Coletivo Unidade dos Trabalhadores, legenda de Juan Manuel Sánchez Gordillo, integra bloco de siglas de esquerda na Espanha. Grupo político da Andaluzia se apresenta como uma organização revolucionária que busca uma sociedade sem classes. A administração de Marinaleda - cujo lema é “Uma utopia para a paz” - é o emblema do coletivo e uma mostra de que a tese pode ser posta em prática.
Guilherme Kolling e Naira Hofmeister, de Marinaleda, Espanha
Marinaleda - A Espanha tem dois partidos hegemônicos, que se alternam no poder desde a redemocratização: o Partido Socialista dos Trabalhadores (PSOE) e o conservador Partido Popular (PP), sigla do atual presidente do governo, Mariano Rajoy.
Com o objetivo de somar votos suficientes para também ter cadeiras nos parlamentos de províncias e no Congresso Nacional, as siglas de esquerda formaram um bloco nos anos 80. Assim, mantém sua identidade própria e conseguem eleger deputados que compõem os legislativos. É a chamada Esquerda Unida, ainda minoritária entre as forças políticas do país ibérico.
Mais de uma dezena de legendas integram a IU (iniciais de Izquierda Unida), entre elas o Partido Comunista. No seu estatuto, o bloco declara seu projeto para a nação: “gradualmente transformar o sistema capitalista em socialista democrático” e em um “Estado federal republicano”.
Algumas das siglas que compõem a IU são revolucionárias, caso do Coletivo de Unidade dos Trabalhadores (CUT), partido cujo porta-voz nacional é Juan Manuel Sánchez Gordillo. O CUT integra o Bloco Andaluz de Esquerdas e é declaradamente anticapitalista. Além de lutar pela soberania da comunidade da Andaluzia (que reúne as províncias sulistas), prega a emancipação dos trabalhadores, em uma sociedade sem classes. “Somos a esquerda da esquerda”, costuma dizer Sánchez Gordillo.
A administração de Marinaleda - cujo lema é “Uma utopia para a paz” - é o emblema do coletivo e uma mostra de que a tese pode ser posta em prática. O partido se organiza em assembleias locais com autonomia para definir sua linha política e eleger um representante que participa da assembleia nacional do partido.
À frente do órgão máximo do CUT, Gordillo dedica grande atenção à questão da terra, cuja solução, para ele, passa pela reforma agrária e pela regulação dos preços, hoje estabelecidos pelas multinacionais do setor de alimentação.
“É necessário mudar a política de preços, que chega a subir 1.200% entre o produtor e o consumidor. Na Espanha, a média dessa diferença é de 704%”, exemplifica o prefeito de Marinaleda, observando que o agricultor ganha pouco e as multinacionais lucram muito.
Gordillo defende uma aliança entre o agricultor familiar, os consumidores e o pequeno comércio de alimentação, com a criação de um canal público de comercialização dos produtos agrícolas. “Seria uma rede solidária de comércio, não lucrativa, com o auxílio do Estado. Falam contra a intervenção na economia, mas essa crise revelou que quando eles (bancos, multinacionais) têm prejuízos, querem o Estado para socializar as perdas. Só privatizam os lucros”, compara.
Outro tema que chama a atenção da Esquerda Unida são os subsídios à agricultura pagos pela União Europeia, que representam cerca de 20% da receita dos produtores (os outros 80% são pela venda das mercadorias).
O problema é que a ajuda toma por base a extensão da terra e não a produção. Assim, um latifundiário improdutivo pode receber mais do que um agricultor com uma plena atividade na terra. “O correto seria estimular com subsídios o produtor rural em função do número de empregos gerados e dos cuidados com o meio ambiente. E também para a produção familiar, aos que menos terra têm.”
Gordillo sustenta que ao direcionar o subsídio para o grande proprietário, que visa a exportação, a UE está na prática fazendo dumping contra os países em desenvolvimento. “Beneficia os latifundiários e quatro empresas multinacionais que controlam os preços, prejudicando a produção familiar.
Temos que romper com esse modelo, que provoca o aquecimento global, incentiva os transgênicos e ainda privatiza a natureza. Enquanto isso, desaparece um camponês por minuto no mundo”, conclui.
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