A debandada no primeiro escalão do governo do Estado expõe a guerra intestina do PT parauara, responsável em muito pela derrota eleitoral da governadora Ana Júlia Carepa.
A DS, corrente ideológica minoritária no Pará, tem sido apontada como a Geni da história, mas as demais facções muitas vezes e em ocasiões cruciais se comportaram como, mais do que adversárias, inimigas do governo. Na Assembleia Legislativa, a base de apoio jamais foi consolidada porque a própria bancada do PT abria dissidência. Seus membros deixavam todos perplexos quando diziam da tribuna que uma coisa era o PT e outra o governo, coisa impensável anteriormente, quando a voz de comando único e o rolo compressor garantia a aprovação das matérias do interesse do mandatário. Não se trata de defender o tacão autoritário, mas sim de enxergar a necessidade de um mínimo de unidade a fim de possibilitar a execução do projeto político.
Ora, como a governadora foi eleita por seu partido, é fácil concluir que a falta de coesão petista impediu a formação de um bloco parlamentar de sustentação ao governo, até porque a maioria dos partidos não tem linha ideológica consistente, tanto que seus integrantes vivem pulando de galho em galho, o que só teve freio pela Lei de Fidelidade Partidária. O resultado foi que a oposição se organizou, se fortaleceu e virou o jogo. Historicamente sob o comando do Executivo, que sempre interferiu diretamente na composição da Mesa Diretora e fez a presidência da Casa, a Alepa fez da governadora refém de seus humores e promoveu o desgaste paulatino e intenso do PT e do governo, repetindo refrões que acabaram se cristalizando no subconsciente popular.
Como mera observadora, penso que o PT não estava preparado para vencer em 2006 uma ampla coligação instalada havia doze anos no poder. O povo mostrou sua insatisfação com os governos tucanos nas urnas, mas os petistas foram surpreendidos com a vitória, até por conta dos erros grosseiros nas pesquisas eleitorais – cuja manipulação acintosa atingiu gravemente a credibilidade dos institutos -, que levarão tempo para reaver a confiança da população.
“_Ganhamos, e agora?”, penso que deve ter sido a pergunta recorrente. A par da ganância dos aliados pela divisão de poder – e do desastre na gestão dos feudos entregues -, a comunicação do governo jamais funcionou. Projetos, programas e ações da maior importância não foram levados ao conhecimento do povo, como o Ação Metrópole – idealizado há vinte anos, sem sair do papel -; os Parques Tecnológicos em Santarém, Belém e Marabá; os investimentos em agricultura – a produção aumentou em muito -; pecuária – além do melhoramento genético do rebanho, o Pará saiu da classificação de alto risco e em breve sairá do médio risco -; em transporte fluvial – Belém, capital de um Estado em que 80% da população se transporta pelos rios, só agora terá um terminal hidroviário de passageiros e cargas digno dessa denominação, com conforto, segurança e atrativos turísticos -; as eclusas de Tucuruí - prometidas e esperadas há três décadas, serão finalmente concluídas, junto com o canal intermediário, e o derrocamento dos pedrais já tem licença ambiental, viabilizando a sonhada hidrovia Tocantins/Araguaia -; a realização de concursos públicos em quase todos os setores da Administração estadual, Planos de Cargos, Carreiras e Salários para os servidores, e tantas outras iniciativas meritórias, como o ProJovem urbano e prisional.
Para o PSDB, a derrota em 2006 acabou sendo salutar – depois de descer do salto alto, o ninho tucano soube se reconstruir -. Entretanto, as alianças feitas para garantir a vitória podem acabar por repetir os mesmos erros do governo petista: alguns adesistas são conhecidos sobejamente não pela ética e boa conduta, administrativa, cível e criminal.
Enfim, o passado sempre serve para construir o futuro. A sabedoria para discernir o joio do trigo se revelará daqui a quatro anos. Como cidadã paraense, desejo o melhor para meu Estado.
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