Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Perdemos o Brasileiro

 

Não vejo muita graça nesses necrológios poéticos que se espalham pela internet. Em vez disso, farei algo mais útil e interessante: vou transcrever algumas das últimas palavras de Sócrates ditas na última quarta-feira, quando o vi falar no projeto Memória do Esporte, que tenta resgatar a história de nossos atletas olímpicos.

José Roberto Torero

O Corinthians ganhou o Brasileiro e perdeu o Brasileiro.
O clube conquistou um disputadíssimo campeonato. Mesmo sem ter um time brilhante, entregou-se em cada jogo, suou mais que qualquer outra equipe e tornou-se o legítimo campeão brasileiro de 2011.
Mas perdeu Sócrates.
Na verdade, todos nós, corintianos ou não, perdemos Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.
Ele foi o mais politizado e atuante jogador do país. E foi um craque. O capitão da nossa seleção de sonho de 1982.


Mas paro aqui de falar sobre ele. Não vejo muita graça nesses necrológios poéticos que se espalham pela internet. Em vez disso, farei algo mais útil e interessante: vou transcrever algumas de suas palavras ditas na última quarta-feira, quando o vi falar no projeto Memória do Esporte, que tenta resgatar a história de nossos atletas olímpicos.
Sua conversa, como sempre, foi política. E, de certa forma, foi na contramão do projeto. Mesmo falando para diretores e produtores que preparam documentários sobre heróis olímpicos, ele disse que a vitória não era o mais importante.
“Muito mais importante que a vitória, trata-se de você atingir seu limite. Eu nunca me esqueço da maior vitória que eu vi na vida, quando uma corredora de maratona chegou absolutamente exausta, com câimbras, sem disputar nada, mas fez questão de terminar a prova. Ela estava disputando o direito de chegar ao final da prova que ela se propôs a fazer. Isso é muito mais importante que qualquer vitória. Até porque a vitória não é importante, ela não nos ensina, nos emburrece. Já a derrota nos faz reavaliar quem somos, o que somos, quem pretendemos ser, como crescer enquanto seres humanos”.
Mais do que competição, esporte para Sócrates era educação e saúde.
Educação porque ensina o convívio social. “Em nosso país existem alguns esportes bastante elitizados, mas o futebol não. Sua prática é estimulada independentemente das origens. Eu tive o privilégio de, ainda criança, conviver com a realidade brasileira. Com a fome, o desemprego, raças diferentes, níveis educacionais distintos. E isso me inspirou muito, eu pude viver isso. Muitas vezes fui em casa de amigos e tive o privilégio de dividir com eles um prato de comida – bem diferente do que me foi oferecido a vida toda. E isso te dá uma bagagem, uma responsabilidade muito importante.”
Sócrates também disse que o Ministério dos Esportes é que deveria ser o verdadeiro Ministério da Saúde, já que o Ministério da Saúde é, na verdade, o da Doença. Depois de afirmar que nunca foi um atleta, ele falou que a prática esportiva trazia óbvios ganhos para o bem-estar físico desde que não se buscasse um altíssimo rendimento. Aí já não seria saudável. E até brincou dizendo nunca ter conhecido um atleta de ponta que não sentisse dores todas as manhãs.
Por fim, falou ainda da relação entre o esporte e a política, mostrando que o esporte, ao invés de alienar, pode informar. Ele contou que viu o pai se desfazer de livros que poderiam ser interpretados como agressivos à ditadura, que lembra de ter ouvido a notícia da morte de Martin Luther King aos 14 anos e, que, nesse mesmo ano, acompanhou a movimentação das ruas em Paris. Mas só entendeu mesmo que o mundo estava em ebulição quando viu os Panteras Negras na Olimpíada do México.
Aliás, o gesto que ele fazia depois de um gol lembra muito o dos Panteras Negras. E ontem foi uma bela homenagem quando todos os torcedores e os jogadores corintianos imitaram o punho erguido de Sócrates.
Tomara que torcedores e jogadores imitem Sócrates em outros gestos.
Precisamos de mais Brasileiros como ele.

José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.

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