Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Pará: a nova fronteira do cacau no Brasil

expansão agrária

 

por Denis Kuck, da EFEpublicado 20/08/2013 

São Félix do Xingu – A produção do cacau, fruta famosa por ser a matéria prima do chocolate, reinou absoluta no estado da Bahia durante anos, mas aos poucos a espécie vem ganhando espaço na região amazônica – de onde, aliás, é originária –, e o estado do Pará já representa atualmente 25% da colheita nacional, com um incremento anual na faixa de 5% ao ano.

De olho nesta expansão e em uma demanda global que não para de crescer, a empresa de produção e processamento de alimentos Cargill, a organização ambiental The Nature Conservancy (TNC), o Ministério da Agricultura e uma cooperativa local criaram no final do ano passado em São Félix do Xingu, cidade paraense que tem duas vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro, o projeto "Cacau mais Sustentável".

O objetivo da iniciativa é combater o desmatamento, melhorar a produtividade e aumentar a renda do trabalhador, o que é possível graças a uma característica peculiar da espécie: o cacau se desenvolve melhor com luz indireta do sol, e por isso precisa de outras árvores ao seu redor, o que torna a espécie ideal para projetos de reflorestamento.

"O projeto será implementado em 100 propriedades da região. A expectativa é que cada hectare trabalhado possa render até uma tonelada de cacau por ano. Para estes produtores, o lucro do cacau pode ser maior do que o da pecuária, o que torna esta lavoura uma boa alternativa de renda e ainda recupera áreas degradadas", explica o gerente de responsabilidade corporativa da Cargill, Yuri Feres.

Uma condição para fazer parte do do projeto foi a inscrição dos participantes no Cadastro Ambiental Rural (CAR), mecanismo que a partir de imagens de satélite mapeia dentro das propriedades as áreas que precisam ser restauradas de acordo com o novo Código Florestal.

"O projeto incentiva os produtores a recuperarem áreas desmatadas ou improdutivas por meio da plantação de cacau, que pode ser feita com o auxílio de árvores nativas para produzir o sombreamento necessário para seu desenvolvimento", diz Fabio Pereira, gerente de adequação ambiental da TNC no sul do Pará.

Além disso, o projeto também ensina técnicas de manejo para a melhora da produtividade e correção de erros frequentemente empregados no cultivo do cacau, desde o início do processo até a fase de colheita e armazenamento.

Outro fator fundamental para o sucesso da iniciativa é o apoio da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão técnico do Ministério da Agricultura que desenvolve sementes de cacau resistentes a pragas. As variedades são distribuídas para os produtores que fazem parte do projeto, com o objetivo de evitar a destruição da lavoura por uma doença, como aconteceu com a vassoura-de-bruxa na Bahia.

O resultado de todo este esforço é um cacau de qualidade e de alto teor de gordura, o que o torna excelente para a fabricação do chocolate. Segundo os técnicos da TNC, apesar de a Bahia ter recuperado parte de sua lavoura, a produção neste estado não tem mais para onde crescer, ao contrário do Pará, onde ainda há muita terra e solos ricos para se plantar.

"O apoio técnico do projeto me ajudou a ter uma outra visão, hoje tenho mais conhecimento. Vim para o Pará em 1986 buscando uma terra rica para se plantar. Escolhi o cacau pois, desde aquela época, já percebia o desmatamento, um desastre muito grande, que se continuasse iria mudar tudo na região", explica o pequeno agricultor Raimundo Freires Barbosa.

O presidente da Cooperativa Alternativa de Pequenos Produtores Rurais e Urbanos de São Félix do Xingu (Cappru), Ilson Martins, lembra que quando começou a trabalhar na região, no início da década de 90, já havia uma produção incipiente no município, que quase não era comercializada.

"Não acreditavam no potencial do cacau, era difícil conseguir financiamento. Hoje a situação mudou, quase 30% da produção de São Félix é de cacau. A safra passada foi de 1.600 toneladas, e em 10 anos podemos chegar a cerca de 5.000. E com o auxílio da cooperativa, as famílias já vendem direto para a indústria, sem atravessadores", afirma Martins.

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