GETÚLIO – O drama do suicídio, 56 anos depois
GETÚLIO – A carta-testamento
Na carta testamento, divulgada logo após seu suicídio, ocorrido por volta das 8 horas da manhã de 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas denunciava que uma campanha subterrânea de grupos internacionais aliara-se a grupos nacionais, procurando criar obstáculos ao regime de proteção de trabalho, às limitações dos lucros excessivos e às propostas de criação da Petrobrás e da Eletrobrás.
Em seguida, a íntegra do famoso documento deixado por Getúlio Vargas, que potencializou a comoção provocada pelo seu suicídio (foto do velório):
''Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa.
“Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
“Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
“Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
“Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
“E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte
“Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.''
“Rio de Janeiro, 23/08/54 – Getúlio Vargas”
Nesta terça-feira, transcorrem 56 anos do suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas (foto), ocorrido em 24 de agosto de 1954, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dramático desfecho de uma das mais graves crises políticas da história brasileira. Como há um nexo entre o que passou e o que virá, que se faz pelo presente, certamente é oportuno resgatar essa tensa passagem da história do Brasil, principalmente para as novas gerações, usufrutuárias do restabelecimento do regime democrático e de sua consolidação.
Por isso, feitas as devidas atualizações e eventuais retificações, reproduzo um breve resgate histórico, publicado em 2005, no que viria a se tornar o Blog do Barata, então recém surgido, sob a denominação de Pauta Livre. Um resgate que serve para ilustrar as marchas e contramarchas da história, para que possamos valorizar a reconquista da democracia, cujo marco é a eleição do ex-presidente Tancredo Neves no colégio eleitoral, em 2005, epílogo da ditadura sob a qual ficou o Brasil, com o golpe militar de 1º de abril de 1964.
Para quem se interessar pelo assunto histórica desta data deêm uma visitinha no blog do Barata http://novoblogdobarata.blogspot.com/
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