“Estou seguro de que o PT tem condições de voltar a governar o Pará, e para conseguir isto o primeiro passo é ter candidatura própria e não cometer o equívoco de apoiar a candidatura do PMDB. Por isto, as posições que defendemos em âmbito nacional, também defendemos aqui no estado.”
A declaração é de Valter Pomar (foto), o candidato da esquerda do partido a presidente nacional do PT, em eleições internas previstas para o próximo mês de novembro. Na noite desta quinta-feira ele participará do primeiro debate entre os candidatos a presidente nacional do PT, a ser realizado em Belém, no Hotel Sagres. Gráfico, qualificado pelo Senai, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, e historiador, formado e doutorado pela USP, a Universidade de São Paulo, Pomar foi secretário de Cultura, Esportes, Lazer e Turismo da Prefeitura de Campinas, de 2001 a 2004. Ele integra a direção nacional do PT desde 1997 e é o atual secretário executivo do Fórum de São Paulo, que reúne aos partidos progressistas e de esquerda da América Latina e Caribe. Valter Pomar é filho de Wladimir Pomar, fundador do PT, e neto do paraense Pedro Pomar, dirigente histórico do PC do B, o Partido Comunista do Brasil.
Pomar repele a pecha de desastroso que aderiu ao mandato de Ana Júlia Carepa, a primeira governadora eleita pelo voto direto da história do Pará. “Não concordo que tenha sido um mandato desastroso. Mas certamente teria sido melhor, se não tivéssemos dado ao PMDB de Jader Barbalho tanto espaço”, enfatiza, ao defender que no Pará o PT tenha candidatura própria, na sucessão estadual de 2014. No plano nacional, seu compromisso é a reeleição da presidente petista Dilma Rousseff, “em condições dela fazer um segundo mandato melhor do que o atual”. “Isto significa, em nossa opinião, um mandato marcado pelas reformas estruturais: reforma política via Constituinte, Lei da Mídia Democrática, reforma tributária com taxação sobre as grandes fortunas, reformas urbana e agrária, um salto de qualidade e de financiamento para as políticas sociais, com destaque para saúde, educação e transporte”, assinala. Na leitura de Pomar, a necessidade de mudanças estruturais impõe desafios ao PT. “Nosso partido tem um passado do qual me orgulho e muitos êxitos presentes. Mas temos que ser o partido do futuro, um partido conectado com as necessidades de um Brasil que pede reformas estruturais, com as urgências de uma América Latina que exigem integração regional, com os dilemas de um mundo em crise que precisa se libertar da ditadura do capital. Para ser este partido do futuro, o PT precisa reconectar com sua base social”, adverte Pomar, na entrevista concedida ao Blog do Barata, que se segue.
Quais as propostas que inspiram sua candidatura a presidente nacional do PT?
Minha candidatura foi lançada pela chapa "A esperança é vermelha", para defender três idéias fundamentais: eleger Dilma em condições dela fazer um segundo mandato melhor do que o atual, alterar a estratégia e alterar o funcionamento do partido. O segundo mandato de Dilma tem que ser melhor do que o atual. Isto significa, em nossa opinião, um mandato marcado pelas reformas estruturais: reforma política via Constituinte, Lei da Mídia Democrática, reforma tributária com taxação sobre as grandes fortunas, reformas urbana e agrária, um salto de qualidade e de financiamento para as políticas sociais, com destaque para saúde, educação e transporte, etc. Para isto ser possível, precisaremos de aliados que estejam de acordo com estas reformas. Aliado que vota e se comporta como inimigo, não é aliado. Noutras palavras, defendemos não apenas uma tática para reeleger Dilma, mas uma estratégia para mudar estruturalmente o Brasil. A estratégia implementada a partir dos anos 1990, sob comando de José Dirceu, não é adequada para o Brasil de 2013 e os próximos anos. Aquela estratégia era baseada em alianças com partidos de centro-direita e com o grande capital, tolerância frente ao oligopólio da mídia e prioridade para o institucional. Precisamos de uma nova estratégia, democrático-popular e socialista, que priorize os aliados de esquerda, que enfrente a direita e o grande capital, que democratize a comunicação e dê prioridade para a mobilização e organização social.
Uma tática e uma estratégia distintas, exigirão muito mais do PT. Nosso partido tem um passado do qual me orgulho e muitos êxitos presentes. Mas temos que ser o partido do futuro, um partido conectado com as necessidades de um Brasil que pede reformas estruturais, com as urgências de uma América Latina que exigem integração regional, com os dilemas de um mundo em crise que precisa se libertar da ditadura do capital. Para ser este partido do futuro, o PT precisa reconectar com sua base social, com a classe trabalhadora, com a juventude, com as mulheres, os negros, o movimento ambiental, indígena, lgbt. Precisa recuperar sua autonomia e sua capacidade de dirigir os mandatos, os governos e as campanhas eleitorais. Precisamos de instâncias e dirigentes que respondam à base do Partido, não que atuem como "correias de transmissão" desta ou daquela liderança. E precisamos voltar a fazer política também nos anos ímpares, não apenas quando há eleições. Se não mudarmos o PT, e rápido, seremos tragados pela burocratização, pela degeneração, pela domesticação, pela institucionalização que nos ameaçam.
Como o senhor avalia o PT hoje, passados os dois mandatos do ex-presidente Lula e diante do desenrolar do governo da presidente Dilma Rousseff?
Os dez anos de governo Lula e Dilma foram globalmente positivos para o Brasil. Estamos melhores do que estávamos sob governo FHC e melhores do que estaríamos caso Serra ou Alckmin tivessem vencido as eleições de 2002, 2006 e 2010. Entretanto, melhoramos a vida do povo, mas não mudamos as estruturas mais gerais do país. É por isto, aliás, que o ritmo da melhoria vem caindo e os problemas vem crescendo: ou fazemos reformas estruturais, ou teremos regressão política, social e econômica. Qual o efeito disto sobre o PT? Por um lado, somos o maior e num certo sentido o melhor partido do Brasil. Mas, por outro lado, somos o maior partido num ambiente político em que os partidos são rejeitados por amplos setores da população. E somos o maior partido, num contexto em que os partidos são profundamente influenciados pelo poder econômico, o que causa sobre o PT fenômenos deletérios. Traduzindo em miúdos: o PT cresceu e ficou mais forte, mas ao mesmo tempo vem perdendo aceleradamente características que são fundamentais para um partido da classe trabalhadora, para um partido que precisa ser militante, para um partido que escolheu ser socialista.Sintetizando numa imagem: um jovem que hoje tem 20 anos olha o Brasil e vê desigualdade, olha a política e vê muita corrupção, olha a presidência e vê o PT lá há dez anos. Muito facilmente este jovem pode ser capturado pela idéia falsa, segundo a qual o PT é o culpado por tudo isto que está aí. Para evitar isto, precisamos de uma política certa e de um funcionamento diferente do atual.
Na sua ótica, quais as conseqüências, para o PT, das concessões feitas pelos governos Lula e Dilma Rousseff, em termos de alianças político-partidárias, em nome da governabilidade?
Vejo três consequências.
A primeira delas é a dos rendimentos cada vez mais decrescentes, para emprestar um termo de economista. As alianças com partidos de centro-direita, se é que algum dia foram efetivamente indispensáveis e úteis, hoje são certamente muito mais ônus do que bônus. E se o país muda pouco por causa disso, o PT é afetado negativamente. É preciso dizer claramente: parte da base de apoio nominal do governo comporta-se, de fato, como oposição.
A segunda consequência é sobre o desempenho eleitoral do PT. Em troca do apoio à candidatura presidencial, o PT tem feito concessões eleitorais que reduzem seu desempenho. Ganhamos três vezes a presidência da República e nossa bancada na Câmara mantém mais ou menos o mesmo tamanho. Em muitos estados, deixamos de ter candidatos a governador e apoiamos candidaturas de setores historicamente inimigos nossos, como é o caso do clã Sarney.
A terceira consequência é sobre nossa imagem. Uma fotografia com Paulo Maluf, por exemplo, perde mais do que votos. Afeta a credibilidade do partido, cria confusão em nossa base social e eleitoral. E para um partido de esquerda, coerência pode não ser tudo, mas é muita coisa.
É importante dizer que sou a favor de alianças. E alianças se faz com quem é diferente de nós. Especialmente alianças de segundo turno. Porém, alianças tem que ser feitas em torno de programas. Quando fazemos alianças estritamente pragmáticas, na verdade estamos nos aliando em torno do programa de nossos inimigos ou adversários.
O escândalo do mensalão, que tragou ilustres lideranças petistas, não esfarinhou de modo irreversível o discurso ético do PT, que está na gênese do partido, e o nivelou por baixo, igualando o partido a prática das legendas das quais pretendia se distinguir?
Este é o desejo da grande mídia e também é a impressão de metade da população, segundo pesquisa feita por nós mesmos. Mas se a essência fosse igual a aparência, não haveria ciência, certo? De cara, estou seguro de que o mensalão não existiu. O termo pegou, foi uma invenção digamos criativa daquele deputado Roberto Jefferson, que com ela queria nos acusar de um crime contra a Constituição. Mas como ele mesmo reconheceu, nunca houve pagamento mensal de ninguém, muito menos com o objetivo de comprar votos de parlamentares. Em segundo lugar, o PT é muito maior do que as atitudes efetivamente cometidas por alguns petistas, por mais importantes que estes petistas sejam e por mais graves que sejam suas atitudes. E que fique claro que eu considero gravíssima a adoção, por parte de alguns, de uma sistemática de financiamento igual aquela que o PSDB adotou em Minas Gerais. Independente de ser ou não crime, a promiscuidade com aquele Marcos Valério e seu modus operandi foi e é algo terrível e extremamente danoso para o PT. Em terceiro lugar, há que se considerar a vida real. Na vida real, o PT é o único dos grandes partidos que efetivamente defende acabar com o financiamento empresarial das campanhas eleitorais. Enquanto houver financiamento empresarial, haverá corrupção em grande escala, porque haverá facilidade para a ação dos corruptores. Também na vida real, foi no governo de petistas, Lula e Dilma, que o Estado brasileiro reconstruiu vários mecanismos importantes de combate à corrupção. Portanto, acho que perdemos muito, mas daí a esfarinhar e ficar igual aos partidos conservadores, vai uma grande distância. O PT não é igual a direita, nem mesmo quando setores do PT se esforçam neste sentido.
Sabe-se que a política é a arte da conciliação, mas nem por isso desobriga da dignidade. Sob essa perspectiva, há como justificar a aliança dos governos petistas, com o aval do próprio ex-presidente Lula, com quadros do jaez do ex-presidente Fernando Collor?
Eu não acho que a política é a arte da conciliação. A política é a luta pelo poder, e a luta pelo poder exige conflito e conciliação. Um partido como o PT, que deseja fazer mudanças profundas no Brasil, precisa de mais conflito e menos conciliação. Conciliação demais é igual a mudança de menos; e se é para mudar pouco, ou não mudar nada, para que mesmo que precisamos do PT?
Em análise atribuída ao ex-presidente Lula, na possibilidade da conjuntura inviabilizar a reeleição da presidente Dilma, a alternativa natural do PT seria alinhar-se com a eventual candidatura do governador Eduardo Campos. O senhor concorda com essa análise?
Lula nunca disse isto. Dilma será nossa candidata em 2014. E Eduardo Campos, a preços de hoje, será um dos candidatos da oposição contra nós. Derrotado em 2014, não sei o que Eduardo Campos fará em 2018. Mas o PT terá candidatura presidencial em 2018.
Qual o balanço que o senhor faz do PT no Pará, após o desastroso mandato da ex-governadora Ana Júlia Carepa?
Não concordo que tenha sido um mandato desastroso. Mas certamente teria sido melhor, se não tivéssemos dado ao PMDB de Jader Barbalho tanto espaço. Estou seguro de que o PT tem condições de voltar a governar o Pará, e para conseguir isto o primeiro passo é ter candidatura própria e não cometer o equívoco de apoiar a candidatura do PMDB. Por isto, as posições que defendemos em âmbito nacional, também defendemos aqui no estado.
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