Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

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sexta-feira, 18 de março de 2011

Crítica crítica e crítica transformadora

18/03/2011

Uma tragédia para a esquerda foi a dicotomia entre reflexão teórica por um lado, prática política por outro. Depois das primeiras gerações de teóricos e, ao mesmo tempo, dirigentes revolucionários – como Marx, Engels, Lenin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, Gramsci, entre muitos outros -, os partidos comunistas e social democratas deixaram de ser espaços de reflexão teórica, levando a que os intelectuais marxistas se refugiassem em centros autônomos – universidades ou outros – e, ao mesmo tempo, em temas distanciados da prática politica – como a metodologia, a estética, a teoria literária, a ética.
Foi a partir dessa verdadeira ruptura entre teoria e prática que surgiu o intelectual crítico, mas sem prática política, portanto sem compromisso com propostas de transformação concreta da realidade e sem responsabilidade na acumulação de forças para construção das forças de transformação. A crítica crítica foi disseminando cada vez mais, conforme os partidos foram tendo práticas cada vez mais adaptadas aos sistemas de poder existentes, frente ao que as teorias apareciam com uma coerência e um poder explicativo aparentemente cada vez maior. Proliferaram cada vez mais intelectuais radicais, com prestígio diante dos jovens – sempre disponíveis, felizmente, para as utopias – e, mais recentemente, com espaços na mídia tradicional, na medida em que critiquem a esquerda realmente existente.
Essa visão e essa atitude diante da teoria e da prática têm não apenas o problema de não desembocar nunca em alternativas, restringindo-se à esfera teórica, mas também que interpela a prática do ponto de vista da teoria e não a teoria do ponto de vista da prática. Não se trata apenas de uma visão politicamente inconsequente, mas tampouco se trata de visões que captem a realidade na sua dinâmica real, porque se situam fora da prática concreta, do processo efetivo de luta entre campos constituídos que expressam, direta ou indiretamente, as contradições estruturais da sociedade.
Terminam sendo visões que se encerram na teoria, que não dão conta da realidade, que castram a própria teoria, fechando-a sobre si mesma, desembocando em intermináveis denúncias de que a realidade não corresponde perfeitamente à teoria e em discussões entre distintas teorias. Na contramão da tese fundamental de Marx: “A filosofia até aqui interpretou o mundo de diferentes maneiras, mas trata-se de transformá-lo”. O marxismo se caracteriza justamente por não ser mais uma interpretação de como seria o mundo, mas por uma análise que desemboca necessariamente em projetos de transformação do mundo, protagonizados por forças sociais e politicas.

SUGESTÕES DE LEITURA

- PEQUENOS BURGUESES, Máximo Gorki (Editora Hedra)
- CRONICAS DO MUNDO AO REVÉS, Flavio Aguiar (Editora Boitempo)
- STALIN, Domenico Losurdo (Editora Revan)

Repostado do blog do Emir Sader

Um comentário:

Anônimo disse...

A dictonomia maior da esquerda é prometer honestidade com a coisa pública quando chegar ao poder. pois, até os maiores filosófos das esquerda, como Chauí, já defende que não roubar tanto quanto os outros, é impossível chegar ao poder. E precisa mais ainda depois disto, posto que, serviçõ público paga um miséria e se morrer e morta fome não fica no poder.