Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
INOVACINE leva cabanagem ao auditório do IPHAN
Primeiro longa metragem realizado no Pará desde Líbero Luxardo, o filme “Cabanos” estará no cineclube INOVACINE nesta quarta-feira, 11. Baseado na revolução Cabana, o filme resulta do Projeto Cinescola. O realizador (e professor de História) Sebastião Pereira estará presente na sessão. Ele vai dialogar com o público sobre esta produção que tem no elenco e na técnica cerca de 70 alunos da Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental Temístocles Araújo, Marambaia, Belém do Pará.
A partir de uma família de ribeirinhos, “Cabanos” revela de forma poética a única experiência revolucionária na qual o povo tomou o poder no país, a cabanagem, ocorrida na província do Grão-Pará, em 1835. Com cenas rodas na ilha de Mosqueiro, Abaetetuba, Cametá, e Belém, o filme pode Ser enquadrado na corrente estética do cinema pobre, que tem origem em Cuba (Humberto Solas) e se ramifica em países como EUA, México, Cabo Verde, Brasil, assumindo em cada um destes locais, características particulares fundadas nos mesmos princípios, quais sejam os de - sem economia da original inteligência artística, realizar filmes (de baixo orçamento) com temáticas sociais.
Quando um cineasta se dispõe a revisar um fato histórico numa perspectiva artística, ele tem consciência do óbvio, ou seja: realidade e ficção são duas substâncias heterogêneas que podem ser por ele misturadas na alquimia das imagens fotográficas, as quais, justapostas, dão-nos a ilusão do movimento. E foi isso que Sebastião Pereira fez sem a menor pretensão de ser um realizador (profissional) de cinema. Ele mostrou como é possível fazer um bom filme; sem dinheiro; sem economia (de esforços); com jovens (cerca de 70 alunos) - sem (nenhuma) experiência artística; e sem nenhum apoio institucional e empresarial.
O grande poeta-realizador soviético Andrei Tarkovsky dizia que o cinema é uma arte triste porque depende do dinheiro para sobreviver, entretanto, Sebastião Pereira conseguiu provar o contrário na Amazônia-Paraoara: o cinema transcende aos interesses econômicos e afirma uma consciência, histórica. Seus atores-jovens desempenham personagens (mais) maduros – e (no filme) adultos (ribeirinhos) dialogam com as crianças, com uma responsabilidade didática absoluta. A produção, que se esmerou em constituir figurinos de época, expõe a nu tanto a pobreza dos ribeirinhos quanto a própria pobreza ainda não assumida pelo cinema amazônida.
E a câmera (a câmera!), operada pelo nosso professor-realizador tem o compasso da batida do seu coração, com panorâmicas, travellings, e planos-sequências que delimitam a lógica linear da montagem, também entrecortada por uma narração que nos explica porque a cabanagem sucumbiu no interior do seu processo revolucionário, talvez – ouvi dizer - sem um projeto político definido.
A câmera de Sebastião Pereira é orgânica, traduz a pureza do homem ribeirinho, ou seja, o olhar de maresia à natureza a sua volta e também aos amigos (com os quais dialoga). É possível perceber que este olhar (subjetivo) tanto pode se fixar em um ponto quanto pode também titubear, retornar ao ponto inicial e de seguida procurar um outro ponto – e (de forma lancinante) intensificar e favorecer algumas ações (em espaços diversos) além do horizonte, mas não em uma paisagem em si, ao contrário, em “passagens” - de uma condição, subumana, para outra, nobre.
O professor-realizador-diretor-de-fotografia-produtor-operador-de-câmera Sebastião Pereira é intenso no que faz. Os diálogos, quase todos em som direto, os ruídos, intermitentes, os diálogos das personagens, tradutores das nossas velhas angústias revolucionárias. Os sons da mata, as canções, os poemas, elementos sinestésicos, combinados, plano a plano, quadro a quadro, impactam o inconsciente de forma a virar-lhe pelo avesso.
SERVIÇO – “Cabanos”, de Sebastião Pereira, quarta-feira, dia 11 de agosto, 18:30H, no auditório do IPHAN, Travessa Rui Barbosa, esquina da Avenida Governador José Malcher. Realização: INOVACINE. Apoio: IPHAN.
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FONTE: Ascom/Fapespa
Alcir postou
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