por Fernanda Dias, do Opinião e Notícia
Engajamento de pacientes com a música alivia dor. Foto: Reprodução/Internet
Ela tem sido apontada como um remédio capaz de reduzir a dor e a ansiedade. E o melhor: sem nenhum produto químico, conservante ou efeitos colaterais. Na fórmula, apenas o ritmo, a batida e as cifras. Estudos recentes mostram que a música pode ajudar a reduzir os sintomas das doenças mencionadas e auxiliar no tratamento de várias enfermidades.
Uma pesquisa feita por cientistas da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, e publicada pelo The Journal of Pain (Jornal da Dor) no fim do ano passado avaliou os potenciais benefícios da música para desviar a atenção de pacientes dos estímulos da dor. Os pesquisadores colocaram 134 pessoas para ouvir música enquanto recebiam choques na ponta dos dedos. Os participantes precisaram, simultaneamente, acompanhar as melodias e identificar sons estranhos. Os pesquisadores mediram a intensidade da dor sentida pelos voluntários por meio de eletrodos ligados ao cérebro, da dilatação das pupilas e de outros métodos. Foi constatado que a dor dos participantes diminuiu conforme eles foram sendo absorvidos pelo som. Os resultados mostraram que a música ajuda a reduzir o sintoma ao ativar vias sensoriais que competem com ele e estimulam reações emocionais e cognitivas.
Os indivíduos com altos níveis de ansiedade tiveram os melhores resultados de engajamento com a música, o que contrariou a hipótese inicial dos autores de que a ansiedade poderia interferir na capacidade de o sujeito deixar-se levar pelo som. Segundo o pesquisador David H. Bradshaw, que coordenou o estudo, o tipo de música não é tão importante e sim o quanto ela mantém o interesse do paciente.
Os médicos vêm buscando entender o poder da música em tratamentos de várias doenças há muitos anos, geralmente fazendo uso dos sons como uma maneira de distrair os enfermos preocupados e ansiosos. Há mais de cinco anos, o Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro, acreditou nos poderes da música, que desde então permanece ligada durante todo o dia no CTI, sendo desligada apenas à noite. A seleção musical é feita pela própria equipe do hospital, que opta por músicas instrumentais e eruditas. Segundo a chefe da Divisão de Terapia Intensiva do Instituto, Fernanda de Almeida Sampaio, não há comprovação científica sobre o efeito analgésico da musicoterapia, mas, no dia a dia do hospital, os especialistas observaram que houve uma substancial redução da necessidade de sedativos e analgésicos.
“A música gera uma maior tranquilidade nos pacientes e uma sensação de proximidade com a realidade. Um caso que nos chamou atenção foi o de um paciente do CTI que permaneceu grave por muitos dias, com sedativos em doses altas. Ao melhorar clinicamente e despertar, perguntarmos se ele se lembrava de algo durante o coma induzido. Ele nos respondeu que a única coisa de que se recordava era de uma música suave que ele não sabia de onde vinha, mas lhe dava uma sensação de bem-estar.”
De acordo com a professora da graduação e da pós-graduação do Conservatório Brasileiro de Música, Marly Chagas, a música só é contraindicada para pacientes que possuem epilepsia musicogênica (aversão a som). Mas, de maneira geral, é boa para todo paciente, variando apenas a intensidade e a maneira como é feito o tratamento.
“Costumo dizer que a música e os sons dão auxílio para nascer e para morrer. Há desde terapias para gestantes em trabalho de parto, já que o ritmo induz os movimentos de contração, a pacientes terminais. Também há tratamentos para dependência de álcool e drogas e desvio de atenção, entre outros.”
Segundo Marly, a musicoterapia também auxilia na amamentação, principalmente nos casos de mães de bebês prematuros. “A questão hormonal está atrelada à fabricação e excreção do leite. O que faz o alimento não descer é o medo diante das dificuldades do bebê muito pequeno. É aí que a música atua”, diz ela.
A alta do tratamento vai depender de cada caso. Uma criança que busca conseguir expressar determinados fonemas vai ser liberada assim que esse objetivo for alcançado. O mesmo é válido para quem tem problemas respiratórios e ainda para pacientes que tiveram algum tipo de trauma e que estão com dificuldade de caminhar. “O ritmo ajuda que o passo se dê. Depois que o paciente está caminhando, não precisa mais do tratamento”, explica Marly. Já em casos de Alzheimer, por exemplo, a musicoterapia ajuda a impedir o avanço da doença e é recomendada enquanto o paciente se sentir bem com o auxílio, que neste caso é complementar.
Para a especialista, a música, acima de tudo, ajuda a organizar sentimentos e expressões. “A musicoterapia possibilita que a pessoa expresse o inexprimível, além de distrair a atenção, divertir e relaxar. A atenção focada na dor e no desespero não leva a lugar algum.”
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.
(Opinião e Notícia)
Comentário do Blog: a terapia só da certo se a música for de boa qualidade. Músicas em estilo besterol, babozeira, abobrinha, chula etc, pioram o quadro clínico do enfermo, podendo levar a “ir desta para melhor ….!”
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