Por: Helena Sthephanowitz, especial para a Rede Brasil Atual
Ulysses Guimarães dizia que a margem de erro é a margem de lucro dos institutos de pesquisa de intenção de voto. Vamos deixar as desconfianças ao gosto do leitor, e nesta nota abordar outro lado da questão, a própria confiabilidade no método da pesquisa.
O Datafolha ganhou muita credibilidade em 1989 quando acertou a pesquisa no primeiro turno que colocou Lula no segundo turno, à frente de Brizola, por uma diferença muito pequena.
O instituto tem um método que acaba se tornando um truque. Ele entrevista pedestres na rua, em vez de fazer pesquisa domiciliar. Logo, ele leva uma tremenda vantagem na pesquisa de boca de urna, pois no dia da eleição basta pesquisar nos principais locais de votação com uma grande amostra, porque de fato todo mundo que vai votar está transitando na rua próximo aos locais de votação. Assim a probabilidade de errar essa pesquisa realizada no dia da eleição é muito pequena. E com essa pesquisa de boca de urna acertando quase sempre, o instituto faz a fama.
Porém esse método, se é o mais confiável no dia da eleição, é o menos confiável em todas as pesquisas anteriores, fora do dia da eleição. Ao entrevistar pedestres, o Instituto pergunta onde a pessoa mora, para calcular a proporção de acordo com a população de cada lugar. Acontece que esse método é bem menos exato do que escolher uma amostra de domicílios e visitar a casa em seu endereço real.
As pessoas andando na rua podem informar errado o bairro onde moram, seja por engano ou porque não querem dizer exatamente onde mora. E tendem a responder com menos paciência do que se estivessem em seu domicílio. Além disso em locais de grande fluxo de pessoas é óbvio que transita gente de todo lugar, mas sempre transita menos gente que mora nos extremos da periferia, mesmo que seja uma área muito populosa.
No caso de São Paulo, por exemplo, essas são exatamente as áreas onde o PT é melhor votado. Daí, no dia da eleição a pesquisa de boca de urna mostra crescimento e acerta, criando outra fama, que não deixa de ser verdade, em parte: a de que o PT é partido de chegada.
Outro mito é o da margem de erro. Não significa que a se as eleições fossem hoje o resultado seria apenas o mostrado dentro da margem de erro. Significa apenas que se a pesquisa fosse refeita 20 vezes, no mesmo dia, nos mesmos lugares, em 19 vezes daria números semelhantes dentro da margem de erro. Mas se a pesquisa tiver vícios como, por exemplo, captar menos o eleitorado de uma parte da cidade, os resultados se repetiriam, com os mesmos vícios, dentro da margem de erro. Porém estariam deturpados ao não refletir a realidade de toda a cidade.
Então para quê servem as pesquisas? Mais do que números exatos, os profissionais das campanhas dos candidatos olham as tendências, para ver se está crescendo ou caindo, onde está crescendo, e onde está caindo, para orientar e corrigir rumos da campanha.
As pesquisas publicadas na mídia podem sim, eventualmente, ser usadas como ferramenta de manipulação. Muitos financiadores de campanha fazem doações de acordo com a chance do candidato vencer. As pesquisas também podem animar ou desanimar militantes. Podem induzir pessoas a fazerem o voto útil. E há quem tente mexer em pesquisas acreditando que elas influenciam alguns eleitores a votar em quem está na frente.
O fato é que quem quer vencer eleição deve ficar com um olho nas pesquisas, mas o resto do corpo e da alma na campanha. Pois o caminho mais rápido para alguém que está na frente nas pesquisas perder eleição é achar que já ganhou. E o caminho mais fácil para quem aparece atrás ganhar é trabalhar para virar a pesquisa.
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