Serra: o alvo é a liberdade de expressão
Confesso, faço o mea culpa: na última eleição quase, quase, quase votei em José Serra para presidente da República. Foi mesmo por um tiquinho assim.
Nunca escondi a minha enorme simpatia pelos tucanos. E sempre considerei José Serra um grande quadro – um excelente técnico e um sujeito com uma bela história de luta pela Democracia.
Além disso, prefiro cravar 45 para o Executivo. Daí que estava pronta a votar em Serra, para presidente, em 2010.
Mas aí aconteceram dois episódios determinantes para que acabasse votando em Dilma Rousseff.
O primeiro foi aquele factoide do “atentado” com uma bolinha de papel – lamentável. Simplesmente, lamentável!...
O segundo foi a rendição de Serra ao discurso mais nocivo e nauseante da direita.
Pra ser bem sincera, lá pelas tantas me senti até ofendida como mulher.
E pensei comigo: como é que pode, um sujeito com a história do Serra, com a capacidade do Serra, com os serviços prestados não só ao Brasil, mas até aos cidadãos do mundo inteiro (com o programa modelar de combate à Aids, por exemplo) fazer uma coisa dessas? Como é que ele pode renunciar a tantos princípios, apenas para chegar ao poder?
Hoje, se tivesse votado em Serra, estaria me esfaqueando umas 365 vezes por ano.
Ao orquestrar uma campanha contra as liberdades de opinião e de informação na blogosfera, e ainda por cima meter o PSDB nessa alucinação, Serra deixa patente duas características deploráveis.
A primeira é o seu caráter autoritário, incompatível, portanto, com o avanço da Democracia neste país.
A segunda é o seu extremo narcisismo, que o faz conduzir até o próprio partido a uma empreitada vexatória, para conseguir se eleger prefeito de São Paulo.
A blogosfera é um espaço liberto e libertário, infinitamente mais democrático do que a Ágora.
Aqui, todos têm direito à informação e à opinião - o que obriga a que todos também agucem a sua capacidade crítica.
Quer dizer: a blogosfera também é um espaço pedagógico, em prol da Cidadania.
Todos os dias, guerras e mais guerras são travadas na blogosfera, por milhões de cidadãos do mundo inteiro.
As armas são as palavras, a informação e, sobretudo, o bom senso - esse, sim, com enorme poder de convencimento.
Aqui, todos são donos da própria voz - uma situação oposta a dos veículos tradicionais de comunicação, onde a única voz é a voz do dono.
Daí, que opor-se a essa multiplicidade, ao direito de milhões e milhões a expressar opiniões e compartilhar informações, é, no mínimo, um contrassenso a quem diz defender a Democracia e uma sociedade mais justa.
Palavra se combate com palavra; informação, com informação; opinião, com opinião.
Se Serra se sente ofendido, por que não cria um blog?
Por que não diz aos companheiros tucanos: vamos todos criar blogs! Vamos todos pra essa grande arena, pro melhor combate que há, que é o combate ideológico! Vamos convencer, vamos conquistar!
Por que Serra e o PSDB não chegam nos blogs do Paulo Henrique Amorim e do Luís Nassif, que os tucanos acusam tanto, e dizem: olha aqui, PH, olha aqui, Nassif, tu estás errado por isso, por isso e por isso. E eu convido os leitores do teu blog a visitarem o meu blog, onde estou explicando tudo isso, com riqueza de detalhes.
Não conheço nem o PH nem o Nassif, mas tenho a impressão de que eles dariam destaque ao comentário do Serra – eu daria. Colocaria em manchete, ou “na berlinda”, como dizia o saudoso Juvêncio Arruda.
No entanto, em vez de escolher o caminho democrático, o PSDB preferiu acionar a Procuradoria Geral Eleitoral, para que ela investigue o “patrocínio” de blogs que, segundo os tucanos, recebem verbas de órgãos federais e são “meras extensões do governo e suas campanhas”, instrumentos ilegais de propaganda eleitoral, ou, como desatina a Representação, “centrais de coação e difamação das instituições democráticas”*.
Óbvio que está tudo errado, desde o fato de o PSDB embarcar na alucinação do Serra, até essa história de “centrais de coação e difamação das instituições democráticas”.
Em primeiro lugar, coação como, cara pálida, se existe um exército formidável de veículos tradicionais de comunicação, a divulgar – ininterruptamente! - as opiniões tradicionais, das tradicionais famílias deste país?
Coação como, se a internet ainda é um luxo para a maioria dos brasileiros?
Coação como, se tudo o que se faz nos blogs é informar, expressar opiniões e debater?
Desde quando opinar é coagir? Desde quando o fato de eu expressar uma opinião, obriga alguém a fazer alguma coisa?
Desde quando nós, os blogueiros, podemos “coagir as instituições democráticas”, se, muitas vezes, não conseguimos garantir nem mesmo o nosso próprio direito sagrado à opinião, vítimas que somos dessa violência inominável que é a censura, essa sim, um atentado à Democracia.
Em segundo lugar, “centrais de difamação das instituições democráticas”, de que forma, cara pálida, se os blogueiros lutam é por mais e mais Democracia, pelo fortalecimento da Democracia, por valores sagrados da Democracia, como as liberdades de informação e de expressão?
Aliás, por sua luta em defesa da Democracia, blogueiros já foram até mesmo assassinados neste país.
Então, quem atenta contra as instituições democráticas, em verdade, é o PSDB, quando busca suprimir a liberdade de opinião daqueles que não vivem a incensar os tucanos; quando busca manipular o Judiciário e o Legislativo, como faz aqui mesmo no estado do Pará.
Além disso, é muita hipocrisia do PSDB vir falar em “patrocínio” de blogs com verbas públicas, quando ele mesmo, o PSDB, derrama milhões e milhões de dinheiro público nos veículos tradicionais de comunicação, por meio das verbas de propaganda.
Ou será que o Paulo Henrique Amorim, o Nassif e tantos outros blogueiros são cidadãos de segunda classe, inferiores aos Marinho e aos Civita?
Ou será que os governos só podem anunciar na Veja e na Globo?
Anunciar nos veículos de comunicação – embora eu divirja (e muito!) dos quantitativos – é legítimo, sim.
E se é legítimo para os veículos tradicionais de comunicação, é legítimo também para os novos veículos de comunicação. Simples assim.
Trata-se, e novamente, até de uma questão de bom senso: os governos precisam se comunicar com o distinto público. E não podem fazê-lo apenas pregando cartazes nas repartições.
Então, o xis da questão não é essa história da carochinha que o PSDB quer “aplicar”; essa “preocupação” com o destino das verbas de propaganda.
Em verdade, os tucanos querem é abalar, e até quebrar, a sustentabilidade dos veículos que os incomodam, enquanto mantêm a sustentabilidade dos veículos “simpáticos”.
Isso nunca foi Democracia.
E a ânsia de suprimir as opiniões divergentes, na verdade, tem outros nomes: é fascismo, é nazismo, é autoritarismo – e todos os “ismos” ridículos registrados pela História.
Os blogs e as redes sociais são um contraponto essencial ao monopólio da informação e da opinião, desde sempre exercido pelos veículos tradicionais de comunicação.
Blogs e redes sociais constroem a informação com a ajuda de dezenas, centenas, milhares de mãos. Revelam o que se tenta ocultar. Organizam correntes de solidariedade e manifestações. E fazem com que cada indivíduo possa experimentar, ao menos uma vez, esse gostinho extraordinário da Cidadania.
É por isso que incomodam tanto e que têm sido vítimas de tantas arbitrariedades. Simplesmente, porque semeiam a pluralidade de opiniões; o direito à opinião, neste senzalão que ainda é o Brasil.
E, ao juntar-se àqueles que intentam tais violências, o PSDB só demonstra o quanto lhe fez mal o predomínio de tecnocratas.
O PSDB precisa urgentemente de povo.
Até para aprender a convencer, em vez de suprimir.
FUUUUIIIIIIIIIII!!!!!!!
...
*As aspas foram copiadas do Comunique-se.
Postado por Ana Célia Pinheiro
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