Por: Paulo Donizetti de Souza, Rede Brasil Atual
Publicado em 18/04/2013, 16:10
Com a elevação da taxa Selic em 0,25 ponto percentual na reunião de ontem (17) do Comitê de Política Monetária (Copom) – de 7,25% para 7,5% ao ano –, a diferença entre a taxa oficial de juros e a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-IBGE) ainda está em seu menor patamar.
O IPCA fechou março em 0,47%, alcançando 6,59% nos últimos 12 meses (abril/2012 a março/2013), o que significa que a taxa de juro real está em 0,91 ponto. Mesmo levando-se em conta o IPCA “cheio” de 2012 (janeiro a dezembro), de 5,84%, a taxa real ainda seria inferior a dois pontos percentuais, também um feito histórico.
A Selic é a referência de remuneração paga pelo governo aos investidores que financiam o Tesouro Nacional com aplicações em títulos da dívida pública. Quanto maior a taxa real de juros, mais vantajosa é a aplicação financeira nesses títulos e menor o interesse dos detentores de grande volume de capital em fazer investimentos em infraestrutura produtiva – e maior a despesa do governo com juros pagos aos investidores.
Além disso, o custo maior do dinheiro inibe o crédito e o consumo, razão pela qual alguns economistas argumentam que a elevação da Selic é a melhor forma de conter a inflação.
Por isso, é também comum se ouvir “especialistas” defenderem que o governo precisa “cortar gastos”, pois ao reduzir despesas de seu orçamento sobra mais dinheiro para pagar as despesas com a dívida – essa sobra para pagar dívidas é o que chamam de superávit primário.
Nos últimos anos, o governo vem tentando diminuir a importância dessa fórmula – juros altos e superávit primário elevado – na condução da política econômica. A ideia é dispor de mais recursos para realizar investimentos, sobretudo em infraestrutura, e estimular o crescimento da economia.
Com a manutenção de baixas taxas de desemprego, a capacidade de consumo das famílias tem assegurado um desempenho razoável dos indicadores econômicos. Entretanto, alguns economistas defendem também que o governo promova menos a defesa do mercado consumidor interno e permita que o desemprego cresça um pouco mais, argumentando que assim se combate a inflação.
Quando há mais emprego e poder de compra dos salários, a gestão da economia promove melhor distribuição de renda, já que há mais capital remunerando o trabalho. Quando há menos empregos e o capital é estimulado não a produzir, mas a aplicar na ciranda financeira, ocorre o inverso: aumentam a concentração de renda e a desigualdade social.
Esse embate de ideias, porém, não costuma aparecer para o grande público. O que se via ontem nos telejornais eram “especialistas” afirmando que 0,25 ponto de aumento da Selic veio tarde e ainda é pouco.
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