Mapa de Mosqueiro-Belém-Pará

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Bem-vindo ao blog do PT de Mosqueiro, aqui nós discutimos a organização e atuação do Partido dos Trabalhadores nas relações sociopolíticas e econômicas do Brasil e do Pará. Também debatemos temas gerais sobre política, economia, sociedade, cultura, meio ambiente, bem como temas irreverentes que ocorrem no Mundo, no Brasil, no Pará, mas em especial na "Moca". Obrigado por sua visita e volte sempre!

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Venezuela e Ucrânia: em cada ponta da pinça

Jeferson Miola

 

Venezuela e Ucrânia: em cada ponta da pinça

A Venezuela e a Ucrânia são duas dimensões da mesma política externa dos EUA. Cada um ocupa uma das pontas da pinça da política imperial no atual período.


Nunca antes foi tão escrachada a simbiose entre os EUA, os monopólios mundiais de comunicação e as potências europeias aliadas dos EUA. Igualmente, desde muito, os EUA não expunham o mundo à possibilidade de conflitos simultaneamente em duas regiões do planeta.
Os acontecimentos na Venezuela e na Ucrânia nos últimos meses confirmam essa perigosa realidade.
Barack Obama conseguiu o que seu antecessor não havia conseguido na farsa no Iraque em 2003 – George Bush, o “senhor das guerras”, sofreu a oposição da França e da Alemanha naquela ocupação criminosa e não autorizada pela ONU. Já o “senhor dos drones”, dessa vez, vem assegurando ampla solidariedade dos seus vassalos europeus - contando, inclusive, com a subserviência canina do “socialista” Hollande.

As capitais Caracas e Kiev estão quase 10 mil quilômetros distantes entre si. Quando, porém, o assunto são os interesses geopolíticos, econômicos e estratégicos dos EUA, a distância geográfica some e a Venezuela e a Ucrânia se parecem como gêmeos siameses – dois alvos grudados um ao outro, padecendo da mesma sorte de intervenções promovidas e/ou apoiadas pelos EUA.
Na Ucrânia, há meses os EUA apoiam, financiam e instrumentalizam muitas faunas de agrupamentos de extrema-direita: neonazistas, fascistas, antissemitas.
Derrubam o governo, afastam a Ucrânia da Rússia para aproximá-la da União Europeia e operam os interesses estratégicos e econômicos do capital norte-americano em sintonia com oligarcas locais.
Por mais crítica que seja a opinião a respeito da complexa realidade da Ucrânia, é impossível não caracterizar o ocorrido como golpe promovido pelos EUA e União Europeia em território estrangeiro.
O mundo pode estar, assim, diante de graves tensões: depois do revés imposto pela Rússia à pretensão dos EUA de guerra na Síria, a resposta estadunidense na fronteira russa é uma afronta que poderá desencadear dinâmicas preocupantes.
Na Venezuela bolivariana, a presença conspirativa dos EUA tem antecedentes históricos. É uma questão de Estado e prioridade destacada do Departamento de Estado e do Pentágono. Desde a primeira eleição de Hugo Chávez, em 1998, os EUA buscam desestabilizar o país promovendo golpes de Estado, conspirações, traições, infiltrações, sabotagem, atentados, assassinatos de civis, etc.
Com a morte de Chávez, em março de 2013, a direita venezuelana partiu para o tudo ou nada na eleição presidencial, mas foi derrotada por Nicolás Maduro.
Seguindo a estratégia de desestabilização permanente do governo, Henrique Capriles não aceitou o resultado; a despeito do testemunho de centenas de personalidades e instituições observadoras internacionais – dentre as quais o Centro Jimmy Carter – que comprovaram a lisura e a vitalidade do processo eleitoral e da democracia venezuelana.
Aproveitando as fragilidades da economia, oligopólios passaram a promover a guerra econômica e o desabastecimento de produtos de primeira necessidade. Apostaram no caos social, no desgaste do governo, na divisão do chavismo e das Forças Armadas e na vitória nas eleições municipais de dezembro passado.
Novamente fracassaram. Então, se alçaram como kamikases à atual vaga conspirativa. Dessa vez, sob a liderança ultradireitista de Leopoldo López, um golpista conhecido pelo protagonismo no fracassado golpe de abril de 2002. As técnicas terroristas empregadas são por demais conhecidas: de assassinatos à quebradeira.
É incrível como a mídia monopólica, controlada desde Washington, falsifica os fatos e produz uma narrativa esquizofrênica da realidade. Os meios de comunicação de cada país, por sua vez, replicam teologicamente as mesmas falácias e mantras, como se fossem verdades inquestionáveis e definitivas.
A Venezuela e a Ucrânia são duas dimensões da mesma política externa dos EUA. Cada um ocupa uma das pontas da “pinça” da política imperial no atual período. Essa interconexão pode mudar a qualidade da política intervencionista dos EUA na Venezuela e no conjunto do hemisfério americano.
Essa conjuntura não permite ingenuidade. O mundo não tem garantias contra as loucuras que o “senhor dos drones” poderá promover contra a Venezuela, agora encorajado pela retribuição de solidariedade dos seus vassalos europeus, agradecidos pela “ajuda” na Ucrânia.
Nunca antes nesse século as expressões imperialismo, totalitarismo midiático, autoritarismo político e fascismo estiveram ameaçadoramente presentes no nosso vocabulário como hoje.

O fracasso do socialismo de cátedra

 

Sem a contribuição da polícia com sua repressão, os socialistas de cátedra e mentores da violência só irão figurar nos noticiários sensacionalistas.


Wanderley Guilherme dos Santos

Arquivo

Socialistas de cátedra e adeptos da violência não serão capazes de promover impasses institucionais. Faltam-lhes causa reconhecida e apoio da população. Obterão alguns traços eleitorais, talvez. Nem isso, caso a repressão não coopere com eles usando da mesma selvageria. Sem a contribuição da polícia os socialistas de cátedra e mentores da violência só irão figurar nos noticiários sensacionalistas. Fracassarão.
Impasses institucionais são corolários da adesão de grupos sociais dotados de preferências intensas, uns a favor, outros contrários a pautas específicas. A solução de conflitos de tal magnitude se dá por revolução, por golpe de estado ou por negociação. O Brasil passou por alguns impasses cujas soluções variaram.
Em 1930, o conflito intra-oligárquico foi resolvido por uma revolução, isto é,  por um movimento que, no poder, transformou extensamente as instituições do País. Foi com um golpe doméstico consentido que, em 1945, removeu-se uma esquizofrênica ditadura nacional já que vitoriosa em guerra internacional contra as anti-democracias nazista e fascista. Não obstante os tremores de 1954, o suicídio de Getulio Vargas alterou drasticamente a estrutura do jogo, adiando o impasse, finalmente provocado pela renúncia de Janio Quadros: setores militares e civis se opondo à posse de João Goulart contra os legalistas liderados pelo então governador do Rio Grande Sul, Leonel Brizola. O episódio foi parcialmente superado pela negociação em torno da adoção do parlamentarismo para voltar a explodir em 1964, com a polarização da política e a quase paralisia do governo. Desta vez, o resultado foi um golpe de Estado e a implantação da ditadura militar.
Por caminhos distintos, longevas ditaduras – a de Franco, na Espanha, a do Portugal salazarista e a brasileira  - foram superadas por diferentes roteiros democráticos. Pactos formalmente firmados entre as oposições democráticas e o regime franquista obtiveram a aprovação popular (problemas de autonomias regionais à parte) e garantiram a rotação partidária no poder. Em Portugal, um golpe militar propiciou o surgimento da democracia representativa, caso bastante raro, pois, nessa trilha, o rotineiro é a substituição de uma ditadura por outra. Não tem sido diferente o infeliz destino da icônica primavera árabe.
No Brasil, frustrada a alternativa revolucionária a peso de muitas mortes, desaparecimentos e tortura, a negociação tornou-se inevitável. Naturalmente, radicais dentro e fora do Congresso denunciavam as tratativas de saída negociada do autoritarismo como traição, cooptação e outros adornos retóricos. É bem verdade, também, que muitos dos radicais andavam em busca de um general, almirante ou brigadeiro que depusesse a ditadura em vigor e lhes entregasse o poder. Comportamento mais do que farisaico, esplendidamente tolo.
Conforme o negociado e previsto, o desatar dos nós se fez por etapas: fim do AI-5, da censura, decretação de anistia e, em 1982, a primeira eleição realmente competitiva multipartidária, ainda que submetida a legislação coercitiva, para a Câmara dos Deputados. Concorreram cinco partidos: PDS (governista), PDT, PT, PTB e PMDB. Nenhum deles, à exceção do PDS, viu a participação eleitoral como recibo de adesão à boa vontade autoritária, sim como resultado de difícil processo de negociação, ameaças, idas e vindas e, em especial, a recusa de aceitar a proposta governamental (importada) de criação de um partido único com isolamento da minoria radical. Mais tarde vieram a luta pelas eleições diretas para presidente, batalha perdida, a criação da comissão de anistia, recompensando financeiramente dezenas de vítimas da ditadura, e, finalmente, já em condições de normalidade democrática, a Comissão da Verdade.
O tempo do processo não foi tão rápido quanto desejado, a anistia foi menos clara e incisiva quanto deveria e a Comissão da Verdade sofre críticas por seus ritos e absolvições. Mas a crítica só existe porque existe o fato. Nenhum ator responsável deixou de se aproveitar das aberturas que iam surgindo e muitos dos radicais no e fora do Congresso que denunciaram os negociações como colaboracionistas correram a se beneficiar das polpudas compensações financeiras postas a disposição. Mas há quem não tenha reivindicado receber, com juros e correção monetária, dezoito anos de salários não pagos, a partir da aposentadoria decretada na última lista do marechal Castelo Branco, em outubro de 1964.
Apesar dos discursos auto-laudatórios, o restabelecimento da democracia no Brasil não resultou da dramaticidade performática radical. À falta de um processo revolucionário, e recusando a tentação de um “golpe democrático”, foram os moderados que negociaram o desatar do nó autoritário. É esta mesma moderação, e chamo de moderação a tudo que não é convocatória à violência, que impedirá um impasse institucional orquestrado com intimidação e insultos pelos whiteblocs contemporâneos. O governo do Brasil é democrático e assim continuará. 

Repostado do portal Carta Maior

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Salário mínimo e o discurso catastrofista

20/02/2014 - Copyleft

Jaciara Itaim

 

Salário mínimo e discurso catastrofista

O Brasil optou por um caminho diferente do que sempre martelou a ortodoxia conservadora no quesito reajuste do salário mínimo e nada do que havia sido anunciado


Os fundamentos da política conservadora sempre demonizaram qualquer tipo de iniciativa política que viesse a questionar a estrutura que dá origem às desigualdades sociais e econômicas acentuadas em nossas terras. Há quem sustente que essa herança vem ainda da época colonial, em especial na construção da retórica a favor da manutenção da própria escravidão como base da organização da sociedade luso-brasileira.
Há mais de dois séculos atrás, o movimento abolicionista já enfrentava enormes dificuldades para se afirmar politicamente. Havia muitos obstáculos para convencer as elites da sociedade a respeito da necessidade de se romper com aquele modelo atrasado e injusto. Vale recordar que um dos principais argumentos dos defensores do “status quo” era que nosso país seria inviabilizado economicamente caso a força de trabalho tivesse que passar a ser remunerada. De acordo com tal raciocínio, os custos de produção seriam elevados a níveis que tornariam impossível a sobrevivência da Nação no cenário internacional. Uma loucura!
As forças das classes sociais envolvidas e beneficiárias do regime escravocrata retardaram o quanto puderam a entrada do Brasil na ordem econômica liberal-capitalista. A ameaça do caos iminente era o grande trunfo nas mãos dos que lançavam o discurso catastrofista a respeito da incapacidade de se promover uma mudança tão “radical”. Tanto que o longo processo que resultou na aprovação da Lei Áurea foi precedido pela proibição do tráfico, pela liberdade concedida aos descendentes de escravos nascidos aqui na colônia e aos sexagenários, entre outras medidas protelatórias. Isso para não falar na existência de práticas atuais de trabalho escravo, ainda existentes em pleno terceiro milênio!


Escravidão e salário mínimo: a oposição do catastrofismo


Esse tipo de opinião rudimentar e tosca a respeito da dinâmica das relações sociais permanece presente até os dias de hoje. O estabelecimento de medidas de recomposição de valores de referência para a política distributiva – a exemplo do salário mínimo e dos benefícios da previdência social - sempre assustaram as classes sociais mais abastadas por aqui nas terras de Pindorama. Não é por outra razão que ambas as inovações foram introduzidas por Getúlio Vargas no contexto do Estado Novo, em um complexo processo político onde as elites foram obrigadas a aceitar as imposições do então ditador.
A resistência a incorporar alterações modernizadoras nas regras de definição dos rendimentos do trabalho é uma característica também marcante por aqui. Toda vez que se discutem medidas de valorização do salário mínimo, volta uma tensão acentuada no debate político-parlamentar. E vejam que nem se trata aqui de retornar aos valores da cesta básica, tal como previsto nos instrumentos criados por Vargas na década de 1930. Isso porque segundo os cálculos do DIEESE, o valor atual do salário mínimo deveria ser por volta de R$ 2.750, com o intuito de assegurar padrão de vida similar de uma família de um trabalhador nos dias de hoje.


Houve ganho real e o Brasil não quebrou


Quando Lula venceu as eleições presidenciais em outubro de 2002, a questão do salário mínimo estava na ordem dia. Isso porque uma das suas promessas da campanha era dobrar o valor dessa remuneração ao longo dos 4 anos do mandato. Não chegou a tanto, mas se aproximou. Assim, a evolução dos reajustes anuais foi de tal ordem que saiu de R$ 200 em 01 de janeiro de 2003 e chegou a R$ 350 após 4 anos.
Em seguida, durante o segundo mandato, o governo propôs uma regra mais institucionalizada para os aumentos anuais. Assim, os valores seriam calculados pela reposição da inflação do ano anterior e um aumento real baseado no crescimento do PIB do país. Com isso, Lula terminou seu segundo mandato com um salário mínimo na faixa de R$ 510. Dilma manteve a mesma sistemática e vai encerrar 2014 com um piso da remuneração dos trabalhadores equivalente a R$ 724.
Os números sugerem que o reajuste nominal, depois de 12 anos de governo, atingiu um percentual superior a 200%. Isso corresponde a um ganho real, descontada a inflação do período, de 72% ao longo do período. Ainda que os rendimentos obtidos no sistema financeiro tenham sido muito superiores - em razão das taxas de juros estratosféricas definidas pela autoridade monetária - o fato é que a renda do trabalho também obteve ganhos reais.


Reajuste no mínimo como proteção contra a crise


Outra reivindicação histórica do movimento sindical era a referência simbólica de conquistar um salário mínimo que fosse equivalente a cem dólares norte-americanos. Essa plataforma de luta foi concretizada em um Projeto de Lei do deputado e depois senador, Paulo Paim (PT/RS). Bombardeada pelos órgãos da grande imprensa como irresponsável e populista, a proposta rapidamente foi ultrapassada pela própria realidade. A dinâmica econômica, onde se faziam presentes os reajustes do mínimo e a valorização irresponsável da nossa taxa de câmbio, fez com que o salário mínimo de 2002 (equivalente a US$ 57) superasse aquela barreira inimaginável de US$ 100 logo em 2005. Atualmente, nosso salário mínimo oficial equivale a algo próximo a US$ 300.
Ora, tais informações são mais do que suficientes para colocar por terra as ameaças chantagistas, sempre tão presentes no interior do discurso do catastrofismo. “O País não aguenta!”, “o Brasil vai quebrar!”, “o Orçamento a União não comporta!” e tantas outras manchetes e declarações de “especialistas” em economia financeira. O fato é que esse período – já superior a uma década - tem sido a evidência concreta de que uma política de redistribuição de renda pode incluir também reajustes reais no valor do salário mínimo.
Como essa remuneração oficial opera também como a referência para o estabelecimento do piso dos benefícios da previdência social, uma parcela importante da população brasileira se vê diretamente beneficiada pela regra de reajuste real. Esse processo proporciona um impulso para a manutenção dos níveis da demanda agregada interna no País e também para assegurar a própria arrecadação tributária. As famílias de renda mais baixa são as que pagam mais impostos, em termos proporcionais.
O Brasil optou por um caminho diferente do que sempre martelou a ortodoxia conservadora no quesito reajuste do salário mínimo e nada do que havia sido anunciado pelo catastrofismo se verificou. Pelo contrário, essa solução foi até importante para a saída da crise que se iniciou em 2008, pois tínhamos um mercado interno razoavelmente capaz de evitar que o País afundasse de vez na recessão.


Ampliar a pauta para outros temas “intocáveis”


Cabe agora continuar ousando em outros temas também considerados intocáveis pelo financismo, a exemplo da suposta unanimidade em torno da elevação da taxa oficial de juros. Para os oráculos da banca ela é a única saída para evitar problemas macroeconômicos. No entanto, está mais do que provado que não há risco de volta a patamares elevados de inflação, uma vez que o crescimento dos preços está monitorado e dentro da meta estabelecida. Assim, não cabe mais a receita de aumentar outra vez a SELIC na próxima reunião do COPOM, a ser realizada em 25 e 26 de fevereiro.
Outro tabu que também precisa ser enfrentado pelo governo é a “necessidade emergente” de geração de superávit primário. Trata-se de outra falácia criada pela ortodoxia conservadora, com o único intuito de assegurar recursos do Orçamento Geral da União para a realização das despesas financeiras da dívida. Leia-se: pagamento de juros e demais serviços do endividamento público. Corta-se nas despesas essenciais como saúde, educação, previdência e investimentos para gastar com a atividade parasita da esfera financeira.
Vale também lembrar a necessidade de um maior rigor do Banco Central em seu papel institucional de órgão regulador e fiscalizador do sistema financeiro. Isso significa definir patamares e limites para práticas como a do “spread” elevadíssimo praticado com a maior naturalidade pela nossa banca, com todo o apoio das autoridades públicas da área.
O Brasil não quebrou por ter adotado uma política de reajuste real no salário mínimo. Assim como também não se inviabilizou quando extinguiu oficialmente com o trabalho escravo lá atrás. Tampouco vai quebrar agora, se iniciar as mudanças necessárias nos itens mencionados acima. O que falta é coragem política e ousadia por parte daquel@s que foram eleit@s para promover as transformações tão necessárias e que beneficiem, de fato, a maioria da população.
O poder do financismo deve ser enfrentado de forma clara e aberta, sob pena de o governo permanecer eternamente refém de suas ameaças e chantagens.
(*) Economista e militante por um mundo mais justo em termos sociais e econômicos.

Sonegação dos ricos é 25 vezes maior que corrupção nos países em desenvolvimento

25/02/2014

 

No ano passado, cerca de um trilhão de dólares fugiram dos países em desenvolvimento e terminaram em paraísos fiscais. Conheça as capitais da corrupção.


Marcelo Justo

Arquivo

Londres - Uma visão muito difundida sobre o desenvolvimento econômico afirma que os problemas enfrentados pelas economias em desenvolvimento e os países pobres se devem à corrupção. Essa visão se choca com um dado contundente da realidade internacional: a China. Nem mesmo o Partido Comunista põe em dúvida que a corrupção é um dos grandes problemas nacionais, o que não impediu um crescimento médio de dois dígitos nas últimas três décadas.

No entanto, segundo Jason Hickel, professor da London School of Economics, esta perspectiva oculta um problema muito mais fundamental em termos sistêmicos para a economia mundial: a corrupção dos países desenvolvidos. Trata-se de uma corrupção do colarinho branco, invisível e refinada, que foi uma das causas do estouro financeiro de 2008.Carta Maior conversou com Hickel sobre o tema.
Segundo a Convenção da ONU sobre Corrupção, ela custa aos países em desenvolvimento entre 20 e 40 bilhões de dólares anuais. É uma soma considerável. Mas você diz que, comparativamente, a corrupção do mundo desenvolvido é muito maior e tem um impacto sistêmico muito maior. Como chegou a essa conclusão?
Jason Hickel: O presidente do Banco Mundial, Jim Kim, fez este cálculo sobre o custo da corrupção no mundo em desenvolvimento. Mas esta soma, sem dúvida importante, constitui apenas cerca de 3% do total de fluxos ilícios que abandonam os países em desenvolvimento a cada ano. A evasão fiscal é 25 vezes maior que essa soma. No ano passado, cerca de um trilhão de dólares fugiram dos países em desenvolvimento e terminaram em paraísos fiscais por meio de uma prática  conhecida como re-faturamento, através da qual as empresas falsificam documentos para que seus lucros apareçam em paraísos fiscais nos quais não pagam impostos, ao invés de aparecer nas jurisdições onde as empresas realizaram esses lucros. É claro que isso é só parte do problema. Há outras práticas como o chamado preço de transferência. As multinacionais comercializam seus produtos entre suas próprias subsidiárias para pagar na jurisdição onde o imposto é mais baixo, algo que envolve cerca de um trilhão de dólares anuais, mais ou menos a mesma coisa que o re-faturamento.
Por que a evasão fiscal é tão fácil?
Jason Hickel: Porque as regras da Organização Mundial do Comércio permitem aos exportadores declarar o que bem entendam em suas declarações alfandegárias. Isso lhes permite subavaliar seus produtos para que paguem menos impostos. Isso não deveria nos surpreender dada a ausência de democracia interna da OMC.
O poder de negociação na OMC está determinado pelo tamanho do mercado e as decisões mais importantes são tomadas em reuniões do chamado “quarto verde”, administrado pelos países mais poderosos, de maneira que o comércio mundial termina sendo manipulado em favor dos ricos.
Curiosamente, no índice mais difundido em nível global sobre corrupção, o da Transparência Internacional, se apresenta um panorama exatamente oposto, ou seja, o mundo desenvolvido sofrendo nas mãos do mundo em desenvolvimento por causa dos estragos da corrupção. Qual sua opinião sobre esse índice?
Jason Hickel: Ele tem uma série de problemas. Em primeiro lugar, se baseia na percepção da corrupção que há no próprio país. De maneira que os pesquisados não podem dizer nada sobre o que pensam acerca de outros modos de corrupção como, por exemplo, os paraísos fiscais ou a OMC. Em segundo lugar, como o índice mede mais percepções do que realidades, está exposto às narrativas dos departamentos de relações públicas.

A narrativa dominante é promovida por um complexo de organizações, desde o Banco Mundial até a USAID e passando por muitas ONGs, que centram o tema da pobreza na corrupção dos próprios países em desenvolvimento. De maneira que não surpreende que os entrevistados terminem refletindo essa visão. Além disso, os índices se baseiam em dados de instituições como o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial. Estas instituições, que representam países ricos ocidentais, tem interesse direto em manter essa narrativa sobre a corrupção.
Dois países que costumam estar na vanguarda de todas estas denúncias sobre a corrupção no mundo em desenvolvimento são Estados Unidos e o Reino Unido. Qual é a situação real destes países a respeito da corrupção?
Jason Hickel: Segundo a Transparência Internacional, os Estados Unidos estão bastante livres da corrupção. Segundo a Rede Tax Justice, em troca, os Estados Unidos estão em sexto lugar no ranking da corrupção mundial, devido ao fato de que têm jurisdições secretas que permitem que funcionem como centros de evasão tributária. Além disso, sabemos que a corrupção atravessa o sistema político estadunidense. As corrupções podem gastar dinheiro sem limites nas campanhas políticas para assegurar que seus candidatos sejam eleitos. Assim, não surpreende que mais da metade dos congressistas sejam multimilionários. E há outras formas de lobby político muito mais diretas.
Segundo a Rádio Nacional Pública, para cada dólar gasto pelas corporações em tarefas de lobby, elas obtêm um retorno de 220 dólares. E os sistemas regulatórios costumam ser capturados por gente dessas corporações que devem ser reguladas. O exemplo mais óbvio é Henry Paulson, o CEO de Goldman Sachs, que foi Secretário de Tesouro dos EUA e artífice do resgate que canalizou trilhões de dólares dos contribuintes para a banca privada.
Em resumo, as corporações abusam do Estado para seu próprio proveito, o que é a definição de corrupção da Transparência Internacional. O Reino Unido é outro grande exemplo. A City de Londres é um dos centros de funcionamento dos paraísos fiscais, de maneira que surpreende que o Reino Unido seja classificado pela Transparência Internacional como um país sem corrupção. E não é a única instância de corrupção. A privatização da infraestrutura pública, tanto do sistema nacional de saúde como a dos trens, permitiu que pessoas como o multimilionário Richard Bransen ganhassem milhões em subsídios estatais para sua empresa Virgin Trains.
Isso não elimina o fato de que a corrupção no mundo desenvolvido é real e tem um forte impacto social, econômico e institucional. Como deveria ser um índice neutro e justo sobre o tema da corrupção?
Jason Hickel: Certamente que a corrupção no mundo em desenvolvimento é real e não deve ser subestimada como problema. Mas é importante concentrar o olhar em formas de corrupção ocultas. No momento, o mais próximo que temos de um índice objetivo é o elaborado pela Rede Tax Justice. Neste índice, o ranking é elaborado considerando países responsáveis por ocultar cerca de 30 trilhões de dólares de riqueza em países fiscais. Se você olhar a lista verá que os países que encabeçam o ranking são Reino Unido, Suíça, Luxemburgo, Hong Kong, Singapura, Estados Unidos, Líbano, Alemanha e Japão. Estes são os principais centros de corrupção que devemos enfrentar.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

O outro Rio

 

Seis mil pessoas superlotaram a quadra do Salgueiro no Encontro do PT, para aprovar o lançamento da candidatura de Lindberg Farias ao governo do Estado.

por Emir Sader em 23/02/2014


Emir Sader

6 mil pessoas, na sua quase totalidade da Baixada Fluminense, do interior e dos bairros pobres do Rio, superlotaram a quadra do Salgueiro no Encontro do PT, para aprovar o lançamento da candidatura de Lindberg Farias ao governo do Estado.
A primeira das extraordinárias impressões é a composição eminente popular dos presentes, aquelas caras inivisibilizadas pela mídia. Caras humanas, de homens, mulheres, jovens, crianças, idosos, que encontramos nas ruas, mas nunca nas novelas, nem nos noticiários da televisão e dos jornais.
São os cariocas que enfrentam horas por dia no trânsito, que vivem mal, com desconforto e com insegurança, com precário atendimento de saúde, que presenciam as prioridades dos governos se concentrarem na zona sul da cidade. Que se sentem excluídos, são vítimas das políticas dos governos e não seus beneficiários.
Foi com esse povo que o PT aprovou a candidatura do Lindberg pra governador do Rio, na reunião mais expressiva que o partido já realizou. Uma candidatura que foi amadurecendo ao longo do tempo, superando as feridas de intervenções e alianças impostas ou assumidas meio a contragosto.
Agora o PT se apresenta de cara limpa, jovem, combativa, criativa, ampla, propondo ao povo do Rio que lhe dê a oportunidade de governar o Rio. Com a mesma prioridade das políticas sociais que caracteriza as profundas transformações que o Brasil do Lula e da Dilma tem realizado há mais de 10 anos. Que o Rio se integre plenamente a esse movimento extraordinário.
O Encontro do PT foi a mais importante reunião que o o partido já realizou no Rio também porque porque fecha uma fase de baixo perfil do PT no Rio, por um acúmulo de circunstâncias. Mas não se trata de que o PT esteja bem, mas de que o resgate do PT só possa existir com o resgate do Rio para as políticas com os governos nacionais do PT resgatam o Brasil.
As propostas adiantadas pelo Lindberg apontam o caráter radicalmente inovador que seu governo pretende ter, caso triunfe. A começar pela prioridade do social, explícita nas inserções do PT na mídia, dando ao transporte – em que o Rio tem um desempenho particularmente ruim, -  mas colocando a educação como centro do seu projeto. O resgate dos Cieps, como caminho para a educação em tempo integral em toda a rede pública, por si só, define a centralidade da educação e da esfera pública – a esfera dos direitos, contra a esfera mercantil -, como eixo do programa de governo.
O compromisso com ter um programa do Mais Medicos específico pro Rio de Janeiro representa a extensão e o aprofundamento do programa federal, de enorme sucesso e receptividade por todo o Brasil. Porque o Rio não é menos carente em saúde publica do que outros estados, apesar dos índices de desenvolvimento superiores do estado.
Mas nenhum programa tem consistência se não for acompanhado do apoio popular e da disposição de participação popular. O projeto de Orçamento Participativo se compromete a realizar no Rio a democratização do Estado e das suas relações com a cidadania, indispensáveis a um governo que não quer apenas governar para o povo, mas também com o povo.
A campanha apenas começa, mas as primeiras indicações são de que o caminho escolhido pela candidatura de Lindberg é o correto: as caravanas, as inserções na mídia, as propostas elaboradas coletivamente, a mobilização popular. Tudo parece indicar que o a conquista dos setores populares do Rio, desse povo transformado pelos governos Lula e Dilma está aberto.
Entre os desafios, a busca do diálogo e da participação da juventude, dos estudantes, dos artistas, dos intelectuais, entre outros setores ainda não integrados da população do Rio. São setores importantes para galvanizar a opinião pública, para estender ao conjunto do estado do Rio a campanha, a mensagem democratizante e inovadora do Lindberg.
Nenhum candidato como ele tem condições de conseguir essa sensibilização que cruza a amplos setores sociais. Não apenas por sua trajetória – nordestino, líder estudantil, prefeito, senador, com grande carisma pessoal. A incorporação de outros temas como, por exemplo, a transformação do Rio em território livre do analfabetismo em 4 anos, um programa agrário que torne o Rio autossuficiente em alimentos, a retomada dos Pontos de Cultura, entre outros podem favorecer esse dialogo. A própria elaboração coletiva, ouvindo a população nas caravanas e em constantes reuniões com distintos setores sociais, favorece a construção do programa que permita construir um Rio para todos

Repostado do portal Carta Maior

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Caça as Bruxas (os) da SESMA

Caça às Bruxas da SESMA 1

Caça às Bruxas da SESMA 2

Um Governo que mesmo eleito democraticamente, mas com perfil neoliberal e autoritário, uma secretária de saúde imcompetente e sem visão administrativa assessorada por um séquito de “especialistas” e “DAS”que só querem realmente ter seu “lugar ao sol” garantido durante a farra que está sendo a administração de prefeito Zenaldo “não sou mágico” Coutinho, só pode mesmo acontecer isso, pelo descrito na Instrução Normativa acima descrito, basta que você não tenha uma boa relação com seu “superior hierárquico”(Gerente de Unidade, Diretor de Hospital etc…)para que você seja disponibilizado para o setor de RH, com as consequencias que todos podem prever, (perseguições politico-partidária, achaques, ameaças e por vai…)tudo devidamente justificado por uma “instrução Normativa” ou seja lá o nome que queiram dar a essa monstruosidade que pode ser tudo menos uma forma de ajudar o quadro de funcionários dos vários departamentos da area de saúde do municipio de Belém, isso só vai gerar mesmo é uma caça aos que não concordam com a forma que a SAÚDE VEM SENDO CONDUZIDA EM NOSSA CIDADE, esperamos que os sindicatos estejam atentos a mais essa perseguição.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Uma aula de Venezuela e um pito na Globo, em plena Globo

ENTRE ASPAS

 

Em debate na Globonews, Igor Fuser, professor de Relações Internacionais da UFABC, explica a crise, derruba o mito da ‘falta de liberdade’ no país vizinho e desnuda a parcialidade da imprensa

por Paulo Donizetti de Souza, da RBA publicado 19/02/2014

 

Igor

Igor: "Em 15 anos de chavismo nunca vi uma notícia positiva. Será que os venezuelanos são burros"?

São Paulo – O professor de Relações Internacionais da USP José Augusto Guillon e a apresentadora Mônica Waldvogel, do programa Entre Aspas, da Globonews, chegaram ao limite da gagueira, ontem (18), durante debate a respeito da crise na Venezuela com a participação do jornalista Igor Fuser, do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC). O debate começa dirigido, ao oferecer como gancho para a discussão a figura de Leopoldo López, o líder oposicionista acusado de instigar a violência nos protestos das últimas semanas, e preso ontem.

Diz a narração de abertura: “Ele é acusado de assassinato, vandalismo e de incitar a violência. Mas o verdadeiro crime de Lopez, se podemos chamar isso de crime, foi convocar uma onda de protesto contra o governo de Nicolás Maduro. Protestos seguidos de confrontos que deixaram quatro mortos e dezenas de feridos”. E segue descrevendo que a violência política decorre da imensa crise no país – inflação, falta de produtos nas prateleiras, criminalidade em alta. Ainda no texto de abertura, na voz de Mônica, o governo é acusado de controlar a economia e a Justiça, pressionar a imprensa e lançar milícias chavistas contra dissidentes. E encerra afirmando que Leopoldo Lopez, na linha de frente, reivindica canais de expressão para os venezuelanos, e abrem-se as aspas para Lopez: “Se os meios de expressão calam, que falem as ruas”.

Do início ao fim do debate, com serenidade e domínio sobre o assunto, Igor Fuser leva a apresentadora e o interlocutor às cordas. Reconhece as dificuldades políticas do presidente Nicolás Maduro e a divisão da sociedade venezuelana. Mas corrige os críticos, ao enfatizar que o país vive uma democracia, e opinar que a campanha liderada por López é “golpista”, ao ter como mote a derrubada do governo legitimamente eleito com mandato até 2019.

Fuser informa que em dezembro se cristalizou um processo de diálogo entre governo e oposição, então liderada por Henrique Capriles, derrotado nas duas últimas eleições presidenciais por margem muito pequena de votos. E que a disposição ao diálogo levou a direita mais radical a isolá-lo, permitindo a ascensão de figuras como Leopoldo López. Indagado se não seria legítimo as manifestações da ruas pedirem a saída do governo, como foi no Egito ou está sendo na Ucrânia, o professor da UFABC resume que as manifestações na Ucrânia são conduzidas por nazistas, e no Egito a multidão protestava contra uma ditadura. Lembra que na Venezuela houve quatro eleições nos últimos 15 meses, que o chavismo venceu todas no plano federal, mas que as oposições venceram em cidades e estados importantes, governam normalmente e as instituições funcionam, e que a Constituição é cumprida.

Questionado sobre a legitimidade da Constituição – que teria sido sido aprovada apenas por maioria simples – informou que a Carta, depois de passar pelo Parlamento, foi submetida a referendo popular e aprovada por 80% dos venezuelanos – o que inclui, portanto, mais da metade dos que hoje votam na oposição. E à ironia dos debatedores, de que seria paranoia das esquerdas acusar os Estados Unidos de patrocinar uma suposta tentativa de golpe, esclareceu: os Estados Unidos estiveram por trás de tantos golpes da América Latina – na Guatemala nos anos 1950, no Brasil em 1964, no Chile em 1973, na própria Venezuela em 2002 – que não é nenhum absurdo supor que estejam por trás de mais um. E que também não é absurdo, em nenhum país do mundo, expulsar diplomatas que se reúnem com a oposição como se fossem dela integrantes.

O jornalista desmontou também os argumentos de que o país sofre de ausência de liberdade de expressão. Disse que o governo dispõe, de fato, de jornais, canais de rádio e de televisão importantes, mas que dois terços dos veículos de imprensa da Venezuela são controlados por forças oposicionistas. E que o que existe na Venezuela seria, portanto, a possibilidade de contraponto. E Fuser foi ferino no exemplo dos problemas que a ausência de diversidade nos meios de comunicações causam à qualidade da informação: “Sou jornalista de formação e nunca vi nem na Globo nem nos jornais brasileiros uma única notícia positiva sobre a Venezuela. Uma única. A gente pode ter a opinião que a gente quiser sobre a Venezuela, é um país muito complicado. Agora, será que em 15 anos de chavismo naõ aconteceu nada positivo? Eu nunca vi. Não é possível que só mostrem o que é supostamente ruim. Cadê o outro lado? Será que os venezuelanos que votaram no Chávez e no Maduro são tão burros, de votar em governo que só faz coisa errada?”

Vale a pena assistir aos 26 minutos de programa. Essa crítica à Globo em plena Globo está nos dois minutos finais.

E fecha aspas! Fecha aspas!

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Em dez anos, seis em cada dez brasileiros estarão na classe média

 

Segundo Data Popular e Serasa Experian, a chamada 'classe C' (hoje 54% da população) tem poder de compra superior ao de 17 países, consome mais de R$ 1 trilhão por ano, e continuará em ascensão

por Rodrigo Gomes, da RBA publicado 18/02/2014

classe c

Crescimento e potencial de consumo da classe média pode ser melhor aproveitado pelo mercado aponta estudo

São Paulo – Mais 17 milhões de brasileiros devem subir um degrau da pirâmide estatística em direção à chamada classe média nos próximos dez anos. A estimativa foi divulgada hoje (18) pelo Instituto Data Popular e pelo Serasa Experian e é parte de um estudo que sustenta, ainda, que quase seis em cada dez brasileiros (58%) irão compor a denominada “classe C”. Atualmente, essa parcela da população tem um poder de consumo anual superior a R$ 1 trilhão, capacidade hoje superada por apenas 17 países do mundo.

Os institutos consideram “classe média” os domicílios cuja renda esteja entre R$ 320 e R$ 1.120 por membro da família. Uma família com um casal e dois filhos, por exemplo, é considerada estatisticamente de classe média se somar ganhos mensais de R$ 1.280 a R$ 4.480. De acordo com dados oficiais mais recentes, o Brasil tem hoje 54% da população nessas condições. Nos últimos dez anos, o número de pessoas incorporadas a essa camada da pirâmide cresceu em todas as regiões do país – 7% no Sul, 10% no Sudeste, 17% no Centro-Oeste, 19% no Norte e 26% no Nordeste.

Segundo o estudo, de R$ 1,17 trilhão gasto por este povo no ano passado, R$ 223,3 bilhões foram com itens de alimentação. O valor equivale ao consumo de toda a população de Bolívia, Paraguai, El Salvador e Uruguai. Outros R$ 71 bilhões foram investidos em saúde. E mais R$ 61 bilhões em vestuário.

O presidente do Serasa Experian, Ricardo Loureiro, explicou que o objetivo do estudo Faces da Classe Média é oferecer subsídio para melhorar as estratégias das empresas na oferta ao consumidor. “A economia vem crescendo. Há algumas dificuldades, mas ainda há um potencial surpreendente que os empresários podem explorar com mais eficiência”, avalia. Durante um ano foram ouvidas 3 mil pessoas de 150 municípios brasileiros e analisados os dados de 800 mil cadastros do Serasa Experian.

Para este ano, a classe média pretende consumir, com base no questionário do trabalho, 8,5 milhões de viagens nacionais e 3,2 milhões de internacionais. Outros 7,8 milhões de notebooks e 3,9 milhões de smartphones devem ampliar a população de conectados. Além desses bens de caráter individual, espera-se a aquisição de 7,8 milhões de móveis residenciais (traduzido como qualidade de vida), 6,7 milhões de aparelhos de televisão, 3 milhões de automóveis e 3,9 milhões de máquinas de lavar.

Este último item exemplifica as possibilidades que o estudo busca apontar. “Ainda há um potencial muito grande de consumo que não foi revelado. Metade da população ainda não tem máquina de lavar, por exemplo”, explica Loureiro.

Grupos econômicos

Para o presidente do Serasa Experian, não é mais possível tratar a classe média como um todo homogêneo. “A perspectiva do estudo é mostrar as características dos diferentes segmentos que a compõem. É um trabalho pioneiro no mundo e fomos capazes de identificar quatro grupos distintos”, disse. O levantamento traça quatro perfis, apontando ideais, desejos e comportamento dessa população. Foram usadas 400 variáveis, como perfil demográfico, estilo de vida, características do domicílio e localização geográfica, entre outros.

Os resultados dividiram o grupo social classe média em quatro segmentos: promissores, batalhadores, experientes e empreendedores.

Os promissores são 19% desse contingente (14,7 milhões de pessoas). Têm em média 22 anos, 59% possuem ensino médio completo e almejam o ensino superior. Adotam um ideal do tipo “trabalho duro para ter algo na vida”. Acessam a internet regularmente 72% deles e 51% consideram que se descontrolam ao utilizar o crédito. Gastam cerca de R$ 230 bilhões anualmente. Sua propensão ao consumo está voltada à educação, tecnologia, veículos, beleza, móveis e entretenimento.

Os batalhadores são pessoas que, em geral, passaram grandes dificuldades na vida e valorizam o que conseguiram. A maior parte deles é imigrante, ou seja, não vive em sua cidade natal. São pessoas com média de 40 anos e ensino fundamental completo. É o maior grupo, com 30,3 milhões de pessoas (30% da classe média). E o que mais compra a crédito: 68% parcelam as compras sempre que podem. É um grupo que passou a ter possibilidades de consumo nos últimos dez anos. E consome cerca de R$ 389 bilhões ao ano, sobretudo em imóveis, veículos novos, seguros, turismo nacional e eletrodomésticos.

“A vida melhorou muito. Antes era muito sofrido” é a frase síntese do grupo dos experientes. Um segmento em que 65% das pessoas já passou fome em algum momento da vida. Compreende 20,5 milhões de adultos (26% da classe média). Tem o maior número de mulheres, 58%. E 36% são trabalhadores autônomos. São considerados os mais conservadores, tanto nos valores quanto no consumo (65% sempre escolhem o produto mais barato). Esse segmento gasta anualmente R$ 274 bilhões, principalmente com móveis, saúde e turismo.

Por fim, a classe alta da classe C: os empreendedores. Este grupo tem boa perspectiva de subir para as classes B ou A. É o menor segmento, com 11,6 milhões de pessoas (16%). Destes, 78% são homens, com idade média de 43 anos, e 19% tem ensino superior completo. Seus grande interesses são: educação profissional, tecnologia, eletrônicos, veículos e turismo internacional. Possuem um potencial de gasto de R$ 276,3 bilhões por ano.

Condição de renda, não social

O estudo define três níveis de classe C: com renda per capita entre R$ 705 e R$ 1.120 (C1); entre R$ 485 e R$ 705 (C2); e de R$ 320 a R$ 485 (C3).

E considera na classe B famílias com renda per capita entre R$ 1.120 e R$ 2.728 e a classe A, acima disso. Já a classe D ganha entre R$ 89 e R$ 320. A classe E é a que tem renda média de R$ 89 por pessoa da família.

Sobre os parâmetros de renda, o presidente do Data Popular, Renato Meirelles, explica que o estudo aponta dados sobre consumo e não de condição social. “Não é um coisa do Brasil. O mundo todo é desigual. Metade das famílias brasileiras tem renda per capita de R$ 513. E os 5% mais ricos se destacam a partir de R$ 2.450 por pessoa da família. Então este é o parâmetro”. No mundo, segundo dados do Banco Mundial, 54% da população vive com renda inferior a R$ 320 mensais.

Repostado do portal Rede Brasil Atual

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Camisa do Remo está entre as mais bonitas do mundo

Camisa do Remo está entre as mais bonitas do mundo

A camisa azulina da temporada 2013 está na 9ª colocação no ranking


Por: Fábio Will, estagiário, sob supervisão de Elisângela Soares (ORM News)

A camisa de um clube de futebol é tratada como um ‘manto’ por seus torcedores. Aqui no Pará não é diferente, mas a torcida do Remo, em específico, teve uma surpresa nesta terça-feira (11). 

Segundo o site GOAL, a camisa do Remo da temporada 2013 feita pela fornecedora de material esportivo Umbro, está entre as dez camisas mais bonitas do mundo.  A camisa azulina ocupa a 9ª posição, em um seleto grupo que possui entre os outros uniformes, a do Barcelona (ESP), Peñarol (URU), Juventus (ITA) e Manchester City (ING). A camisa do time paraense aparece à frente do Chelsea (ING), clube tradicional europeu. 

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

O torcedor Alex Mafra, que ajudou a criar uma campanha de conscientização para os torcedores, acredita que pode melhorar a forma com que o remista vai vestido ao estádio. ‘Acredito que a notícia da camisa do Remo ter sido eleita como uma das dez mais bonitas do mundo, pode sim, melhorar a questão do uso dela de forma maciça pelos torcedores do clube; claro, necessitando também de uma ampla divulgação do clube através dos veículos de comunicação’, disse Mafra, que participou do início da campanha ‘Jogo do Remo = Camisa do Remo’, iniciada em 2008 com o grupo Remistas em Ação.

Os integrantes do grupo andavam com uma faixa nos estádios, pedindo para que o torcedor usasse a camisa do Remo, em detrimento à camisas de outros clubes. ‘O interesse da diretoria em não permitir a entrada de pessoas com camisas de outros clubes é um reforço à campanha feita por nós, em 2008’, finalizou. 

Foto: Alex Mafra/ Arquivo pessoal

Foto: Alex Mafra/ Arquivo pessoal

Dentro de campo a equipe remista terá o Paragominas pela frente nesta quinta-feira (13), às 21h30, na Arena Verde, válido pela Copa Verde. A partida marca a estreia das duas equipes na competição e terá acompanhamento pelo ORM News

Veja a lista das dez camisas mais bonitas do mundo segundo o site GOAL

1º  Peñarol (URU)

2º  Los Angeles Galaxy (EUA)

3º  Fenerbahce (TUR)

4º  Juventus (ITA)

5º  Cerro Porteño (PAR)

6º  Barcelona (ESP)

7º  Coritiba (BRA)

8º  Manchester City (ING)

9º  Clube do Remo (BRA)

10º  Chelsea (ING)

Nota do Blog: E comer carne de Mucura de 3ª no tucupi, como faremos mais tarde é ainda mais gostoso, a camisa é linda mesma , o azul é mais azul e ter a maior torcida do norte ajuda também….

Os 30 anos de ódio ao MST nas páginas de Veja

 

O que os ataques e silêncios da revista sobre o maior movimento social brasileiro revelam sobre a história recente da política brasileira


Najla Passos

reprodução

O ódio da mídia ao MST acompanha os 30 anos do movimento, desde a sua fundação, em janeiro de 1984. Mas o padrão de manipulação usado para tentar fraudar a imagem do movimento muda bastante, acompanhando a conjuntura e tentando tirar proveito dela. Prova é a forma com que a maior revista do país, a Veja, teceu a trajetória do MST em suas páginas: primeiro com a tentativa de cooptação, depois com total invisibilidade, até a campanha permanente de criminalização, que oscilou da associação com o perigo comunista, herdada da ditadura, à acusação de terrorismo, no período pós 11 de setembro. Nos últimos anos, uma nova condenação ao ostracismo, acompanhada pelo conjunto da mídia, garantiu a retirada do tema reforma agrária da pauta nacional.
O MST foi fundado no bojo do mesmo desejo de democracia que levou às ruas a Campanha das Diretas Já, como um movimento pacífico de luta pela terra. Mas o esforço dos companheiros que tentavam retomar a pauta da reforma agrária, interrompida com o deposição de João Goulart em 1964, não mereceu nem mesmo uma linha nas páginas da revista. Isso só viria a acontecer em junho do ano seguinte, quando José Sarney já havia herdado de Tancredo Neves o posto de primeiro presidente civil pós-ditadura, e acabava de lançar um pacote para viabilizar uma espécie de reforma agrária que jamais sairia do papel.
Assumindo para si um papel nunca a ela delegado de mediadora do “pacto social” que Sarney propunha ao Brasil polarizado, Veja defendeu o pacote na reportagem de capa “Reforma Agrária – os fazendeiros se armam”, de 19 de junho de 1985. O MST, que não apoiava a proposta, aparecia como um movimento localizado apenas em Santa Catarina, sem respaldo suficiente para se tornar um grande interlocutor do governo em relação ao tema.
O movimento voltou a ser capa da revista quando o país já se deparava com as falsas promessas de desenvolvimento do neoliberalismo, defendido com veemência pela revista. O alagoano Fernando Collor de Mello, lançado nas famosas páginas amarelas como o Caçador de Marajás,  havia ganhado a primeira eleição presidencial pós-ditadura, prometendo abertura às importações e diminuição das funções do Estado, em contraposição ao sindicalista Luiz Inácio da Silva, que defendia pautas mais sociais, como a bandeira da reforma agrária do MST.
No dia 15 de agosto de 1990, a Veja publicou sua primeira reportagem atacando frontalmente o MST. Na foto de capa, um único sem-terra, “armado” com sua foice, aterrorizava um exército de policiais armados com escudos, cassetetes e revólveres. Inaugurou ali a utilização do clássico termo “baderna”, com que até hoje descreve as ações do movimento.  Depois disso, a revista se calou acerca do MST, que continuou crescendo, a ponto de se transformar no maior movimento social brasileiro.

Ostracismo midiático
Em 1994, na corrida presidencial que contrapunha o sociólogo Fernando Henrique Cardoso e novamente o operário Lula, o MST começou a ganhar espaço em outros órgãos de imprensa. A Folha de S. Paulo, em 1994, publicou 40 matérias sobre o MST. Em 1995, já com Fernando Henrique na presidência, foram 450. A Veja, porém, continuou firme no seu propósito de condenar o movimento ao ostracismo e, assim, manter longe da agenda nacional a pauta da reforma agrária. Duas grandes tragédias, porém, lançaram nova luz sobre o movimento: os massacres de Corumbiara e de Eldorado dos Carajás.
Em 9 de agosto de 1995, 355 sem-terra foram presos e torturados, 125 ficaram gravemente feridos e nove morreram, incluindo a pequena Vanessa, de 6 anos. Eles não eram ligados ao MST, mas a imprensa não fez esta distinção ao tratar do caso. O assunto ganhou repercussão internacional. Ainda assim, Veja resistiu o quando pode. Só foi noticiar o massacre quase um mês depois, na edição de 6 de setembro. A matéria “Executados, torturados e humilhados” apresentava o tom de indignação que tomava o mundo e não fazia alusões ao MST.
Em 17 de abril de 1996, 21 sem-terra ligados ao MST foram brutalmente executados e 51 ficaram feridos, no Massacre de Eldorado dos Carajás. O crime causou comoção mundial e a Veja não pode mais ignorar o movimento. Na edição de 24 de abril, a revista era pura indignação. A própria capa já era uma denúncia contra a atrocidade, com a exibição de um trabalhador rural assassinado com um tiro na nuca.
Na reportagem, Veja trouxe pela primeira vez a menção a um Brasil arcaico e um outro moderno, a partir de uma analogia usada dias antes pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo a revista, “como um sociólogo debruçado sobre personagens de uma tese acadêmica, e não pessoas de carne e osso, com sonhos de um futuro melhor, filhos pra criar e uma vida para tocar, Fernando Henrique classificou os sem-terra e a PM de presentantes do ‘Brasil arcaico’, em oposição ao ‘moderno’, do qual se considera representante, talvez condutor”. Mas se a matéria principal tecia uma das raras críticas da publicação ao presidente e se mostrava solidária aos sem-terra, o box intitulado “O Sindicato-partido do MST” fazia o oposto, ao afirmar que o movimento era armado e tinha tradição de enfrentar a polícia.
Alvo prioritário
Após 1996, durante o império do pensamento único, a Veja transformou o MST em seu alvo prioritário. De acordo com a pesquisadora Carla Silva, no livro “Veja: o indispensável partido neoliberal”, as investidas contra o movimento superaram até mesmo os ataques ao PT e a igreja combativa. “Neste caso [do MST] não há uma tentativa de cooptação ou de diálogo, como se vê em relação ao PT, a quem a revista busca em vários momentos apontar linhas de ação. Também não há uma visão despolitizada como a Renovação Carismática colocada em oposição à CNBB. No caso do MST, a crítica é permanente”, registrou ela.
Na edição de 16 de abril de 1997, “A marcha dos radicais – quem são e o que querem os sem-terra” apresentava o movimento como o retrato mais perfeito do Brasil arcaico de que falava FHC em 1995 – e que até a própria Veja condenara. Os sem-terra eram apresentados como um povo inculto e atrasado, tal como os beatos seguidores de Antônio Conselheiro que desafiaram a República a se lançar na Guerra de Canudos. “Representantes de um Brasil Arcaicao, descalços, dentes ruins, bicho-de-pé e pouco estudo, os sem-terra invadem propriedades, desrespeitam a lei e enfrentam a polícia. Já morreram e mataram nesses conflitos. Parecem um pouco os fanáticos do beato Antônio Conselheiro”, pregava a revista.

Em outro momento, a reportagem acabava por revelar o porquê do seu ódio ao MST, considerado por ela a única oposição, de fato, ao governo FHC, após o que classificava de “desmoronamento da oposição sindical, da oposição de esquerda (PT e Lula) e também da de direita (o PPB de Maluf)”. E, em um terceiro momento, justificava porque precisava inverter a imagem do movimento perante a população: pesquisa do Ibope realizada no período mostrava que 83% dos brasileiros apoiavam a reforma agrária e 40% eram favoráveis, até mesmo à invasão de fazendas.
O MST e o “perigo vermelho”
As investidas da Veja contra o MST se tornaram mais agressivas nos anos seguintes. Na edição de 3 de junho de 1998, às vésperas da eleição que reconduziu FHC à presidência, a revista apresentava aos seus leitores um MST absolutamente aterrorizante. A foto de capa trazia João Pedro Stédile, umas das principais lideranças do movimento, com feições sérias, em tons vermelhos, a própria encarnação do demônio. O texto “A esquerda com raiva – inspirados por ideais zapatistas, leninistas, maoístas e cristãos, os líderes do MST pregam a implosão da democracia burguesa e sonham com um Brasil socialista” resgatava o pânico do perigo vermelho inculcado nos brasileiros pela ditadura.
Em 10 de maio de 2000, mais um exemplo: a matéria de capa “A tática da baderna – O MST usa o pretexto da reforma agrária para pregar a revolução socialista” voltava a semear o pânico. O texto da reportagem seguia a mesma linha: “Numa palavra, o MST não quer mais terra. O movimento quer toda a terra, quer tomar o poder no país por meio da revolução e, feito isso, implantar por aqui um socialismo tardio (...)”. Num box com a suíte “Meu nome é Stédile, João Stédile”, uma fotomontagem apresentava o líder sem-terra vestido de smoking e portando pistola automática, no melhor estilo James Bond, o espião da série 007 que tinha licença da rainha da Inglaterra para matar.
O MST terrorista

Depois dos atentados de 11 de setembro de 2011, com o mundo estarrecido frente ao perigo terrorista, a Veja se apropriou do pânico generalizado para, mais uma vez, inovar no tratamento destinado ao MST.  A etapa da tentativa de construção desse “MST terrorista” propagado pela revista começou com a publicação, em 18 de junho de 2003, quando Lula já havia assumido a presidência, da reportagem de capa em analogia direta à capa de 1998 que trazia Stédile travestido de diabo.
Nesta, o eleito para compor o quadro foi o então líder do movimento, José Rainha, estampado em foto de capa com a manchete “A esquerda delirante – Para salvar os miseráveis dos ‘desconfortos do capitalismo, o líder sem-terra José Rainha ameaça criar no interior de São Paulo um acampamento gigantesco como o de Canudos, instalado há um século por Antônio conselheiro no sertão da Bahia”,
Na reportagem, os mesmos estereótipos martelados na década anterior: anacronismo, atraso, radicalismo e táticas agressivas foram algumas das expressões reutilizadas. Também veio da década anterior a associação do líder sem-terra com o beato Antônio Conselheiro, tratado pela história oficial como o fanático que não aceitava os tempos modernos da república. Seguidores, pregação, beato, promessas e glorificação ideológica ajudavam a compor o texto que não poupou nem mesmo Euclides da Cunha, autor do clássico Os Sertões, que fala sobre Canudos, a ser citado na matéria para respaldar os absurdos propagados pela revista.
A partir daí, as matérias negativas contra o MST se tornaram pauta obrigatória em todas as edições da revista. Exemplo claro é o editorial “Veja avisou”, da edição de 2 de julho de 2003, que recuperava todas as críticas feitas pela revista ao movimento ao longo da década.  Em 30 de julho, a matéria “Stédile declara guerra” reforçava a associação do movimento à baderna e à violência, acusando-o de misturar os “excluídos do campo e da cidade, o complexo de culpa da classe média e a falta de firmeza das autoridades com as ilegalidades praticadas”. Foi nesta toada que a Veja concluiu o primeiro ano do mandado do ex-presidente Lula.
No início de 2004, a bancada ruralista, munida das páginas de Veja, começou a colher assinaturas para a instalação da CPI da Terra. A revista continuou firme na campanha, cada vez mais ácida. Na edição de 14 de abril daquele ano, a reportagem “O abril sem lei do MST” atestava a inoperância do governo Lula para conter as “ações criminosas” do movimento: a luta pela reforma agrária. Na semana seguinte, a matéria “Como na guerra” narrava a historia de um fazendeiro obrigado a fazer barricadas para se proteger dos “beligerantes” sem-terra.


As “madraçais” do MST

No final de setembro, o deputado João Batista usou a Tribuna da Câmara para exigir que o MEC fiscalizasse as escolas mantidas com dinheiro público nos assentamentos. Com base em matéria publicada pela Veja, ele acusava as escolas de formar futuros revolucionários, extirpando “o raciocínio lógico e o senso crítico” dos futuros cidadãos brasileiros. A base da denúncia que gerou calorosos debates foi a matéria “Madraçais do MST”, publicada na edição de 8 de setembro de 2004. “Assim como os internatos muçulmanos, as escolas dos Sem-Terra ensinam o ódio e instigam a revolução. Os infiéis, no caso, somos todos nós”, bradava a revista.
Em 2005, uma nova e ousada tentativa de criminalizar o MST. Na matéria “Ligações perigosas – escuta mostra que o MST orientou a facção criminosa PCC a organizar uma manifestação”, a revista acusava, sem nenhuma base palpável, o maior movimento social de brasileiro de ter relações sólidas com o movimento criminoso que, à época, assustava o país. As ligações jamais foram comprovadas, mas a revista nunca desmentiu as acusações.
No final do ano, a tal CPI da Terra apresentou seu relatório final propondo a transformação de invasão de terra em prática terrorista. Veja apelou de novo. Na reportagem “O terror contra o saber – braço feminino do MST destrói laboratório com mais de uma década de pesquisas”. A revista, claro, omitiu que o tal laboratório, da empresa Aracruz, realizava pesquisas com sementes transgênicas que causavam imensos prejuízos à agricultura familiar e agroecológica da região.
Nesta época, o desgaste sofrido pela imagem do MST já era claramente perceptível. Uma nova pesquisa do Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em 2006, mostrou o efeito de uma década de propaganda de Veja contra o MST: 56% dos brasileiros achavam que as ações do MST causavam mais resultados negativos para a reforma agrária do que positivos e 53% acreditavam que o governo deveria usar a polícia para conter as invasões.
Ataques e omissões recentes

Em 2009, a Veja conseguiu, enfim, respaldar a instalação de mais uma CPI para investigar o MST, a partir da reportagem de capa “Por dentro do cofre do MST”, na qual a revista acusava o governo federal e entidades internacionais de financiar as atividades classificadas como criminosas do movimento. Era a terceira, criada em cinco anos, para investigar e desgastar o MST. Para o governo Lula, ficava cada vez mais temerário apoiar o movimento já associado ao terrorismo, mesmo que, contra eles, não se provasse nada. A causa da reforma agrária foi sendo cada vez mais minada e abandonada.
Desde então, a presença do MST nas páginas da revista foi declinando. A luta dos sem-terra pela reforma agrária nunca mais mereceu reportagem de capa, ainda que para criticá-la. A presidenta Dilma Rousseff assumiu a presidência e governou os três primeiros anos do seu mandato com o MST e a reforma agrária na mais absoluta invisibilidade. Portanto, foi mais fácil para ela registrar os piores índices de investimentos na causa: conseguiu destinar um volume de terras à reforma agrária menor do que seu adversário, FHC, e assentou um número menor de famílias do que seu antecessor, Lula. E com a benevolência da revista.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

40 FOTOS HISTÓRICAS

 

publicado em recortes por margarete ms

Às vezes, uma simples imagem pode dizer mais sobre a história do que a própria história. Todas estas fotografias mostram figuras históricas ou acontecimentos que de certa forma nos ajudam a testemunhar o passado. Confira:

 

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Charlie Chaplin aos 27 anos, 1916.

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 Desembalando a cabeça da Estátua da Liberdade, 1885.

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 Hipopótamo de Circo puxando uma carroça, 1924.

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Testando coletes à prova de balas, 1923.

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Annette Kellerman promove o Direito das mulheres ao usar um maiô em 1907. Ela foi presa por atentado ao pudor.

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 Annie Edison Taylor, a primeira pessoa a sobreviver descendo as Cataratas do Niágara em um barril, 1901.

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Animais sendo usados ​​como parte de tratamento médico, 1956.

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 Gaiolas para bebês, usadas para que as crianças recebessem luz solar suficiente e ar fresco nos apartamentos, 1937.

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 Anúncio para Atabrine, droga anti-malária durante a Segunda Guerra Mundial, em Papua, Nova Guiné.

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Soldado oferecendo banana a uma cabra durante a batalha de Saipan, 1944.

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 Menina com uma boneca sentada nas ruínas de sua casa bombardeada, Londres, 1940.

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Construção do Muro de Berlim, 1961.

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 Soldado desconhecido no Vietnã, 1965.

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 Livraria em Londres destruída por um ataque aéreo, 1940.

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Walter Yeo um dos primeiros pacientes a se submeter a uma cirurgia plástica avançada de transplante de pele, 1917.

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 Máquina de bronzear, 1949.

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Medindo os maiôs. Se fossem muito curtos as mulheres eram multadas, 1920.

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Martin Luther King com seu filho removendo uma cruz queimada em seu quintal, 1960.

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 Dono de Hotel derramando ácido na piscina enquanto os negros nadavam, 1964.

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Salva-vidas, 1920.

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 Pernas artificiais, Reino Unido, 1890.

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Mãe e filho assistindo a nuvem de cogumelo se formando no céu após um teste atômico, Las Vegas, 1953.

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Mãe esconde o rosto de vergonha depois de colocar seus filhos à venda, Chicago, 1948.

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Menino austríaco recebendo sapatos novos durante a Segunda Guerra Mundial.

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Oficiais e cadetes de Hitler comemorando o Natal de 1941.

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 Jantar de Natal (nabos e repolho) durante a Grande Depressão.

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 Os verdadeiros Winnie the Pooh e Christopher Robin, 1927.

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Os últimos prisioneiros saindo de Alcatraz, 1963.

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Manequins derretidos após um incêndio no Museu de Cera Madame Tussauds em Londres, 1930.

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O suicídio da bela Evelyn McHale de 23 anos. Ela pulou do 83º andar do Empire State e caiu em cima de uma limusine das Nações Unidas, 1947.

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Primeira manhã após a Suécia mudar a forma de dirigir, do lado esquerdo para o lado direito, 1967.

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O chimpanzé posando para a câmera depois de uma missão bem sucedida no espaço, 1961.

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Álcool ilegal sendo derramado durante a Lei Seca em Detroit, 1929.

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Calouros de Princeton após uma guerra de bolas de neve, 1893.

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 Mulher com um carrinho de bebê resistente a gases tóxicos na Inglaterra, 1938.

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 Mulher armênia com 106 anos de idade armada em casa, 1990.

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 Elvis no Exército, 1958.

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O original Ronald McDonald, 1963.

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Funcionários da Disneyland na Cafeteria, 1961.

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Desastre de Hindenburg, 06 de maio de 1937.

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