As eleições municipais de 2012 apresentaram novamente a polarização que tem marcado os últimos processos eleitorais no Pará, ou seja, o embate entre o campo democrático e popular, o PMDB e o campo neoliberal conservador. A derrota, em 2010, da ex-governadora Ana Júlia (PT) para o tucano Simão Jatene, com apoio do PMDB, teve considerável influência nas eleições municipais de outubro (2012). Candidatos do PSDB venceram as eleições em 32 municípios, entre eles os três principais colégios eleitorais do Pará: Belém, Ananindeua e Santarém. O PMDB elegeu 29 prefeitos e o PT 24, três a menos que em 2008.
Ainda que a diminuição de prefeituras administradas pelo PT não seja, numericamente, muito significativa, o partido saiu dessas eleições, comparativamente aos resultados obtidos nas eleições de 2004 e 2008, bastante enfraquecido: 1) tivemos uma queda muito significativa no número total de votantes; 2) fomos derrotados nas duas principais prefeituras administradas pelo partido desde 2004 (Santarém e Parauapebas); 3) obtivemos o pior desempenho eleitoral na capital desde 1988 (a candidatura de Alfredo Costa obteve apenas 3% dos votos válidos e a bancada de vereadores diminuiu de 6 para 3).
O resultado eleitoral mais significativo para a esquerda paraense no primeiro turno foram os 252.049 votos obtidos em Belém pelo candidato do PSOL, Edmilson Rodrigues (32,5% dos votos válidos). Com o apoio do PCdoB, PSTU e a maioria dos simpatizantes e tradicionais eleitores do PT, Edmilson (prefeito eleito em 1996 e reeleito, também pelo PT, em 2000), disputou o segundo turno contra Zenaldo Coutinho (PSDB), que obteve 30,6% dos votos válidos.
As primeiras pesquisas do segundo turno (internas e públicas) indicavam que Zenaldo Coutinho superava Edmilson em cerca de 10% das intenções de voto. Isto é, Zenaldo aparecia como virtual vencedor do pleito, contando com o apoio da maioria dos candidatos dos partidos de direita que disputaram o primeiro turno, sobretudo de Jefferson Lima do PP (12,8% dos votos) e Jordy, do PPS (4,9%) .
Com o intuito de reverter esse quadro, a coordenação de campanha e a tendência interna do PSOL que Edmilson lidera (um dos agrupamentos que se declaram majoritários da crise nacional da APS) avaliaram que a única chance de derrotar o candidato do PSDB estava em conquistar o apoio do PT e, sobretudo, de Lula, Dilma e, portanto, do governo federal.
Ainda que alguns agrupamentos petistas de Belém optassem por fazer uma tímida campanha pelo voto nulo, lembrando, entre outras coisas, a negativa do PSOL em apoiar, no segundo turno de 2010, a reeleição de Ana Júlia, o PT entrou na campanha quase por inteiro, sem corpo mole, sem nada exigir em troca, a não ser o cumprimento do programa de campanha que, sejamos francos, além de possuírem a mesma origem, o programa eleitoral de Edmilson era cópia rebaixada para o centro dos programas apresentados pelo PT quando Edmilson foi eleito e reeleito prefeito.
Nos últimos dias da campanha parecia que Edmilson Rodrigues tinha retornado ao PT. Além de Cristovam Buarque, quase só petistas apareciam nas inserções dos programa de rádio e TV. Primeiro Lula, depois as gravações de Dilma, ministros do governo federal e deputados do PT no Pará. Para contrapor a estratégia de Zenaldo de aliança entre “Belém e o governo estadual”, Edmilson apresentou a aliança “Belém e governo federal”.
Entre tantas curiosidades que essa aliança final do PSOL com o PT trouxe, uma delas foram os discursos de Edmilson nos debates do 2° turno, quando defendia, diga-se, de maneira apaixonada, o legado dos governos do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma como os “melhores governos que o Brasil já possuiu até hoje” e até denunciava o “mensalão do PSDB”.
Esquerda Paraense: para onde vai?
Para melhorar a atuação política e as chances eleitorais da esquerda no Pará será necessário realizar uma valiação mais aprofundada das derrotas do PT nos principais municípios paraenses e também da vitória da direita em Belém, sem desmerecer os 43% dos votos que Edmilson obteve no segundo turno. Jatene e Zenaldo fizeram o dever de casa e uniram os conservadores, até quando não se sabe, e à esquerda e ao campo progressista cabe a tarefa maior de se unificar em torno das grandes bandeiras e lutas contra os inimigos políticos que defendem os interesses das classes dominantes.
A cooperação do PT com a candidatura de Edmilson e a mudança na política de alianças da atual direção local do PSOL talvez possam favorecer futuras alianças eleitorais entre PT, o PCdoB e o PSOL. Talvez, também, com os donos do PMDB que apoiaram Edmilson publicando pesquisas “manipuladas” nos jornais e outros meios de comunicação que controlam em Belém.
Contudo, a crise interna que sofre hoje o PSOL, local e nacionalmente, talvez atrapalhe essa futura colaboração, sem desmerecer o impacto negativo entre os petistas pelo lamentável sectarismo da direção nacional e estaduais do PSOL ao não apoiar as candidaturas do PT, fazendo campanha pelo voto nulo em São Paulo, Salvador, Fortaleza e outros municípios nos quais o Partido dos Trabalhadores disputava contra a direita o segundo turno.
A crise do PSOL se manifestou em Belém dias antes do segundo turno das eleições e foi acelerada pela saída do PSTU da coordenação da campanha através do Manifesto intitulado PSTU rompe com frente em Belém e chama voto crítico em Edmilson Rodrigues (PSOL): “Lamentavelmente, a direção do PSOL sucumbiu de vez à lógica do vale-tudo eleitoral ao incorporar política e programaticamente neste 2º turno o PT e representantes da direita como o PDT, o PPL e até mesmo um vereador do DEM. A reivindicação do apoio de Dilma e Lula por parte de Edmilson Rodrigues em sua campanha significam o abandono do perfil de uma candidatura de esquerda e socialista”.
Nessa mesma linha se manifestaram, “tentando ser mais trotskistas que os outros trotskistas”, também publicamente, as lideranças locais e nacionais da Corrente Socialista dos Trabalhadores no documento A CST-PSOL se retira da campanha e declara voto crítico em Edmilson: “Ao misturar nosso partido com antigas ratazanas patronais e ao PT estamos perdendo a oportunidade de apresentar um projeto alternativo para enfrentar, pela esquerda, o PSDB de Zenaldo (...). Com a definição de Lula de gravar programas de TV para Edmilson todos os limites foram ultrapassados. Assim, levam nosso partido para a vala comum da base aliada do governo Dilma (...). Não aceitamos a domesticação de nosso Partido! Não temos nada a ver com a ala que quer liquidar o partido, o setor petista do PSOL, a ala governista de nosso partido!”
Por fim, mostrando mais uma vez o quão difícil é construir a unidade dos partidos e organizações de esquerda, após as eleições o agrupamento do PSOL que se declara continuador da tendência APS (Ação Popular Socialista-PSOL), e que denominam ao grupo de Ivan Valente e Edmilson Rodrigues de “dissidência da APS”, no seu balanço das eleições municipais também manifestam sua oposição à aliança com o PT em Belém pelas concessões políticas e programáticas que fez, segundo eles, a coordenação de campanha de Edmilson: “A aceitação do apoio do PT (...) não poderia se transformar em que quebrassem nossa orientação de oposição programática de esquerda ao governo federal; não poderia enfraquecer o espírito de luta de nossa militância; não poderia se fazer em troca de cargos; nem trazer para o palanque ou TV apoios de lideranças políticas e governamentais nacionais deste partido”.
*Pere Petit e Marcelo Martins integram a direção estadual de Articulação de Esquerda no Pará
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