chegando ao empate técnico com Marina, mas com números diferentes. Dilma teve 41% no Vox Populi, 42% no Ibope e 43% no Datafolha, resultado idêntico dentro da margem de erro. Marina teve 42% no Vox Populi e 43% no Ibope, o que coloca os 47% no Datafolha em dúvida.
Apesar de alguns números divergirem acima da margem de erro, a diferença é pequena e pode de fato ocorrer dentro da probabilidade estatística.
Mas os números do Vox Populi e Ibope são ainda convergentes quando analisamos os votos inválidos e indecisos. No primeiro turno, o Vox Populi registra 7% de intenção de votos nulos/branco/ninguém. No segundo, esse número sobe para 10%. É um resultado esperado. Parte dos eleitores de Aécio Neves (PSDB) ou de Luciana Genro (Psol), por exemplo, pode dizer que anula o voto caso seu candidato não passe para o segundo turno. A mesma lógica acontece no Ibope. Nulos/Branco são 8% no primeiro turno e 10% no segundo. No caso do Datafolha, registram-se tanto no primeiro como segundo turno 6%. Possível, mas pouco provável.
O que mais coloca em dúvida a pesquisa do Datafolha são os números extremamente baixos de indecisos e nulos no segundo turno. Somados dão 10% em segundo turno, contra 17% do Vox Populi e 15% do Ibope.
Quando o candidato do PSB era Eduardo Campos, os votos nulos e indecisos eram maiores. Com a entrada de Marina Silva na disputa, ela capturou a maioria destes votos em um primeiro momento. Atraindo os holofotes para si, teve suas contradições expostas e passou a perder votos. É de se esperar que parte dos votos da “antipolítica”, que antes iria anular o voto, volte a fazê-lo.
E também é de se esperar que parte dos votos sem certeza que pendiam para Marina, migrem para outros candidatos à medida que o eleitor volúvel compare as propostas e conheça melhor a candidata. O que leva Marina a cair é ficar mais conhecida. Suas posições que agradam uns, desagradam outros. Inicialmente ambos viam nela a ideia de votar naquilo que julgavam se identificar, sem conhecê-la direito.
Quando Marina tenta neutralizar críticas de inexperiência, dizendo que foi vereadora, deputada, senadora duas vezes e ministra, essa longevidade política já espanta parte do eleitorado da chamada “nova política”. Marina não é tão novidade assim. Ela conviveu “com tudo isso que está aí” por mais de duas décadas ocupando cargos políticos.
Quando ela tenta neutralizar a falta de base de sustentação política, que levou à renúncia de Jânio Quadros e ao impeachment de Collor, dizendo que vai governar com todos os partidos, mesmo dizendo que com “os melhores”, o eleitor que gritava “sem partido” em junho de 2013, já não a vê como opção. E aquele consciente de que sem uma reforma política a governabilidade se faz obrigatoriamente com quem é eleito no Congresso Nacional, vê incapacidade ou falsidade.
Quando ela volta atrás no programa de governo depois de quatro tuitadas do Pastor Silas Malafaia, ela desagrada e perde a confiança de outros setores. Marina se complica tendo declarações do presente desmentidas por atos do passado, como na questão da votação na CPMF, dos transgênicos, do agronegócio, ou ao ter posição contraditória sobre o pré-sal, que ela trata como um mal que tem de ser aturado e combatido. Em vez de azucrinar o pré-sal brasileiro, deveria mirar no Canadá por extrair petróleo de areias betuminosas no Ártico, em um processo muito mais poluente.
Quando ela procura varrer para baixo do tapete o escândalo da compra por empresas laranjas do avião de campanha dela e de Eduardo Campos, perde a aura de paladina da ética. Também não combina com a tal “nova política” manter em segredo quem paga por suas palestras. Marina não é uma empresária que entrou na política. É uma política que virou empresária para se manter candidata desde 2010. Quer queira, quer não, o eleitor desconfiado sente cheiro de “velha política” quando políticos escondem de onde vem suas fontes de renda, mesmo em atividades privadas e mesmo que não tenha necessariamente nada ilegal. O próprio clima inquisicional criado na imprensa tradicional para fazer o eleitor odiar a política, em vez de reformá-la, estimula essa desconfiança. Clima este que a própria Marina estimulou.
Ela perde votos quando usa dois pesos e duas medidas no trato da corrupção. Uma medida para pré-condenar Dilma pelos atos de terceiros, no caso um ex-diretor da Petrobras, funcionário de carreira, e usa outra medida para pedir o benefício da dúvida para Eduardo Campos, supostamente envolvido pela delação premiada deste mesmo ex-diretor.
O eleitor fica com um pé atrás ao ver o excessivo vínculo ao banco Itaú, pela influência da banqueira Neca Setúbal, inclusive através de patrocínios financeiros para as atividades privadas da candidata. Piora o discurso de Marina repetir bordões lobistas do mercado financeiro, tal como ceder a propostas de independência do Banco Central.
Marina começou tentando agradar a todos, apelando para sentimentos que são unânimes tais como governar com os bons, ser a favor de tudo que é do bem, e um monte de simplismos que todo mundo, desde criança, concorda. Mas na hora de ser obrigada a deixar de discutir o sexo dos anjos, e se posicionar sobre problemas reais do Brasil, ela perde votos ou de um lado ou de outro. E ainda corre o risco de, ao tentar agradar a todos, não agradar ninguém.
Daí ser estranho o Datafolha ainda ostentar índices tão altos para Marina, como se ela ainda fosse unanimidade entre quem está contrariado com qualquer coisa que acontece no Brasil.
(Blog da Helena)

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Carimbó é Patrimônio Cultural do Brasil

Foto: Carlos Sodré

Hoje, em Brasília, o  Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional vai declarar o carimbó Patrimônio Cultural do Brasil. Desde as 6h, em Belém e em mais 22 municípios, de onde vão sair as caravanas com grupos e mestres envolvidos na campanha que durou mais de dez anos e resultou no processo junto ao IPHAN, o dia é de festa. A celebração começou cedinho na Feira do Ver-o-Peso, com uma alvorada de fogos e o carimbó de raiz do grupo Sancari, do bairro da Pedreira. Para a manifestação cultural são aguardados mais de 60 grupos de carimbó do arquipélago do Marajó e regiões do Salgado, Bragantina e Metropolitana de Belém, que vão se apresentar em um palco montado na Praça do Povo, do Centur. A programação é gratuita e vai se estender durante o dia inteiro, até às 20h.  

Tipicamente parauara, o carimbó foi declarado Patrimônio Cultural e Artístico do Estado pela Lei nº 7.345, passando a ser incluído nos calendários histórico, cultural, artístico e turístico do Pará. O pedido de registro junto ao IPHAN foi apresentado pela Irmandade de Carimbó de São Benedito e associações culturais Japiim, Raízes da Terra e Uirapuru. O Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN e a superintendência do órgão no Pará conduziram o processo de registro e acompanharam as pesquisas para a identificação do carimbó em diversas regiões do Estado, entre 2008 e 2013. 

Agora, deverá ser estabelecida uma política federal de reconhecimento e valorização do carimbó, além da implementação de um plano de salvaguarda que assegure as condições de transmissão e reprodução do bem. O registro permite, também, acesso a recursos por meio de editais específicos de fomento às iniciativas de fortalecimento e divulgação dessa forma de expressão, dando maior visibilidade àqueles para os quais a vida cotidiana é indissociável do carimbó.

sábado, 6 de setembro de 2014

Marina Silva, a carranca e o estado laico

Socialista Morena - Esquerdismo Way Of Life

Marina Silva, a carranca e o estado laico

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(A carranca do rio São Francisco no saguão do ministério da Cultura)

Não tenho medo da vitória de Marina Silva. O povo é sábio e soberano. O que ele decidir, será. Irei respeitar e torcer para que dê certo, porque o País é o mesmo. Mas não voto em Marina. Obviamente, como pessoa de esquerda, me preocupa uma possível guinada neoliberal no governo com sua chegada ao poder assessorada por economistas que seguem esta cartilha. Existe, porém, uma razão mais forte que me impede de votar nela. O projeto de Brasil de Marina não é o meu, mas não voto nela principalmente porque não sinto confiança de que governará, sendo evangélica da Assembleia de Deus, a partir da concepção de um estado laico, como promete.

Há uma história que circula no ministério da Cultura desde a época de Gilberto Gil que para mim é emblemática. Gil ganhara uma carranca de madeira, daquelas que ficam na proa dos barcos no rio São Francisco, e chamou Marina, sua colega de prédio e ministra do Meio Ambiente, para “inaugurar” a obra, no hall de entrada comum a ambos ministérios. As carrancas são utilizadas pelos pescadores do rio como adorno e com a crença de que espantam maus espíritos. Marina teria se recusado a participar da cerimônia dizendo que a obra representava o “diabo”. Teria inclusive pedido para que fosse retirada do saguão. Se foi assim que ocorreu, o episódio não abalou sua proximidade com Gil, porque ele vai votar na ex-colega para presidente.

Em outra versão da história, contada em reportagem da revista Época de maio de 2008, a própria Marina teria sido presenteada pelos prefeitos da região do rio São Francisco com a carranca e teria se negado a receber o regalo, que ficou coberto até o final da cerimônia. Na mesma reportagem, uma bióloga do ministério do Meio Ambiente conta que, com Marina Silva à frente da pasta, reuniões técnicas chegavam a ser interrompidas para a realização de cultos evangélicos. Seu assessor Pedro Ivo, um dos coordenadores da campanha de Marina atualmente, negou os cultos durante o expediente, mas admitiu que, na hora do almoço, “funcionários se juntavam para rezar nas salas de reunião” (leia aqui).

Marina não me assusta. Fundamentalistas, sim. Estamos assistindo atônitos, nos últimos anos, à forte investida deles contra as bandeiras progressistas: a descriminalização do aborto como questão de saúde pública, a defesa dos direitos dos cidadãos LGBTs, a descriminalização das drogas. No segundo turno da última eleição, em 2010, os fundamentalistas jogaram as trevas sobre nós ao acusar Dilma Rousseff de ser “abortista”, levando a campanha ao mais baixo nível da história.

Eleita Dilma, não lhe deram trégua: à base de ameaças e chantagens, conseguiram barrar um kit educativo anti-homofobia por eles batizado como “kit gay”. Depois, no Congresso, os fundamentalistas lançaram sobre a Nação a praga de projetos medievais como o da “cura gay” e o Estatuto do Nascituro, apelidado de “bolsa-estupro” por seus críticos, porque prevê o pagamento de uma pensão à mulher que, vítima de estupro, decidir não abortar.

Por que falo em “fundamentalistas” e não “evangélicos”? Porque existem evangélicos progressistas. Gente cristã de verdade, que segue na vida o preceito de amar ao próximo como a si mesmo, e não odiar, como pregam alguns destes pastores insanos. É preciso separar o joio do trigo, distinguir os fiéis destes falsos “servos do Senhor”, interessados apenas em poder e dinheiro. Tenho certeza que muitos evangélicos não os suportam e conseguem enxergar com clareza a falta de cristianismo em suas palavras.

Marina é evangélica, mas honestamente não acredito que seja fundamentalista. De qualquer maneira, a história da carranca me deixou com o pé atrás. Também me chama a atenção o fato de nunca ter visto Marina em uma só foto que seja junto a representantes das religiões de matriz africana, alvos frequentes da intolerância dos fundamentalistas, embora tenha participado de uma campanha presidencial inteira em 2010. Eduardo Campos, sim. Inclusive sancionou em 2012, quando governador, um projeto que tombou terreiros de candomblé em Pernambuco.

Nos últimos dias, tivemos a notícia de que a campanha de Marina Silva voltou atrás e apagou do seu programa de governo o trecho que defendia o casamento gay e justamente após um dos fundamentalistas mais fanáticos e repulsivos, o pastor Silas Malafaia, tê-la criticado no Twitter. Malafaia, aliás, declarou voto na candidata. Marina também ganhou a declaração de voto no segundo turno de outro pastor fundamentalista, o deputado federal Marco Feliciano, já defendido por ela como “vítima” de hostilidades por ser evangélico e não por ser o autor de frases de cunho homofóbico e racista.

Se, ameaçada por esta gente, a presidente Dilma Rousseff foi capaz de recuos em projetos importantes para a comunidade LGBT, como acreditar que, tendo eles a seu lado e professando do mesmo credo, Marina Silva não fará igual? Ou pior?

O fundamentalismo religioso e sua perseguição aos homossexuais, à esquerda e aos progressistas de maneira geral são a minha maior preocupação no Brasil hoje. Tenho falado constantemente sobre a importância de o PT aproveitar este momento histórico para se livrar deles, definitivamente até porque preferem Marina. E conquistar a simpatia dos evangélicos que pensam de maneira diferente, mais condizente com o mundo moderno do que com preceitos ultrapassados ou mal interpretados propositalmente por pastores manipuladores.

Se Marina ganhar, espero de todo coração que eu esteja errada e que ela saiba de fato diferenciar Estado de religião. Que consiga domar os fundamentalistas a seu redor. Que lute pela tolerância com os gays e os adeptos de religiões de matriz africana com tanto fervor quanto prega por tolerância em relação aos evangélicos. E que cumpra sua promessa de fazer o governo laico que eu, infelizmente, não acredito que seja capaz de fazer.

Publicado em 5 de setembro de 2014

Por Cynara Menezes

Criança Esperança, a "Bolsa Globo"

 

O programa de caridade é uma contradição diante da ferrenha oposição da organização a programas como o Bolsa Família.

Por Nirlando Beirão

 

Estevam Avelari / Globo

Criança Esperança

Estrelas ajudam no crowdfunding midiático

 

A campanha Criança Esperança chegou ao fim, mas você, se não o fez, ainda pode doar um dinheirinho para esse frenético jamboree de caridade midiática que – a Globo apregoa – beneficiará 48 mil crianças e adolescentes de todo o País.

A cada ano, a emissora dos irmãos Marinho – não confundir com as irmãs Marinho – convoca sua constelação de estrelas para, saltitantes, sorridentes, atiçarem as sensibilidades coronárias da relutante nação canarinho. A solidariedade via tevê produz um espetáculo convincente, tem o atributo de adormecer até avareza de banqueiro.

Não interessa à Globo se perguntar se é coerente promover um show beneficente, logo ela que, escorada nos califas do neoliberalismo, combate ferozmente iniciativas como o Bolsa Família, com o duvidoso argumento de que socorrer os miseráveis é condená-los ao perpétuo estado de miséria. Mania da Globo essa de querer ser monopolista em tudo, até no quesito solidariedade humana.

Dois fortíssimos candidatos aproveitaram o Criança Esperança para disputar o Oscar da hipocrisia filantrópica. O Faustão, que fez de seu auditório um palanque da pior política de botequim e anda iradíssimo com o paternalismo bolivariano do PT, sacou do microfone para dizer que o Criança Esperança é uma beleza. Correndo por fora, assumiu a condição de campeão do farisaismo o esponjoso Ney Matogrosso, aquele que disse à tevê de Portugal que as nordestinas engravidam freneticamente para usufruir dos benefícios da “bolsa miséria” da Dilma.

Ney subiu ao palco pela causa. Não parecia preocupado com o risco, por ele tão veemente denunciado, de que, agora com a Bolsa Globo, o Brasil venha a se converter num gigantesco berçário de indigentes.

registrado em: Criança Esperança, Rede Globo, Bolsa Família