A mais importante função da teoria nos nossos tempos é a de
historicizar a realidade, isto é, a de demonstrar como toda realidade é
produto da ação – consciente ou inconsciente – dos homens, revelar como
foi produzida, quem a produziu, para desembocar em como pode – e deve – ser desarticulada e reconstruída conforme a ação consciente dos seres humanos.
O mecanismo mais alienante de todos hoje é o da naturalização do mundo: as coisas são como são, não podem ser diferentes, a pobreza, a miséria, as catástrofes sempre existiram e sempre existirão. Os próprios pobres não querem sair da
sua pobreza. Os países pobres sempre foram e sempre serão pobres. A
riqueza é produto do trabalho, do empenho, da seriedade de alguns
países, enquanto o atraso é resultado de mentalidades retrogradas, de
gente que não gosta de trabalhar, de preguiçosos.
Não por
acaso, no auge do seu ufanismo, ideólogos do sistema capitalista
proclamaram o “fim da história”. Houve história até o momento em que
festejavam sua vitória. A partir dali
se teria chegado ao suprassumo do desenvolvimento humano – economia
capitalista de mercado e democracia liberal -, insuperável patamar da
felicidade e da realização da civilização.
O capitalismo seria o ponto de chegada natural da história e a
burguesia sua encarnação. A pós-modernidade é a teoria dessa visão. O
abandono das grandes narrativas representa a renúncia à compreensão dos
processos contemporâneos, que já não seriam nem possíveis, nem necessários. Faz parte de um ceticismo profundo, que marca esse pensamento e que contribui para o fatalismo.
A pós-modernidade se define contra a totalidade, contra a
teleologia e contra o utopismo, sob o pretexto de lutar contra o
totalitarismo e os reducionismos. Renuncia assim às grandes
interpretações de compreensão global da realidade, mais ainda aos
projetos de sua transformação. Contribuem para naturalizar a realidade.
Compreender o mundo é, sobretudo, historicizá-lo,
entender como ele foi constituído da forma que o conhecemos e como a
ação humana reproduz essa realidade. Para poder captar a forma pela qual é possível desmontar e reconstruir de outra forma essa realidade.
Dessa maneira podemos olhar a realidade não desde uma janela, como algo alheio a nós, mas como um espelho, reflexo da ação humana.
Fonte: Blog do Emir
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