Fernando Coimbra: "Assaltante de cofres públicos" em 2010, segundo Mário Couto, ele é agora é relator de CPI
Se o mundo dá muitas voltas, meus caros, a política dá muito mais voltas que o mundo.
E bem mais rapidamente, é claro.
Que o diga o senador Mário Couto.
Precisamente no dia 9 de novembro de 2010, Sua Excelência ocupou a tribuna do Senado.
Era a primeira vez que o fazia depois das eleições de outubro, em que o tucano Simão Jatene frustou a tentativa da petista Ana Júlia Carepa de emplacar um segundo mandato.
Em meio a discurso virulento sobre o governo petista, o senador disse coisas assim:
[...] A maioria lutando para ter uma casa de telha. A maioria lutando para ter uma casa de alvenaria; a maioria, de barro e de telha. Aquele pescador que sai, muitas vezes, de madrugada, passa a noite no mar, muitas vezes, ao sol, passa o dia pegando sol, e tem o direito ao seguro-defeso, ele é roubado. Aqueles dois Deputados que se elegeram no Estado do Pará fizeram uma quadrilha: Paulo Sérgio de Souza, o “Chico da Pesca” – olha o nome, olha o nome! –, e Fernando Coimbra, dois assaltantes dos cofres públicos, roubando dinheiro dos pescadores.
Fernando Coimbra?
Ele mesmo.
Fernando Coimbra, "assaltante de cofres públicos, roubando dinheiro dos pescadores", segundo expressões do senador.
2013.
21 de maio.
Na Assembleia Legislativa do Estado, instala-se uma CPI que investigará suspeitas de que o dinheiro do Detran teria sido usado para complementar os salários de jogadores do Cuiarana, time do senador que disputou o Parazão deste ano.
Presidente da CPI: Ítalo Mácola, do PSDB.
Relator, o segundo cargo mais importante da comissão: Fernando Coimbra, do PSD, partido aliado do governador Simão Jatene e, por extensão, do senador Mário Couto.
Fernando Coimbra?
Ele mesmo.
Fernando Coimbra.
Mas qual Fernando Coimbra?
Será aquele de 2010, carimbado pelo senador como "assaltante de cofres públicos, roubando dinheiro dos pescadores", ou será um novel Fernando Coimbra, purificao, repurificado, expurgado de pecadilhos e pecados gravíssimos, se é que ele os cometeu algum dia?
Ninguém sabe.
Só quem pode explicar sobre um e outro Fernando Coimbra é o senador Mário Couto.
O Espaço Aberto tentou entrar em contato com ele e com sua assessoria no final de semana, mas não conseguiu.
O blog, no entanto, mantém-se à disposição do parlamentar para apresentar suas explicações.
Enquanto isso, disponham, abaixo, da íntegra das notas taquigráficas do Senado, que reproduzem ipsis literis os termos da alocução do senador no dia 9 de novembro de 2010.
Para quem desejar ler o original, diretamente na fonte, clique aqui.
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Secretaria de Taquigrafia
O SR. MÁRIO COUTO (PSDB – PA. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inicialmente, quero dizer da minha satisfação em retornar a esta Casa depois das eleições de 3 de outubro.
Meu dever, minha obrigação, ao subir à tribuna nesta tarde, é agradecer ao povo da minha terra, aos paraenses, homens e mulheres que tiveram a sensibilidade de dizer nas urnas que era hora de mudar. O Pará não aguentava mais. O Pará sofreu muito, o Pará regrediu. O Pará foi humilhado. O povo do Pará tombou às ruas, os bandidos tomaram conta da nossa terra, querida terra, terra produtiva, terra rica, um Pará que crescia e que foi praticamente destruído.
Quero agradecer, do fundo do meu coração, a cada um, a cada uma que acreditou nessa mudança. E quero dizer ao Brasil que, a cada eleição que passa, Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, eu vejo uma decepção. Nós estamos longe ainda de fazer uma eleição justa em certos casos. O que aconteceu no Pará em termos de “pode fazer” é impressionante. Deputados eleitos usando o seguro-defeso do pescador – já vou comentar sobre isso.
O Tribunal Superior Eleitoral deste País cumpre o seu dever. O Tribunal Superior deste País, Mão Santa, pune, mas não é só isso, meu Marco Maciel, que me olha dali. Nós precisamos, para ter uma eleição justa neste País... O poder aquisitivo de cada um ainda comanda o sucesso de cada um, meu Marco Maciel. Temos que dizer, abertamente e com coragem, que quem tem dinheiro neste País se elege mais fácil do que aqueles que não têm. Isso é certo, é indubitável!
Governadora Ana Júlia Carepa, pense em não voltar nunca mais, Governadora! A senhora destruiu o nosso Estado. O povo paraense foi bravo, foi guerreiro. Eu sentia em cada cidade por que passava a angústia desse povo. Eu sentia e ouvia o povo falar, minha nobre Governadora. Saia e não volte nunca mais!
Quero aqui, meu querido Mão Santa, fazer um pedido ao Governador eleito do meu Estado, Governador Simão Jatene, um pedido especial deste humilde Senador: não sente na cadeira da ex-Governadora quando assumir. Não sente, pelo amor de Deus! Tenho receio de que V. Exª possa pegar o vírus que está lá, o vírus da incompetência, o vírus do cinismo, da irresponsabilidade, da corrupção. Não sente, Simão Jatene! Não sente na mesma cadeira da Ana Júlia! Troque de cadeira! Se V. Exª tiver dificuldade, eu lhe dou uma cadeira de presente, mas não faça o ato de sentar na mesma cadeira da Ana Júlia.
Disse-me um eleitor ao terminar as eleição: “Chegue na tribuna do Senado e diga: Xô, satanás!” Eu não vou dizer isso a ela. É muito pesado dizer isso a uma Governadora, Senador Mão Santa. Eu não vou dizer, não quero dizer. Prefiro dizer a ela que não volte nunca mais, que esqueça o seu governo, um governo de desastre, um governo que pôs o povo do meu Estado, o meu querido Estado do Pará, um Estado cheio de riquezas e de um povo honesto, de um povo trabalhador, de um povo humilde, de um povo que sofreu por quatro anos, que foi assaltado, que foi pisoteado, que viu a corrupção todos os dias nos jornais abertamente!
É triste, mas Aquele ali, Jesus Cristo, é mais poderoso do que todos nós. E a justiça dele é maior, a justiça dele é a mais perfeita. A justiça Dele é soberana, e ele fez justiça tirando o povo paraense do sofrimento.
Meu querido Mão Santa, nem bem assumiram... Olhem, senhores e senhoras, como é o processo eleitoral neste País. Não vou sequer comentar o que o Presidente da República fez pela Dilma. Mas se você perguntar a qualquer cidadão, a um garoto qualquer quem elegeu a Dilma, ele saberá responder. Se você perguntar: “Se o Lula não fizesse o que fez pela Dilma, ela seria eleita?” Lógico que não! Lógico que não!
Como se pode dizer que neste País uma eleição é justa? E quanto à reforma política? Onde está a reforma política, meu caro Mão Santa? O Governo não tem interesse em fazer. O Governo não vai fazer. Eu vou sair deste Senado e não vou ver a reforma política entrar nesta Casa, Senador Alvaro, porque, como está, avacalhado, livre para aqueles poderosos, está bom para o Governo. O Governo faz com mais facilidade. E ainda zomba da Justiça, Senador Mão Santa! Ele ainda zomba da Justiça! Acha graça da cara dos Ministros do Tribunal Superior Eleitoral. Zomba, acha graça, faz piada dos Ministros.
Os pobres pescadores, que ganharam, após tanta luta, o direito a receber o seguro-defeso. Em meu Estado, são milhares, milhares de pescadores artesanais pobres.
A maioria lutando para ter uma casa de telha. A maioria lutando para ter uma casa de alvenaria; a maioria, de barro e de telha. Aquele pescador que sai, muitas vezes, de madrugada, passa a noite no mar, muitas vezes, ao sol, passa o dia pegando sol, e tem o direito ao seguro-defeso, ele é roubado. Aqueles dois Deputados que se elegeram no Estado do Pará fizeram uma quadrilha: Paulo Sérgio de Souza, o “Chico da Pesca” – olha o nome, olha o nome! –, e Fernando Coimbra, dois assaltantes dos cofres públicos, roubando dinheiro dos pescadores.
Como é que funciona o esquema? Você vai como qualquer pessoa que jamais na vida pegou num anzol, que jamais na vida entrou em uma canoa para pescar, em um barco para pescar. Ele pega, se for dois mil reais o seguro-defeso, pega mil e passa mil para quem dá a ele. Esses caras que recebem o seguro-defeso e não são pescadores nunca provaram o sabor, nunca provaram o que é ir ao mar; eles não sabem o que é pegar um dia de sol, eles não sabem o que é envelhecer pelo sereno, eles não sabem o que é dar o murro para criar os seus filhos. E quantos desses pescadores, coitados, saem para cumprir o seu dever, para ganhar o custo do sustento de suas famílias e, às vezes, muitas vezes, não voltam à sua casa. Em compensação, aqueles que não são pescadores ficam recebendo os seus dinheiros, que são atribuídos aos pescadores.
E ainda dizem para eu ficar calado aqui no Senado! E ainda dizem que a minha eleição vai ser prejudicada porque falo sobre o seguro-defeso! Ninguém, ninguém vai calar a minha boca! Eu não quero voto de ladrão, eu não quero voto de corrupto, eu não quero voto daqueles que tiram dinheiro dos pescadores artesanais! Pobres pescadores, desgraçados pela vida! Não quero. Não votem em mim! Esses que estão recebendo dinheiro, nunca votem em mim se um dia eu ainda for candidato a alguma coisa! Talvez não serei mais, pela decepção que tenho da vida pública.
Meu Presidente querido, este País ainda precisa de todos nós, como V. Exª, que, lamentavelmente, perdeu o seu mandato nesta eleição. Este Senado vai sentir muito a sua ausência, com a sua coragem, a sua capacidade, a sua vontade de ver um Brasil melhor.
A Polícia Federal entrou nos escritórios desses dois cidadãos, vasculhou e apreendeu tudo o que tinha lá dentro. Eu não tenho dúvidas de que eles irão para a cadeia! Dei entrada nesta Mesa, Presidente, a um requerimento de louvor ao Juiz da 3ª Vara Federal do Pará que mandou apreender os documentos e fazer uma devassa no escritório desses dois Deputados eleitos. Eleitos com um torrilhão de votos! Eleitos entre os dez Deputados mais votados do Pará, à custa dos pescadores! E eu vou me calar!? Cassem os mandatos as Assembleias Legislativas do meu Estado! Meu querido Juiz, casse o mandato e ponha na cadeia!
Eu espero, Presidente, que a minha voz seja ouvida. Eu espero, Presidente, que um dia este País possa ser mais sério. Eu espero, Presidente, que, um dia, nós, Senadores, não sejamos mais aqui, Senador Jefferson Praia, amarrados pelos braços e pelas pernas, como somos neste Senado Federal e no Congresso Federal. Não me canso de dizer que nós passamos hoje por uma ditadura política. Para que Senado e Câmara, se nós não conseguimos votar aquilo que interessa à Nação porque o que o Presidente quer a maioria faz? A maioria faz o que ele quer! O que ele quiser fazer aqui a maioria faz, a maioria aprova! Como é que queremos um País melhor se assim agimos?
A cada eleição é uma decepção.
Estou feliz. Apesar de tudo, estou feliz por nós termos conseguido, no Pará, fazer um Senador da República, Senador Flexa Ribeiro, com 1,8 milhão de votos, e tirar o quisto, e tirar aquela senhora que humilhou, que maltratou, que entregou o nosso Estado aos bandidos, que encheu nosso Estado de corrupção e, cinicamente, ainda tentou a reeleição. Se aquela senhora soubesse a desgraça que ela causou ao nosso Estado, ela não teria sequer se candidatado a Governadora do Estado do Pará.
Ao descer desta tribuna, Sr. Presidente, meu querido amigo Mão Santa, olho para aquele Cristo e digo a ele: Pai, muito obrigado, meu Pai querido, por teres tirado Ana Júlia do Governo do Estado do Pará!
Muito obrigado, Presidente.
Fonte: Blog do Espaço Aberto
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