Ex-ministro afirma que papel do Estado na condução da economia resultou nas mudanças sociais ocorridas no país. Segundo ele, houve uma ruptura com modelo neoliberal
Por: Redação da Rede Brasil Atual
Publicado em 10/07/2012, 19:35
Para Dulci (ao microfone, com o presidente da CUT, Artur Henrique), se Lula tivesse mantido modelo FHC não teria alcançado resultados "tão diferentes" (Dino Santos/CUT)
São Paulo – No segundo dia de atividades do 11º Congresso Nacional da CUT (Concut), a análise sobre o modelo de desenvolvimento no Brasil a partir da eleição de Lula deu o tom do debate sobre a perspectiva para o próximo período. O ex-ministro Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência da República, atual diretor do Instituto Lula, afirmou que as mudanças iniciadas no governo anterior não têm ligação com a política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso.
“Ao contrário do que foi difundido pela direita conservadora, o que ocorreu nos anos do governo Lula foi a ruptura com o modelo neoliberal do período anterior”, afirmou Dulci. “Como um mesmo modelo teria produzido resultados tão diferentes?”, questionou, ao defender que a resistência das organizações populares e partidos de esquerda ao longo das décadas de 1980 e 1990 foi o que possibilitou pela primeira vez uma aliança por um modelo nacional alternativo. Para ele, as mudanças estruturais que aconteceram nos últimos períodos foram capazes de desmistificar falsos impasses como forma de sustentar o modelo estabelecido, a política do Estado mínimo e o sucateamento das empresas que o governo não conseguia entregar à iniciativa privada.
Mitos superados
O mito que opunha estabilidade e crescimento ficou no passado, como a ideia de que não era compatível crescer sem aumentar a inflação, acrescentou o ex-ministro. “O governo conseguiu manter o controle da inflação combinado com fortes políticas públicas de crescimento”, disse Dulci. “No período FHC, o Brasil cresceu uma média de 2%, enquanto no governo Lula crescemos o dobro, com baixa inflação e enfrentamento da grave crise de 2008”, acrescentou.
Dulci contestou também o mito de que era necessário optar pela exportação ou desenvolvimento do mercado interno. “A combinação dos dois é possível”, sublinhou, ao relembrar a ampliação das relações multilaterais do governo brasileiro com países da América do Sul, África e Oriente, além do estreitamento das negociações com os Estados Unidos e a União Europeia. “O Mercosul representa hoje para o Brasil tanto ou mais que a União Europeia, o que ajudou o país e o continente a superar a crise, por exemplo. Nem por isso foram deixados de lado a produção e o consumo internos.”
Segundo ele, o discurso neoliberal também apregoou, durante décadas, que o mercado não poderia conviver com a presença de uma política de Estado como indutor e produtor do crescimento. Outro “falso impasse”, ou “clichê”, era o de que não era possível crescer economicamente e ao mesmo tempo distribuir renda – a alegação de que era preciso primeiro fazer “crescer o bolo” para só depois verificar se era possível dividi-lo.
Segundo avaliação de Dulci, o governo Lula também desmentiu a tese da impossibilidade de desenvolver todos os setores e regiões ao mesmo tempo. “Todas as regiões do país cresceram, com uma média maior no Norte e Nordeste para compensar a desigualdade histórica. “Foi possível resgatar o papel do Estado e torná-lo capaz de desenvolver políticas sociais antes inexistentes”, defendeu. “Aquilo que não tem lucro imediato, o capitalismo não faz. Daí a importância de um Estado forte”, completou.
O ex-ministro ainda lembrou o papel fundamental do governo e dos movimentos sociais no enfrentamento à crise. “A proposta feita pela CUT ao governo de ampliação do crédito consignado no enfrentamento à crise só seria possível através dos bancos públicos. Se dependesse da Febraban, por exemplo, não seria possível baixar as taxas de juros como estamos baixando.”
Reformas
Apesar de reconhecer as mudanças vividas pelo país nos últimos anos, a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira, aponta para a necessidade de avançar em reformas estruturais para que as conquistas sejam consolidadas e enraizadas na política brasileira, tais como as reformas política e tributária. “Precisamos fazer a reforma política, senão não conseguiremos aprovar uma reforma tributária com esse Congresso que está aí”, exemplificou. Para ela, somente os trabalhadores são capazes de fazer a discussão dessas mudanças que precisam acontecer. “Precisamos ir para as ruas e forçar o país a fazer esse debate”, defendeu.
Com reportagem de Tatiana Melim, do Sindicato dos Bancários de São Paulo
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