Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

Bem-vindo ao blog do PT de Mosqueiro, aqui nós discutimos a organização e atuação do Partido dos Trabalhadores nas relações sociopolíticas e econômicas do Brasil e do Pará. Também debatemos temas gerais sobre política, economia, sociedade, cultura, meio ambiente, bem como temas irreverentes que ocorrem no Mundo, no Brasil, no Pará, mas em especial na "Moca". Obrigado por sua visita e volte sempre!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Desmatamento na Amazônia: Avanços em conceitos e recuos nas práticas

Ambiente
02/9/2013

 

por Washington Novaes*

desmatamento Desmatamento na Amazônia: Avanços em conceitos e recuos nas práticas

Foto::leoffreitas

Embora não surpreendam – havia indícios -, são inquietantes as informações sobre aumento do desmatamento na Amazônia. Foram 2.007 quilômetros quadrados na Amazônia Legal em um ano, segundo o Imazon (20/8), ou quase 92% mais que em igual período anterior. Aos quais se devem acrescentar 1.155 quilômetros quadrados de florestas degradadas no período. E tudo se traduzindo em 100 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalentes emitidas em 12 meses.

Mais complicado ainda porque um balanço oficial de cinco anos (2005-2010) dizia que o desmatamento era o único setor no País em que se haviam reduzido (em 65%) as emissões de poluentes que contribuem para o aumento da temperatura planetária, quando as emissões no setor energia haviam subido 21,4%, no tratamento de resíduos, 16,4%, na indústria, 5,3% e na agropecuária, 5,2%. Nesse quadro, as emissões totais do Brasil ficavam em 1,25 bilhões de toneladas de CO2 equivalentes (2,03 bilhões em 2005), que se traduziam em cerca de 7 toneladas por brasileiro (outras fontes apontam até 10 toneladas por pessoa).

Pode ser ainda mais inquietante saber que terminou em Bonn, na Alemanha, uma reunião preparatória para a Convenção do Clima, que será realizada em novembro em Varsóvia (Polônia). E a maioria dos analistas saiu convencida de que é muito improvável, este ano ou no próximo, chegar a um acordo que defina metas obrigatórias de redução de emissões em todos os países, a serem incluídas em 2015 num convênio global para vigorarem em 2020 e possibilitarem que se contenha o aumento de temperatura na Terra em 2 graus Celsius até 2050. Também empacaram as discussões sobre contribuições financeiras dos países industrializados para “mitigação de emissões” e “adaptação às mudanças”, com os “países em desenvolvimento” exigindo recursos para compensar danos que poderiam ser de US$ 1 trilhão por ano.

Pode parecer repetitivo tratar com tanta frequência neste espaço desse tema das mudanças climáticas, mas as notícias são a cada dia mais graves. Uma boa informação, entretanto – ainda não anunciada oficialmente -, é a de que o Brasil voltará, na reunião da convenção, à proposta que fez em 1997, quando se discutia o Protocolo de Kyoto: passariam a ser obrigatórios compromissos de todos os países para reduzir as emissões de poluentes, proporcionalmente à contribuição que tenham dado para a concentração de gases na atmosfera e às suas emissões atuais (em Kyoto decidiu-se apenas que os 37 industrializados baixariam suas emissões em 5,2%, calculados sobre as de 1990; mas o protocolo não teve as adesões necessárias). Até aqui, o Brasil só tem aceitado “compromissos voluntários” de baixar entre 36,1% e 38,9% suas emissões, calculadas sobre o total a que chegaríamos em 2020.

É um assunto vital, quando cenários traçados para este século por 345 cientistas para o Painel do Clima da convenção dizem que a temperatura no Brasil pode subir até 3 graus Celsius. E a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) prevê (20/8) que as culturas de milho, arroz e mandioca serão as mais afetadas, com perdas, hoje em mais de R$ 7 bilhões, que serão o dobro em mais algumas décadas.

Há visões mais otimistas, como as de cientistas que apontam a intenção da China e dos Estados Unidos de reduzirem em 40% as suas emissões na fabricação de cada produto. Mas a China também está deixando cientistas de cabelos em pé com a criação de uma rota de navegação para a Europa atravessando o Ártico (reduz de 48 para 33 dias o tempo gasto) – e contribuindo para mais degelo. Os Estados Unidos conseguiram baixar suas emissões intensificando a exploração de gás de xisto, com um método baseado em fratura de rochas e injeção de água e produtos químicos – que implica, no retorno deles à superfície, a mistura da água superficial com poluentes altamente danosos e em grande quantidade (o Brasil também vai entrar por esse caminho).

Acrescem-se as informações da Global Footprint Network de que no dia 20 último se completou o prazo (menos de oito meses) em que o mundo consumiu os recursos naturais que deveriam bastar para um ano todo – ou seja, a “pegada ambiental” global indica que precisamos de 50% mais de recursos que os disponíveis. E com isso se vai agravando o quadro planetário (Folha de S.Paulo, 20/8). O Japão já consome 7,1 vezes mais que os recursos disponíveis em seu território, a Grã-Bretanha, 3,5 vezes e os Estados Unidos, 1,9. O Brasil, embora use menos recursos que sua disponibilidade interna, consome mais que a média global disponível. Em 2050, afirma o estudo da Global Footprint Network, o mundo precisará de recursos equivalentes ao dobro dos disponíveis na Terra.

Não é diferente do que pensa a Convenção da Biodiversidade, que, preocupada, já em 2010 pediu que se adotassem metas de pelo menos 17% das áreas terrestres no mundo protegidas, assim como 10% de áreas oceânicas.

São visões como essa que levaram o escritor (austríaco radicado nos Estados Unidos) Fritjof Capra – autor de O Tao da Física e A Teia da Vida – a dizer no X Congresso Brasileiro de Direito Socioambiental (Instituto Carbono Brasil, 9/8), que nosso país é um dos “possíveis líderes para o desenvolvimento qualitativo sustentável” – desde que “os negócios, a economia, as tecnologias, as estruturas físicas não interfiram na capacidade da natureza de sustentar a vida”.

Porque “o crescimento infinito é ilusão”. Bem na linha que se propaga entre economistas de que já vivemos uma “crise de finitude de recursos”, com o consumo global maior que a reposição. E crescerá ainda mais, com a população mundial – hoje pouco acima de 7 bilhões de pessoas e um acréscimo de 80 milhões por ano – chegando a mais de 9 bilhões em 2050.

* Washington Novaes é jornalista.

** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.

Nenhum comentário: