Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Que temos de novo no cenário eleitoral paraguaio?

 

Partido Colorado é favorito para regressar ao poder nas eleições presidenciais de 21 de abril no Paraguai. Já a classe política progressista, dividida no pleito, deve voltar a realizar uma forte autocrítica que lhe permita pôr em disponibilidade novos discursos que comovam vontades majoritárias.

Lorena Soler*

Lugo ao governo do Paraguai em 2008 abriu um parêntese na longa hegemonia do Partido Colorado (Associação Nacional Republicana). Sua chegada ao poder se realizou através de uma aliança de partidos e movimentos sociais, Alianza Patriótica para el Cambio, na qual um dos sócios institucionais mais importantes foi o Partido Liberal (Partido Liberal Radical Auténtico) que habilitou uma estrutura partidária nacional. Tal presença teve como contrapartida o acompanhamento do liberal Federico Franco na fórmula presidencial, hoje o presidente golpista que governa o Paraguai desde junho de 2012. Como costuma acontecer depois da recomposição das forças reacionárias no poder (neste caso via golpe de Estado parlamentar), a melhor representada nas próximas eleições é a direita.
Por um lado, o Partido Colorado traz como candidato um empresário que, com as pesquisas na mão, apagou todas as figuras de carreira no partido. Assim, Horacio Cartes instrumentaliza o partido para aceder à presidência e se converte no outsider de um partido centenário. Possui também um poder econômico que lhe brinda muitíssima autonomia na hora de financiar uma palestra de assessores internacionais. O principal assessor (outrora comercial e agora agiornado à política), Francisco Cuadra, foi homem de confiança de Pinochet e seu secretário de governo entre 1984 e 1987. Entretanto, os milhões que gastou em sua campanha não originaram um programa de governo comunicável nem um léxico claro para os tempos da televisão. Um personagem que se sente mais à vontade em reuniões privadas, pelo incômodo de enfrentar a chuva de acusações sobre as vinculações ao comércio ilegal.
Seu principal concorrente, o liberal Efraín Alegre, então ministro de Obras Públicas e Comunicações de Fernando Lugo, é hoje o candidato de um partido que não pagou ainda o custo de ser o responsável direto pelo golpe de Estado. Seu assessor, Antonio Solá, o abastece da direita espanhola de Aznar e do Partido Popular. O candidato liberal se apresenta como homem do interior do país e sua força radica no controle político de uma parte desse território, sabendo, na campanha, se descolar do setor mais retrógrado de seu partido. O mesmo pelo qual por enquanto os cálculos eleitorais não lhe dão o esperado: a estratégia de assumir o controle do Estado mediante um golpe para depois mantê-lo via mecanismo democrático não funcionou. Tudo indica que, continuando a Aliança com o luguismo, o resultado eleitoral os colocaria vitoriosos.
No segundo pelotão se encontra o amplo campo da esquerda que durou unida o tempo em que Fernando Lugo esteve no poder. Hoje se encontram espalhadas e a fragmentação ganhou o pedido “cidadão” pela unificação. Por um lado, encontramos Mario Ferreiro – que será a surpresa nestas eleições –, um apresentador de televisão que soube mostrar sua adesão e militância e, como gosta de dizer, ouviu as pessoas por 30 anos. Escolhido por Lugo para sucedê-lo antes do golpe de Estado, seu enfrentamento final com o agora ex-presidente lhe custou a ruptura e parte do declínio dos movimentos que conformavam a Frente Guasú. A partir daí, iniciou sua nova organização partidária, Avanza País, que conta como a maior força os jovens congregados no Partido do Movimiento al Socialismo. Com soltura, habilidade e uma vestimenta moderna, mostra uma arejada facilidade discursiva, sabendo dissimular seu péssimo guarani. O único dos presidenciáveis que não exibe simbologia religiosa em seu comitê de campanha. Ante um sistema político em crise, seu continuo slogan de não pertencer à “classe política tradicional e caduca” lhe brinda um acréscimo de legitimidade. Sua candidatura conseguiu se posicionar em uma socialdemocracia que lhe permite captar votos de diversas extrações políticas e sociais.
Em segundo lugar, o médico Aníbal Carrillo pela Frente Guasú, um respeitado quadro político de esquerda com uma amplíssima e solvente carreira no campo político e popular. Entretanto, é uma figura quase desconhecida para amplos setores da sociedade paraguaia ao qual Fernando Lugo – o primeiro senador de sua chapa – não pode transferir o prestígio internacional que lhe vale ainda como ex-presidente. Preocupado por aparecer como o “verdadeiro candidato de esquerda”, seu discurso não desperta grandes expectativas nem ilusões coletivas, como soube fazê-lo seu chefe direto.
Por último, Lilian Soto pelo Kuña Pyrenda, a organização política mais interessante que a longa transição à democracia colheu. Sua experiência com as organizações sociais e um verdadeiro trabalho horizontal lhe valem a maior legitimidade e compromisso social. Foi a primeira das agrupações que liderou a denúncia e resistência ao Golpe de Estado. Entretanto, o slogan “muda de posição”, aludindo o número 69, soa demasiado transgressor para uma estrutura conservadora e machista. Os conclaves masculinos, que a esquerda também conhece bem, as excluem até dos debates televisivos.
Assim colocadas as coisas, a luta por aceder à presidência deixa muitas questões abertas. Se o partido Colorado regressar ao poder, terá que evitar os “castigos morais” sobre o eleitorado. E a classe política progressista deve voltar a realizar uma forte autocrítica que lhe permita pôr em disponibilidade novos discursos que comovam vontades majoritárias. Influenciada também pela morte de Hugo Chávez, a eleição paraguaia não é inócua e dela depende também o destino da região e do Mercosul.
* (Socióloga Universidad de Buenos Aires, Investigadora CONICET, Instituto de América Latina y el Caribe. Autora: La larga invención del golpe. El stronismo y el ordem político paraguayo, Imago Mundi/CEFIR Buenos Aires/Montevideo, 2012 ).

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