Por: Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual
Publicado em 09/07/2012, 01:00
Artur Henrique na abertura do 11º Concut (Foto: Roberto Parizotti/CUT)
São Paulo – A CUT abre hoje (9) em São Paulo o seu 11º congresso nacional, o Concut, novamente sob a sombra de uma crise internacional que emperra o crescimento brasileiro. A maioria de seus dirigentes tem avaliação positiva dos últimos anos de gestão, mas faz críticas à dinâmica do governo na relação com o movimento sindical. "Quando se discute modelo de desenvolvimento, o PIB é apenas uma parte do problema. Estamos falando de políticas públicas, políticas sociais, combate à miséria, salário mínimo", diz o presidente da central nos dois últimos mandatos, Artur Henrique, que deixará o comando neste congresso.
Ele considera inegáveis os avanços obtidos nos últimos anos – como a diminuição da pobreza e o crescimento do nível de emprego –, mas acrescenta que é preciso avançar na discussão da chamada agenda dos trabalhadores. "Ainda continuamos um país muito desigual. Estamos diante de uma disputa de projetos. Não podemos ter retrocesso." Para Artur, nos últimos anos a CUT conseguiu consolidar uma "plataforma" para disputar um modelo de desenvolvimento do país que tenha o trabalho como eixo do debate. Outros temas não avançaram: "No começo do mandato, já apontávamos a necessidade da reforma política, da reforma tributária, da reforma agrária. Acho que isso está muito claro não só para os trabalhadores, mas para a sociedade".
No penúltimo dia do congresso, quinta-feira (12), os aproximadamente 2.500 delegados vão eleger a nova direção. E quem deve assumir a presidência da entidade pelos próximos três anos é o bancário Vagner Freitas, funcionário do Bradesco (onde começou a trabalhar em 1987, como caixa) e ex-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). Atual secretário de Administração e Finanças, ele é o candidato indicado pela Articulação Sindical, maior corrente interna entre as que atuam na central. Há boas chances de que o congresso tenha chapa única, a exemplo do que ocorreu no anterior, em 2009.
A CUT hoje
3.438 entidades filiadas
22.034.145 trabalhadores na base
7.464.846 sindicalizados
Se isso se confirmar, a CUT – que em 2013 completará 30 anos – terá seu primeiro presidente vindo do setor financeiro. Até hoje, foram três metalúrgicos (Jair Meneguelli, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, e Luiz Marinho), um professor da rede pública (João Felício) e um eletricitário (Artur Henrique). Vagner diz que a representação dos bancários cabe à Contraf e aos mais de 100 sindicatos filiados, mas cita como um dos objetivos para o próximo período "fustigar o sistema financeiro", que pratica juros altos e não financia pequenas empresas nem a agricultura familiar.
Conservadorismo
Outro front será o Congresso. Vagner avalia que a atual legislatura tem perfil mais conservador que a anterior, o que exige mais mobilização. Artur concorda. E critica também o governo, que "é muito mais ágil no atendimento de determinadas demandas do setor empresarial do que demandas dos trabalhadores ou do movimento sindical".
É essa também a visão do secretário de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney, representante da corrente Articulação de Esquerda. "A gente faz um balanço crítico do governo Dilma. A agenda dos trabalhadores está emperrada, não foi pautada pelo governo", afirma. Para ele, o Executivo não dá "a devida valorização à classe trabalhadora". Um exemplo está na atual greve dos funcionários públicos – nas universidades federais, por exemplo, a paralisação já ultrapassou 50 dias.
Os dirigentes cutistas destacam a importância de temas como a campanha pela redução da jornada para 40 horas semanais, a defesa do trabalho decente e a ratificação de convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), como a 87 (liberdade e autonomia sindical), a 151 (negociação coletiva no setor público) e a 158 (garantia contra a dispensa imotivada), além da recente campanha pela isenção de Imposto de Renda no pagamento de participação nos lucros ou resultados (PLR). Assuntos que ora esbarram na resistência da equipe econômica do governo, no conservadorismo do Parlamento ou em divergências do próprio movimento sindical. A proposta de acabar com o imposto sindical, defendida pela CUT, por exemplo, é criticada pelas demais centrais.
Enfrentamento
Diferenças de visão entre as centrais não impedirão manifestações conjuntas, observa Vagner, para quem o enfrentamento deve ser feito contra o capital e contra políticas de governo que não sejam consideradas positivas para os trabalhadores. E os sindicalistas reafirmam independência em relação ao Executivo, mas lembram que não se pode afirmar que os governos Lula/Dilma foram iguais ao de Fernando Henrique Cardoso, por exemplo. "Ali havia uma relação de enfrentamento de classe", afirma Vagner. "A CUT defende projetos para a classe trabalhadora. Se isso coincidir com alguma política de governo, melhor", acrescenta.
“Em todas as greves do governo Lula, a CUT estava à frente. Mas não ficamos em cima do muro e com medo de apoiar as medidas favoráveis aos trabalhadores", diz Artur. "A independência e autonomia da CUT perante o governo e o patrão são cristalinas. Agora, temos obrigação de negociar. A CUT sempre foi propositiva. Precisamos ter as nossas armas e fazer pressão", afirma Expedito.
O presidente da central cobra o que chama de contrapartidas sociais, relacionadas a questões como qualidade do emprego, igualdade de oportunidades e saúde e segurança. "Não há nenhum tipo de restrição de financiamento, por exemplo, a empresas que tenham práticas anti-sindicais", comenta. Além disso, diz Artur, o governo não pode ver investimentos e serviço público como despesas. "Há uma visão restritiva, de olhar apenas para a questão econômica, para os números."
Debate e Lula na abertura
No primeiro dia do Concut, a crise mundial será tema de debate, com participação do filósofo Vladimir Safatle, professor-doutor da Universidade de São Paulo (USP), do secretário-geral da Central Sindical das Américas (CSA), Victor Baez, e do assessor político sênior do comitê sindical da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Roland Schneider.
Liberdade e organização sindical, tema do congresso, serão discutidas em outra mesa, com a presença do presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), Michael Sommer, da diretora do Departamento de Relações Internacionais da AFL-CIO (principal central norte-americana), Cathy Feingold, e do secretário de Política Econômica e Desenvolvimento Sustentável da CSA, Rafael Freire.
A abertura oficial do evento, em um centro da exposições na zona sul de São Paulo, ocorrerá à noite. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou presença. O ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto, também deverá participar.
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