FOGOIÓ
Não foi barulho que acordou Fogoió, mas o silêncio. De domingo, cedo. E não era domingo. Atabalhoado, passou da hora. Os carrinhos ainda lá, guardados. Cadê todo mundo? Não tem domingo nem feriado pra empurrar o material dos camelôs pro comércio. Nem Baldo, nem Chulé. Cadê os caras? Saiu do depósito. A luz do sol deu-lhe na vista. Porra essa pasta do Pingola tá foda! Revirou o bolso e não encontrou nenhum. Vai pirangar um pão na Tivoli, se o portuga não estiver. Silêncio. Cadê os carros? Cadê a gente? Maria na esquina do Teatro Cuíra? Nada. Nem o Pamica tomando conta dos carros, podia adiantar uma ponta. Cadê todo mundo? O joelho doendo. Deus fez um arremedo de perna esquerda nele. Coxo. A vida inteira engolindo gozação, apelido. Vai lá na Banca do Alvino, quem sabe? Deserta. A Praça da República. As revistas e jornais ao vento. Tudo de véspera. Manchete: Amanhã será o fim do mundo? Babaquice. Vai nos Esportes. Papão começa a montar time para a Série B em 2013. Tá com largura! Cadê a galera? Pega um cigarro. Depois explico. Bate um vento forte. As árvores cantam e dançam. Os papéis. Caem mangas. Pega uma. Cheira. Hum. Come. Na Tivoli. Cadê o Rai? Ninguém. Nem portuga. Pula o balcão. Pega um pão cacete. Se esparrama em uma mesa. Toma um Baré. Vai no caixa. Bate. Soca. Não abre. Come outro cacete. Se farta. Bucho quebrado. Nunca se sabe. Vai até o Ver o Peso? Nem carro. Nem gente. Pelo meio da rua. Anda, não. Coxeia. Experimenta um grito. Leãããooooo!!! Ecoa. Leãããoooo!!! Vai. Ouve barulho. Alguém. Frio na barriga. Porra, é a Pantera, que também puxa da perna. A Pantera, se arrastando. E aí? Ela estende bilhetes do Carimbó da Sorte. Vai correr amanhã. Prêmio especial pro fim do mundo. Que merda é essa de fim de mundo. Vai querer? Porra nenhuma. Lá tenho dinheiro pra Carimbó da Sorte. Cadê todo mundo? Que todo mundo? Cadê o Imperador? Quem? Teu macho, porra. Macho um caralho. Sei lá. Sumiu. Sumiu todo mundo. Só nós dois. Fogoió olhou para Pantera. Cabelo cortado rente. Duas muxibas. Puxando da perna. Gambitos. A xoxota usada. Espalhada. Olhou pra si mesmo. Adão e Eva? Isso é que é o fim do mundo!
Publicado na Revista Cult/dezembro/2012
Postado por Edyr Augusto Proença às 10:27
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